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DETONANDO O VÍDEO: Três mentiras em Atos

Mais uma vez o Ronaldo vem com seus sofismas. Desta feita vamos refutar esse vídeo.

1. Comunismo em Atos

Alegação:

O vídeo afirma que Atos 4:32-37 descreve uma sociedade comunista, semelhante ao comunismo teórico de Marx, com tudo em comum entre os cristãos, e critica os cristãos contemporâneos anticomunistas.

Resposta:

  • Análise Contextual: O compartilhamento de bens em Atos 4 é um ato voluntário de solidariedade entre os cristãos, não uma imposição estatal. Isso difere completamente do comunismo marxista, que envolve a abolição da propriedade privada e a centralização estatal da economia. O contexto de Atos é religioso e moral, enquanto o comunismo é político e econômico.
  • Exegese: A comunhão dos bens reflete um ideal de unidade e amor cristão (cf. João 17:21; 1 João 3:16-18), e não uma estrutura ideológica permanente. Além disso, Ananias e Safira (Atos 5:1-11) foram punidos não por não doarem tudo, mas por mentirem ao Espírito Santo.
  • Equívocos Históricos: Relacionar a prática cristã de partilha ao comunismo de Marx é anacrônico. Marx formulou sua teoria com base em materialismo histórico, o que é incompatível com a base espiritual de Atos.

O que ocorre em Atos 4:32-37 é um relato da prática de generosidade voluntária dentro da comunidade cristã primitiva. Diferente do comunismo moderno, que é imposto por força de lei, a partilha em Atos era:

  1. Voluntária: Não há evidência de coerção. Os membros da igreja contribuíam conforme desejavam (cf. Atos 5:4, onde Pedro afirma que a propriedade era de Ananias e que ele não era obrigado a vendê-la).
  2. Motivada pela fé: A partilha tinha como objetivo atender às necessidades dos membros da comunidade, refletindo o amor e a unidade cristã, e não um sistema econômico ou político.
Fontes acadêmicas:
  • Craig S. Keener, Acts: An Exegetical Commentary, Volume 2: Keener observa que a prática descrita em Atos era uma aplicação temporária baseada em necessidades específicas e não uma imposição normativa para todos os cristãos em todas as épocas.
  • Ben Witherington III, The Acts of the Apostles: A Socio-Rhetorical Commentary: O autor explica que os cristãos estavam vivendo sob um espírito comunitário, distinto das ideias modernas de comunismo.

2. Levitas com Terra (Atos 4:36-37)

Alegação:

O vídeo argumenta que José (Barnabé), descrito como Levita e proprietário de terra, contradiz a lei do Antigo Testamento, que proibia os levitas de possuírem terra (cf. Números 18:20-24).

Resposta:

  • Contexto da Lei Levítica: A proibição de terras para os levitas aplicava-se à herança tribal em Canaã. No entanto, os levitas podiam possuir propriedades adquiridas por compra ou doação fora das terras específicas da tribo de Levi.
  • Contexto Geográfico: Barnabé era de Chipre (Atos 4:36), uma ilha fora de Israel. A lei mosaica não se aplicava estritamente a terras adquiridas fora de Canaã. O texto não afirma que a terra era herdada, apenas que era uma posse.
  • Conclusão: Não há contradição entre Atos e a lei mosaica. Barnabé possuía terras fora do sistema tribal israelita.

A afirmação de que os levitas não poderiam possuir terras na Palestina refere-se especificamente à herança territorial em Israel, conforme estipulado na Lei Mosaica. No entanto:

  1. Chipre não era Israel: Barnabé era um levita de Chipre (Atos 4:36). A proibição de possuir terras não se aplicava fora de Israel.
  2. Contexto histórico: Durante o período romano, as restrições levíticas em relação às terras já não eram seguidas de forma estrita, especialmente fora da Judeia.
  3. Flexibilidade cultural: Muitos judeus na diáspora, incluindo levitas, adquiriram propriedades para subsistência, adaptando-se às condições locais.

