Grandes santos – S. Teresa D’Ávila

Um mística cristã devotada

Como descendente de judeus, Teresa e sua família tinham sido encaradas com desconfiança, tanto por sacerdotes e pela Inquisição, mas no fundo de seu coração, ela sabia que a união com Deus não tinha nada a ver com a origem ou as formalidades do sacerdócio. Ela era uma verdadeira visionária, mas ela estava hesitante em revelar suas visões para as irmãs do convento, por medo de tudo acabar na fogueira. Com seus olhos interiores, os olhos da alma, ela foi abençoada com a visão indescritível de Mãos Divinas de Deus e da presença divina do Jesus ressuscitado, em visões, cuja luz era tão brilhante que até mesmo o sol parecia fraco em comparação.

Uma das raras almas que evoluíram através da meditação, oração e contemplação, e tendo atingido uma maturidade espiritual que é aparente em seus roteiros, a experiência de Teresa nos ensina a trazer-nos para “o centro” do nosso ser, e adquirir integridade e soberania como filhos de Deus. Este tipo de evolução é um caminho difícil de perseverança, cheio de alegrias, assim como decepções, que vai até o difícil caminho da perfeição, sempre assistido pelo amor de Deus. Seguindo este caminho de devoção, todas as outras fases da vida são afetadas, e apenas “a oração do silêncio” e da “oração da unidade” são de importância.

A vida de Teresa de Ávila

Santa Teresa nasceu em uma família de pais virtuosos e piedosos, seu pai Don Alfonso Sanchez, era um rico comerciante e sua mãe Beatriz, fê-la familiar com relatos e histórias de vidas de santos e mártires, para ajudar sua filha se tornar uma cristã devotada. No entanto, o avô paterno de Teresa, que era de origem judaica, foi acusado pela Inquisição de ter voltado à fé judaica. É por isso que seu pai sempre foi cuidadoso com assuntos religiosos, tornou-se um cavaleiro e, gradualmente, foi aceito com sucesso na comunidade cristã.

Seu nome completo era Teresa de Cepeda y Ahumada e nasceu no estado espanhol de Ávila em 28 de março de 1515. Teresa foi o terceira dos nove filhos na família e ficou muito infeliz quando sua mãe morreu no parto, aos 34 anos. Teresa tinha apenas 14 anos e ela se sentiu desesperada pela perda de sua querida mãe, que era o contrapeso leve para rigidez de seu pai. O único conforto para sua tristeza e solidão era Virgem Maria. Em sua autobiografia, Santa Teresa escreveu: “Eu me joguei para baixo em desespero diante de uma imagem da Mãe de Deus. Com muitas lágrimas, eu implorei a Santíssima Virgem para se tornar a minha mãe agora. Pronunciada com a simplicidade de uma criança, esta oração foi ouvida. Desde essa hora, eu nunca rezarei para a Virgem em vão.”

Quando adolescente, Teresa foi considerada muito bonita, de traços e aparência muito finos, algo que ela manteve até o final de sua vida. Ela foi especialmente popular devido ao seu caráter extrovertido, seu charme natural e sua capacidade de fazer amigos com facilidade, e ela mostrou habilidades notáveis ​​em tarefas domésticas, bordado e costura. Com a idade de 20 anos, ela entrou para o convento da Encarnação das Carmelitas, mas logo ela ficou doente, provavelmente de malária, e teve de sofrer muito.

Durante o seu longo período de doença e dor, muitas vezes ela teve momentos de profundo êxtase religioso, visões divinas e longos períodos de paz interior. Quando as dores não eram tão graves, ela conseguiu ler vários livros de místicos medievais que fortaleceram a sua fé e lhe deu a coragem mental que ela precisava para superar a doença. Ela admitiu que foi a sua rendição à vontade de Deus que a fez forte o suficiente para suportar tanto sofrimento com tanta alegria, e que conseguiu transcender a dor física.

No entanto, quando alguns membros do clero sugeriram que suas visões e estados êxtase divino interior não eram divinas mas eram ilusões do diabo, ela aplicou-se mortificações e torturas por anos, e perdeu a confiança em suas orações. A sua vida espiritual estava quase em ruínas, e foi só quando seu confessor, São Francisco de Borja, tranquilizou-a da natureza divina de suas visões e experiências, foi que ela recuperou a confiança para retomar suas orações.

