“O filósofo Bertrand Russell disse que Jesus não era tão sábio porque na bíblia jesus achava que sua segunda vinda daria ali naquela geração ainda e os primeiros cristãos também pensavam isso e por isso Jesus enganou/errou as pessoas. O que vc acha? Ainda jesus disse: “haverão pessoas que não hão de morrer sem ver o reino de Deus” (Mateus 24:34) Jesus erradamente previu que o reino dos céus viria naquela geração?” – Por O. Marin
Olá, prezado O. Marin. Esta pergunta é velha e pelo que me consta está se referindo ao que Russell escreveu no livro “Por que não sou cristão”, no qual ele expõe suas opiniões pessoais (não evidências) do porquê não é cristão. Mas isso fica pra outros posts. Não só Russell pensava isso. Albert Schweitzer também. Aliás, muitos ateístas desinformados também:)
Em parte, essa questão já está bem respondida aqui mas iremos neste espaço elucidar mais alguns pontos. Primeiro, temos que entender a que série de eventos se refere Mt. 24, 3-34. Jesus incluiu aí a sua Segunda Vinda? Não. Para começar, os discípulos jamais imaginariam que Ele estava falando de sua Segunda Vinda, já que o contexto imediato mostra que eles estavam falando sobre a destruição do templo (que ocorreu realmente 37 anos após, no ano 70 d. C.) e não sobre um evento posterior no tempo, escatológico. O que acontece se a frase até que tudo isto aconteça não se refere absolutamente à Segunda Vinda? O que acontece se a frase se refere à profecia com a qual começa o capítulo? O que acontece se se refere ao cerco e queda de Jerusalém? Se aceitarmos isto, desaparecem as dificuldades. O que diz Jesus é que suas terríveis advertências a respeito da condenação de Jerusalém se cumprirão durante a vida dessa mesma geração, e ocorreram 37 anos depois. Pareceria que o melhor caminho é tomar os versos 32-35 como uma referência, não à Segunda Vinda, e sim à queda de Jerusalém; nesse caso, as dificuldades desaparecem. O “todos essas coisas se cumprirem” referem-se aos eventos anteriores à Sua Segunda Vinda e não inclui esta.
O significado do pronome você no contexto do discurso de Cristo no Monte das Oliveiras é muito claro. Quando Jesus diz: “Ouvireis falar de guerras e rumores de guerras …. sereis entregues a serem perseguidos e condenados à morte, e sereis odiados de todas as nações por causa de mim …. Quando virdes de pé no lugar santo “abominação que causa desolação’…. Quando virdes todas essas coisas, sabereis que ele está próximo, às portas”, deve ser óbvio que ele está fazendo referência a um evento do primeiro século, não a um evento no século XXI em diante.
Jesus predisse que haveria guerras, fomes, pestilências, terremotos, ódio aos cristãos e a perseguição deles, falsos messias e uma ampla pregação das boas novas do Reino. Então viria o fim. (Mateus 24,4-14; Marcos 13,5-13; Lucas 21,8-19) Jesus disse isso no começo do ano 33 d.C.. Nas décadas que se seguiram, seus discípulos atentos podiam reconhecer que as coisas preditas estavam mesmo acontecendo de forma significativa. Deveras, a História prova que o sinal teve cumprimento naquele tempo, levando a uma terminação do sistema de coisas judaico pelas mãos dos romanos, em 66-70 d.C..
Respondendo aos apóstolos no Monte das Oliveiras, Jesus predissera: “Estes dias serão dias de tribulação tal como nunca ocorreu desde o princípio da criação, que Deus criou, até esse tempo, nem ocorrerá de novo. De fato, se Jeová não tivesse abreviado os dias, nenhuma carne se salvaria. Mas, por causa dos escolhidos, que ele escolheu, abreviou os dias.” (Marcos 13,19, 20; Mateus 24,21- 22) Portanto, os dias seriam abreviados e os “escolhidos” seriam salvos. Quem eram eles? Certamente não os judeus rebeldes, que afirmavam adorar a Deus, mas haviam rejeitado o Filho dele. (João 19,1-7; Atos 2,22, 23.36) Os verdadeiros escolhidos, lá naquele tempo, eram os judeus e os não-judeus que tinham fé em Jesus como o Messias e Salvador. Deus escolhera a tais e, no Pentecostes de 33 d.C., constituíra-os numa nova nação espiritual, “o Israel de Deus”. — Gálatas 6,16; Lucas 18,7; Atos 10,34-45; 1 Pedro 2,9.
A chave para entender é esta: Jesus não enunciou sua Segunda Vinda antes do v. 36. Foi a partir deste e não antes (dos eventos subsequentes à destruição do Templo) que Jesus mencionou (não demarcou) Sua Segunda Vinda. É este o erro dos ateístas em não entender que os confunde.
Muitos ateístas neste ponto estão desinformados. O autor ateu Mike Davis afirma em seu livro Introdução ateia para o Novo Testamento: Como a Bíblia prejudica os ensinamentos básicos do cristianismo, que este versículo de Mt. 24,34 mina a confiabilidade bíblica. Mas mina mesmo? Claro que não. Na realidade, o que em última análise, Davis (e outros ateístas como do grupo “Contradições da Bíblia”) confessa “provar” a ele que a Bíblia e Jesus não são confiáveis é nada mais do que uma má interpretação das Escrituras. Jesus foi não estava equivocado em seus comentários em Mateus 24,34: a geração de Jesus não passaria antes de testemunhar as coisas que Jesus predisse em Mateus 24:4-34. Mas, Jesus se não anunciou esses versículos que Davis assume predizer. Davis e muitos outros acreditam que, antes de o versículo 34, Jesus estava descrevendo eventos que ocorreriam pouco antes do Dia do Julgamento, no final dos tempos. O fato da matéria é, no entanto, que Jesus estava profetizando sobre a destruição que viria sobre Jerusalém em 70 dC, e não o julgamento final.
Assim, Mt. 24,30 não está falando da volta de Cristo (Segunda Vinda) como erroneamente pensam Russell e outros ateus. Note-se que a “vinda do Filho do Homem”, em Daniel 7 não é a vinda à Terra, mas sim uma vinda diante do trono de Deus, onde ele está exaltado e aos “santos do Altíssimo” são dadas vitória sobre seus inimigos . Portanto, a linguagem de Daniel 7 representando o “Filho do Homem vindo” não deve ser lida como apontando para a parusia e julgamento final de Deus. Em vez disso, o fundo para a terminologia da “vinda do Filho do Homem” tem a ver com a “exaltação através do julgamento.” Era como os judeus entendiam e não como uma mente do séc. XXI entende.
O “haverão pessoas que não hão de morrer sem ver o reino de Deus” (Mateus 24:34) eram aquelas pessoas que viram e foram contemporâneas daqueles eventos antecedentes à destruição do Templo. Não se fala aqui de sua Segunda Vinda, que só é MENCIONADA (não determinada no tempo) a partir do v. 36. Nos versículos 35-51 (e todo o capítulo 25), Jesus respondeu aos discípulos as últimas duas perguntas: “qual será o sinal da tua vinda e do fim do mundo?”(Mateus 24,3). Para resumir, em Mateus 24,4-34 Jesus predisse a destruição vindoura de Jerusalém em 70 dC, enquanto no 24,35ss Ele comentou sobre seu retorno futuro e julgamento final do mundo.