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Doutrinas das Testemunhas de Jeová

“É um assunto sério representar a Deus e Cristo de um modo, e então descobrir que nosso entendimento dos principais ensinos e doutrinas fundamentais estavam em erro, e depois disso, retornar às mesmas doutrinas que, por anos de estudo, havíamos demonstrado amplamente estarem em erro. Os cristãos não podem estar vacilando – ‘indo e vindo’ – em tais ensinos fundamentais. Que confiança pode-se ter na sinceridade ou julgamento de tais pessoas?”

Revista A Sentinela de 15 de Maio de 1976

“Qual deve ser sua reação se lhe apresentarem prova de que aquilo em que você crê é errado?”

Livro “Poderá Viver para Sempre…”, p. 32

“Uma religião que ensina mentiras não pode ser verdadeira.”

Revista A Sentinela de 1 de Dezembro de 1991, p. 7

“Para se chegar à verdade, devemos despojar nossa mente e coração de preconceitos religiosos. Devemos deixar que Deus fale por si mesmo. Qualquer outra conduta só levaria a mais confusão.”

Livro “Seja Deus Verdadeiro”, p. 8

*Índice

Introdução

“Sinais no Sol…”

Idéias Adventistas

Devem os cristãos ter um nome distintivo?

Devem os cristãos ter uma organização controladora?

Como será a vida no ‘paraíso’?

Precisam os cristãos abster-se do Serviço Militar

Como Deus considera as raças?

Deve o cristão ler apenas a Bíblia?

Qual o significado de 1914, 1915 e outras datas?

Quem era Russell, afinal?

Devem os cristãos falar sempre a verdade?

Deve o cristão cursar a universidade?

Palavras de duplo sentido?

Introdução

O Dicionário da Língua Portuguesa de Celso P. Luft (Editora Scipione) define a palavra “doutrina” como significando: a) Conjunto de princípios norteadores de religião, filosofia, política etc; b) Tudo o que é objeto de ensino ou c) Instrução cristã. Esse amplo espectro de definição abrange plenamente o objeto de estudo deste artigo, pois faremos um exame cronologicamente ordenado dos mais relevantes princípios, ensinos e declarações feitos pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados – entidade governante das Testemunhas de Jeová – em mais de um século de sua existência.

Cremos que tal exame proverá ao leitor a oportunidade ímpar de acompanhar toda a evolução doutrinária desta denominação religiosa. Contudo, o leitor poderá fazer mais que isso – de posse das informações aqui fornecidas, será capaz de visualizar cada instante histórico deste movimento religioso, a partir de seus primórdios, na figura de seu fundador, Charles T. Russell (1852 – 1916) e ao longo das quatro presidências que se seguiram a ele. Na verdade – cremos – a partir desta incursão, será possível testemunhar uma autêntica e gradativa metamorfose nos ensinos da religião, ao ponto de torná-la, na atualidade, quase irreconhecível se comparada àquele pequeno grupo de Estudantes da Bíblia (nome inicial das Testemunhas de Jeová) no início do século 20. Da mesma forma, um adepto atual dificilmente reconheceria sua religião se pudesse olhar para ela há 50 ou 100 anos atrás. De fato, há uma controvérsia histórica quanto a quem a entidade deve sua origem. De acordo com a publicação Proclamadores (1993), cap. 5, as Testemunhas de Jeová consideram como iniciador de seu movimento o ‘pastor’ Russell. Todavia, os atuais remanescentes dos antigos Estudantes da Bíblia (http://www.biblestudents.net/abs/history.htm) – os quais preservam, inclusive, o nome original – insistem afirmando que esta visão corresponde a um grosseiro equívoco, pois o sucessor de Russell, o autoproclamado ‘juiz’ J. F. Rutherford – contrariando o testamento de seu antecessor e mestre – assumiu o controle da organização e introduziu, de forma autoritária, mudanças radicais, desfigurando-a e desviando-a de seu propósito original ao ponto de tornar inevitável uma ‘rachadura’ no movimento – o cisma de 1917, apenas um prólogo.

É a ele, Rutherford, e somente a ele que os atuais Estudantes da Bíblia (ou Russelitas) atribuem o surgimento daqueles a quem o público em geral conhece pelo nome Testemunhas de Jeová – título, aliás, criado pelo próprio Rutherford no ano de 1931. Segundo Chandler Sterling – um crítico da época – com este título atingiam-se dois objetivos simultaneamente: primeiro, estabelecia-se uma distinção formal entre grupo de Rutherford e aqueles que não aceitaram submeter-se à sua política administrativa; segundo, os Estudantes da Bíblia passariam, a partir desta mudança, a endereçar a si mesmos todas as passagens ou profecias bíblicas que contivessem a palavra ‘testemunho’ ou ‘testemunhar’ (Proclamadores, p. 152) . Conforme a história mostraria, as suspeitas de Sterling não eram infundadas.

Com o surgimento de diversos grupos dissidentes, a identidade dos genuínos seguidores do ‘pastor’ Russell, de fato, tornou-se um tanto obscura. Eleger hoje as Testemunhas de Jeová – ou qualquer dos inúmeros ramos que irradiaram-se a partir daquele começo – como herdeiros do espólio doutrinário de Russell torna-se meramente uma questão de ponto de vista. Se considerarmos o êxito econômico, sem dúvida a Sociedade Torre de Vigia – entre as diversas entidades surgidas – tem suas razões para reivindicar tal prerrogativa, afinal ela atingiu níveis de prosperidade e difusão junto ao público que superam em muito aqueles alcançados por suas rivais. É dela o maior patrimônio em complexos de edifícios ao redor do mundo, em fazendas e em colossais gráficas. Também ela divulgou mais literatura que qualquer uma de suas concorrentes. Seus dirigentes evocam tais números como evidência do favor divino – um critério, no mínimo, questionável. Se, por outro lado – ao invés do aspecto material – considerarmos a estrita aderência aos princípios e doutrinas tenazmente defendidos por Russell até sua morte, o panorama adquire outro aspecto. Pudesse ele voltar da sepultura, dificilmente reconheceria na estrutura doutrinária e hierárquica das Testemunhas de Jeová a continuação do pequeno e singelo movimento que ele iniciara durante a efervescente atmosfera religiosa do final do século 19. É nosso desejo que a seqüência de ensinamentos aqui mostrada – repleta de mudanças estruturais – possa proporcionar ao leitor subsídios que o habilitem a fazer uma avaliação imparcial dessa questão.

Uma fascinante viagem, fecunda em reviravoltas doutrinárias e contrastes, coloca-se diante de nós. Venha conosco e compreenda, afinal, o longo processo que transformou um pequeno grupo de estudantes da Bíblia – reunidos há mais de um século em eclésias simples e independentes – numa vasta corporação centralizadora, com milhões de adeptos no mundo inteiro. Talvez, ao final da jornada, você leitor considere compreensível o fato de a maior parte desta informação ser mantida – pela organização – tão distante quanto possível dos olhos dos prospectivos membros. De fato, você terá visto muito mais do que qualquer um deles jamais sonhou ver…

Neste trabalho, cada ponto (doutrina, ensino ou declaração) será sempre acompanhado da respectiva referência, oriunda das próprias publicações das Testemunhas de Jeová (quando possível, será fornecida a fotocópia do documento). Cremos que, sendo provenientes da própria religião, as provas terão considerável força. Quando apropriado, comentários serão introduzidos, com a finalidade de escrutinar a matéria em questão e facilitar a compreensão do leitor. Uma vez formado o cenário social e histórico de cada momento, será mais fácil compreender o por quê desta ou daquela declaração. Os resultados parecem consistentes com a tese de que nenhum grupo religioso é imune às crendices de seu tempo.

Obs.: a maior parte da literatura aqui citada corresponde às edições originais em língua inglesa, de modo que poderá não haver a exata correspondência com as versões em português, especialmente tratando-se de números mais antigos. Ademais, alguns exemplares muito antigos são extremamente raros em língua portuguesa. Além disso, achamos conveniente acrescentar grifos aos trechos mais importantes.

“… Sinais no sol, na lua e nas estrelas.” – Mateus 24:29

Início

“Devem estes sinais ser interpretados como literais ou simbólicos? E será que eles já se cumpriram? Nós respondemos que eles tiveram um cumprimento literal, e agora estão tendo estão tendo um cumprimento simbólico muito mais momentoso. Em 19 de maio de 1780 […] um escurecimento fenomenal do sol ocorreu…cobrindo 320.000 milhas quadradas… [na] Nova Inglaterra e Estados Centrais… não deve ser surpresa para nós… que Deus porventura utilize a ‘terra da liberdade’ para enviar a mensagem destes sinais ao mundo… Ele se satisfaz em enviar, a partir do mesmo lugar, muitas das modernas bênçãos e invenções… bem simbolizadas pela… estátua da ‘Liberdade iluminando o mundo’.”

– Estudos das Escrituras IV, 1897, pp. 585,587,588 (em inglês)

“As palavras de Nosso Senhor tiveram um cumprimento na maravilhosa chuva de meteoros da manhã de 13 de Novembro de 1833… estes sinais literais servem ao seu propósito designado de chamar a atenção para o Tempo do Fim.”

– Estudos das Escrituras IV, 1897, pp. 588, 590 (em inglês)

Comentário:

Vemos aqui uma pequena demonstração da mentalidade, por assim dizer, “apocalíptica” do ‘pastor’ Russell, buscando, em fenômenos astronômicos, tais como eclipses e chuvas de meteoros, argumentos para situar o cumprimento das profecias bíblicas em seu próprio tempo. Todavia, ele não foi um pioneiro. Tal atitude nada mais era do que um produto da atmosfera religiosa prevalente nos EUA ao final do século 19 – dando origem a diversos movimentos religiosos, entre eles o Adventismo. É também digno de nota o indisfarçado patriotismo de Russell, claramente evidenciado por seu louvor ufanista à América – ‘terra da liberdade’ escolhida por Deus – e ao símbolo maior de New York – a estátua da liberdade.

