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HERESIAS BANZÓLICAS: APOLOGETA MIRIM “ATACA” THOMAS MORE CHAMANDO-O DE COMUNISTA

O pessoal fica me perguntando quando vou fazer um artigo novo contra  Lucas Banzoli, eu vivo explicando que fazer textos contra o apologeta mirim é dar uma importância que ele não merece. Os textos que fiz antes tiveram o intuito de responder certas mentiras Em especial sobre a criação das universidades europeias e sobre o milagre de Lanciano. Por que eu fiz? Porque geralmente alguém trazia com algum artigo do pequeno hater (i) para tentar argumentar algo contra as doutrinas católicas. A meu ver, perder tempo fazendo artigos e mais artigos contra haters é insistir em bater em cachorro morto. Entretanto, algumas coisas não dão para deixar passar. Esse ser, que é mais uma sombra do que um adversário real, saiu com uma nova, que é mais um exemplo da desonestidade. Eu, sinceramente, já fiz pelo menos quatro artigos contando com este, então, já gastei tempo demais.

 

A nova do rapaz é que Thomas More foi um comunista, segundo a concepção dos autores que se baseia. Ele usa uma historiografia antiga e francesa que transparece preconceitos que servem de alimento para suas ideias. No artigo, cujo título “O Catequista” enaltece comunista, glorifica assassina e dissemina fantasia, o apedeuta declara que o site O Catequista faz enaltecimento de um comunista, neste caso o filósofo humanista e santo da Igreja Católica Thomas More. Isso mesmo; um homem do século XVI, escritor humanista acusado de comunista. Como ser comunista nessa época? Mistério! Nem se tinha o conhecimento necessário para dizer o que era comunismo. Ser comunista séculos antes de Babeuf (o primeiro a propor o FIM da propriedade privada), Sant-Simon, Owen, Proudhon ou Marx? Antes dos socialistas utópicos e do socialismo científico materialista? A obra em questão é Utopia, escrita por Thomas More onde retrata uma sociedade utópica (termo que nasceu da própria obra de More e hoje usada comumente) e que é uma referência histórica para os estudos de política e relações internacionais. A obra descreve e é uma referência sobre diversos assuntos políticos e pertinentes a sua época, pois fala de extradição por crime, sobre tolerância religiosa (numa época de guerras religiosas), preparação para guerra, sob consulta aos cidadãos, sobre os interesses dos derrotados em guerras, sobre o trato com os derrotados, sobre colonização de outros povos, sobre lutar contra o jugo de um tirano, etc. O livro não é um manual comunista, mas uma obra densa que influenciou muito mais que os socialistas, pois além de ser um marco para a constituição da política moderna foi referência para diversas outras pessoas como Rousseau ou Kant, entre outros.

Uma ressalva, apesar de muitos comunistas terem a obra de More como referência isso não significa que ela seja uma obra comunista, mesmo porque o autor quando a escreveu NÃO tinha como propósito a criação de uma sociedade comunista, nem tinha referências teóricas para tal. Nós, em História, que trabalhamos com História, que ensinamos História chamamos isso de ANACRONISMO (ii). O livro Utopia foi escrito em 1516 (ou em 1518), é uma obra datada, filha de seu tempo, More era um filósofo humanista (iii), portanto, antes de tudo seu livro é uma critica a sociedade e a política das nações europeias, principalmente a Inglaterra, não é atoa que o lugar de sua visão paradisíaca imaginária ser uma ilha. Os historiadores citados por Banzoli podem ter seus méritos e os têm, mas os trechos escolhidos são ridiculamente fracos e anacrônicos. Contudo, o papel de More é muito maior do que visões simplistas, o historiador da UFES Ricardo da Costa estabelece em seu livro de filosofia política o seguinte:

A utopia, de Thomas More, O Príncipe, de Maquiavel, o Leviatã, de Hobbes. Essas três obras bem podem ser assumidas como símbolos de três modos distintos e típicos de se filosofar sobre a política: a primeira, da busca pela melhor forma de governo, a segunda, da busca da natureza da política, a terceira, da busca do fundamento do Estado (SANTOS; COSTA, 2015, 25).

A obra pode ter inspirado socialistas utópicos no século XIX, mas não foi essa a intenção do autor que fez um livro como uma critica social e política, e não uma proposta comunista como expõe ridiculamente os historiadores citados pelo pretenso apologeta. Não, Thomas More não era um comunista. No prefácio escrito por João Almino, numa das diversas edições do livro Utopia, explica o que desejava More

Em suas últimas palavras em Utopia, More confessa que, embora não possa dar seu assentimento a tudo o que disse Rafael, há na República da Utopia muitas coisas que desejaria ver em “nossas cidades.” […] Ou seja, não apenas a Utopia não existe; More não espera que venha a existir. […] O que More e seus personagens nos dizem nos fazem pensar, continuam tendo um potencial crítico à ação dos Estados e governantes, mas não sugerem receitas prontas para serem aplicadas. Ou seja, Utopia não deve ser lido como um tratado prescritivo ou normativo. Não é um ideário (Prefácio, XXXI).

Veja bem, não é um ideário e nem receita pronta, longe de ser uma proposta de transformação da sociedade como propõe o socialismo cientifico no marxismo. Nem irei comentar a reclamação hipócrita ao criticar como o site O Catequista debocha da doença do herdeiro de VIII, mas o apologeta mirim faz um esforço monumental e pusilânime para desmerecer More. Por fim, declara que os moderadores do site O Catequista só conheçam Thomas More do Filme O Homem que não vendeu sua alma, como ele explicita

“Talvez eles não saibam disso, afinal, acho que não consta no filme que eles divulgam sobre More, que é a única coisa que eles conhecem deste senhor.”

Mas ele próprio desconhece a obra de Thomas More, e pega opinião antiquadas de terceiros sobre o autor. Portanto, as afirmações do artigo supracitado se perdem num vendaval de ódio cego e ignóbil. Agora sabemos de quem são as considerações rasas e superficiais.

Rogério Fernandes da Silva
Doutorando em Humanidades, Cultura e Artes pela UNIGRANRIO.

BIBLIOGRAFIA
MORE, Thomas. Utopia. Prefácio: João Almino; Trad: Anah de Melo Franco. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, 2004.
SANTOS, Bento Silva; COSTA, Ricardo da. Filosofia política I. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria de Ensino a Distância, 2015.

i –  O termo Hater se originou na internet para definir pessoas que fazem comentários de ódio e/ou criticas sem muita distinção.

ii – Erro de cronologia que geralmente consiste em atribuir a uma época ou a um personagem ideias e sentimentos que são de outra época, ou em representar, nas obras de arte, costumes e objetos de uma época a que não pertencem (pesquisado no Google, para ver como é fácil saber o que é).

iii – Movimento intelectual difundido na Europa durante a Renascença e inspirado na civilização greco-romana, que valorizava um saber crítico voltado para um maior conhecimento do homem e uma cultura capaz de desenvolver as potencialidades da condição humana (nossa, o Google não é fascinante?).

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