“Ele me pesará em balança exata, e Deus chegará a saber a minha integridade.” — Jó 31,6.
JÓ CONFIAVA na sua integridade, de modo que acolhia de bom grado a ideia de ser examinado por Deus. Seu exemplo muito nos pode encorajar hoje, quando Satanás, o Diabo, tenta desesperadamente quebrar a integridade de todos os que servem a Deus. (1 Pedro 5,8) Reconhecendo isso, o discípulo Tiago recomendou ‘tomar por modelo do sofrimento do mal e do exercício da paciência os profetas’, em especial Jó. (Tiago 5,10, 11) Mas, quem pode imitar a integridade de Jó? Podemos nós? Em que sentidos estabeleceu Jó para nós um exemplo de manter a integridade?
O nome Jó significa “Objeto de Hostilidade”, o que ele certamente se tornou. Mas, quando Deus aquiesceu ao pedido de Satanás e removeu o cerco protetor em volta de Jó, nada do que Satanás fez pôde quebrar a integridade de Jó para com Deus. (Jó 1,1-2,10) Jó proveu assim uma resposta à jactanciosa alegação de Satanás de que ele pode desviar a todos de servir a Deus. (Provérbios 27,11) Por seu proceder íntegro, Jó, com efeito, declarava a todo o universo: ‘Satanás, tu és um desprezível mentiroso, porque o Senhor é meu Deus, e eu serei íntegro a ele, venha o que vier!’ — Jó 27,5.
Os Semelhantes a Jó
É significativo que a questão entre Deus e Satanás era universal, envolvendo o domínio espiritual. Lá no céu, cercado pelo cuidado protetor de Deus, estava o prometido “descendente”, por meio de quem Deus intencionava realizar Seus grandiosos propósitos. (Gênesis 3,15) No entanto, quando despojado do ‘cerco de proteção’, será que esse descendente realmente imitaria a integridade de Jó? Demonstraria ele que um homem perfeito, como Adão havia sido, poderia manter perfeita integridade para com Deus? (1 Coríntios 15,45) Satanás fez preparativos para submeter esse “descendente” à mais severa prova, quando quer que este surgisse na terra.
Jesus Cristo revelou ser o “descendente” enviado do céu. Tornou-se assim o alvo da atenção de Satanás, sim, o principal objeto da hostilidade de Satanás. Como evidência de que Deus havia removido seu cerco de cuidado protetor, Cristo clamou na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Mateus 27,46; Salmo 22,1) Embora sentindo vividamente que Deus retirara sua proteção, Jesus, como Jó, “não pecou, nem atribuiu a Deus algo impróprio”. (Jó 1,22) Ele imitou a Jó, mantendo perfeita integridade para com Deus, provando assim que ‘não havia ninguém igual a ele na terra’. (Jó 1,8) Portanto, em Jesus, Deus tem uma resposta completa e duradoura à falsa acusação de Satanás de que Deus não pode pôr na terra um homem que lhe permaneça fiel sob a mais severa prova.
Mas, não satisfeito com a resposta, Satanás continua a acusar os irmãos espirituais de Jesus, que, junto com este, compõem o “descendente” da Igreja de Deus. Ao narrar o estabelecimento do Reino no céu, a Bíblia diz sobre Satanás: “Foi lançado para baixo o acusador dos nossos irmãos, o qual os acusa dia e noite perante o nosso Deus!” No entanto, Satanás vai além de acusar, ele arma um ataque hostil! A Bíblia explica que após a sua expulsão do céu, “o dragão [Satanás] ficou furioso com a mulher e foi travar guerra com os remanescentes da sua semente, que observam os mandamentos de Deus e têm a obra de dar testemunho de Jesus”. — Apocalipse 12,7-12, 17.
Certamente inspira seriedade saber que, assim como a perversa atenção de Satanás se focalizava em Jó, assim se focaliza em nós, os que tentamos manter a integridade para com Deus. Contudo, não precisamos ficar transtornados. Por que não? Porque “Deus é mui terno em afeição e é misericordioso” e “não [nos] desamparará nem [nos] abandonará completamente”. (Tiago 5,11; Deuteronômio 31,6) Sim, Deus nos apoiará. “Para os que andam em integridade ele é escudo”, diz a Bíblia. (Provérbios 2,7) Mas isto não significa que Deus não permitirá que sejamos provados. Ele permitirá, como no caso de Jó. “Mas Deus é fiel”, disse o apóstolo Paulo, “e ele não deixará que sejais tentados além daquilo que podeis aguentar, mas, junto com a tentação, ele proverá também a saída, a fim de que a possais aguentar”. — 1 Coríntios 10,13.
