Segundo relatos bíblicos: Em Gênesis 1:3 Deus criou a luz, em 1:11-12 foram criadas as plantas e somente depois no 4º dia foi criado o Sol. Portanto, qual seria a explicação para esse suposto “erro”, já que existe também a teoria criacionista dizendo que os dias em gênesis pode demorar milênios…
Olá, prezado amigo. Muito obrigado por sua pergunta. Eu acredito no que tem sido chamado de “dia-era” uma interpretação de Gênesis – isto é, que cada “dia” é, na verdade, foi um longo período de tempo durante o qual Deus criou a vida. Esta interpretação não é figurativa, mas adere ao método científico em sua análise dos textos bíblicos. Na sua fundação é uma tradução literal da palavra hebraica yom, que pode significar um período de tempo de 12 horas, um período de 24 horas ou um longo período de tempo indefinido. Num período não especificado no passado da Terra, Deus criou algas microscópicas nos oceanos. Usando energia solar, esses organismos unicelulares que se auto-reproduzem passaram a converter dióxido de carbono em alimentos, ao mesmo tempo em que liberavam oxigênio na atmosfera. Esse processo maravilhoso foi acelerado durante um terceiro período criativo pela criação de vegetação que, por fim, cobriu o solo. Com isso aumentou a quantidade de oxigênio na atmosfera, possibilitando que homens e animais sustentassem a vida pela respiração. — Gênesis 1,11-12.
A palavra hebraica traduzida “fazer”, em Gn. 1,16, não é a mesma que a palavra para “criar”, usada em Gênesis, capítulo 1, versículos 1, 21 e 27. “Os céus”, que incluíam os luzeiros, foram criados muito antes de o “primeiro dia” sequer começar. Mas a luz desses luzeiros não atingia a superfície da Terra. No primeiro dia “veio a haver luz” porque a luz difusa passou a atravessar as camadas de nuvens e tornou-se visível na Terra. Com isso, à medida que girava, a Terra passou a ter dia e noite. (Gênesis 1,1-3, 5) As fontes dessa luz ainda eram invisíveis da Terra. No entanto, durante o quarto período criativo, aconteceu uma mudança notável. O Sol, a Lua e as estrelas passaram então a ‘iluminar a terra’. (Gênesis 1,17) “Deus passou a faz[ê-los]” no sentido de que passaram a ser vistos da Terra.
Quando Deus disse no Primeiro Dia: “Venha a haver luz”, evidentemente uma luz difusa passou a atravessar as camadas de nuvens, embora as fontes desta luz ainda não pudessem ser discernidas da superfície da terra. Parece ter-se tratado dum processo gradativo, conforme indicado pelo tradutor J. W. Watts: “E a luz veio gradualmente à existência.” (Gên 1,3, A Distinctive Translation of Genesis [Tradução Distintiva de Gênesis]) Deus fez com que houvesse uma separação entre a luz e a escuridão, chamando a luz de Dia e a escuridão de Noite. Isto indica que a terra girava em torno do seu eixo, ao orbitar em torno do sol, de modo que seus hemisférios, oriental e ocidental, podiam usufruir períodos de luz e de escuridão. — Gên 1,3-4.
A fim de tornar produtivo o solo, o Criador produziu uma variedade de microorganismos para viverem nele. ( Jeremias 51,15) Essas criaturas minúsculas decompõem a matéria morta, reciclando elementos que as plantas utilizam para crescer. Tipos especiais de bactérias de solo capturam nitrogênio do ar e disponibilizam esse elemento vital para o crescimento das plantas. Um punhado de solo fértil pode conter espantosos seis bilhões de microorganismos!
A vida vegetal foi criado no terceiro dia (Gênesis 1,11-13 , ~ 1,0 x 10 9 anos atrás). Estes versos são provavelmente o argumento mais forte para a interpretação do “dia-era”. O versículo diz claramente que a terra brotou (ou produziu) vegetação e árvores frutíferas dando frutos. A palavra portuguesa traduzida como “vegetação” no terceiro dia vem da palavra hebraica Deshe, que refere-se a pequenas plantas, como gramíneas e ervas. A outra palavra, ‘ESEB , traduzida por “plantas” é ainda mais genérica, referindo-se a qualquer tipo de planta verde. Assim, o “dia” abrange o tempo a partir da formação das primeiras plantas até que a formação das angiospérmicas. O processo descrito é claramente semelhante ao que vemos hoje. Árvores frutíferas levam anos para dar frutos, atestando que o “dia” terceiro não poderia ser de apenas 24 horas de duração, como alegado pelos criacionistas da Terra jovem. Evidências científicas recentes demonstram que a vida vegetal começou na terra ~ 1 bilhão de anos (Strother, P. K., L. Battison, M. D. Brasier and C. H. Wellman. 2011. Os mais antigos eucariontes da terra. Nature doi:10.1038/nature099.)
Pelo visto, a Terra já estava em órbita em torno do Sol e já era um globo coberto de água quando começaram os seis “dias”, ou períodos, de obras criativas especiais. “Havia escuridão sobre a superfície [do abismo aquoso].” (Gênesis 1,2) Naquele estágio primordial, alguma coisa — talvez uma mistura de vapor de água, outros gases e cinzas vulcânicas — deve ter impedido que a luz do Sol atingisse a superfície da Terra. A Bíblia descreve assim o primeiro período criativo: “Deus passou a dizer: ‘Haja luz’; e gradualmente veio à existência a luz”, ou a luz alcançou a superfície da Terra. — Gênesis 1,3, tradução de J. W. Watts.
Gênesis 1,14-19 descreve a formação do Sol, da Lua e das estrelas num quarto período criativo. À primeira vista, isso talvez pareça contradizer a explicação bíblica já mencionada. Lembre-se, porém, que Moisés, o escritor de Gênesis, fez o relato da criação do ponto de vista de um observador terrestre que estivesse presente na ocasião. Evidentemente, o Sol, a Lua e as estrelas se tornaram visíveis através da atmosfera da Terra nesse período.
O aparecimento de variedades novas de vida vegetal talvez não tenha cessado no terceiro “dia” criativo. Pode ter prosseguido até mesmo no sexto “dia”, quando o Criador “plantou um jardim no Éden” e fez “brotar do solo toda árvore de aspecto desejável e boa para alimento”. (Gênesis 2,8-9) E, como já mencionado, a atmosfera da Terra com certeza já clareara no quarto “dia”, permitindo assim que mais luz do Sol e de outros corpos celestes atingisse o planeta Terra.
Espero ter lhe ajudado. Pode contar conosco para quaisquer outros esclarecimentos. O Logos está à disposição.