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“Fronzen” – o hit monstruoso da Disney inclui o primeiro casal de mesmo sexo na história do estúdio?

oaken-255x282Então, basicamente, todo mundo adora Frozen, menos eu. Tudo bem, pra mim. Eu não sou fã, mas também não odeio; há partes dele que gosto muito, embora outros elementos sejam decepcionantes e desanimadores. Assisti duas vezes, e em ambas eu gostei de coisas o suficiente pra me sentir frustrado por elementos que, fatalmente, me impedem de acolhê-lo bem.

Eu não estou surpreso por ser um sucesso tão grande. Eu estou um pouco surpreso com o esforço contínuo de fãs cristãos em fazer de Frozen uma espécie de alegoria cristã (mais sobre isso em um próximo post).

Por ora, quero falar de algo que observei enquanto fazia minha análise: os temas de cultura gay em Frozen .

Em minha primeira análise, eu mencionei essa questão (também observada em crítica positivas de outros críticos), em grande parte, para rejeitar tomá-la como um ponto de preocupante – não que eu não estivesse ciente dos temas em questão, mas não achava que merecessem grande preocupação. No entanto, um ponto que havia ignorado anteriormente foi trazido à minha atenção, e creio que mereça análise.

Primeiro, vamos colocar os temas amplos na mesa.

  • Com poderes de gelo, Elsa é notavelmente diferente das outras pessoas. “Nascida assim ou amaldiçoada?”, pergunta o rei dos trolls – e seus pais confirmam que ela nasceu assim.
  • No entanto, essa diferença é causa de medo e segredo. Equivocadamente, seus pais ensinam Elsa a “escondê-la, não senti-la”. Essa repressão de sua verdadeira natureza a leva ao isolamento, ansiedade e, finalmente, um colapso na celebração da posse de Elsa, em que ela, fora de si mesma, revela seus poderes a todos.
  • Vista com medo e repulsa pelos outros, Elsa desafia a sociedade que a rejeitou, bem como as restrições injustas colocadas a ela por seus pais, e comemora a aceitação de sua verdadeira identidade na música Let it Go. Nada mais de “Seja a boa menina que você sempre tem que ser”; para Elsa, agora seu mantra é: “Deixe a tempestade se alastrar / O frio nunca me incomodou mesmo”.
  • É importante notar que em nenhum momento Elsa compartilha os anseios românticos de sua irmã Anna, nem mostra qualquer interesse em um pretendente masculino ou em ser cortejada. (Em certo ponto, um personagem masculino observa que, como herdeiro, Elsa seria preferível a Anna, mas “ninguém estava conseguindo chegar a lugar nenhum com ela“)
  • Ah, e os espectadores que ficaram até créditos finais foram recompensados com uma piadinha de despedida onde gigante de gelo criado por Elsa, um monstro de voz inegavelmente masculina, aparece vagando por seu palácio de gelo abandonado até pegar a tiara da rainha jogada ao chão, e a coloca delicadamente sobre a sua própria cabeça, sorrindo como houvesse descoberto sua verdadeira princesa interior.

[veja a cena pós-creditos]

Por outro lado, há uma menção de duplo sentido sobre outro tipo de relação que se diz estar “fora das leis da natureza”: os trolls, cantando sobre Kristoff na canção Fixer-Upper, sugerem que ele tem um relacionamento anormal com sua rena Sven:

E daí que ele precisa de alguns reparos
E daí ele tem algumas falhas.
Tal como o seu cérebro peculiar, querido
Seu caso com a rena
Está um pouco fora das leis da natureza!

Sim: uma piada sobre bestialidade em um desenho animado da Disney.

Tudo isso me parece i) claramente uma sutil expressão de cultura pró-gay na Disney, e ii) não grande coisa, na medida em que os temas são sutis e ambíguos o suficiente para não representar uma preocupação importante, até mesmo para os pais mais experientes, ou exercer uma influência corruptora sobre crianças. (Eu não diria isso das expressões pró-gay ao estilo de Madagascar 2 ou os Happy Feet; estes estão numa categoria diferente, e eu realmete as repreendo. Em Frozen, estou mais preocupado com questões como Síndrome de Garota Oprimida e a subversão, de muitos modos, dos dois principais homens)

No entanto, há um outro elemento pró-gay em Frozen que vale a pena observar e que, de início, escapou-me: a sugestão fugaz, mas potente, de que um personagem secundário tem uma família composta por um parceiro do mesmo sexo e um monte de crianças.