Embora difícil no início para ela se concentrar, suas visões voltaram no dia de São Pedro de 1559. Teresa disse que Jesus apareceu para ela em sua forma física e continuou a aparecer com ela para os dois anos seguintes. Um serafim também apareceu-lhe, dirigindo sua lança de ouro através de seu coração causando-lhe uma mistura de dor física e espiritual. Essa foi a experiência que inspirou Bernini a criar a sua famosa escultura O Êxtase de Santa Teresa, que pode ser visto na igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma.

Sua inspiração e fé aumentaram mais como Teresa conheceu Pedro de Alcântara, que era um piedoso sacerdote franciscano, que se tornou seu guia espiritual e apoiou-a muito em sua decisão de fundar um novo e reformado convento carmelita. Sua visão era basear o novo convento na pobreza, amor e simplicidade, algo que ela não poderia encontrar no convento onde ela morava. Foi criado em 1562 e ela chamou de convento de S. José. Ela provou ser uma líder carismática e sempre orientou as freiras com o amor e a razão, longe da punição, o ascetismo rigoroso e obediência cega. Ela disse: “Vocês sabem, eu já não governo do jeito que eu costumava fazer. O amor não faz tudo. Eu não tenho certeza se isso é porque ninguém me dá motivos para reprovar, ou porque eu descobri que as coisas vão melhor dessa forma. A importante não é pensar muito, mas amar muito e assim fazer o que melhor desperta a amar. O amor não é grande prazer, mas o desejo de agradar a Deus em tudo.”

Pelo resto de sua vida, e ignorando a sua saúde frágil, Santa Teresa viajou por toda a Espanha e criou vários novos e reformados conventos carmelitas, apesar das críticas e da oposição. Além disso, com a ajuda de João da Cruz e Antônio de Jesus, duas casas reformadas para os homens, os Irmãos Carmelitas Descalços foram estabelecidos em 1568. Ela morreu em 4 de outubro de 1582, e uma irmã colega escreveu sobre seus últimos momentos. “Sua expressão facial estava tão maravilhosamente mudada que parecia um corpo celeste para nós. Assim, imersa na oração, feliz e sorridente, ela saiu deste mundo para a vida eterna.”

Seu Legado Espiritual

Teresa é uma mística cristã que estava cheio de inspiração divina, e deixou para trás algumas obras esclarecedoras, como sua autobiografia, na qual ela descreve o processo de ascensão da alma. Ela própria, muitas vezes experimentou um estado tão sobrenatural de transe extático e dizia-se que até mesmo o seu corpo levitava durante a missa.

No Caminho da Perfeição, ela orienta e aconselha as freiras sobre como realizar a oração mental e seguir o caminho da união com Deus e em seu Castelo Interior, o caminho interior é descrito como um castelo com sete mansões, algo que é semelhante ao dos sete céus de muitas outras obras místicas. Quanto mais longe a alma está da mansão central, mais escuro é o ambiente. Quanto mais perto se chega à mansão central o mais brilhante o lugar fica. A sétima mansão, aquela com o maior esplendor e luz mais brilhante, é a morada do Senhor Glorioso e o destino final da alma ascendente.

Ela também deixou alguns trabalhos menores, como o Exclamações e a Conceitos de amor, vários volumes de poesia extraordinária e uma grande quantidade de cartas escritas para ajudar e guiar suas irmãs em conventos diferentes. Os escritos de Santa Teresa estão no topo do ranking da prosa espanhola por causa de seu pensamento coerente, seu tom amável e gracioso e seu poder de expressão. Ela foi canonizada em 1622, e em 1970, o Papa Paulo VI concedeu-lhe o título de “Doutora da Igreja”, por sua contribuição para o desenvolvimento, compreensão e interpretação da doutrina cristã.

Conclusão

A melhor conclusão para Santa Teresa e seu espírito iluminado, seria um de seus poemas mais famosos. Em suas poucas linhas, a atitude que todos nós devemos ter na vida é perfeitamente descrito.

“Só Deus basta”

Não deixe que nada te perturbe,
não deixe que nada te assuste.
Todas as coisas acontecem;
Deus não muda.
A paciência ganha
tudo o que procura.
Quem tem Deus
não falta nada:
Só Deus basta.

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Tradução: Emerson de Oliveira