Idéias Adventistas: 1799 – Início do ‘Tempo do Fim’… 1874 – ‘ Presença’ do Messias

Início

“Assim, reconheço estar endividado com os adventistas e com outras denominações… embora o Adventismo não me tenha ajudado em nenhuma verdade específica, ajudou-me grandemente a desaprender erros, e assim me preparou para a Verdade.”

Zion’s Watch Tower (A Sentinela), 15 de julho de 1906, p. 229 [p. 3821 na reimpressão]

“…dentro de trinta anos após o início do Tempo do Fim (1260+30=1290), um trabalho de purificação… começaria dentre o povo santo… Contando de 539 A.D., os 1290 dias simbólicos terminaram em 1829… um movimento religioso… geralmente conhecido como ‘Segundos Adventistas’ ou ‘Milleristas’começou em 1829… o trabalho de separação do ‘movimento de Milller’ começou no tempo previsto…”

– Estudos das Escrituras III, 1891, pp. 83,84 e 88 (em inglês)

“Esta mensagem concernente ao Reino do [arcanjo] Miguel, abrindo-se de 1829 em diante, é simbolicamente representada no livro de ‘Revelação’…”

– Estudos das Escrituras III, 1891, p. 89 (em inglês)

“…e assim houve expectativa e movimentação correspondentes da parte de muitos (posteriormente chamados Adventistas) liderados principalmente por um irmão Batista chamado William Miller… Isto culminou no ano de 1844 A.D., exatamente trinta antes de 1874, quando Cristo…, de fato, chegou…”

– Estudos das Escrituras II, 1888, pp. 240,241 (em inglês)

“A aplicação que o Sr. Miller fez dos três tempos e meio foi praticamente a mesma que nós fizemos, mas ele cometeu o erro de não começar os períodos de 1290 e 1335 [dias] no mesmo ponto… O desapontamento foi predito para o primeiro movimento…, mas o segundo não foi um desapontamento…, pois o cumprimento veio exatamente… em Outubro de 1874.”

– Estudos das Escrituras III, 1891, pp. 85-93 (em inglês)

“… a data exata para o início do ‘Tempo do Fim’… mostra ser a invasão de Napoleão ao Egito… Ele navegou em maio de 1798… e chegou à França em 9 de outubro de 1799.”

– Estudos das Escrituras III, 1891, p. 44 (em inglês)

Napoleão iniciou sua campanha egípcia em 1798,… e, sendo completada em 1799, marca, de acordo com as próprias palavras do profeta, o começo do ‘Tempo do Fim‘.”

– A Harpa de Deus, 1921, pp. 228-229 (em inglês)

“Ao final de 1260 anos, o poder da verdade e de suas testemunhas foi manifestado (1799 A.D.).”

– Estudos das Escrituras II, 1888, p. 256 (em inglês)

“O ‘Tempo do Fim’, um período de cento e quinze (115) anos, de 1799 A.D. a 1914 A.D., é particularmente assinalado nas Escrituras… ninguém poderia entender a profecia antes de 1799… o início do ‘Tempo do Fim’, dentro de cujos limites todo vestígio deste sistema desaparecerá...”

– Estudos das Escrituras III, 1891, pp. 23, 24 e 48 (em inglês)

“O domínio papal… foi quebrado no início do ‘Tempo do Fim’1799

– Estudos das Escrituras IV, 1897, p. 37 (em inglês)

“O ‘Tempo do Fim’ abrange um período que vai de 1799 até o tempo de completa derrocada do império de Satanás e o estabelecimento do Reino do Messias.”

– Criação, 1927, p. 37 (em inglês)

“Mil duzentos e sessenta anos a partir de 539 A.D. levam-nos a 1799, o que é outra prova de que 1799 marca o início do ‘Tempo do Fim‘”.

– Criação, 1927, p. 294 (em inglês)

“Os fatos indisputáveis, por conseguinte, mostram que o ‘tempo do fim’ começou em 1799…”

– Watchtower (A Sentinela) de 1/3/1922

“Em simbologia bíblica, um tempo significa um ano de doze meses com trinta dias cada, ou 360 dias. Cada dia é considerado como um ano… Aqui são mencionados, então, três tempos e meio de 360 dias proféticos cada, ou um total de 1260 dias proféticos, igual a 1260 anos…. de 539 A.D. … até 1799outra prova de que 1799 marca o início do ‘tempo do fim’.”

– A Harpa de Deus, 1921, pp. 229,230 (em inglês)

“Neste capítulo, nós apresentamos a evidência bíblica que indica que seis mil anos a partir da criação de Adão completaram-se em 1874; e que assim, desde 1872, nós entramos cronologicamente no sétimo [período] do Milênio…”

– Estudos das Escrituras II, 1913, editorial 33 (em inglês)

Nosso Senhor, o Rei designado, está agora presente, desde Outubro de 1874…”

– Estudos das Escrituras IV, 1913, editorial 621 (em inglês)

“É com base em tais e tantas correspondências – de acordo com as mais sólidas leis conhecidas da ciência – que nós afirmamos que, escrituralmente, cientificamente , historicamente , a cronologia presente está correta além de qualquer dúvida. Sua confiabilidade foi abundantemente confirmada pelas datas e eventos de 1874… é uma base segura sobre a qual os filhos consagrados de Deus podem se empenhar na busca pelas coisas que estão por vir”

Watchtower (A Sentinela) de 15/6/1922, p. 187

“A profecia bíblica mostra que o Senhor apareceria pela segunda vez no ano de 1874. A profecia cumprida mostra, além de dúvida, que ele realmente apareceu em 1874estes fatos são indisputáveis.”

– Watchtower (A Sentinela) de 1/11/1922, p.333

“Certamente não há o menor espaço para dúvida na mente de um filho verdadeiramente consagrado de Deus que o Senhor Jesus está presente e tem estado desde 1874.”

Watchtower (A Sentinela) de 1/11/1924, p. 5

“… esta medida [numa passagem da pirâmide] é de 3416 polegadas, simbolizando 3416 anos… Este cálculo mostra o ano de 1874 A.D. como marcando o início do período de tribulação…”

– Estudos das Escrituras III, 1897, editorial 342 (em inglês)

“…refere-se à Grande Pirâmide, cujas medidas confirmam o ensino bíblico de que 1878 marcou o começo da colheita…”

– A Sentinela de 1/10/1917, p. 6149 (em inglês)

Comentário:

As matérias acima descrevem bem aquele que foi – por décadas a fio – o pilar fundamental da obra do ‘pastor’ Russell – o cálculo escatológico dos Adventistas, o qual apontava para o início ‘tempo do fim’ no período 1798/1799 e a ‘segunda vinda’ de Cristo em 1874. A piramidologia – comum entre os adventistas daquela época – serviu, até 1928, como base para confirmar a correção de tais cálculos. Perceba o leitor a firmeza e convicção com que este ensino foi reiteradamente enfatizado pela Sociedade Torre de Vigia, mesmo após a morte de Russell , em 1916. Termos como “indisputável”, “seguro”, “exato”, “além de qualquer dúvida” ou “provas”, conforme se pode ver, permeiam os artigos. Hoje em dia, nenhuma Testemunha de Jeová vê qualquer significado nessas datas tão tenazmente defendidas por Russell. Na verdade, é notável a convicção com que elas defendem hoje um cálculo completamente diferente daquele apresentado como uma “base segura” pelo fundador de sua religião. Nem 1799 correspondeu ao início do ‘tempo do fim’ ; nem Cristo retornou em 1874; nem a “colheita” realizou-se em 1878; nem o ‘armagedom’ ocorreu em 1914. Pela escatologia atual, tanto o ‘tempo do fim’ quanto a ‘segunda vinda’ de Cristo foram convenientemente transferidos para 1914 e a “colheita” para 1918. Quanto ao ‘armagedom’, mais de cinco datas diferentes já foram propostas – 1914, 1918, 1925, 1941, 1975 e assim por diante. Diante do contraste aqui encontrado, é natural perguntar: quando, exatamente, esteve a Sociedade Torre de Vigia em erro? Ao defender as “verdades passadas”, décadas atrás, ou quando defende as “verdades presentes”? Ou em ambas?

Devem os cristãos ter um nome distintivo?

Início

“Já que você saberia por qual nome distinguir-me dos outros, eu lhe digo que eu seria, e espero ser, um Cristão; e escolho, se Deus por acaso tiver-me como merecedor, ser chamado um Cristão, um crente, ou qualquer outro nome que seja aprovado pelo Espírito santo. Quanto àqueles títulos facciosos (ou sectários) como Anabatista, Presbiteriano, Independente, ou coisa semelhante, eu concluo que eles não vieram de Antioquia nem de Jerusalém, mas do inferno e de Babilônia, pois eles tendem a divisões; você poderá conhecê-los por seus frutos.” (Grifo acrescentado)

– A Sentinela de abril de 1882, pp. 7 e 8 (em inglês)

” ‘Cristãos´ é o único nome pelo qual precisamos ser chamados.”