Concluindo, o caso de Barnabé e sua terra destaca a nuance frequentemente esquecida no relacionamento dos levitas com a propriedade. Embora os levitas não tenham recebido uma cota tribal como as outras tribos, as Escrituras mostram que eles detinham direitos de propriedade dentro de cidades específicas e pastagens designadas para seu uso. Essa permissão fornecia um equilíbrio: eles podiam possuir terras em uma capacidade limitada que se alinhava com sua vocação única entre seus parentes.

À luz desse entendimento, o ato de Barnabé em Atos 4:36-37 provavelmente não é de desobediência, mas sim uma expressão de profunda generosidade. Sua venda de terras, provavelmente parte de sua herança levítica legítima, exemplifica o espírito de unidade e altruísmo da igreja primitiva. O relato de Lucas ressalta como os crentes na igreja primitiva priorizavam as necessidades dos outros acima de seus próprios direitos e recursos. Suponho que podemos aprender com isso também.

Fontes acadêmicas:
  • I. Howard Marshall, Acts: An Introduction and Commentary: Marshall observa que a menção de Barnabé como proprietário de terras não contraria a narrativa bíblica, pois ele vivia em Chipre, fora da jurisdição direta da Lei sobre a herança israelita.
  • David T. Runia, Philo in Early Christian Literature: O autor menciona que práticas judaicas fora da Palestina frequentemente diferiam das normas estritas da Lei Mosaica.

3. Gamaliel, Paulo e Atitudes Contraditórias

Alegação:

O vídeo afirma que Gamaliel, descrito como pacifista, mandou soltar os apóstolos (Atos 5:34-40), enquanto Paulo, seu discípulo, perseguiu cristãos. Essa discrepância seria uma invenção do autor de Atos.

Resposta:

  • Autonomia de Paulo: Ser discípulo de Gamaliel não implica concordar integralmente com ele. Paulo era zeloso pela Lei (cf. Gálatas 1:13-14) e tomou decisões próprias antes de sua conversão (cf. Atos 9:1-2). A Bíblia nunca sugere que ele agiu com a autorização de Gamaliel.
  • Cronologia: Gamaliel atuava no Sinédrio em Atos 5. Paulo, na época, pode não ter ocupado posição de liderança. Isso explicaria sua ausência no relato de Atos 5 e sua postura posterior como perseguidor.
  • Conclusão: Não há contradição. Paulo seguiu um caminho distinto, apesar de sua educação inicial.

4. Teudas e Judas, o Galileu (Atos 5:36-37)

Alegação:

O vídeo diz que a cronologia em Atos está errada, pois Judas, o Galileu (ano 6 d.C.), precedeu Teudas (ano 46 d.C.), enquanto o texto coloca Teudas antes de Judas.

Resposta:

  • Natureza do Discurso: O texto não afirma uma ordem cronológica rigorosa, mas menciona eventos relevantes no contexto histórico. É possível que houvesse mais de um líder chamado Teudas, uma figura comum no período.
  • Fontes Históricas: Josefo menciona um Teudas em 46 d.C., mas isso não exclui a possibilidade de outro Teudas anterior. Os registros históricos do período são limitados e fragmentados.
  • Cronologia de Atos: Gamaliel pode estar citando movimentos messiânicos de forma genérica para ilustrar sua advertência, não para fazer uma cronologia exata.
  • Conclusão: A crítica ignora nuances textuais e contextuais. Não há evidências suficientes para concluir que o autor de Atos cometeu um erro factual.
  1. Foco no discurso, não na cronologia: Gamaliel pode ter citado os dois líderes de maneira exemplificativa, sem preocupação com a ordem cronológica estrita.
  2. Possíveis diferentes “Teudas”: Flávio Josefo menciona um líder chamado Teudas em Antiguidades Judaicas (20.5.1), que viveu em 46 d.C., mas é possível que Gamaliel estivesse se referindo a outro Teudas, já que o nome era comum.
  3. Licença narrativa: Gamaliel usa esses exemplos para destacar que movimentos humanos falham sem apoio divino. O objetivo do discurso não era registrar história, mas enfatizar um princípio teológico.

