Gostaria de saber, Quem escreveu o pentateuco foi mesmo Moisés? – Jaime Souza
Olá, Jaime. É um prazer receber perguntas de nossos leitores do Logos. Antes, é importante fazermos uma observação. Jesus referiu-se à Torá como “a lei de Moisés.” No entanto, isso por si só não prova a autoria completa, assim como usar um dicionário Webster não requer pensar Webster escreveu tudo isso. No entanto, Webster foi a sua inspiração. Da mesma forma, a Torá foi, provavelmente, inicialmente a partir de Moisés e, em seguida, expandiu-se por muitos por escritores posteriores.
A doutrina da inspiração, como eu a entendo, apenas significa que a Bíblia como a temos hoje é inspirada. Não importa como muitos autores diferentes contribuíram para isso ao longo do caminho. A tradição judaica sempre ensinou que Moisés foi o autor da Torá, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento. O grande rabino, Maimônides, descobriu um problema com isso na perícope “Os cananeus estavam vivendo na terra.”
Os cananeus viveram na terra durante cerca de 500 anos depois de Moisés. Se o escritor sentiu a necessidade de que os cananeus costumavam viver na terra, é evidente que ele viveu muito mais tarde do que Moisés. Maimônides também observou que o funeral de Moisés é descrito – o que indicaria que o autor era outra pessoa.
Os estudiosos modernos consideram que Gênesis foi, pelo menos, transmitido por meio de tradição oral e escrita (editada) muito mais tarde. Geralmente eles identificam três ou quatro redatores – a Javista (J) e Eloísta (identificado por sua palavra “Deus”.) A fonte Sacerdotal (identificada por seu amor ao detalhe para os rituais e apetrechos sacerdotais) e, possivelmente, um quarto redator, o Deuteronomista, que se acredita ter escrito o livro de Deuteronômio.
Aa erudição católica concordou com o acima. Assim, o New Catholic Dictionary (Novo Dicionário Católico; 1929) declarou: “Os primeiros cinco livros da Bíblia” foram “escritos por volta de 1400 A. C. . . . Uma tradição constante, tanto judaica como cristã, tem sempre asseverado a autoria mosaica de tais cinco Livros . . . Mas, é perfeitamente lícito admitir que Moisés fez uso de documentos previamente existentes, os quais inseriu em sua obra.” Outra que dava crédito a Moisés pelo Pentateuco era a Catholic Bible Encyclopedia, Old Testament (Enciclopédia Bíblica Católica, Velho Testamento) que prossegue dizendo: “O texto do Pentateuco . . . tem sido, em sua transmissão, preservado de erros em questões de fé e de moral pela providência divina.”
A ideia de que Moisés não escreveu o Pentateuco, na verdade, tem estado em discussão por mais de um milênio. No entanto, até meados do século XVII, a grande maioria das pessoas ainda afirmou que Moisés foi o autor. Foi em meados de 1600 que o filósofo holandês Baruch Spinoza começou a questionar seriamente essa crença amplamente difundida (Green, 1978, p 47;.. Dillard e Longman, 1994, p 40). O médico francês Jean Astruc desenvolveu a hipótese documentária original em 1753, e passou por muitas alterações diferentes até Karl Graf revista a hipótese inicial em meados do século XIX. Julius Wellhausen, em seguida, reafirmou a Hipótese de Graf e trouxe à luz em círculos acadêmicos europeus e americanos (ver McDowell, 1999, pp 404-406). Assim, tornou-se conhecida por muitos como a Hipótese Graf-Wellhausen. Muitos revelam ter sido influenciados por Wellhausen, perito alemão em línguas que não cria na inspiração da Bíblia e cujas teorias se provam cada vez mais sem base. Mas, como pode alguém produzir uma teoria sólida quando parte de uma premissa preconcebida? É isso que Wellhausen faz, afirmando que toda religião tem origem humana.