– A Sentinela de março/abril de 1883, p. 458 (em inglês)

Comentário:

A postura do ‘pastor’ Russell com respeito à adoção de um nome distintivo não dava margem para dúvidas – tal recurso era visto como uma característica própria das seitas e ‘divisões’. Contudo, após as sucessivas rupturas ocorridas no movimento durante os anos seguintes à morte de seu fundador, seu sucessor – J. F. Rutherford – achou estrategicamente apropriada a adoção de um novo nome, criado por ele próprio. Indiferente ao entendimento de seu predecessor e mestre, adotou o ‘faccioso’ título de “Testemunhas de Jeová” – anunciando-o perante uma platéia excitada, durante um congresso em 1931. Conforme mencionado no início desse artigo, o livro Proclamadores (p. 152) cita o escritor Chandler Sterling como tendo atribuído à ação de Rutherford – classificada por ele como “golpe de gênio – dois propósitos: 1) dar uma identidade oficial ao grupo dele e 2) criar o ensejo para os membros da religião aplicarem a si mesmos todas as passagens bíblicas que contivessem os termos ‘testemunha’ e ‘testemunhar’. Muito embora o livro negue tais asserções, curiosamente, um exame mais detido da obra acaba por confirmar, na prática, a segunda afirmação, pois, em seus capítulos iniciais, chama todos os antigos servos de Deus – inclusive Jesus Cristo – de ‘testemunhas de Jeová’. Mesmo cientes de que, historicamente, nenhum deles adotou oficialmente tal nome, os editores do livro consideram válido tal recurso, pois cumpre um propósito específico: gera, na mente do leitor, um vínculo ideológico e histórico entre o grupo atual e tais personagens bíblicos.

Devem os cristãos ter uma organização controladora?

Início

“Pela mesma razão de que Jesus não organizou congregações enquanto presente com seus discípulos na colheita judaica, não consideramos conveniente ou necessário ter organizações, mesmo simples e não sectárias como aquelas estabelecidas pelos apóstolos.”

– A Sentinela de outubro de 1883, p. 536 (reimpressão em inglês)

Não há qualquer organização hoje investida de autoridade.”

– A Sentinela de 1/9/1893, p. 1573 (em inglês)

“Acautele-se contra ‘organizações’… é algo completamente desnecessário.A Bíblia constitui a única autoridade de que você precisará. Não tente prender a consciência de outros nem permita que outros prendam a sua. Creia e obedeça até onde você compreende a Palavra de Deus hoje e assim continue a crescer na graça e no conhecimento dia a dia.”

Zion’s Watch Tower, 1895, p. 216

Comentário 1:

Queira o leitor notar o contraste entre as declarações acima e algumas outras – feitas pela mesma organização – algumas décadas depois…

“Nós resolvemos obedecer todas as instruções recebidas da Torre de Vigia, sabendo que tal procede dos altos poderes, Jeová Deus e Jesus Cristo. Nós resolvemos ser completamente obedientes à Sociedade como parte visível da Grande Teocracia.”

– A Sentinela de 1/2/1940, p. 47 (em inglês)

“Assim sendo, além de possuirmos individualmente a palavra de Deus, nós precisamos de uma organização teocrática.”

– A Sentinela de 15/6/1951, p. 375 (em inglês)

“Nós devemos seguir docilmente junto com a organização teocrática do Senhor e esperar por mais esclarecimento, ao invés de recuar na primeira menção de um pensamento intragável para nós e começar a polemizar e emitir críticas, como se tais coisas fossem mais importantes do que as provisões de alimento espiritual do ‘escravo’ [a organização].”

– A Sentinela de 1/2/1952, p. 80 (em inglês)

“Jeová Deus lida com seu povo como uma classe… ele não nutre ninguém individualmente…”

– Anuário de 1953, p. 9 (em inglês)

“A Bíblia é um livro de organização e não pode ser plenamente entendida sem termos a organização teocrática em mente…”

– A Sentinela de 1/9/1954, p. 529 (em inglês)

“Se temos amor a Jeová e pela organização de seu povo, não seremos desconfiados, mas, como diz a Bíblia, ‘acreditaremos em todas as coisas‘, todas as coisas que a Torre de Vigia publicar…”

– Qualificados para ser Ministros, 1955, p. 156 (em inglês)

“Se sentirmos que há algo errado, ‘guardaremos o mandamento’ de nosso Pai e daremos qualquer passo teocrático aberto para nós e, então, ‘esperaremos em Jeová‘… Nós nãocriticaremos ou acharemos defeito. Perceberemos que Jeová está seguindo com sua organização, e se Ele permite que seja assim, quem somos nós para acharmos que deveria ser diferente? … nós estamos muito mais seguros dentro dessa organização, mesmo com essas dificuldades menores do que estaríamos lá fora, onde o caos e a destruição nos aguardam…””

– A Sentinela de 1/5/1957, p. 284 (em inglês)

“A Bíblia é um livro organizacional e pertence à congregação cristã como organização, não a indivíduos, não importa quão sinceramente eles acreditem que podem interpretar a Bíblia.”

– A Sentinela de 1/10/1967, p. 587 (em inglês)

Deposite em uma Organização Vitoriosa

– A Sentinela de 1/3/1979, p. 1 (em inglês)

“…Deus sempre usou uma organização…”

– A Sentinela de 15/2/1983, p. 12 (em inglês)

“Nós não podemos tomar parte em nenhuma versão moderna de idolatria – sejam gestos de adoração diante de uma imagem… ou a atribuição da salvação a uma pessoa ou organização.”

– A Sentinela de 1/11/1990, p. 26 (em inglês)

“…Isso inclui sermos leais ao ‘escravo fiel e discreto’ [a organização].”

– A Sentinela de 1/12/1990, p. 19 (em inglês)

Comentário 2:

É, deveras, chocante o contraste entre o arranjo descentralizado, proposto inicialmente por Russell, e o sistema autoritário gradualmente implantado por seus sucessores e vigente até hoje. Raras vezes na história se apelou tão veementemente por submissão à autoridade humana – em nome de Deus. A mensagem é clara – as Testemunhas de Jeová devem depositar fé na organização e manter-se obedientes a ela, mesmo quando parece-lhes óbvio que ela está em erro. Na prática, os dirigentes da Sociedade Torre de Vigia parecem, inconscientemente, ter feito uma aplicação distorcida do texto em Apocalipse 14: 4, “Estes são os que seguem o Cordeiro aonde quer que ele vá”, vertendo-o por “estes são os que seguem a Sociedade Torre de Vigia aonde quer que ela vá“. Não seria isso – conforme diz a própria organização – uma “versão moderna de idolatria”?

Como será a vida no ‘paraíso’?

Início

“A destilaria, a cervejaria, o bar, o bordel, a casa lotérica, todos os negócios de ‘passa-tempo’ e corruptores do caráter serão fechadossimilarmente, a construção de vasos de guerra, a manufatura de munições de guerra e defesa cessarão, e os exércitos serão dispersos. O Novo Reino não terá necessidade destes, mas terá poder abundante para executar justiça sumária na punição de malfeitores… Os bancos e os negócios de corretagem… muito úteis nas condições presentes, não mais terão lugar;… e o capital privado e o dinheiro para emprestar ou para ser procurado serão coisas do passado. Proprietários e imobiliárias também encontrarão novo trabalho, pois o novo Rei não reconhecerá escrituras ou patentes agora registradas… com as conveniências atuais, se todas as pessoas fossem postas para trabalhar sistemática e sabiamente, não mais do que três horas de labuta para cada indivíduo seriam necessárias.”

– Estudos das Escrituras IV, 1897, pp. 633-635 (em inglês)

“Você disporá dos serviços dos melhores decoradores que há. Alguns deles costumavam ser agentes funerários; mas, visto que não há mais pessoas morrendo, eles terão sido obrigados a procurar uma nova ocupação. Sua experiência como agentes funerários os preparou para tornarem-se decoradores com pouquíssima dificuldade.”

– O Caminho para o Paraíso, 1924, p. 228 (em inglês)

Gravidade negativa… nova descoberta… Muitos ficam imaginando como os acidentes serão evitados durante o reinado de Cristo. A Maioria dos acidentes se deve à gravidade e seus efeitos. Cair de aviões pode ser evitado por um dispositivo individual de gravidade negativa.”

A Idade de Ouro de 24/3/1926, p. 404 (em inglês)

“No Novo Mundo, Abraão pode ser o governante da cidade de Nova Iorque. Isaquetalvez seja o governante de Chicago e talvez Jacóseja colocado em Londres. Seu sogro, Labão, era um diplomata… Muito brevemente, nós cremos, Abraão retornará da sepultura.”

A Idade de Ouro de 5/10/1927, pp. 26 e 29 (em inglês)

Comentário:

A visão russellita do paraíso é sui generis se comparada à esperança da maioria das religiões – cristãs ou não-cristãs – as quais pregam a bem-aventurança celestial. Russell propõe um mundo abstêmio (uma espécie de ‘lei seca’), sem propriedades particulares, sem dinheiro, sem fronteiras, sem exército ou polícia e com julgamentos sumários. Seus sucessores foram mais longe, introduzindo uma roupagem de ficção científica. A imaginação “ganhou asas” numa odisséia verdadeiramente pitoresca e muitos milhares compartilharam este delírio. Tal mundo visionário – reconstituído com tantas minúcias – teve seu ponto de partida, provavelmente, na associação de Russell com adventistas, como George Storrs e outros que criam num paraíso material na terra. Com o passar do tempo, a Sociedade Torre de Vigia – percebendo o potencial deste recurso em arrebanhar novos adeptos – buscou tornar tal mundo imaginário cada vez mais atraente aos olhos dos prospectivos membros, enriquecendo-o com cores e sofisticação. Evidentemente, na falta de apoio bíblico incontestável para essa doutrina e na ausência de detalhes das condições nesse mundo onírico, recriá-lo é uma tarefa que vaga ao sabor das aspirações, da cultura e dos objetivos de quem o concebe. É interessante como, até certo ponto, o modelo inicial de Russell aproxima-se bastante do ideal socialista de Karl Marx – “de cada um, conforme sua capacidade; a cada um, conforme sua necessidade”.