Isto foi trazido a minha atenção por um artigo interessante no PolicyMic.com, chamado “7 momentos que fazem de Frozen o filme mais progressista da Disney“. O artigo oferece uma mistura de observações perspicazes, bem óbvias e, para mim, uma grande surpresa:

5. A família gay de Oaken

Ei, você notou um personagem gay? Eu também não, até que fui ver o filme pela segunda vez. Acontece que o grandalhão em “Comércio Ambulante e Sauna do Oaken” é provavelmente gay. Após jogar o pacote de sauna para Kristoff, Oaken se vira para dizer “Olá, família!” e BAM! lá estão eles.

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O adulto na sauna é posto, claramente, para sugerir que sjar seu marido. Melhor ainda, Oaken e seu parceiro tem uma família – e não apenas um caso. Nos poucos minutos que ele está na telona, a Disney consegue fazer de Oaken um personagem convincente (…)

Olhe bem a imagem.

Existe uma negação plausível? Claro.

O homem adulto na sauna, com seu queixo fino e a falta de barba, parece mais jovem do que o marmanjão, hirsuto Oaken, e poderia ser seu filho mais velho. Próximo a ele está uma moça que, dadas as convenções da animação, poderia ser filha ou esposa de Oaken – ou, diabos, a esposa de outro homem, que também poderia ser o irmão mais novo de Oaken). É até possível que a tal família não seja nem mesmo a família de Oaken; “Uhuu! Oi família! “ poderia significar “Oi, família aleatória de clientes quaisquer que me visitam”.

Por outro lado:

  • Por que o momento está no filme, afinal de contas? Por que fazer uma cena onde Oaken diz “Uhuu! Oi família!” e, fugazmente, mostrar a família na sauna? No menor das possibilidades, a cena e a linha parecem ter a intenção de sugerir que eles são, ou pelo menos poderiam ser, a família do próprio Oaken.
  • Por que o jovem está numa posição central, com todos os outros personagens ao seu redor? O enquadramento da imagem, e seu enorme tamanho, sugerem que ele é uma figura paterna, e não apenas um irmão mais velho.
  • Quantas vezes já vimos uma família grande em um filme da Disney? Por que tantos personagens, senão com a intenção de distrair visualmente a atenção dos espectadores?

Parece razoável crer que os produtores tenham jogado a cena para permitir que os espectadores homossexuais de olhos mais aguçados pudessem tirar suas próprias conclusões sobre que tipo de “família” é essa.

E iremos ver cada vez mais esse tipo de coisa no futuro. Aqui está o porquê.

Do ponto de vista dos cineastas de Hollywood, enquanto ainda não é possível para um filme de família tradicional ter personagens ou temas abertamente gays, a heteronormatividade de entretenimento infantil tradicionais foi problematizada.

Na América pós-evolutiva de Obama, o pressuposto de que cada protagonista em todos os desenhos animados são por padrão heterossexual – que cada heroína recebe seu príncipe, cada herói tem sua garota – não é mais aceitável do que cada protagonista ser branco, ou homem. Como crianças com duas mamães ou dois papais devem se sentir quando todas as famílias, em todos os desenhos animados, se parecem com a família dos seus amigos, e não com as suas?

É óbvio que uma versão da Disney de O Príncipe e o Príncipe está muito longe ainda. A revolução ainda está em estágios iniciais. Famílias gay e seus aliados devem assumir as consolações onde puderem encontrá-las, e contentar-se em sua maior parte com piscadelas e acenos, sugestões e subtextos.

Evidentemente, isso por vezes pode significar correr o risco de interpretações excessivamente criativas e apropriações de personagens e temas (um pouco como os cristãos na era pós-cristã encontram, em acessos de êxtase, “figuras de Cristo” em qualquer lugar) com base em fracas evidências ou até mesmo pretextos. “Tinky Winky! O Leão Covarde! Bert e Ernie [respectivamente, Beto e Ênio de Vila Sésamo, no Brasil]!”

Mas isso também significa que produtores de Hollywood realmente querem jogar as tais piscadelas e acenos quando puderem. Eles se sentiriam bem consigo mesmos, quando o fazem, e isso é algo que podem compartilhar em seus encontros.