Wellhausen disse que um autor usou de maneira consistente o nome pessoal de Deus, Jeová, portanto o autor ficou conhecido como “J”. Outro, cognominado “E”, chamou Deus de “Elohim”. Ainda outro, “S”, escreveu o código sacerdotal em Levítico e mais um, chamado “D”, escreveu Deuteronômio. Embora alguns eruditos tenham aceitado essa teoria há décadas, o livro The Pentateuch (O Pentateuco), de Joseph Blenkinsopp, afirma que a teoria de Wellhausen está “em crise”.
O livro Introduction to the Bible (Introdução à Bíblia), de John Laux, explica:
“A Teoria Documental baseia-se em declarações que são arbitrárias ou absolutamente falsas. . . . Se a derradeira Teoria Documental fosse verdade, os israelitas teriam sido vítimas duma fraude grosseira ao permitir que o fardo pesado da Lei lhes fosse imposto. Teria sido o maior embuste já praticado na História da humanidade.”
Outra alegação é que as diferenças em estilo no Pentateuco são prova de que houve vários autores. No entanto, K. A. Kitchen declara em seu livro Ancient Orient and Old Testament (O Oriente Antigo e o Velho Testamento): “As diferenças de estilo são insignificantes e refletem as diferenças na detalhada matéria de estudo.” Variações semelhantes no estilo também podem ser encontradas “em textos antigos em que a unidade literária está acima de qualquer suspeita”.
É especialmente fraco o argumento de que usar nomes e títulos diferentes para Deus evidencia a múltipla autoria. Em apenas um pequeno trecho do livro de Gênesis, Deus é chamado de “Deus Altíssimo”, “Produtor do céu e da terra”, “Soberano Senhor Jeová”, “Deus de vista”, “Deus Todo-poderoso”, “Deus”, “verdadeiro Deus” e “Juiz de toda a terra”. (Gênesis 14:18, 19; 15:2; 16:13; 17:1, 3, 18; 18:25) Será que escritores diferentes escreveram esses textos da Bíblia? E no caso de Gênesis 28,13, onde os termos “Elohim” (Deus) e “Jeová” aparecem juntos? Será que dois escritores colaboraram para escrever aquele versículo?
A debilidade dessa linha de raciocínio torna-se evidente em especial quando aplicada a uma escrita contemporânea. Num livro recente sobre a Segunda Guerra Mundial, o chanceler da Alemanha recebe os nomes de “Führer”, “Adolf Hitler” e simplesmente Hitler no espaço de poucas páginas. Alguém ousaria dizer que isso é evidência de que foram três os autores do livro?
Proliferam as variações da teoria de Wellhausen. Entre elas está uma teoria apresentada por dois eruditos a respeito do autor cognominado “J”. Eles não só negam que Moisés foi o autor, mas também afirmam que o tal “‘J’ era uma mulher”.
A teoria documental não só é absurda, mas realmente deturpa a narrativa bíblica. Tornaria o relato da venda de José pelos seus meio-irmãos numa combinação desajeitada de duas estórias contraditórias. Por exemplo, The Interpreter’s Dictionary of the Bible (Vol. 3, p. 713) declara: “Há dois relatos do ocorrido, que foram ajuntados em confusão. Em um, José foi lançado numa cova e deixado ali para morrer. Foi achado pelos midianitas, levado ao Egito, e vendido ali (vs. 22-21, 28a [até ‘cova’], 28c-30, 36; a fonte é E). No outro, foi vendido a um bando de ismaelitas que passavam (vs. 25-27, 28b [até ‘prata’], 31-35; a fonte é J). Rubem figura como intercessor de José em (E), Judá no outro (J). Apenas tal separação oferece um relato inteligível do episódio.
Moisés, que sob a orientação de Deus escreveu o Pentateuco, ou os primeiros cinco livros da Bíblia, é conhecido como um dos homens mais influentes e respeitados da história humana. Os judeus o consideram o maior de todos os seus instrutores. Para os muçulmanos, ele é um de seus maiores profetas. Para os cristãos, Moisés é um precursor de Jesus Cristo. Não seria razoável concluir que podemos confiar nos escritos desse importante personagem histórico?