Precisam os cristãos abster-se do serviço militar?

Início

“Percebam que nãonenhuma ordem nas Escrituras contra o serviço militar.”

– A Sentinela de 1/8/1898, p. 231 (em inglês)

“Não deveria haver nada contra nossa consciência em entrar nas forças armadas. Aonde quer que estivéssemos poderíamos levar o Senhor conosco, e aonde quer que fôssemos poderíamos encontrar oportunidades de servir a ele e à sua causa.”

– A Sentinela de 15/4/1903, p. 120 (em inglês)

Um exame dos fatos históricos mostra que as Testemunhas de Jeová não somente recusaram vestir uniformes militares e pegar em armas, durante o último meio século, ou mais, mas que também recusaram fazer serviços não-combatentes ou aceitar outro serviço militar.”

Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro (1983), p.167

Embora se empenhassem em fazer o que achavam que agradava a Deus, sua posição nem sempre foi de estrita neutralidade… alguns entraram nas trincheiras das linhas de combate com fuzis e baionetas. Mas, … atiravam no ar ou tentavam simplesmente derrubar a arma das mãos do inimigo. Nesta ocasião… os antecedentes de modo geral dos Estudantes da Bíblia não eram bem como os dos primitivos cristãos…”

Proclamadores (1993), p. 191 (em português)

Comentário:

Em poucas áreas doutrinais podem-se constatar posturas tão discrepantes através dos tempos quanto na questão do serviço militar. Conforme se vê acima, Russell não via qualquer base bíblica para fazer objeção ao serviço militar. Tanto é verdade que a própria Sociedade Torre de Vigia admite que seus membros foram à I Guerra. Hoje em dia, as Testemunhas de Jeová são impedidas de prestar o serviço militar ao preço de seus direitos políticos e, às vezes, de sua liberdade. Como não bastasse a reviravolta doutrinária, a organização busca, ao menos, minimizar o dano da transigência daqueles que – sob seu consentimento – pegaram em armas na I Guerra. Conforme se vê no último artigo, a Sociedade Torre de Vigia tenta “pasteurizar” uma versão fantástica, segundo a qual, eles “atiravam para o ar” ou “tentavam derrubar a arma” do inimigo. É tarefa bastante difícil explicar o que é que cristãos fardados faziam em uma trincheira – com armas à mão – se seu propósito era o de não atirar ou de fingir atirar. Por outro lado, requer uma boa dose de ingenuidade ou pouca familiaridade com as condições em um front de batalha para propor essa explicação. Tente o leitor imaginar um grupo de soldados em uma trincheira, com baionetas na mão, sob fogo cerrado de fuzis, granadas, bombas e tanques, respondendo com tiros para o alto ou indo em direção ao inimigo para tentar derrubar-lhe a arma com as mãos. Tal reconstituição – trágica e cômica, ao mesmo tempo – representa um extraordinário teatro de morte e, se alguma vez ocorreu, serve apenas como evidência de que os Estudantes da Bíblia – por temor das autoridadesfingiam ser soldados e, por agirem assim, cometiam o equivalente a suicídio no campo de batalha.

Como Deus considera as raças?

Início

Deus… evidentemente tem sido um respeitador das raças, e tem abençoado especialmente e favorecido certos ramos da raça Ariana na Europa e América… a raça branca tem sido mais abundantemente abençoada com a luz das boas novas do que as outras… a igreja eleita será provavelmente composta principalmente da altamente favorecida raça branca… “

– A Bíblia versus A Teoria da Evolução, 1898, pp. 30,31 (em inglês)

“Há cerca de 100 irmãos de cor na lista da Torre de Vigia… nós recebemos cartas de algum deles… expressando surpresa que nós tenhamos, na chamada por voluntários, na edição de 1o. de Março de 1900, restringido a pesquisa às igrejas Protestantes brancas… a razão é que, tanto quanto somos capazes de avaliar, as pessoas de cor tem menos educação do que as brancas… muitas delas insuficiente para que possam ter proveito a partir de tal leitura… Nossa conclusão é que a leitura de matéria distribuída para uma congregação de pessoas de cor resultaria em desperdício de mais da metade… a literatura da Torre de Vigia é introduzida para pessoas de cor, não para circulação promíscua, mas só para aqueles que tem atenção pela verdade.

– Torre de Vigia de Sião 15/4/1900, p. 122 (em inglês)

De negro a branco ele lentamente mudou… o Reverendo William H. Draper… deu uma viva resposta afirmativa à famosa pergunta bíblica, ‘pode o Etíope mudar sua pele…? Tendo sido uma vez negro como carvão, [ele] é agora branco. Seu povo diz que sua cor mudou em resposta a uma oração.”

– Torre de Vigia de Sião 1/10/1900, p. 296 (em inglês)

“...É verdade que a raça branca exibe algumas qualidades de superioridade sobre qualquer outra… há grandes diferenças na mesma família caucasiana… O segredo da maior inteligência e aptidão dos caucasianos, indubitavelmente é, em grande medida, para ser atribuído à mistura de sangue dentre seus diversos ramos; e isto foi evidentemente forçado em larga medida pelo controle divino.”

– Torre de Vigia de Sião de 15/7/1902, p. 216 (em inglês)

“Pode o Etíope mudar a cor de sua pele? Não. Mas… o que o Etíope não pode fazer por si mesmo Deus poderia prontamente fazer por ele… Deus pode mudar a pele etíope em seu devido tempo…”

– Torre de Vigia de Sião de 15/7/1904, pp. 52,53 (em inglês)

“…as diversas raças da humanidade provavelmente terão seus interesses espirituais como Novas Criaturas melhor preservados por alguma medida de separação.”

Estudos das Escrituras – Vol III (1904), p. 490 (em inglês)

“As raças negra e latina provavelmente sempre serão inclinadas à superstição.”

Torre de Vigia de Sião de 1/4/1908, p. 99 (em inglês)

“Nós poderíamos ter previsto que muitas pessoas de cor estariam profundamente interessadas no Fotodrama da Criação. Mas não nos causou impressão até que gradualmente seu número crescesse até cerca de 25% da platéia. É claro, nós ficamos satisfeitos em vê-los… Nós tínhamos o mesmo sentimento, respeitando-os como os demais; mas logo discernimos que não era uma questão de sentimento, mas que, enquanto as pessoas de cor de N. York compõem cerca de 5% da população, em nossas platéias eles são 25% e aumentando. O que faremos? Enquanto o comparecimento de pessoas de cor aumentava, proporcionalmente o número de brancos diminuía… a maioria dos brancos prefere não se misturar com outras raças. Reconhecendo que isso significaria o sucesso ou o fracasso do empreendimento do drama com respeito aos brancos, fomos compelidos a designar os amigos de cor para a galeria… Alguns se sentiram ofendidos com esse arranjo. Nós recebemos numerosas cartas de irmãos de cor, alguns declarando que não é correto fazer uma distinção, outros com indignação e amargura, denunciando-nos como inimigos dos povos de cor… Fomos obrigados a explicar os fatos, assegurando a todos o nosso interesse amoroso nas pessoas de cor… Nós novamente sugerimos que se um lugar disponível fosse encontrado para apresentar o drama… para pessoas de cor, ficaríamos satisfeitos em fazê-lo… Um pouco mais e o Reino do Milênio será inaugurado, trazendo restituição a toda a humanidade – restituição à perfeição de mente e corpo, aspecto e cor, ao grande padrão original...”

– A Sentinela de 1/4/1914, pp. 110,111 (em inglês)

“Educação de Negros em Cincinnati – Negros por toda a cidade vão a esta escola por opção. Eles sentem que podem ter melhores oportunidades permanecendo em seu próprio grupo, e estão provavelmente certos… sob as condições imperfeitas presentes, uma sábia segregação é provavelmente uma vantagem para todos os envolvidos.”

A Idade de Ouro de 1/10/1919, p. 8 (em inglês)

“Eles [os negros] têm sido e são uma raça de serviçais… Não há no mundo um serviçal tão bom quanto um bom serviçal de cor, e a satisfação que ele obtém por prestar um fiel serviço é uma das mais puras satisfações que há no mundo.”

A Idade de Ouro de 24/7/1929, p. 207 (em inglês)

“Realmente, nossos irmãos de cor tem um grande motivo para alegrar-se. A raça deles é dócil e educável…”

– A Sentinela de 1/2/1952, p. 95 (em inglês)

“O cristão, sendo realístico, precisa encarar a vida como é – não como quer que seja. Em alguns poucos lugares, existem até mesmo leis que tornam ilegais os casamentos interraciais. Neste caso, os cristãos estão sob obrigação bíblica de obedecer a elas, visto que tais leis não lhes tornam impossível adorar a Deus… Então, [o cristão] deverá tomar em consideração o fator de um casamento interracial criar, ou não, um sério efeito adverso na atitude das pessoas na sua comunidade para com esta obra de proclamar o Reino.”