Quando Sob Provação
O exemplo de integridade de Jó pode especialmente nos ser benéfico quando enfrentamos provações severas. Jó sofreu tanto que desejava morrer e ser escondido no Seol, a sepultura comum da humanidade. (Jó 14,13) Alguns hoje já sentiram algo parecido, dizendo que podiam identificar-se com Jó, quando ele tanto sofria. Talvez alguma vez você já se tenha sentido assim. Sem dúvida, ler sobre os sofrimentos de Jó pode ser comparado a receber encorajamento dum amigo que passou por uma provação ainda mais severa do que a nossa. Saber que outra pessoa a suportou, e entende, certamente nos ajuda a aguentar também.
Sabedor de nossas necessidades, Deus fez com que o livro de Jó fosse escrito para nos ajudar a manter a integridade, como Jó. (Romanos 15,4; Tiago 5,10-11) Deus sabe que, assim como cada parte do corpo é dependente de outra, também os seus servos fiéis precisam uns dos outros. (1 Coríntios 12:20, 26).
Todavia, como Jó, talvez nem sempre conservemos a perspectiva correta. Sofrendo muito, e num estado de depressão mental, a pessoa talvez diga: ‘Por que faz Deus isso comigo? Por que permite que isso aconteça?’ Ela pode até mesmo ir a ponto de perguntar: ‘Que adianta eu servir a Deus?’ Desconhecendo a origem de seu sofrimento, Jó questionou o benefício atual de ser justo, visto que aparentemente os bons sofrem tanto, senão mais, do que os maus. (Jó 9,22) Segundo Eliú, Jó disse: “Que ganho eu, que vantagem tenho em não pecar?” (Jó 35,3, Bíblia Mensagem de Deus) Mas, não podemos ficar tão absortos em nossas próprias aflições a ponto de perder a perspectiva correta e questionar o valor de servir a Deus.
Eliú deu a Jó a necessária correção, colocando os assuntos na perspectiva correta por destacar a posição exaltada de Deus, muito acima da de Jó. (Jó 35,4-5) Eliú mostrou que, não importa o que aconteça, nunca devemos concluir que Deus não se importa e de algum modo imaginar que podemos ‘vingar-nos’ dele por pretensas injustiças de Sua parte. “Se realmente pecares”, perguntou Eliú a Jó, “que conseguirás contra ele? E se as tuas revoltas realmente aumentarem, que lhe fazes?” (Jó 35,6) Sim, se tentar ‘vingar-se’ de Deus por abandonar Seus caminhos ou Seu serviço, você estará apenas prejudicando a si mesmo, não a Deus.
Por outro lado, Eliú mostrou que Deus não se beneficia pessoalmente se fazemos o que é correto. Naturalmente, Deus se alegra se mantemos a integridade, mas, ao mesmo tempo, ele de modo algum depende de nossa adoração, como indicado pelo que Eliú perguntou a Jó: “Se realmente tens razão, o que lhe dás, ou o que recebe ele da tua própria mão?” (Jó 35,7) Deus nos deu a vida, e graças a ele nós respiramos, nos movemos e existimos. Tudo pertence a ele! (Atos 17,25; 1 Crônicas 29,14) Assim, a nossa iniquidade ou a nossa retidão não podem afetar a Deus pessoalmente. — Jó 35,8.
Quando Corrigidos
Como reagiu Jó à correção dada, primeiro por Eliú e depois pelo próprio Deus? Ele a aceitou, arrependendo-se “em pó e cinzas”. (Jó 42,6) Sim, Jó humilhou-se, reconhecendo o seu erro. E não admiramos tal humildade? Mas, que dizer de nós? Embora sejamos resolutos mantenedores da integridade, como Jó, todos nós tendemos a errar e a nos desequilibrar de um modo ou de outro. (Tiago 3,2; Gálatas 2,11-14) Que devemos fazer quando o nosso erro ou a nossa imperfeição é trazido à nossa atenção, mesmo por alguém mais jovem, como Eliú? — Jó 32,4.
Nem sempre é fácil aceitar correção. (Hebreus 12,11; Provérbios 3,11-12) A tendência é tentar justificar-se. Como Jó, talvez não tenhamos dito ou feito nada de errado propositadamente. A nossa motivação pode ter sido boa. Mas, talvez tenhamos falado sem conhecimento pleno, com falta de entendimento ou sensibilidade. Talvez os nossos comentários refletissem um ar de superioridade racial ou nacional, ou uma rigidez sem base bíblica num determinado assunto. Talvez nos seja trazido à atenção que aquilo que dissemos reflete mais o nosso ponto de vista pessoal, e que feriu outros a ponto de pôr em perigo a espiritualidade deles. Ao sermos corrigidos, reconheceremos, como Jó, que ‘falamos sem entendimento’ e ‘faremos uma retratação’? — Jó 42,3-6.
