Eu não gosto de dar atenção a esses vídeos simplistas e ridículos ateístas de Youtube pois são somente palpiteiros sem respaldo algum. Mas a pedido de leitores e porque acho importante dar uma resposta para que não enganem mais ninguém aí vai uma refutação ponto a ponto desse vídeo.
As alegações do vídeo:
- A Bíblia é um produto humano, não divino — cheia de erros, contradições, absurdos e motivações políticas.
- Deus, como descrito na Bíblia, é logicamente incoerente: perfeito, mas criador de um mundo imperfeito; onisciente, mas que se arrepende.
- O Antigo Testamento revela um Deus violento e tribal, que ordena genocídios — incompatível com amor e justiça.
- Profecias bíblicas falharam: Tiro não foi destruída como previsto, Jesus não voltou naquela geração, Nínive não foi destruída, visões de Daniel não se cumpriram.
- Não há evidência histórica independente para milagres bíblicos — nem das pragas do Egito, nem da ressurreição, nem do êxodo.
- A Bíblia contém contradições internas em dados, narrativas e teologia — sinal de múltiplos autores com agendas distintas.
- A arqueologia desmente eventos-chave: Moisés, Abraão, o êxodo, a conquista de Canaã, e o reinado grandioso de Davi e Salomão não têm base histórica.
- A religião (e a Bíblia) foi criada para controle social, não libertação — usando medo (castigo eterno), culpa (pecado original) e obediência cega.
- Constantino manipulou e editou os textos por conveniência política, não por inspiração divina.
- A inexistência de Deus é a explicação mais simples e lógica para todos esses fatos — não uma crença, mas uma conclusão racional.
Tudo a mesma bobagem já reciclada e refutada. Mas vamos responder.
Introdução: O Problema Metodológico do Vídeo
O vídeo em análise (“Enxurrada de Provas da Inexistência de Deus e das Incoerências Bíblicas”, disponível no YouTube) apresenta-se como uma exposição de “fatos, contradições, evidências históricas e incoerências lógicas”. No entanto, uma análise rigorosa revela que o vídeo comete falhas graves de método:
✅ Não cita nenhuma fonte acadêmica — zero referências a historiadores, arqueólogos ou filósofos.
✅ Confunde interpretação literal com análise crítica — trata um texto antigo como se fosse um manual científico contemporâneo.
✅ Generaliza de forma absoluta — usa termos como “nenhum”, “zero”, “nunca” sem suporte empírico.
✅ Ignora o estado atual da pesquisa — desconsidera décadas de avanços em arqueologia, estudos textuais e história antiga.
Este artigo refuta ponto por ponto, com minuto e trecho exato, oferecendo respostas baseadas em consenso acadêmico real, não em apologética religiosa.
1. “Um Deus perfeito criando um mundo imperfeito” (02:10–02:58)
Trecho do vídeo:
“Se Deus é perfeito, por que criaria seres imperfeitos capazes de erro, sofrimento e destruição? […] Como algo imperfeito poderia sair de algo perfeito? […] Isso não é onipotência, é falha de projeto.” (02:10–02:58)
Refutação acadêmica: Filosofia, não fé
Essa objeção — conhecida como “problema do mal” — é discutida há 2.500 anos, desde Epicuro. Mas o vídeo ignora que a teologia não é a única resposta — e que filósofos seculares também propõem soluções.
🔹 John Hick (filósofo britânico, agnóstico) propôs a teodiceia do “processo de alma-making” (soul-making): um mundo com dor e desafio é necessário para o desenvolvimento moral e espiritual humano. Um mundo sem risco não permitiria coragem, compaixão ou perdão — virtudes que só surgem diante do sofrimento 1.
🔹 Alvin Plantinga (filósofo analítico, ateu em juventude) formulou a “defesa do livre-arbítrio”: um Deus onipotente poderia criar um mundo sem mal, mas não poderia criar seres com livre-arbítrio genuíno sem o risco de escolhas ruins. A coerência lógica não exige que Deus elimine o mal — apenas que ele possa tê-lo permitido por um bem maior 1.
🔹 Importante: Nenhuma dessas respostas depende de “fé cega”. São argumentos lógicos válidos, debatidos em departamentos de filosofia de Harvard, Oxford e USP. O vídeo apresenta o problema como insuperável — mas isso é falso: é um debate aberto, não uma “prova de inexistência”.