– A Sentinela de 1/7/1974, pp. 415, 416 (em português)

Comentário:

Os artigos acima são desconhecidos pela esmagadora maioria das Testemunhas de Jeová, afinal eles representam um chocante contraste com a mensagem atual da religião. Não precisamos deduzir, à base do exposto acima, que o ‘pastor’ Russell fosse, do seu próprio ponto de vista, uma pessoa racista. Na verdade, ele simplesmente endossou os conceitos (ou preconceitos) comumente aceitos na sociedade e na época em que ele vivia. De fato, os que pensavam como ele julgavam que suas conclusões estavam de acordo com a ciência e a teologia. Era comum a crença de que a maldição bíblica de Noé sobre Canaã (Gên. 9:24-27) teria dado origem à raça negra e que, no paraíso, a humanidade seria restaurada à raça perfeita. Que esta era a mentalidade predominante da época é bem atestado pelo fato de tais conceitos estarem presentes na literatura da Sociedade Torre de Vigia mais de uma década após a morte de Russell. Décadas depois, em 1974, ela sugere a obediência a leis racistas de alguns países em nome da ‘obra de pregação’ – uma atitude um tanto estranha se considerarmos que a luta pela igualdade racial deveria ser um estandarte cristão perante o mundo. O princípio bíblico é de “obedecer a Deus como governante antes que aos homens” (Atos 5: 29). Além disso, Cristo disse: “Vós sois a luz do mundo.” (Mateus 5: 14) A questão, pois, permanece: poderiam os genuínos cristãos ser contaminados com conceitos racistas de uma época? Dever-se-iam sujeitar a leis racistas por qualquer que fosse o motivo?

Deve o cristão ler apenas a Bíblia?

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“Mais ainda, não só achamos que as pessoas não podem ver o plano divino estudando somente a Bíblia, mas pensamos também que se alguém deixar de lado os “Scripture Studies” [“Estudos das Escrituras”], mesmo que seja depois de os ter usado, depois de se ter familiarizado com esses livros, depois de os ter lido durante dez anos – se ele depois os deixa de lado e os ignora e se vira somente para a Bíblia, embora tenha compreendido a Bíblia durante dez anos, a nossa experiência mostra que dentro de dois anos ele fica na escuridão. Por outro lado, se ele tivesse somente lido os “Scripture Studies” [“Estudos das Escrituras”] com as referências, e não tivesse lido uma página diretamente da Bíblia, ele estaria na luz no fim desses dois anos, porque teria a luz das Escrituras.”

– A Sentinela de 1/12/ 1916, p. 357 (em inglês)

“Pergunta: Poderá a leitura da Bíblia… conduzir alguém à verdade? Resposta: Não… a mais valiosa literatura para fazer alguém entender a Bíblia é publicada pela Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia [Testemunhas de Jeová].”

A Idade de Ouro de 27/7/1927, pp. 700,701 (em inglês)

“Se você passar 15 minutos lendo cada um dos livros de Rutherford, terá mais prazer do que lendo a Bíblia por um ano inteiro.”

Vindicação III, 1932, p. 383 (em inglês)

“A menos que estejamos em contato com este canal de comunicação usado por Deus, não avançaremos na estrada da vida, não importa o quanto leiamos a Bíblia.”

– A Sentinela de 1/8/1982, p. 27 (em português)

Comentário:

As declarações acima são assombrosas (particularmente, a primeira e a terceira), tanto se considerarmos sua extraordinária presunção em relação ao cristianismo quanto pelo fato de que, a despeito da ênfase dada à obra “Estudos das Escrituras” – da autoria de Russellnenhuma página dela é hoje impressa pela Sociedade Torre de Vigia e praticamente nenhuma Testemunha de Jeová da atualidade jamais a leu. Quanto aos escritos de Rutherford – apesar de “mais prazerosos” do que a leitura da Bíblia – nenhum deles está disponível às Testemunhas hoje. Estarão essas pessoas em “escuridão”?

Qual o significado de 1914, 1915 e outras datas?

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“…com o fim de 1914 A.D., aquilo que Deus chama Babilônia, e aquilo que os homens chamam Cristandade, terá passado, como já mostrado a partir da profecia.”

– Estudos das Escrituras III, 1891, p. 153 (em inglês)

“…o fim pleno do tempo dos Gentios… será alcançado em 1914 A. D… esta data será o último limite para o domínio dos homens imperfeitosa Igreja [será] levada para casa em um arrebatamento… porque cada membro reinará com Cristo…”

– Estudos das Escrituras II, 1888, pp. 76,77 (em inglês)

“A data para o encerramento desta ‘batalha’ está definitivamente marcada nas Escrituras como sendo outubro de 1914. Ela já está em progresso, seu início datando de outubro de 1874.”

– Torre de Vigia de Sião de 15/1/1892, pp. 52,53 (em inglês)

Nós apresentamos prova de que… a ‘batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso‘ (Rev. 16: 14)… terminará em 1914 A.D., com a vitória completa sobre o governo terrestre…”

– Estudos das Escrituras III, 1905, editorial 26 (em inglês)

“Não vemos nenhuma razão para mudar os números, nem poderíamos nós mudá-los se quiséssemos. Eles são, nós cremos, datas de Deus, não nossas. Tenha em mente que o fim de 1914 não é a data do começo, mas do fim do tempo de tribulação. Não vemos qualquer razão para mudarmos de opinião…”

– Torre de Vigia de Sião de 15/7/1894, p. 1677 (reimpressão em inglês)

“O Tempo do Gentios prova que os governos atuais devem todos ser substituídos por volta do fim de 1914 A.D… e, do mesmo modo, a derrota da assim chamada ‘cristandade’ deve ser esperada para se seguir imediatamente.”

– Estudos das Escrituras II, 1888, pp. 242, 245 (em inglês)

“…a completa destruição dos poderes… deste mundo maligno – político, financeiro, eclesiástico – por volta do fim do Tempo dos gentios, outubro de 1914.”

– Estudos das Escrituras IV, 1897, pp. 604,622 (em inglês)

Quando Urano e Júpiter se encontrarem no signo benigno de Aquário em 1914, a era há muito prometida terá tido um belo começo na obra de libertar os homens na busca de sua própria salvação e assegurará a realização final dos sonhos e ideais de todos os poetas e sagas da História.”

– A Sentinela de 1/5/1903, pp. 130 e 131 ou p. 3184 na reimpressão (em inglês)

Estudando a palavra de Deus, nós contamos os 2520 anos, os sete tempos simbólicos, a partir do ano de 606 A.C. e vimos que isso levava a outubro de 1914, tão próximo quanto fomos capazes de calcular. Nós não afirmamos positivamente que este seria o ano.”

– A Sentinela de 1/11/ 1914, p. 325 (em inglês)

“A ‘batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso‘ (Rev. 16: 14)… terminará em 1915 A.D., com a vitória completa sobre o governo terrestre…… consideramos uma verdade estabelecida que o final dos reinos deste mundo, e o completo estabelecimento do reino de Deus, se cumprirão próximo do fim de 1915 A.D.”

– Estudos das Escrituras III, 1915, editorial 101 e 99 (em inglês)

“Não há dúvida de que Satanás acreditava que o Reino do Milênio estava para começar em 1915.”

– O Mistério Consumado, 1917, p. 128 (em inglês)

“A data apresentada… à luz das Escrituras precedentes, prova que a primavera de 1918 trará sobre a cristandade um espasmo de angústia maior ainda do que aquele experimentado na chegada de 1914.”

– O Mistério Consumado, 1917, p. 62 (em inglês)

“Parece conclusivo que as ‘dores de aflição’ da Sião Nominal estão fixadas na passagem de 1918... há razões para crer que os anjos caídos invadirão as mentes de muitos da igreja nominal, levando-os a uma conduta excessivamente tola e culminando com sua destruição às mãos de massas enfurecidas… Também, no ano de 1918, quando Deus destruir as igrejas e seus membros aos milhões…”

– O Mistério Consumado, 1917, pp. 128,129 e 485 (em inglês)

“…Até as repúblicas desaparecerão na chegada de 1920.”

– O Mistério Consumado, 1917, p. 258 (em inglês)

“Seja como for, há evidência de que o estabelecimento do Reino na Palestina será provavelmente em 1925, dez anos mais tarde do que nós uma vez tínhamos calculado [isto é, 1915].”

– O Mistério Consumado, 1917, p. 128 (em inglês)

“A data 1925 é ainda mais distintamente indicada pelas Escrituras, pois é fixada pela lei que Deus concedeu a Israel.”

– A Sentinela de 1/9/1922, p. 262 (em inglês)

“Temos tanta razão, ou mais, para crer que o reino será estabelecido em 1925 do que Noé tinha para crer que haveria um dilúvio?… nosso pensamento é que 1925 está marcado definitivamente nas escrituras… Quanto a Noé, os cristãos agora têm mais sobre o que apoiar sua fé do que Noé tinha…”

– A Sentinela de 1/3/1923, p. 106 (em inglês)

“Por conseguinte, nós podemos esperar confiantemente que 1925 marcará o retorno de Abraão, Isaque, Jacó e os profetas fiéis da antiguidade… um cálculo simples dos jubileus traz-nos a este importante fato.”

– Milhões que Agora Vivem Nunca Morrerão, 1920, pp. 88-90 (em inglês)

“Esta cronologia não é de homem algum, mas de Deus.’

– A Sentinela de 15/7/1922, p. 217 (em inglês)

“Não há dúvida de que muitos meninos e meninas que lêem este livro viverão para ver Abraão, Isaque, Jacó, José, Daniel e aqueles outros homens da antiguidade chegarem…”

– O Caminho para o Paraíso, 1924, p. 224 (em inglês)

“O ano de 1925 é uma data definitivamente e claramente marcada nas Escrituras, ainda mais claramente do que 1914.”