É a grande questão dos direitos civis de nosso tempo! E se você não é parte da solução, você é parte do problema. Se você está fazendo um filme de família e não está fazendo algo para minar a instituição heteronormativa então, queira ou não, você está reforçando-a.

É por isso que Oaken tem a família que tem, e atinge um objetivo ao chamá-la.

E, no entanto, neste caso, os produtores tem feito muito bem o papel e seguido a linha à risca. Tão bem que os temas pró-gay tem subido à cabeça de inúmeros espectadores cristãos, muitos dos quais adotaram Frozen como uma ressonância poderosa de temas cristãos. (Sobre isso, falarei mais)

Steven D. Greydanus

Conclusão

Steven faz boas observações e conclusões pertinentes, especialmente no que diz respeito à cena da família de Oaken. É elementar que a cena foi colocada com um propósito, e tentativas de contra-argumentação como “ah, mas os filhos eram todos parecidos” ou “as crianças nem vão percerber isso!” não fazem o menor sentido – por, entre outras coisas, não se encaixarem na proposta de cena rápida e contexto de estágio inicial, pedagógico, de introdução de famílias com pais homossexuais. Ora, o filme faz analogia ao bestialismo – e não dá pra forçar a ingenuidade e achar que é só uma piadinha leve.

Algumas outras considerações merecem ser feitas.

A diretora de Frozen, Jennifer Lee, foi roteirista de outro filme que aborda temas pró-gay e esquerdistas, Detona Ralph – que gostei bastante, a propósito. Em ambos, Lee decidiu colocar a imagem sutil de um vilão ultraconservador. Velho, nobre, preconceituoso e opressor da pobre protagonista, os dois personagens traçam perfeitamente as características do conservador anacrônico, vilipendiado pela mídia. Veja a semelhança entre o Duque de Weselton (Frozen) e o Rei Candy (Detona Ralph), respectivamente.

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Outro integrante da equipe de Frozen é Jonathan Groff, dublador de Kristoff, primeiro ator homossexual da história da Disney. Numa entrevista promocional (veja o vídeo aqui), Groff fala sobre… casamento igualitário. Na verdade, ele vai ainda mais além: diz que se fosse príncipe, como seu personagem, a primeira lei que promulgaria seria para permitir que “qualquer um se case com quem quiser”. Sim, com quem quiser – e isso abre um leque de possibilidades. Com quem quiser.

Se você, leitor, ainda insiste em acreditar que o filme é totalmente inocente, a cena pós-créditos parece lhe ter sido feita sob encomenda, especialmente pra você. Para não deixar pedra sob pedra, a Disney coloca a cena – que poucos assistirão – do monstro parrudo saindo do armário.

Como disse no começo do texto, há fortes indícios de que Frozen faça parte do esquema inicial da Disney; o filme se encaixa em outras ações, como a adotada no seriado Boa Sorte, Charlie, do canal Disney Channel.

Como a cena mostra, trata-se da estreia do primeiro casal gay da história do canal – e até da Disney. Coincidência ou não, o episódio foi ao ar ainda no auge do sucesso de Frozen. De acordo com a Folha – que, curisomente, apresenta a notícia na seção infantil, Folhinha -, a porta-voz do Disney Channel disse que cuidados especiais foram tomados na elaboração do episódio. “A história foi desenvolvida sob a consultoria de especialista em desenvolvimento infantil”, disse. “Como toda a programação, a história foi criada para ser relevante para as crianças e família em todo mundo e refletir sobre diversidade e inclusão“.

Por fim, vale ressaltar, como também fez Steven, que a mensagem pró-gay e casamento homossexual de Frozen foi observada por uma grande quantidade de críticos e veículos de comunicação. Em quase todos, foi muito bem recebida e incentivada, com entusiasmo. O tema foi assunto de uma coluna no portal da CNN, escrita por Sally Kohn. Segundo a colunista, Frozen é fantástico, mas está na hora de vermos um filme infantil onde “a princesa se case com a princesa”.

“A Disney está pronta para uma princesa gay?”, questiona Sally. Depois do sucesso de Frozen, tudo leva a crer que está muito próxima.

Fonte: (National Catholic Register, 31/01/2014) e http://novaguia.org/

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