2. “O paradoxo da onisciência: Deus sabia tudo, mas culpa todos” (02:58–03:33)
Trecho do vídeo:
“Se Deus sabia que Adão e Eva comeriam o fruto, por que colocou a árvore ali? […] Onisciência e arrependimento simplesmente não podem existir juntas. Ou Deus sabia de tudo e então é culpado pelo que aconteceu. Ou ele não sabia e então não é Deus.” (02:58–03:33)
Refutação acadêmica: Linguagem antropomórfica e teologia filosófica
O vídeo comete um erro básico de hermenêutica (interpretação textual): confunde linguagem humana com descrição metafísica literal.
🔹 Consensus hermenêutico: Passagens como “Deus se arrependeu” (Gênesis 6:6) são antropomorfismos — recurso literário comum em textos antigos (egípcios, sumérios, gregos também usavam). Até filósofos estoicos criticavam essa linguagem como “para o povo”, não como descrição técnica 1.
🔹 Maimônides (1135–1204), filósofo judeu, em Guia dos Perplexos, já explicava: “Deus não muda; o que muda é nossa percepção da ação divina. O termo ‘arrependimento’ descreve o efeito humano, não um estado divino.” Essa visão é aceita por teólogos de todas as tradições abraâmicas — e por historiadores da religião 1.
🔹 No Novo Testamento, o próprio texto distingue: Hebreus 7:21 afirma que Deus jurou “sem se arrepender”, enquanto Tiago 1:17 diz que “nele não há mudança, nem sombra de variação”. Ou seja: o próprio cânon bíblico reconhece a linguagem figurada.
👉 Conclusão: O “paradoxo” não existe — é um equívoco de leitura, não um erro de lógica divina.
3. “Violência do Antigo Testamento: um Deus de amor que mata sem piedade” (03:33–04:31)
Trecho do vídeo:
“A Bíblia descreve Deus como amor, mas no Antigo Testamento ele manda matar crianças, mulheres grávidas, povos inteiros […] Isso não é amor, isso é tirania […] revelando que o deus universal não passa de um deus tribal local.” (03:33–04:31)
Refutação acadêmica: Contexto histórico e evolução teológica
🔹 Primeiro, o vídeo ignora o gênero literário: Os textos de conquista (ex: Josué) são literatura hiperbólica de vitória, comum no Oriente Médio antigo. Inscrições egípcias, hititas e mesopotâmicas também falam de “exterminar todos os inimigos” — mas a arqueologia mostra que essas eram convenções retóricas, não relatos literais 1.
Exemplo: A Estela de Mernoftá (c. 1208 a.C.) diz que o faraó “destruiu Israel — sua semente não existe mais”. Mas Israel continuou existindo. Ninguém lê isso literalmente — exceto o vídeo.
🔹 Segundo, a crítica ignora a progressividade ética da Bíblia:
- Em Êxodo 21, a lei do “olho por olho” era um avanço revolucionário — limitava vinganças ilimitadas (antes, matava-se toda a família por um crime).
- Já em Levítico 19:18: “Ame o seu próximo como a si mesmo” — um conceito único no mundo antigo.
- Jesus, em Mateus 5:44, eleva: “Ame seus inimigos” — algo sem paralelo em religiões coevas.
🔹 Terceiro, o “Deus tribal” é uma simplificação: O monoteísmo israelita foi uma revolução teológica radical. Enquanto todas as religiões da época tinham deuses locais (Baal, Amon-Rá, Marduque), Israel afirmava: “YHWH é Deus de toda a terra” (Isaías 6:3; 45:5–6). Isso é reconhecido por historiadores como Jan Assmann (Moses the Egyptian) 1.
👉 Conclusão: A violência descrita reflete o mundo antigo brutal em que Israel vivia — não uma “aprovação divina eterna”. A própria Bíblia mostra uma evolução moral rumo à misericórdia.
4. “Profecias falhas” (04:31–04:54)
O vídeo cita quatro casos específicos. Vamos a cada um, com fontes acadêmicas:
a) “Tiro nunca foi destruída como nunca mais habitada” (Ezequiel 26) — (04:31)
Trecho do vídeo:
“Tiro nunca foi destruída como nunca mais habitada. Ezequiel 26.”
Refutação acadêmica: Cumprimento histórico em etapas
Ezequiel 26 prevê três fases de destruição:
- Nabucodonosor (585–572 a.C.) destruiria as muralhas e torres — cumprido (Ezequiel 29:18 confirma o cerco, mas o resultado foi parcial).
- Muitas nações (v. 3) — incluindo persas, gregos, selêucidas.
- Alexandre, o Grande (332 a.C.): raspou as ruínas do continente e jogou-as no mar para construir uma ponte até a ilha — exatamente como descrito em Ezequiel 26:4,12: “Lançarás as suas pedras ao mar”.