– A Sentinela de 1924, p. 211 (em inglês)

“O ano de 1925 chegou… Com grande expectativa… Muitos têm crido que todos os membros do corpo de Cristo serão trasladados para a glória celestial durante este ano. Isto pode se cumprir. Pode não se cumprir…”

– A Sentinela de 1/1/1925, p. 3 (em inglês)

“Deve-se esperar que Satanás tentará incutir na mente dos dedicados o pensamento de que 1925 levaria a obra a seu fim…”

– A Sentinela de 1/9/1925, p. 262 (em inglês)

“Houve uma medida de desapontamento da parte dos servos de Jeová na terra com respeito aos anos de 1914, 1918 e 1925… e eles também aprenderam a deixar de fixar datas para o futuro e de predizer o que viria a acontecer em uma certa data…”

– Vindicação I, 1931, pp. 338,339 (em inglês)

“… os meses que restam antes do Armagedom.”

– A Sentinela de 15/9/1941, p. 288 (em inglês)

“Devemos presumir, à base deste estudo, que a batalha do Armagedom já terá acabado até o outono de 1975 e que o reinado milenar de Cristo, há muito aguardado, começará então? PossivelmenteA diferença talvez envolva apenas semanas, ou meses, não anos.”

– A Sentinela de 15/2/1969, p. 115 (em português)

“Não deveríamos pensar que este ano de 1975 não seja de significado para nós, pois a Bíblia prova que Jeová é o ‘Grande Cronologista’…”

– A Sentinela de 1/5/1975, p. 285 (em inglês)

Desde 1870, os Estudantes da Bíblia têm estado servindo com uma data em menteprimeiro 1914, depois 1925. Agora eles percebem que devem servir por tanto tempo quanto Deus desejar.”

– A Sentinela de 1/11/ 1993, p. 12 (em inglês)

Comentário:

É provável, a esta altura, que o leitor esteja confuso e atônito com tal sucessão de datas proféticas – 1914, 1915, 1918, 1920, 1925, 1941, 1975 e assim por diante. Em todas elas, um ponto comum – a convicção inabalável. Recorreu-se, quando necessário, à piramidologia e à astrologia. Na verdade, o que expomos aqui não passa de uma pequeníssima amostra, pois não haveria espaço adequado nesse artigo para mencionar todas centenas de referências da literatura das Testemunhas de Jeová concernentes a previsões proféticas não cumpridas (infelizmente, para elas – felizmente, para o mundo). O historiador e ex-adepto Jim Penton destaca, em sua obra Apocalipse Adiado (1985), a insistência com que as Testemunhas de Jeová entregam-se, desde seus primórdios, àquilo que tem sido sua autêntica ‘marca registrada’ – a escatologia milenarista que os adventistas reacenderam no final do século 19. A seqüência histórica que acompanhamos acima permite-nos distinguir três fases a cada previsão: 1) uma empolgação crescente antecedendo as datas marcadas; 2) uma progressiva cautela ao chegar muito próximo delas e 3) uma nova remarcação de datas a cada vez que as previsões não se consumam no prazo previsto. Isto, por si só, é evidência clara de que os clérigos da Sociedade Torre de Vigia estão – há mais de um século – aplicando o método de tentativa e erro, muito embora afirmem, conforme vimos, que estas são “datas de Deus, não de homens”. Poderiam tais frustrações sucessivas abalar a fé de muitos na Bíblia? Em caso afirmativo, a quem atribuir a culpa?

Quem era Russell, afinal?

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“Milhares de leitores dos escritos do Pastor Russell acreditam que ele ocupava a posição daquele ‘servo fiel e prudente‘ [Mateus 24: 45], e que sua grande obra estava provendo à Casa dos Fiéis o alimento em tempo apropriado. Sua modéstia e humildade o impediam de proclamar abertamente esse título, mas ele o admitiu em conversa particular.”

– A Sentinela de 1/12/ 1916, p. 357 (em inglês)

“… o escravo fiel e discreto, Pastor Russell.”

– O Mistério Consumado, 1917, p. 418 (em inglês)

As Escrituras indicam que Russell foi escolhido pelo Senhor desde seu nascimento. Os dois mais proeminentes mensageiros foram [o apóstolo] Paulo e o Pastor Russell. Russell é o servo de Mateus 24: 45-47.”

– A Sentinela de 1/12/ 1916, p. 6159 (reimpressão em inglês)

“… Em essência, mostramos que a Sociedade é uma organização inteiramente religiosa; que os membros aceitam como seus princípios de crença a santa Bíblia, conforme explicada por Charles T. Russell;…”

Anuário de 1976, p. 106 (em português)

Todos os Estudantes da Bíblia, seguidores do Pastor Russell,…”

– O Mistério Consumado, 1917, p. 126 (em inglês)

“Não há nada na verdade presente de hoje alguém que possa honestamente dizer que recebeu conhecimento do plano divino de qualquer outra fonte que não o ministério do irmão Russell… Então, repudiá-lo ou à sua obra equivale a repudiar o Senhor…”

– A Sentinela de 1/5/1922, p. 132 (em inglês)

“Quando interrogado sobre quem era o ‘servo fiel e prudente’, Russell respondia, ‘Alguns dizem que sou eu enquanto outros dizem que é a Sociedade; ambos são verdadeiros, já que Russell era, de fato, a Sociedade.”

– A Sentinela de 1/3/1923, p. 68 (em inglês)

[As Testemunhas de Jeová] …tinham de ser libertadas de… idéias e práticas da religião falsa… Algumas exaltavam criaturas, entregando-se a um culto de personalidade ligado a Charles T. Russell, o primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia…”

– A Sentinela de 1/5/1989, p. 3 (em inglês)

Comentário 1:

O livro Proclamadores (1993) – publicado pelas Testemunhas de Jeová – admite, na página 143, que embora Russell não fosse inicialmente adepto da idéia de um indivíduo como representando o ‘servo fiel e prudente’ de Mateus 24: 45, mas de uma coletividade, ainda assim ele não rejeitou esta crença em torno dele. Na verdade – diz o livro – este ensino foi advogado pelos Estudantes da Bíblia por 30 anos. Conseqüência: o nome de Russell tornou-se símbolo de um desmedido culto a personalidade. A própria organização confirma isso no último trecho transcrito acima. Ao que tudo indica, a primeira pessoa a sugerir essa idéia foi a esposa do ‘pastor’, a qual confirmou esse pensamento em uma reimpressão de A Sentinela de 1906. Pouco tempo depois, ela se separaria judicialmente dele (acusando-o de negligência e crueldade). Ainda segundo o livro Proclamadores, Russell teria declinado dessa prerrogativa gloriosa na edição de 15/7/1906 de A Sentinela. Todavia, nesta mesmíssima matéria, embora negando superioridade, ele, paradoxalmente, classifica a si mesmo como “porta-voz de Deus”. A data de alguns documentos também mostra que o culto a personalidade prolongou-se até os anos 20 – bem depois de Cristo ter supostamente escolhido a Sociedade como seu “Escravo Fiel”, em 1919. A forma como o assunto é freqüentemente abordado nas publicações das Testemunhas de Jeová parece sugerir que a Sociedade Torre de Vigia nada tinha a ver com essa transgressão. Com a finalidade de esclarecer essa questão de maneira incisiva, reservamos para o final a mais pungente prova documental daquilo que parece ir bem além de um ‘culto a personalidade’ por parte de alguns fiéis. Queira o leitor observar o que diz – sob o título “Um Tributo Pessoal ao Pastor” – a edição de A Sentinela de 1/12/ 1916, p. 6150 (reimpressão em inglês), conforme a cópia abaixo:

 

Tradução: “‘Ó Senhor, na tua força se alegra o rei; E quanto deseja ele jubilar na tua salvação! Deste-lhe o desejo do seu coração e não retiveste o anseio dos seus lábios. Selah. Pois passaste a ir ao encontro dele com bênçãos de bem e a por-lhe na cabeça uma coroa de ouro refinado. Pediu-lhe vida. Tu lhe deste, longura de dias por tempo indefinido, para todo o sempre. Sua glória é grande na tua salvação. Puseste sobre ele dignidade e esplendor. Pois o constituis altamente abençoado para todo o sempre. Tu o fazes regozijar-se com a alegria da tua face.’ Salmos 21: 1-6.” “Realmente, estas palavras aplicam-se com precisão ao nosso amado Irmão e Pastor!” “Charles Taze Russell, tu foste, pelo Senhor, coroado como rei; e através das eras eternas teu nome será conhecido no meio do povo, e teus inimigos virão e adorarão aos teus pés.”

Comentário 2:

Vemos aqui uma das mais assombrosas declarações já publicadas pelo ‘Escravo Fiel e Discreto’ – a Sociedade Torre de Vigia. Foi lançada logo após a morte de Russell e servida ao rebanho de fiéis como ‘alimento espiritual no tempo apropriado’. Cremos que mais de 99% das Testemunhas de Jeová, hoje em dia, jamais leram a declaração acima. Nem jamais imaginariam que sua Organização pudesse publicar algo semelhante. Provavelmente, o teor chocante deste documento fará a Testemunha mediana presumir – e desejar, até – que se trate de uma falsificação. É compreensível que seja assim, pois esta evidência derruba por terra a tese da Sociedade de que houve um simples culto a personalidade por parte de alguns membros, uma devoção ao ‘pastor’, cujas virtudes o destacavam entre os homens de seu tempo. Não foi apenas isso, foi algo muito mais grave. O que vemos aqui é o endosso – por parte dela, a Sociedade – a um autêntico ato de louvor a Russell, com a aplicação a ele de um Salmo que se sabe representar a Jesus Cristo, coroado pelo próprio Deus. Diante desse documento, parece uma tarefa bastante difícil absolvê-la do envolvimento direto na glorificação de seu fundador – em nível de igualdade a Cristo. Do ponto de vista bíblico, isto equivaleria a, pelo menos, dois delitos gravíssimos: idolatria e blasfêmia. Cremos que as provas aqui expostas, em que o pese a forte impressão que podem produzir no leitor, constituem evidências suficientes para se possa avaliar se o corpo governante das Testemunhas de Jeová possui idoneidade para condenar outras religiões por louvor a criaturas.

