Pular para o conteúdo

DETONANDO: REVELADO: A HISTÓRIA NÃO CONTADA SOBRE JESUS DE NAZARÉ

É impressionante a quantidade de besteiras que esses canais simplistas de Youtube, feitos para atingir um público simplório e desinformado, vomita.

Desta feita, mais uma vez o sofista do Antonio Miranda vem com um monte de bobagens.

Refutar as afirmações feitas por Antônio Miranda no vídeo “Revelado: A História Não Contada Sobre Jesus de Nazaré” exige uma abordagem rigorosa e acadêmica, especialmente porque ele mistura interpretações modernas, questionáveis e até pseudocientíficas, com questões legítimas sobre história e crítica textual. Vamos abordar os principais pontos levantados no vídeo, utilizando fontes acadêmicas e especialistas no campo da história, teologia e crítica textual.

1. Alegação: “A Bíblia foi escrita por pessoas desconhecidas, com muitos erros de tradução e interpretação” (00:00-00:37)

Refutação: Miranda repete uma crítica comum, mas imprecisa, sobre a confiabilidade do texto bíblico. É verdade que não temos os autógrafos (os manuscritos originais) dos textos bíblicos, mas isso não significa que a Bíblia que temos hoje esteja cheia de erros ou que sua transmissão seja extremamente falha. O campo da Crítica Textual é dedicado justamente a reconstruir os textos antigos com base em milhares de manuscritos disponíveis.

Segundo Bruce Metzger, uma das maiores autoridades no Novo Testamento, temos mais de 5.800 manuscritos gregos, além de traduções em latim, siríaco e copta. Comparando-se essas cópias, os estudiosos conseguem estabelecer com grande precisão o que seria o texto original. Como aponta F.F. Bruce, “nenhum outro texto da antiguidade clássica é tão bem atestado quanto o Novo Testamento” (Bruce, The New Testament Documents: Are They Reliable?, 2003).

A maioria dos erros nos manuscritos são variantes insignificantes, como erros ortográficos ou pequenas adições e omissões que não afetam o significado do texto. A ideia de que a Bíblia sofreu adulterações substanciais, como sugerido por Miranda, é uma distorção.

2. Alegação: “As mudanças nos textos foram feitas para incluir doutrinas, como a Trindade, que não estavam nos textos mais antigos” (01:10-01:42)

Refutação: Miranda sugere que doutrinas centrais como a Trindade foram inseridas posteriormente nos textos bíblicos, o que é uma simplificação incorreta. A doutrina da Trindade é o resultado de uma reflexão teológica que se desenvolveu com base nos ensinamentos dos próprios textos do Novo Testamento, e não de acréscimos posteriores.

Richard Bauckham, em sua obra Jesus and the God of Israel (2008), argumenta que a divindade de Jesus é atestada já nas camadas mais antigas dos evangelhos e nas epístolas de Paulo. Ele mostra como o Novo Testamento revela uma alta cristologia, onde Jesus é adorado e identificado como Yahweh em várias passagens, o que refuta a ideia de que a doutrina da Trindade foi um “inserção tardia”.

Além disso, a Crítica Textual não aponta para inserções substanciais sobre a Trindade que tenham sido feitas nos manuscritos antigos. A doutrina é uma construção teológica baseada no entendimento de textos como Mateus 28:19, João 1:1-14 e Filipenses 2:5-11, que claramente revelam a divindade de Cristo e a distinção entre Pai, Filho e Espírito Santo.

3. Alegação: “A história de Barrabás é uma invenção, sem evidência histórica, usada como alegoria” (04:06-05:59)

Refutação: A história de Barrabás aparece nos quatro evangelhos (Mateus 27:16-17; Marcos 15:7; Lucas 23:18-19; João 18:40), e Miranda a classifica como uma fábula sem base histórica. Embora o nome Barrabás signifique “filho do pai” em aramaico, o que poderia ser interpretado simbolicamente, isso não significa que a história seja inventada.