Confiar em Deus, Não nas Riquezas
Bildade questionou o objetivo da confiança de Jó, insinuando que ele se esquecera de Deus e que a sua confiança havia sido depositada em alguma outra coisa. (Jó 8,13-14) Todavia, embora Jó tivesse sido abençoado com muitas coisas materiais, ele não depositava nestas a sua confiança. A sua integridade não sofreu o mínimo abalo quando perdeu todos os seus bens. (Jó 1,21) Na sua defesa final, Jó disse: “Se pus no ouro a minha confiança ou disse ao ouro: ‘Em ti confio!’ Se eu costumava alegrar-me por ter muita propriedade e porque a minha mão tinha achado muitas coisas. . . isto também seria um erro a receber a atenção dos magistrados, pois eu teria renegado o verdadeiro Deus de cima.” — Jó 31,24-28.
Que dizer de nós? Em que depositamos a nossa confiança? Em Deus ou nos bens materiais? Se fôssemos pesados em balança exata, como Jó desejava ser, ‘chegaria Deus a saber’ a nossa integridade neste assunto? É nossa preocupação principal na vida realmente contribuir com um proceder de integridade que Deus possa usar para refutar as jactâncias de Satanás? Ou estamos mais interessados em satisfazer o nosso anseio de prazeres e bens? Que ótimo se pudermos, como Jó, alegrar o coração de Deus por confiar nele, sem atribuir qualquer indevida importância a nós mesmos ou às coisas materiais disponíveis! Se confiamos em Deus, dando prioridade aos seus interesses, ele promete nunca nos abandonar ou se esquecer de nós. — Mateus 6,31-33; Hebreus 13,5-6.
Moralidade Sexual
Os falsos consoladores de Jó não o acusaram diretamente de má conduta sexual, mas, repetidas vezes insinuaram que ele era culpado de alguma falta secreta pela qual Deus o punia. Como homem de recursos, sendo realmente “o maior de todos os orientais”, Jó certamente teve oportunidades para praticar sexo extramarital. (Jó 1,3; 24,15) Outros servos de Deus, antes e depois da época de Jó, sucumbiram à tentação sexual. (Gênesis 38,15-23; 2 Samuel 11,1-5) Jó, no entanto, defendeu-se contra quaisquer insinuações de que tivesse cometido tal erro, declarando: “Concluí um pacto com os meus olhos, portanto, como poderia mostrar-me atento a uma virgem? Se meu coração tiver sido engodado referente a uma mulher e tiver ficado de emboscada à própria entrada do meu companheiro. . . isso seria conduta desenfreada e esta seria um erro, para receber a atenção dos magistrados.” — Jó 31,1.9-11.
Talvez por nenhum outro meio Satanás tem sido tão bem-sucedido em minar a integridade dos servos de Deus como por induzi-los a cometer fornicação. (Números, capítulo 25) Pode você imitar a integridade de Jó por resistir a todas as tentações de se empenhar em má conduta sexual? Sem dúvida é um desafio, especialmente neste mundo louco pelo sexo em que a imoralidade é tão comum. Mas imagine quão bom será, quando convocado para prestar contas, puder dizer confiantemente o mesmo que Jó: “Deus chegará a saber a minha integridade”! — Jó 31,6.
O Que Nos Pode Ajudar
Não é fácil imitar a integridade de Jó, pois Satanás hoje tenta quebrar a nossa integridade com o mesmo vigor com que tentou quebrar a de Jó. É essencial, pois, que nos revistamos da completa armadura de Deus. (Efésios 6,10-18) Isto envolve ser alguém voltado para Deus, como Jó o foi, sempre preocupado em agradar-lhe em todas as nossas ações ou as de nossa família. (Jó 1,5) Assim, estudo bíblico, associação regular com concrentes e declaração pública da nossa fé são vitais. — 2 Timóteo 2,15; Hebreus 10,25; Romanos 10,10.
Mas, principalmente o que nos pode sustentar durante provações é aquilo que sustentou a Jó — a sua confiança de que esta vida não é tudo. “Morrendo o varão vigoroso, pode ele viver novamente?”, perguntou Jó. E em resposta ele disse: “Tu chamarás e eu mesmo te responderei.” (Jó 14,13-15) Termos esta mesma confiança absoluta de que Deus ressuscitará seus servos fiéis também nos ajudará a enfrentar qualquer prova que Satanás venha a impor. (Hebreus 6,10) Muito tempo atrás o salmista bíblico declarou: “Quanto a mim, sustentaste-me por causa da minha integridade e pôr-me-ás diante da tua face por tempo indefinido.” (Salmo 41,12) Seja este o feliz futuro para cada um de nós — sermos sustentados por Deus e preservados para sempre por sermos íntegros servos seus!