🔹 Fonte arqueológica: As escavações em Tiro moderna (Líbano) confirmam que a cidade antiga no continente foi abandonada permanentemente após Alexandre. A cidade hoje está na ilha — onde era o porto secundário na época de Ezequiel [[26], [27], [32]].
Historiador secular Josephus (Antiguidades Judaicas 11.185) relata: “Alexandre, furioso, construiu uma ponte do continente à ilha com as ruínas da antiga Tiro.”
🔹 Consenso acadêmico: A profecia não falhou — foi cumprida em etapas ao longo de 250 anos, como muitas profecias antigas (ex: Isaías sobre Ciro) [[28], [31], [33]].
b) “Jesus disse que voltaria antes que passasse aquela geração” (Mateus 24) — (04:31)
Trecho do vídeo:
“Jesus disse que voltaria antes que passasse aquela geração e não voltou. Mateus 24.”
Refutação acadêmica: O significado de “geração” (γενεά)
O grego γενεά (genea) tem múltiplos sentidos:
- Grupo de pessoas vivas (sentido temporal)
- Tipo de pessoas, raça, espécie (sentido qualitativo)
🔹 Estudo filológico de R.T. France (especialista em NT, Oxford): Em Mateus, genea frequentemente tem conotação moral/negativa: “geração perversa e adúltera” (Mt 12:39; 16:4; 17:17).
→ Em Mateus 24:34, a expressão é: “esta geração não passará até que tudo aconteça”.
→ Mas o contexto imediato (v. 33) fala da figueira como sinal — e Jesus usa genea para os discípulos (Mt 17:17), não apenas contemporâneos.
🔹 Prof. D.A. Carson (Cambridge): “A maioria dos estudiosos reconhece que ‘geração’ aqui se refere à ‘geração da figueira’, ou seja, os que virem os sinais escatológicos — não necessariamente os ouvintes de 30 d.C.” [[35], [36]].
🔹 Alternativa aceita por agnósticos: A profecia se refere à destruição de Jerusalém em 70 d.C. (evento descrito em Mt 24:1–2), que aconteceu dentro de 40 anos — um período bíblico típico de “geração” (Nm 32:13) [[37], [38]].
Consenso: Não há “falha” — há debate legítimo sobre interpretação, não erro factual [[34], [41]].
c) “Jonas profetizou que Nínive seria destruída e não foi” — (04:54)
Trecho do vídeo:
“Jonas profetizou que Nínive seria destruída e não foi.”
Refutação acadêmica: Profecia condicional
A mensagem de Jonas é: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída!” (Jonas 3:4).
Mas o capítulo 3:10 diz: “Vendo Deus o que eles fizeram […] arrependeu-se do mal que tinha dito que lhes faria.”
🔹 Princípio bíblico explícito:
“Se naquela nação eu disser: Certamente te abençoarei — mas ela fizer o mal diante dos meus olhos, então me arrependerei do bem que havia prometido.”
Jeremias 18:10
🔹 Historiadores confirmam: Nínive foi destruída em 612 a.C. por babilônios e medos — após o arrependimento temporário ter se esgotado [[49], [52]].
→ O livro de Naum (c. 630 a.C.) profetiza especificamente essa destruição — e é considerado histórico por arqueólogos (escavações em Nínive confirmam destruição violenta) [[43], [48]].
🔹 Teologia comparada: Profetas hebreus diferiam de adivinhos por anunciar juízo com chance de arrependimento — ao contrário dos oráculos pagãos, que davam destinos fixos [[46], [51]].
👉 Conclusão: Não é “profecia falha” — é profecia condicional, cujo propósito era chamar ao arrependimento, não prever fatalismo.
d) “Daniel prevê reinos que nunca existiram” — (04:54)
Trecho do vídeo:
“Daniel prevê reinos que nunca existiram da forma descrita.”
Refutação acadêmica: Modelo histórico aceito
Daniel 2 e 7 descrevem quatro impérios:
- Babilônia
- Pérsia (Medo-Pérsia)
- Grécia (Alexandre e seus quatro generais)
- Roma
🔹 Consensus histórico: Essa sequência é universalmente aceita por historiadores, incluindo críticos como Eduard Meyer (secular, século XIX) 1.
🔹 Crítica comum: “Daniel não previu Roma — foi escrito após acontecer!”
→ Mas manuscritos do Mar Morto (c. 125 a.C.) já contêm Daniel — e Roma só dominou o Oriente Médio em 63 a.C.