Lucas não estava se referindo a Teudas de 44 d.C. Em sua própria cronologia do evento, Lucas coloca Judas depois de Teudas — que viveu até 6 d.C. (“ Depois deste homem…”). Em vez disso, Lucas estava se referindo a um homem desconhecido nas revoltas de 4 a.C. sob o reinado de Herodes, o Grande. [1] Barnett escreve: “Teudas, no entanto, não era um nome incomum e o período antes de 6 d.C. foi muito turbulento, especialmente após a morte de Herodes em 4 a.C. De fato, se ele tivesse colocado Teudas depois de Judas, Lucas estaria realmente aberto a críticas, já que o discurso de Gamaliel ocorreu cerca de dez anos antes do Teudas conhecido pelos historiadores.” [2]

Similarmente, Howard Marshall argumenta que ou (1) Josefo tinha suas datas erradas para Teudas ou (2) Lucas está se referindo a um Teudas diferente. Afinal, Josefo se refere a muitos homens diferentes com os mesmos nomes: “Josefo descreve quatro homens com o nome de Simão em quarenta anos e três com o de Judas em dez anos, todos os quais eram instigadores da rebelião.” [3] Portanto, essa teoria não é difícil de acreditar.

Os críticos argumentaram anteriormente que a menção de Lucas de “Lisânias, o tetrarca de Abilene” (Lc. 3:1) era anacrônica, porque o rei Lisânias reinou até 36 a.C. — não durante o tempo de Jesus. No entanto, Yamauchi escreve: “Duas inscrições gregas de Abila, dezoito milhas a oeste, a noroeste de Damasco, provaram agora que houve um ‘Lisânias, o tetrarca’ entre os anos 14-29 d.C.” [4] A maior parte do nosso problema com os chamados erros históricos na Bíblia não é que temos muita informação — mas muito pouca . À medida que aprendemos mais e mais historicamente, a Bíblia é repetidamente confirmada.

[1] Veja Longenecker, Richard. Os Atos dos Apóstolos. Em FE Gaebelein (Ed.), The Expositor’s Bible Commentary, Volume 9: João e Atos (FE Gaebelein, Ed.). Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House. 1981. 323.

[2] Barnett, Paul. O Novo Testamento é confiável?: um olhar sobre a evidência histórica . Downers Grove, IL: InterVarsity, 1992. 149.

[3] Marshall, IH (1980). Atos: uma introdução e comentário (Vol. 5, p. 129). Downers Grove, IL: InterVarsity Press.

[4] Yamauchi, Edwin M.  As pedras e as escrituras . Filadélfia: Lippincott, 1972. 99.

Fontes acadêmicas:
  • F. F. Bruce, The Book of Acts: Bruce observa que as diferenças cronológicas não comprometem a autenticidade do relato, pois os nomes podem referir-se a figuras menos conhecidas ou os eventos podem ter sido mencionados fora de ordem para efeito argumentativo.
  • Martin Hengel, The Zealots: Hengel analisa a figura de Judas, o Galileu.

Refutação (b): Cronologia de Teudas e Judas, o Galileu

  • Confusão cronológica: A menção de Teudas e Judas em Atos 5:36-37 é interpretada de várias formas:
    • Provável outro Teudas: Muitos estudiosos, como Richard Longenecker em The Acts of the Apostles, argumentam que Lucas pode estar se referindo a outro Teudas, já que o nome era comum.
    • Narrativa ajustada: Gamaliel poderia estar usando exemplos conhecidos na tradição oral, sem uma preocupação estrita com a ordem cronológica. No mundo antigo, precisão cronológica nem sempre era o foco, mas sim o ponto moral ou argumentativo da narrativa.
  • Sobre Judas, o Galileu: A citação de Judas como anterior a Teudas não compromete o texto, pois poderia estar destacando eventos simbólicos, e não uma cronologia rígida.

Conclusão Geral

As alegações apresentadas no vídeo carecem de uma análise contextual e hermenêutica mais profunda. O autor de Atos demonstra conhecimento histórico e teológico compatível com o contexto do primeiro século. As supostas “mentiras” são mal-entendidos ou interpretações tendenciosas.

Poderá ver o vídeo no youtube Aqui

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