Devem os cristãos falar sempre a verdade?

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Mentira é a declaração falsa que alguém faz a outrem que tem o direito de ouvir e conhecer da verdade; tal declaração falsa tem o objetivo de prejudicar a outrem. Qualquer declaração falsa, que é feita com o propósito de enganar e prejudicar a outrem, é mentira deliberada e maligna.”

– Riquezas, 1936, p. 170, parágrafo 1 (em português)

“Uma Testemunha de Jeová estava no serviço de porta em porta na Alemanha Oriental quando encontrou um violento opositor. Sabendo de imediato o que esperar, ela trocou sua blusa vermelha por uma verde…. um oficial comunista perguntou-lhe se ela tinha visto uma mulher de blusa vermelha. Não, ela disse, e ele foi embora. Disse ela uma mentira? Não, não disse. Ela não é uma mentirosa. Antes, ela estava usando estratégia teocrática de guerra, ocultando a verdade por atos e palavras pelo bem do ministério.”

– A Sentinela de 1/5/1957, p. 285 (em inglês)

“A Palavra de Deus ordena: ‘Falai a verdade cada um ao seu próximo.’ (Efésios 4: 25) Esta ordem, porém, não significa que devamos dizer a qualquer um que nos perguntar tudo o que ele deseja saber. Temos de dizer a verdade àquele que tem o direito de sabê-la, mas, se alguém não tem o direito a isso, podemos ser evasivos. Porém, não podemos dizer uma falsidade… Há, porém, uma exceção que o cristão precisa ter sempre em mente. Como um soldado de Cristo, ele se encontra numa guerra teocrática e precisa exercer extrema cautela quando lida com os adversários de Deus… para proteger os interesses da causa de Deus, é correto ocultar a verdade dos inimigos de Deus.”

– A Sentinela de 15/10/1960, pp. 639,640 (em português)

“…isso não significa que uma pessoa está sob obrigação de divulgar informação verídica a quem não de direito... Evidentemente, as ações de Abraão, Isaque, Raabe e Elias em enganar ou esconder os fatos daqueles que não adoravam a Jeová, devem ser vistos na mesma perspectiva.”

Estudo Perspicaz das Escrituras II, 1988, p. 245 (em inglês)

“Embora a mentira maliciosa seja errada aos olhos de Jeová, ninguém é obrigado a divulgar informações verídicas a quem não tem o direito de sabê-las.”

– A Sentinela de 15/12/1993, p. 25 (em português)

Comentário:

O dicionário de Aurélio B. de Holanda verte ‘mentira’ por: ato de mentir, falsidade, juízo errado, persuasão falsa. Nesse – como em outros dicionários – não encontramos a definição feita por Rutherford, em 1936, a qual condiciona a definição de ‘mentira’ ao mérito do ouvinte – aquele que tem ou não ‘o direito’ à verdade – e ao propósito da mentira. Mais tarde, a Sociedade Torre de Vigia batizou essa interpretação de “estratégia teocrática de guerra” – sugerindo que o compromisso do cristão com a verdade no cotidiano seria violável nas ‘trincheiras’ dessa ‘guerra santa’. Assumindo a definição subjetiva feita por Rutherford há mais de 60 anos e confirmada pela Sociedade até recentemente, restaria apenas saber sobre quem recairia a responsabilidade de determinar especificamente quem tem ou não o direito de saber a verdade e quando se está no ‘campo de batalha’. No caso das Testemunhas de Jeová, parece óbvio quem detém tal prerrogativa e é nisso que reside o perigo de tal doutrina. Estaria a religião tacitamente autorizando seus adeptos a mentir para proteger os interesses de sua organização central? Em caso afirmativo, em quê estariam os cristãos se distinguindo, nesse respeito, de organizações criminosas, como grupos islâmicos terroristas ou a máfia, cujos membros mentem para proteger seus interesses? Cristo – a autoridade máxima dos cristãos – falou: “Deixai simplesmente que a vossa palavra ‘sim’ signifique sim, e o vosso ‘não’, não, pois tudo o que for além disso é do iníquo.” (Mateus 5:37) Caberia a alguma entidade humana redefinir esse conceito?

Deve o cristão cursar a universidade?

Início

“Assim, por afastar seus filhos da assim chamada educação ‘superior’ de hoje, estes pais poupam seus filhos de serem expostos a uma crescente atmosfera de desmoralização, e, ao mesmo tempo, preparam-nos para a vida no novo sistema.”

Despertai! de 8/6/1967, p. 25 (em inglês)

“Muitas escolas agora possuem conselheiros de estudantes que encorajam a buscar educação superior após o ensino médio, a buscar uma carreira de futuro neste sistema de coisas. Não permita que lhe façam ‘lavagem cerebral‘ com propaganda do diabo, para ir adiante e fazer-se alguém neste mundo. O mundo tem muito pouco tempo. Qualquer futuro neste mundo não oferece futuro algum! …ingresse no serviço de pioneiro… Betel… ou missionário… uma vida que oferece futuro eterno.”

– A Sentinela de 15/3/1969, p. 171 (em inglês)

“Se você é um jovem, você também tem de encarar o fato de que você jamais envelhecerá neste sistema de coisas… Caso esteja no nível médio e pensando na universidade, isto implica em, pelo menos, quatro, talvez seis ou oito anos para graduar-se em uma carreira especializada. Mas como estará este sistema de coisas por essa época? Estará bem no rumo de seu fim, se é que já não tenha se acabado!… O que é realmente prático, preparar-se para uma posição neste mundo que logo desaparecerá? Ou trabalhar para sobreviver ao fim deste sistema…?

– Despertai! de 22/5/1969, p. 15 (em inglês)

“Em vista do curto tempo que resta, a decisão de buscar uma carreira neste sistema de coisas não só é tola, mas extremamente perigosa… A muitos jovens irmãos e irmãs foram ofertados bolsas de estudo ou empregos altamente rentáveis. Entretanto, eles recusaram e puseram os interesses espirituais primeiro.”

Ministério do Reino de junho/1969, p. 3 (em inglês)

“Um ancião na Coréia incentivou seus quatro filhos a se tornarem pioneiros… Sua filha mais velha… queria ingressar na universidade, a certa altura. Entretanto, seu pai informou-a que, ao passo que era livre para escolher tal caminho, ela não poderia esperar apoio financeiro dele. Ela mudou de idéia e agora usufrui bênçãos como pioneira. O filho seguinte… uma vez também quis ir para a universidade e seguir um curso secular… Seu pai… disse-lhe que, se insistisse em ter uma carreira secular, também teria que encontrar outro lugar para viver…”

Ministério do Reino de maio/1973, p. 6 (em inglês)

“…até onde deveriam ir com a educação secular? Dificilmente seria consistente para tais jovens, de escolha própria, procurar estudos seculares extensivos além daquele que é requerido pelo lei e por seus pais… anos adicionais de universidade podem apresentar armadilhas.”

– A Sentinela de 1/9/1975, p. 543 (em inglês)

“Muito embora as jovens Testemunhas interessem-se por boa educação, elas não vão em busca do estudo com a intenção de obter prestígio e proeminência… Assim, elas preferem cursos que sejam úteis para seu sustento no mundo moderno. Desse modo, muitos fazem cursos vocacionais ou freqüentam escolas vocacionais. Ao deixarem a escola, eles desejam arranjar trabalho que lhes permita se concentrarem em sua principal vocação, o ministério cristão.”

A Escola e as Testemunhas de Jeová, 1983, p. 5 (em inglês)

“No presente sistema de coisas, sob controle de Satanás, há muitas coisas que parecem prometer grandes benefícios, mas, na verdade, podem ser danosos ao nosso relacionamento com Deus. Coisas como… ir em busca de educação superior para alcançar a posição de alguém… Poucos anos atrás, um jovem cristão… teve a oportunidade de viajar ao exterior para dar prosseguimento a seus estudos… gradualmente, ele perdeu seu apreço pela verdade bíblica… Em um ano ou algo assim, ele perdeu sua fé completamente e declarou-se agnóstico.

– A Sentinela de 15/8/1992, pp. 28,29 (em inglês)

“Esta revista tem enfatizado os perigos do estudo superior, e com razão, pois a educação de nível superior opõe-se ao ‘ensino salutar’ da Bíblia.”

– A Sentinela de 1/11/1992, pp. 16-20 (em inglês)

“Se, no país onde eles vivem, educação de nível mínimo ou até nível médio só lhes possibilitar obter empregos com ganho insuficiente para seu sustento como pioneiros, então educação suplementar ou treinamento podem ser considerados. Isso seria feito com o fim específico do serviço de tempo integral.”

– A Sentinela de 1/11/1992, p. 18 (em inglês)

“Note como um jovem, Testemunha de Jeová, usou o raciocínio e conseguiu alcançar alvos espirituais: “Tive a oportunidade de ter uma carreira no jornalismo. Isto me agradava muito, mas lembrei-me do versículo bíblico que diz que ‘o mundo está passando’, ao passo que ‘aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre’… De modo que decidi dar um objetivo à minha vida e alistei-me no ministério de tempo integral como pioneiro regular. Depois de quatro anos gratificantes, sei que fiz a escolha certa.”

