Ou seja, a justificação da crença em Deus é inaceitável objetivamente. Desde Platão, conhecimento é definido como crença verdadeira e justificada. A ênfase da epistemologia moderna – ramo da filosofia dedicado a estudar a natureza do conhecimento – é na justificação. O que tentaram teólogos como Anselmo de Canterbury e Tomás de Aquino foi tentar estabelecer este conhecimento de uma forma apriorística, ou seja, apelando para o mundo interno do intelecto humano. Anselmo dizia que Deus era algo maior do que o qual nada pode ser pensado (perceba o apelo ao “pensar”, à “razão”, ao intelecto, em vez de um apelo a evidências empíricas).
Acontece que isso é falso. Na Suma contra os Gentios, capítulo XI, Tomás de Aquino repele expressamente o argumento de Anselmo mencionado por Eli Vieira: “(…) mesmo que todos entendam pelo nome deus algo acima do qual nada de maior se possa conceber, não é necessário que exista na realidade este algo acima do qual nada de maior se possa conceber”. Já na Suma Teológica ele nega que Deus possa ser demonstrado por si, dizendo que tal demonstração só se pode dar pelos Seus efeitos, ou seja, “a posteriori”, na linha de Romanos 1, 20. ST,Q3, a.5: “…é manifesto que Deus não pertence especificamente a nenhum gênero. Donde resulta que não tem gênero, nem diferenças, nem definição, nem demonstração — salvo pelo efeito;”. Bem por isso, e exatamente ao contrário do que diz Eli, nenhuma das provas oferecidas por Tomás é “apriorística”, e todas partem dos efeitos: do movimento, da contingência, dos graus de perfeição…
Sabendo disso, vê-se que o truque de Eli Vieira consiste em, primeiro, igualar Tomás de Aquino a Anselmo (Tomás não volta a ser mencionado em nenhum outro momento depois do trecho citado). Segundo, atacar o argumento de Anselmo para fingir que, assim, ambos foram refutados!
Não é preciso entrar no mérito dos argumentos tomistas para perceber, já de plano, que igualá-los ao de Anselmo, é no mínimo desonestidade e/ou ignorância. O “debate de ideias”, nos termos em que proposto por Eli, não passa de falsificação, viciada na origem. Literalmente, o sujeito não consegue escrever 4 parágrafos sem mentir descaradamente.
Parece que Richard Dawkins, também biólogo e charlatão de marca maior, vem influenciando seus colegas de profissão.