Segundo Craig A. Evans (Jesus and His World: The Archaeological Evidence, 2013), as fontes romanas indicam que era comum que presos políticos ou insurgentes fossem oferecidos para libertação em ocasiões especiais. O historiador E. P. Sanders, em seu estudo sobre o julgamento de Jesus, argumenta que, embora a prática de libertar prisioneiros seja contestada, a menção repetida da história nos quatro evangelhos e em várias tradições sugerem que há uma base histórica para o evento.

Além disso, a narrativa de Barrabás se encaixa no contexto político da Judeia sob domínio romano, onde revoltas e insurgências contra o império eram frequentes. A tentativa de Miranda de reduzir a história a uma simples alegoria carece de fundamentação histórica sólida.

4. Alegação: “Não há evidência histórica para a existência de Jesus” (06:35-09:28)

Refutação: Essa é uma das alegações mais comuns entre aqueles que defendem o mito de Jesus, mas a maioria dos estudiosos, cristãos e não cristãos, concorda que Jesus de Nazaré foi uma figura histórica real. Bart Ehrman, crítico do cristianismo e agnóstico declarado, afirma claramente em seu livro Did Jesus Exist? (2012) que a existência de Jesus é “virtualmente certa” com base nas evidências disponíveis.

As fontes extrabíblicas incluem o historiador judeu Flávio Josefo e o historiador romano Tácito, que mencionam Jesus. Embora a passagem de Josefo (conhecida como Testimonium Flavianum) tenha sido parcialmente interpolada por escritores cristãos, a maioria dos estudiosos concorda que existe um núcleo autêntico no relato, mencionando Jesus como um líder carismático que foi crucificado sob Pôncio Pilatos.

Além disso, Plínio, o Jovem, em suas cartas ao imperador Trajano (cerca de 112 d.C.), menciona os cristãos adorando Jesus “como um deus”, o que confirma que já existia uma crença consolidada em Jesus nas décadas logo após sua morte. Tácito, em seus Anais (15:44), também relata a execução de Jesus sob Pilatos, corroborando o relato dos evangelhos.

Portanto, a tentativa de Miranda de negar a existência histórica de Jesus se baseia em uma visão marginal e ultrapassada na academia.

5. Alegação: “Flávio Josefo e Plínio não são fontes confiáveis para Jesus” (06:35-08:19)

Refutação: Miranda sugere que as menções de Jesus por Josefo e Plínio são interpolações ou inventadas. Embora existam questões em torno do Testimonium Flavianum, os estudiosos como John P. Meier (A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus, 1991) argumentam que a passagem contém um núcleo autêntico. A interpolação foi uma adição posterior para fortalecer a afirmação cristã, mas isso não invalida a menção histórica de Jesus.

Quanto a Plínio, não há nenhuma evidência de que suas cartas foram adulteradas, e ele é uma fonte contemporânea que confirma a existência de uma comunidade cristã dedicada a Jesus logo no início do segundo século.

Conclusão

Miranda mistura elementos legítimos da crítica textual com teorias conspiratórias e suposições infundadas, muitas das quais não têm respaldo acadêmico sério. A crítica textual e a história confirmam que a Bíblia é o texto antigo mais bem preservado que temos e que a existência histórica de Jesus é praticamente certa.

Bibliografia

  1. Bruce M. Metzger, The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration, 4th Edition. Oxford University Press, 2005.
  2. Bart D. Ehrman, Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed the Bible and Why. HarperOne, 2005.
  3. John P. Meier, A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus, Vol. 1: The Roots of the Problem and the Person. Anchor Bible, 1991.
  4. Louis H. Feldman, Josephus and Modern Scholarship (1937–1980). Walter de Gruyter, 1984.
  5. Craig A. Evans, Jesus and His World: The Archaeological Evidence. Westminster John Knox Press, 2012.
  6. Richard Bauckham, Jesus and the Eyewitnesses: The Gospels as Eyewitness Testimony. Eerdmans, 2006.

Poderá ver o vídeo no youtube Aqui

Descubra mais sobre Logos Apologetica

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading