Essa técnica é utilizada de maneira ABUSIVA em debates nos quais os neo-ateus participam. Um indício desse abuso da técnica é que muito provavelmente você estará familiarizado com os 3 exemplos mostrados aqui, caso tenha o costume de acompanhar debates entre teístas e neo-ateus.
A técnica é utilizada em quantidade tão grande que alguns neo-ateus conseguem fazer um artigo completo (ou até um livro), somente tratando de uma realidade alternativa inteiramente baseada em Leitura Mental.
E nessa realidade alternativa praticamente tudo é produto de imaginação fértil com alguma dose de cinismo ou tentativa de difamação. Ou ambos.
Como não quero “ler a mente” dos neo-ateus, afirmarei várias possibilidades para o uso da Leitura Mental, podendo ser desonestidade intelectual, fanatismo, raciocínio de auto-ajuda, credulidade pura e/ou então ingenuidade argumentativa.
A Leitura Mental consiste em agir tomando como premissa de que se tem o poder de telepatia de forma a conseguir ler o pensamento de outra pessoa, no caso, algum religioso (ou grupo de religiosos) selecionado por esse neo-ateu.
Vejam um exemplo da aplicação desta técnica:
Os religiosos se diferem dos ateus, pois os ateus sempre questionam [1]. Ao contrário dos religiosos, a mente dos ateus não abre espaço para a submissão [2]. O religioso é alguém que aprendeu a não questionar [3], e que aceita as suas crenças por um único motivo [4]: a revelação. Veja um exemplo da Sra. Y, que acredita na Bíblia somente por que o Padre mandou [5].
Deu para notar acima que nos itens (1), (2), (3), (4) e (5) foi utilizada a Leitura Mental nada menos do que 5 (cinco) vezes?
E uma curiosidade: sempre que usam a técnica, os atributos associados a quem teve a mente lida são sempre pejorativos, como “não questionador”, “submisso”, “portador de fé cega”, etc.
Isso aumenta ainda mais as suspeitas de difamação.
Justiça seja feita: não são apenas os neo-ateus ou ateus que usam essa técnica. Já vi teístas a usarem desta forma:
O ateu é alguém revoltado com Deus [1], por isso na verdade ele acredita em Deus [2], apenas diz que não acredita para fazer imagem de rebelde [3].
Da mesma forma que no primeiro exemplo, (1), (2) e (3) são tentativas de Leitura Mental.
E, para variar, os atributos propagados são sempre pejorativos.
Variação da Técnica
Uma variação da técnica é a sua aplicação para instituições ou um grande número de pessoas. Um exemplo dessa tentativa:
A religião foi formada com os seguintes intuitos: o de controlar o povo [1], o de ajudar os poderosos [2] e o de eliminar o pensamento crítico [3] das pessoas.
Em (1), (2) e (3), o neo-ateu inventou do nada essas motivações, pois não está comprovado que as motivações são realmente essas.
Refutação
A refutação é bem simples, bastando usar um modelo padrão de ceticismo, solicitando a cada alegação sem provas uma evidência (ou mais) para sustentar essa alegação.
Exemplo:
- NEO-ATEU: Vocês, religiosos, só acreditam por causa do medo da morte.
- REFUTADOR: Você tem como provar que o motivo é esse mesmo? Eu duvido que seja…
- NEO-ATEU: Claro que é, todos os seres humanos possuem medo da morte.
- REFUTADOR: Então por que você não é religioso?
- NEO-ATEU: É por que aprendi a pensar, e vocês não.
- REFUTADOR: Demonstre que o “pensar” em você existe em quantidade diferente do que ocorre com o religioso.
- NEO-ATEU: Simples. Vocês não podem questionar.
- REFUTADOR: Quem te disse isso? Na minha religião, existe o incentivo ao questionamento.
- NEO-ATEU: Você é obrigado a aceitar uma revelação só por que algum padre te disse.
- REFUTADOR: Tem como provar isso? Pois tudo o que eu aceito é fruto de estudo pessoal, e não por que uma autoridade disse.
E isso pode seguir pelo tempo necessário, até o momento em que o neo-ateu desista de fazer a Leitura Mental.
É importante salientar também que TODA TENTATIVA (sem exceção) do uso da técnica pode ser qualificada como falácia da evidência anedota, pois a pessoa inventou (ou imaginou) que determinado pensamento estava na cabeça de alguém, quando na verdade ela não vai conseguir provar que estava.
Conclusão
Aparentemente, na luta em prol do neo-ateísmo, seus propagadores parecem utilizar a regra do “vale tudo”, mesmo o uso da técnica de Leitura Mental, que só pode ocorrer com extrema credulidade, facilmente refutável por qualquer questionamento cético. É preciso de apenas um mínimo traço de ceticismo para demolir todas as tentativas de uso desta técnica.