– A Sentinela de 15/08/2002, p. 24

Comentário:

A Sociedade Torre de Vigia parece bem apercebida do fato de que quanto mais alto o nível de escolaridade do público, tanto mais difícil seu processo de doutrinação. O rebanho cresce mais rapidamente entre os iletrados – não há dúvida. As estatísticas têm mostrado, nos últimos anos, um decréscimo no número de novos convertidos nos países desenvolvidos – na Europa e América do Norte – e um aumento nos países pobres, como a África. Pode-se apenas conjeturar sobre o contingente de pessoas – especialmente nos países de terceiro mundo – que foram severamente prejudicados em sua aptidão para prover o sustento de suas famílias em função de seguir os conselhos do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. O mercado de trabalho, cada vez mais competitivo, nesses e noutros lugares, tem descartado um número crescente de indivíduos sem qualificação superior. Eles ficam excluídos do processo econômico, engordando as fileiras dos sub-empregados, desempregados e miseráveis. Mesmo ciente disto, os líderes da Sociedade Torre de Vigia continuam fazendo – isto se vê pelas datas recentes dos artigos acima – estridentes apelos para que os jovens continuem a renunciar à educação universitária em troca do trabalho não remunerado como vendedores de literatura religiosa da entidade. Como estarão essas pessoas hoje? Quem responderá pelo desamparo econômico delas?

Palavras de Duplo Sentido?

Início

Exemplo 1

Tradução:

O MISTÉRIO CONSUMADO

“Era pensamento do Irmão Russell ter o ‘ESTUDOS NAS ESCRITURAS’ lançado em sete volumes e em 1886 ele anunciou este fato. Seguindo-se à sua morte, a Sociedade fez com que fosse elaborado e publicado o Volume VII, ‘O Mistério Consumado’, como um da série de sete anunciados previamente pelo Irmão Russell. As doutrinas colocadas neste estão em exata harmonia com aquelas anunciadas nos outros seis. Que (ele) contém alguns erros é abertamente admitido. Até a Bíblia contém alguns. Por ‘erro’ nós queremos dizer um mau entendimento ou uma má aplicação. Não contém nenhuma doutrina errada. Tenta transmitir – e, modéstia à parte, sai-se bem em certa medida – a mensagem que parece ser contemplada pela incumbência dada aos seis, descrita em Ezequiel 9.”

Comentário:

O trecho acima, extraído de A Sentinela de 1/4/1920, p. 103, trata daquela que provavelmente merece o título de ‘a publicação mais comprometedora já lançada pela Sociedade Torre de Vigia’ – o livro O Mistério Consumado (1917). Praticamente nenhuma Testemunha de Jeová da atualidade jamais leu uma página desta obra e dificilmente poderia fazê-lo sem sofrer sérios abalos em sua fé. Por meio do texto acima, os editores tentam ‘limpar’ a imagem do livro tanto quanto possível. Fazem isso por recorrer a uma perigosa estratégia – um paralelo entre O Mistério Consumado e a Bíblia, sugerindo que ambos contém erros. Reconhecer erros no livro publicado pela Sociedade não é tarefa difícil; tanto é assim que ela própria o admite. Porém, ao atribuir erros à Bíblia – com o propósito de absolver os seus próprios – os editores puseram-se diante de uma tarefa espinhosa. Se afirmassem de modo genérico que a Bíblia contém erros, estariam solapando o alicerce do cristianismo, a saber, a crença na inspiração divina. De modo que o produto final – transcrito acima – tenta manter-se dentro dos limites de uma trilha muito estreita: de um lado, os erros das publicações da Sociedade e, do outro, os ‘erros’ contidos na Bíblia. Observe o leitor que os autores do artigo deram sua definição para ‘erro’: um mau entendimento ou uma má aplicação. A sentença seguinte usa o pronome neutro it, ao invés de indicar o sujeito da oração; de modo que não se sabe se a afirmação “Não contém nenhuma doutrina errada” refere-se ao livro O Mistério Consumado ou à Bíblia. Tanto pode referir-se a um como a outro. Apenas a próxima sentença refere-se claramente ao livro. O contexto, por sua vez, parece ter sido elaborado com a finalidade de deixar lacunas de entendimento.

Deste modo, a publicação defendida confunde-se com a Bíblia até certo ponto e toma emprestada parte da respeitabilidade dela. É como pensar: ‘Bem, o livro das Testemunhas de Jeová contém erros, mas a Bíblia também os contém e nem por isso deixamos de crer nela; assim sendo, devemos desconsiderar os erros do livro’. Todavia, o artigo não esclarece de que modo a Bíblia contém ‘maus entendimentos’ ou ‘más aplicações’. Nenhum exemplo é citado. Nem seria interessante citar. Os autores do texto acima mostram notável habilidade em dar explicações por meio de linguajar dúbio. Não ficam aquém do necessário para mostrar seu ponto nem vão além do que é prudente ir, deixando lacunas de entendimento e duplicidade de sentido. Por assim agirem, põem-se a salvo de posteriores contestações, podendo – em face da permissividade da gramática – afirmar não terem dito o que disseram – ‘tudo não passa de um erro de interpretação’. Lamentavelmente, essa prática não é incomum na literatura das Testemunhas de Jeová.

Exemplo 2

“As verdades que apresento, como porta-voz de Deus, não foram reveladas em visões ou sonhos, tampouco pela voz audível de Deus, nem todas elas de uma só vez, mas gradativamente…” (Grifo acrescentado)

Proclamadores, 1993, p. 143

Comentário:

A declaração acima foi proferida por C. T. Russell e publicada originalmente em A Sentinela de 15/7/1906. Trata-se de mais um notável exemplo de linguagem ambígua. Vejamos: o ‘pastor’ menciona ‘verdades’ reveladas e chama a si mesmo ‘porta-voz de Deus’. Um porta-voz, por definição, é aquele que fala por alguém, cujos pensamentos e intenções lhe são revelados diretamente. A partir desta afirmação, o leitor é inevitavelmente induzido a presumir que os ensinos de Russell contavam com alguma medida de intervenção divina. Todavia, o ‘pastor’ afirma que tais ‘verdades’ não chegaram por meio de sonhos ou visões nem pela voz audível de Deus e conclui a declaração com uma antítese, afirmando que não lhe foram reveladas ‘de uma só vez, mas gradativamente’. Se relermos a declaração, verificaremos que a última sentença – referente ao ritmo das revelações – é completamente secundária à questão central não esclarecida: a forma das supostas revelações. O texto começa com três negações – ‘nem sonhos nem visões nem voz’ – e finda com uma negação e uma afirmação – ‘nem de uma só vez, mas gradativamente’. Resumindo, concernente às supostas revelações, o autor disse quatro vezes o que não eram e apenas uma vez o que eram, deixando lacunas a serem preenchidas. Tivesse havido, para cada negação, uma alternativa, a mensagem talvez fosse plenamente compreensível. Contudo, concedamos a Russell outra oportunidade de esclarecer o ponto. Em uma carta a um leitor, ele diz:

“… o autor desses ensinos [Russell] não afirma ser inspirado, mas meramente ter a direção do Senhor, como alguém usado por ele para alimentar seu rebanho.”

Proclamadores, 1993, p. 622

Russell, aqui, ao invés de lançar uma luz definitiva sobre a questão das revelações, torna-a ainda mais obscura, pois coloca, lado a lado, duas palavras cuja diferença é bastante sutil – ‘inspirado’ e ‘dirigido’. A primeira é o termo preferencial no padrão bíblico e aplica-se diretamente aos escritos canônicos. Obviamente, seria demasiado comprometedor para Russell atribuir a si tal prerrogativa. Talvez o maior inconveniente do padrão bíblico é que se alguém for ‘inspirado’, também será infalível. Todavia, Russell não reivindicou infalibilidade. Ainda assim, era sua intenção que seus ensinamentos fossem obedecidos. Encontrava-se, pois, em um dilema: caso afirmasse ser inspirado, suas palavras teriam de ser seguidas à risca, mas ele não poderia errar. Por outro lado, se afirmasse laconicamente não ter inspiração ou qualquer outro dom de cunho sobrenatural, seu ensino não seria acatado. Russell era homem criativo e habilidoso com as palavras. Assim sendo, sua solução foi dizer-se ‘dirigido’ – uma cômoda condição onde gozaria simultaneamente dos benefícios da falibilidade e da estrita adesão dos seguidores. Convenientemente, o texto falha em estabelecer a linha limítrofe entre alguém ser “inspirado” ou “dirigido”. Todavia, a questão subjacente era uma só – a obediência.

Qual o padrão atualmente adotado pela Sociedade Torre de Vigia? Deixemos que ela própria se expresse:

A organização visível de Deus hoje também recebe orientação e direção teocráticas.”

– Poderá Viver para Sempre… , 1982, pág. 195 (em português)

Vemos, assim, que a Sociedade segue rigorosamente a ‘escola’ de seu fundador, reivindicando para si a ambígua prerrogativa da ‘direção’ divina. É compreensível que seja assim, pois a organização carece – assim como Russell carecia – da estrita adesão de seus membros a fim de sobreviver institucional e ideologicamente. Também hoje, ela omite-se de esclarecer exatamente qual a divisa entre ‘inspiração’ e ‘direção’. Entretanto, como no passado, o objetivo por trás de tal linguajar dúbio continua a ser um só: a obediência dócil aos seus ensinos, mesmo que se descubra mais tarde estarem em erro.

 

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