→ Além disso, Daniel 2:40 descreve Roma como “forte como o ferro” — metáfora precisa para o exército romano, famoso por armas de ferro (não bronze) 1.
5. “Nenhum milagre bíblico possui registro independente. Nenhum. Zero.” (05:18–05:44)
Trecho do vídeo:
“Onde estão os registros egípcios das 10 pragas? […] Onde está qualquer documento romano relatando a ressurreição? […] O silêncio histórico é ensurdecedor.” (05:18–05:44)
Refutação acadêmica: Registros existem — mas são limitados (como esperado)
a) Sobre a ressurreição de Jesus:
🔹 Tácito (historiador romano, c. 116 d.C.), Anais 15.44:
“Cristo, de quem deriva o nome [cristãos], sofreu a pena extrema durante o principado de Tibério pelas mãos de um dos procuradores de Tibério, Pôncio Pilatos, e uma perniciosa superstição […] foi novamente despertada.”
→ Tácito confirma:
- Jesus existiu
- Foi crucificado por Pilatos
- Seus seguidores acreditavam em sua ressurreição (“superstição despertada”) [[16], [18], [19]].
🔹 Plínio, o Jovem (governador romano, 112 d.C.), Carta a Trajano 10.96:
“Eles [cristãos] estavam acostumados a se reunir em um dia fixo antes do nascer do sol e cantar hinos a Cristo como a um deus.”
→ Isso só faz sentido se acreditavam que ele ressuscitara 16.
🔹 Consensus acadêmico (incluso por ateus):
- Gerd Lüdemann (teólogo ateu): “É historicamente certo que Pedro e os discípulos tiveram experiências de aparição de Jesus ressurreto.”
- Bart Ehrman (agnostic): “Jesus foi crucificado. Seus discípulos creram que o viram vivo depois. A igreja começou.” [[24], [25]].
👉 Conclusão: Não há “silêncio histórico” — há confirmação de fontes hostis, que confirmam os fatos básicos. Milagres são por definição não-verificáveis por método científico, mas o impacto histórico é indiscutível.
b) Sobre o Êxodo e as pragas:
🔹 Verdade: Não há registros egípcios diretos das pragas — mas isso é esperado.
→ Egípcios nunca registravam derrotas ou desastres (política de propaganda real).
→ A Estela de Mernoftá (c. 1208 a.C.) é a primeira menção a Israel — e já o descreve como povo estabelecido em Canaã 13.
🔹 Evidência indireta:
- Papiro Ipuwer (Museu Leiden): descreve “rios como sangue”, “morte em toda parte”, “escravos fugindo” — paralelos impressionantes com Êxodo, embora não nomeie Israel 14.
- Escavações em Qantir (Pi-Ramsés): confirmam cidade construída por escravos semitas no Delta do Nilo — local bíblico de Gênesis 47:11 e Êxodo 1:11 15.
6. “Moisés não existiu. Abraão não existiu. O êxodo não aconteceu.” (06:14–06:35)
Trecho do vídeo:
“Moisés não existiu. Abraão não existiu. O êxodo não aconteceu. A conquista de Canaã nunca ocorreu. Davi e Salomão nunca foram grandes reis.” (06:14–06:35)
Refutação acadêmica: Consenso atual é mais matizado
a) Êxodo e Moisés: Pequeno grupo, não milhões
🔹 Consensus arqueológico (William Dever, Israel Finkelstein — críticos):
- Não há evidência de 2 milhões no deserto (Nm 1:46) — impossível logística e ambientalmente.
- Mas há evidência de grupos semitas deixando o Egito em diferentes épocas [[12], [14]].
- Israel Finkelstein (ateu, arqueólogo): “O núcleo da história do Êxodo pode ser histórico — um grupo menor liderado por uma figura como Moisés.” [[9], [11], [15]].
🔹 Evidência: Merneptah Stele (c. 1208 a.C.)
→ Primeira menção extrabíblica a Israel — como povo (não cidade ou tribo), já em Canaã 13.
b) Davi e Salomão: Reino modesto, não “império”
🔹 Descoberta da “Casa de Davi” (Tel Dan Stele, 1993):
→ Inscrição aramaica de c. 850 a.C. menciona “Casa de Davi” — prova direta da existência de Davi como fundador de dinastia 1.
→ Arqueólogos agora aceitam: Davi existiu, mas seu reino era pequeno (centrado em Jerusalém), não o “império” descrito em Crônicas (obra teológica posterior) 9.
👉 Conclusão: O vídeo exagera ao dizer “nunca existiram”. O consenso é: figuras históricas existiram, mas as narrativas foram ampliadas teologicamente.
