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Diálogo sobre fé e razão

Faith-and-Reason1Sal: ateu/cético.  Chris: cristão.

Sal: Chris, antes de continuarmos qualquer conversa a mais sobre o cristianismo, eu tenho que lhe fazer uma pergunta muito básica.

Chris: Pergunte.

Sal: Você acha que isto vai nos levar a algum lugar, discutindo sobre religião?

Chris: O que você quer dizer com “discutindo”?

Sal: Lutando com palavras.

Chris: Eu não quero fazer isso. Nós somos amigos, não inimigos. O que eu quero dizer ” “discutindo” é só “dar razões”.

Sal: Tentando provar algo, certo?

Chris: Sim.

Sal: Bem, eu não estou seguro que isto vai nos levar a algum lugar.

Chris: Nem eu. Mas se houver uma chance, vamos tentar.

Sal: Por que?

Chris: Se muitas pessoas disserem que há um grande prêmio atrás de uma porta, você deveria tentar abri-la, não é?

Sal: Sim, mas o que tem isso a ver com discutir?

Chris: O prêmio aqui é a verdade sobre Deus e o significado de nossas vidas, qualquer que seja esta verdade. Por isso nós já estamos envolvidos, não é?

Sal: Sim.

Chris: E isto não é como um prêmio?

Sal: Sim, se nós o encontrarmos.

Chris: Nós não deveríamos tentar? Nós não deveríamos bater à porta?

Sal: Qual é a porta?

Chris: O diálogo honesto. Procurar razões.

Sal: Razões para acreditar?

Chris: Sim. Ou não acreditar.

Sal:
Eu não acho que irá funcionar. Eu não acho que você pode argumentar seu meio em religião.

Chris: Oh, nem eu. Mas você poderia argumentar seu meio para o lugar onde você pode acreditar – como caminhar para a praia, e nadar. Caminhar para a praia é como a razão e nadar é como a fé. Você tem que ir para o lugar onde você pode nadar antes de você poder nadar. E você tem que ir para o lugar onde você pode acreditar antes de você poder acreditar.

Sal: Você quer dizer que você tem que provar a fé pela razão antes de você poder acreditar nela?

Chris: Não, não. Mas eu acho que é sua razão que está te impedindo de crer. Eu acho que sua razão está fazendo algumas boas perguntas que ninguém antes lhe respondeu.

Sal: Isso é verdade.

Chris: Assim, se pudermos encontrar as respostas a essas perguntas, podemos tornar fé mais possível para você. Então, depende de você, claro.

Sal: Certo. Você concorda, então, que a fé religiosa é uma questão de escolha pessoal.

Chris: Claro.

Sal: Mas a razão e lógica não é o lugar onde nós normalmente fazemos escolhas pessoais. Então não é o mesmo meio onde se faz a escolha sobre fé religiosa.

Chris: Isso me parece bem lógico, Sal. Examinemos seu argumento. O que você quer dizer  por “escolha pessoal”?

Sal: O que é certo para uma pessoa pode estar errado para outra.

Chris: Sei. Você quer dizer coisas como ser casado ou não, decidir uma carreira ou como gastar dinheiro.

Sal: Certo. Não há um jeito certo para todo mundo.

Chris: Mas a religião não se encaixa nessa maneira, Sal.

Sal: Eu pensei que você concordou que era uma decisão pessoal.

Chris: Sim. Mas ela afirma lhe contar algo que é verdade para todo mundo. O que é pessoal é sua resposta a ela.

Sal: O que você quer dizer por “verdade para todo mundo”? Que coisas religiosas são verdades para todo mundo?

Chris: Coisas como Deus e Céu – se eles são verdades ou não isto não depende de você, ou de sua escolha pessoal, mais do que o sol faz.

Sal: Mas se eu acredito que é verdade, então é verdade para mim, e se eu não acredito então não é verdade para mim.

Chris: Você acha que acreditar em algo lhe faz ser verdadeiro?

Sal: Verdadeiro para mim, sim.

Chris:
Mas realmente verdadeiro? Objetivamente verdadeiro?

Sal: Não há nenhuma verdade objetiva. A verdade é subjetiva.

Chris: Sério?

Sal: Sim.

Chris: Verdadeiramente?

Sal: Sim.

Chris: Eu não acho assim. Eu estou errado? Seria esta uma verdade que eu não vejo?

Sal: Sim.

Chris: Uma verdade objetiva, então. É uma verdade objetiva que não há nenhuma verdade objetiva.

Sal: Ooops.

Chris: E você estava tão lógico um minuto atrás!

Sal: Espere um minuto. Nós estamos falando sobre verdade religiosa. Isso é subjetivo.

Chris: Você quer dizer que ninguém pode estar certo ou errado sobre verdade religiosa?

Sal: Certo.

Chris: Exceto você?

Sal: O que quer dizer?

Chris: Você disse antes que ninguém pode estar certo ou errado sobre verdade religiosa. Então você afirmou que tinha razão sobre verdade religiosa quando você disse que não é objetivo.

Sal: Você está me enrolando em minhas palavras.

Chris: Não, eu não estou. Você disse isso mesmo. Você se contradisse.

Sal: Bem, o que eu pretendo dizer é que ninguém pode provar se realmente há um Deus ou não.

Chris:
Oh, mas essa é uma pergunta diferente, se uma pessoa puder provar isto. Seguramente, Deus poderia existir sem ninguém provar. Existem muitas coisas que você não pode provar, não?

Sal:
Assim que?