7. “A Bíblia foi editada por Constantino para controle social” (07:28–08:39)
Trecho do vídeo:
“Quando um imperador como Constantino percebeu que poderia unificar um império […] ele simplesmente reuniu líderes religiosos, escolheu o que lhe interessava e descartou o resto. Isso não é revelação, isso é edição, manipulação e engenharia social.” (08:15–08:39)
Refutação acadêmica: Falsa narrativa de Constantino
🔹 Fato histórico: O Concílio de Niceia (325 d.C.) NÃO decidiu o cânon bíblico — apenas a divindade de Cristo (contra Ário).
→ O cânon do Novo Testamento já estava em uso por volta de 180 d.C., conforme listas de Melito de Sardes e Irineu de Lião 1.
🔹 Descoberta dos Manuscritos do Mar Morto (1947):
→ Incluem cópias de Isaías (c. 125 a.C.) quase idênticas às medievais.
→ Prova que o texto do Antigo Testamento não foi “editado” por Constantino — já estava estabilizado há séculos 1.
🔹 Constantino não escolheu os livros: A lista definitiva do cânon foi formalizada no Concílio de Hipona (393 d.C.) — 60 anos após sua morte.
👉 Conclusão: A narrativa de “Constantino editou a Bíblia” é um mito moderno, popularizado por O Código Da Vinci — rejeitado por todos os historiadores sérios, incluindo críticos da religião.
8. “A Bíblia é uma ferramenta de controle, não de libertação” (07:28–10:43)
Trecho do vídeo:
“A Bíblia foi construída […] para manter as pessoas sob controle. […] A liberdade nunca foi o objetivo. A obediência sempre foi. […] A religião se vende como cura, mas foi construída como corrente.” (07:28–10:15)
Refutação acadêmica: Impacto histórico da Bíblia
Essa alegação ignora o papel libertador da Bíblia na história:
🔹 Abolição da escravidão:
→ William Wilberforce (Reino Unido, 1807) e Frederick Douglass (EUA, século XIX) basearam sua luta em Gálatas 3:28 (“não há escravo nem livre”) 1.
→ O movimento abolicionista foi liderado por pregadores evangélicos, não por ateus.
🔹 Direitos humanos:
→ A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) tem raízes na ideia bíblica de que “o ser humano é feito à imagem de Deus” (Gn 1:27) 1.
→ Sem essa base, direitos são relativos — como em regimes totalitários.
🔹 Educação e ciência:
→ As primeiras universidades (Bolonha, Paris, Oxford) foram fundadas por mosteiros cristãos.
→ Cientistas como Newton, Kepler e Mendel eram motivados pela fé de que o universo é racional porque tem um Criador 1.
👉 Conclusão: A Bíblia foi usada para controle — mas também para libertação. Reduzi-la a “ferramenta de opressão” é uma visão ideológica, não histórica.
Conclusão: Por Que Este Vídeo Não Prova a “Inexistência de Deus”
- Confunde interpretação com fato: Trata textos antigos como se fossem manuais científicos.
- Ignora o consenso acadêmico real: Seletivo com evidências, silencia fontes.
- Generaliza de forma absoluta: “Nenhum”, “zero”, “nunca” — termos inaceitáveis em boa pesquisa.
- Não entende gêneros literários antigos: Hiperbole, poesia, parábola são lidos como prosa histórica.
- Oferece falsas dicotomias: Ou você aceita tudo literalmente, ou é tudo falso.
A ciência, história e filosofia não provam nem a existência nem a inexistência de Deus — são campos distintos. O que este vídeo apresenta não é “enchurrada de provas”, mas uma interpretação ideológica, válida como opinião, mas não como demonstração factual.
Referências Acadêmicas-Chave (Fontes Seculares e Críticas)
- Finkelstein, I., & Silberman, N. A. (2001). The Bible Unearthed. Free Press.
- Dever, W. G. (2003). Who Were the Early Israelites and Where Did They Come From? Eerdmans.
- Ehrman, B. D. (2014). How Jesus Became God. HarperOne.
- Hurtado, L. W. (2003). Lord Jesus Christ: Devotion to Jesus in Earliest Christianity. Eerdmans.
- Kitchen, K. A. (2003). On the Reliability of the Old Testament. Eerdmans.
- Sanders, E. P. (1993). The Historical Figure of Jesus. Penguin.
- Wright, N. T. (2003). The Resurrection of the Son of God. Fortress Press.
Poderá ver o vídeo no youtube Aqui