Chris: Como o fato que eu estou pensando na cor amarela agora. Ou o fato que eu me preocupo honestamente com você. Você pode provar essas coisas?

Sal: Não.

Chris: Então existem coisas que podem ser verdades sem podermos provar.

Sal: Sim.

Chris: Assim Deus poderia ser verdadeiro se nós não o pudéssemos provar.

Sal: O.K., mas nós não podemos prová-Lo. Ninguém pode resolver perguntas religiosas. Assim eu acho que é um desperdício de tempo discutir sobre elas.

Chris: Sei. E por que você acha que ninguém pode resolver perguntas religiosas?

Sal: Só acho isto, pronto.

Chris: Você não tem nenhuma razão para pensar assim?

Sal: Claro que sim.

Chris: Eu acho que você pode adivinhar qual vai ser minha próxima pergunta.

Sal: Você quer dizer, quais são minhas razões?

Chris: É isso aí.

Sal: Bem, você não pode provar Deus como você pode provar outras coisas, como galáxias, germes e materiais científicos.

Chris: Você quer dizer que não posso usar o método científico.

Sal: Certo.

Chris: E você acha que o método científico é o único meio de se provar alguma coisa.

Sal: Para provar qualquer coisa, sim.

Chris: Você pode provar isso?

Sal: O que?

Chris: O que você disse: que o método científico é o único meio de se provar qualquer coisa.

Sal: Hmmm. Acho que não.

Chris: Então você se contradisse novamente. Você diz que só deveria acreditar em algo que é provado cientificamente, mas você acredita, embora não seja provado cientificamente.

Sal: Bem inteligente.

Chris: Não. Eu não estou tentando ser inteligente. Eu estou tentando lhe mostrar que sua fé na ciência não é científica. É uma fé.

Sal: Deixe-me fazer as perguntas um minuto.

Chris: Certo.

Sal: Você acha que há outros meios de ser provar coisas além do método científico?

Chris: Sim.

Sal: E você pode adivinhar qual vai ser minha próxima pergunta?

Chris: “Quais são eles”?

Sal: Sim. Quais são eles?

Chris: Bom senso, experiência, intuição, perspicácia, raciocínio, e autoridade confiável. Nós usamos tudo que temos para averiguar toda evidência.

Sal: E como você sabe quais desses métodos usar?

Chris: Você usa o método que se encaixa em seu assunto. Você não usa o método científico para entender as pessoas que você ama, por exemplo, mais que usaria amor para entender matemática ou química.

Sal: O que você usa para Deus?

Chris: Ele é uma pessoa, assim você usa o método que se ajusta as pessoas: amor e fé.

Sal: Isso é ingênuo. Anti-científico.

Chris: Mas está certo para as pessoas. Veja: a ciência é crítica e desconfiada. Não aceita nada até que se prove. A natureza é tratada como culpada até ser provada inocente, por assim dizer. Mas as pessoas são inocentes até provarem-se culpadas. Se nós tratássemos as pessoas do mesmo modo que a ciência trata a natureza, nós nunca as entenderíamos. O único meio para entender as pessoas é confiar nelas, não desconfiar. E amá-las.

Sal: Simplesmente fecharmos os olhos e crermos, né?

Chris:
Não. Abrir seus olhos e acreditar.

Sal: Mas “o amor é cego”.

Chris: Não o verdadeiro amor. O verdadeiro amor vê a outra pessoa por dentro, como uma radiografia.

Sal: Mas às vezes comete erros. Às vezes você confia em alguém e ele o decepciona. A confiança nem sempre compensa.

Chris: Mas é melhor tentar do que não tentar, não é? Viver sem amar qualquer um, sem confiar em qualquer um – isso seria Inferno, não é?

Sal: Sim.

Chris: Pior que se decepcionar, não é?

Sal: Acho que sim.

Chris: Bem, é o mesmo com Deus. Seria pior nunca tentá-Lo, nunca confiar nele, nunca lhe dar uma chance, que confiar nele e ser decepcionado. Mas ele não o decepcionará.

Sal: Assim você diz.

Chris: Eu não lhe estou pedindo que acredite nisto porque eu digo. Eu estou lhe pedindo para testar isto, como um bom cientista. A fé é como uma experiência. É testável, como confiar em um ser humano. A vida é como um laboratório e amar alguém – seja um ser humano ou Deus – é como uma experiência. É algo que você faz, e você aprende fazendo.

Sal: Sei. Funciona ou não.

Chris: Sim.

Sal: Mas eu tenho que ter razões para fazer esta experiência de acreditar em Deus porque você está me pedindo que me ponha no tubo de teste. Não é uma coisa pequena .

Chris: Estou feliz que você vê assim. Não é uma coisa fácil. Certo, olhemos para algumas razões para acreditar em Deus da próxima vez .

Sal: O.K.

CRÉDITO

Kreeft, Peter. “Science and Religion.” In Yes or No: Straight Answers to Tough Questions about Christianity (Ignatius Press: San Francisco, 1991 – ( Sim ou Não: Respostas Diretas para Perguntas Difíceis Sobre o Cristianismo), 41-48.

Você pode achar o livro de Peter Kreeft aqui (em inglês):
Yes or No: Straight Answers to Tough Questions about Christianity

O AUTOR 

Peter Kreeft escreveu muito (mais de 25 livros) na área de apologética cristã. Ele ensina no Boston College em Boston, Massachusetts. Peter Kreeft faz parte do Conselho do Catholic Educator’s Resource Center.

Tradução: Stephen Dollinger

© protegido por direitos autorais 1991 Ignatius Press

 

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