Em mais um vídeo palpiteiro e falacioso o Antonio Miranda vem com essa alegação de que miticistas são levados à sério academicamente. Neste artigo vamos provar que não.
Antonio argumenta que Jesus não existiu como figura histórica real , mas sim como um personagem mitológico, comparável a figuras como Orfeu, Dionísio ou Mitra. Ele também afirma que o cristianismo teria surgido sem necessidade de um fundador histórico, e que os textos bíblicos seriam composições tardias (possivelmente do segundo século), feitas com fins teológicos e propagandísticos.
Vamos analisar e refutar essas alegações uma a uma com base em consenso acadêmico.
1. ❌ A Hipótese Mitológica de Jesus Não Tem Amplo Suporte Acadêmico
✅ Argumento de Antonio:
“A hipótese de que Jesus nunca existiu tem respaldo acadêmico, com livros revisados por pares e autores qualificados.”
❌ Refutação:
Embora haja alguns estudiosos que defendem a hipótese mitológica de Jesus , como Richard Carrier, Raphael Lataster e Thomas L. Thompson, essa visão permanece minoritária na academia mainstream .
Obras Citadas por Antonio Miranda
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Richard Carrier – On the Historicity of Jesus: Why We Might Have Reason for Doubt
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Publicação: Publicado pela Sheffield Phoenix Press
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Recepção Acadêmica: Apesar de sua publicação acadêmica, a obra de Carrier recebeu críticas significativas de estudiosos renomados. Por exemplo, Bart D. Ehrman, um dos principais estudiosos do Novo Testamento, criticou a metodologia de Carrier, considerando-a falha e não representativa das práticas historiográficas padrão. Wikipedia+1Wikipedia+1Wikipédia, a enciclopédia livre+2Logos Apologetica+2Wikipedia+2
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Raphael Lataster – Questioning the Plausibility of Jesus Ahistoricity Theories
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Recepção Acadêmica: Embora o artigo tenha sido publicado em uma revista acadêmica, a teoria do mito de Jesus, que Lataster defende, é amplamente considerada marginal na academia. A maioria dos estudiosos do Novo Testamento e da história antiga aceita a existência histórica de Jesus como um fato estabelecido. Wikipedia+1Wikipedia+1Wikipédia, a enciclopédia livre+2Wikipedia, la enciclopedia libre+2Logos Apologetica+2Logos Apologetica
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Fontes Críticas:
- Bart D. Ehrman – Did Jesus Exist? (2012)
- Professor de Estudos Religiosos da Universidade da Carolina do Norte.
- Um dos maiores especialistas em Novo Testamento.
- Em seu livro, ele refuta diretamente a hipótese mitológica , afirmando que há consenso moderado entre historiadores de que Jesus foi uma figura histórica real , embora muitos detalhes de sua vida sejam questionáveis.
- James D. G. Dunn – The Evidence for Jesus (1985)
- Professor emérito de Divindade na Universidade de Durham.
- Um dos mais respeitados especialistas em cristianismo primitivo.
- Defende a historicidade de Jesus com base em múltiplas fontes independentes e critérios históricos rigorosos.
- John P. Meier – A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus (vols. I–V)
- Padre católico e professor de Teologia Bíblica.
- Usa metodologia histórica para reconstruir a figura de Jesus.
- Conclui que Jesus foi um pregador judeu do primeiro século , com características distintas das mitologias pagãs.
- Larry Hurtado – Lord Jesus Christ: Devotion to Jesus in Earliest Christianity (2005)
- Historiador e teólogo.
- Demonstra como a adoração a Jesus surgiu rapidamente após sua morte, o que seria improvável se ele fosse apenas uma figura mitológica posterior.
- A maioria dos historiadores bíblicos reconhece que Jesus não é idêntico a essas figuras .
- Diferente de Mitra ou Dionísio, Jesus está historicamente enraizado em um tempo, lugar e contexto específico : Judeia sob domínio romano, com figuras reais como João Batista, Herodes Antipas, Pôncio Pilatos, etc.
- Estudos como os de Bart Ehrman (Did Jesus Exist? ) e John Meier (A Marginal Jew ) mostram que existem diferenças importantes entre o cristianismo primitivo e cultos míticos pagãos .
Conclusão:
Apesar de Antonio citar autores relevantes, esses nomes estão fora do círculo dominante da pesquisa bíblica e histórica . A grande maioria dos historiadores e especialistas em estudos bíblicos opera sob a premissa de que Jesus de Nazaré foi uma figura histórica real .
2. ❌ As Fontes Extra-Bíblicas Sobre Jesus Não São Tão Escassas ou Irrelevantes
✅ Argumento de Antonio:
“Não há nenhuma fonte contemporânea confiável sobre Jesus. Todos os registros são posteriores e tendenciosos.”
❌ Refutação:
Embora as fontes extra-bíblicas sejam escassas, elas existem e dão suporte à existência de um movimento religioso centrado em Jesus , mesmo que não entrem em detalhes biográficos.
Fontes Não-Cristãs Relevantes:
- Tácito – Anais , XV.44 (c. 116 d.C.)
- Menciona Cristus sendo crucificado sob Pôncio Pilatos.
- Confirma a existência de um movimento cristão perseguido em Roma.
- Plínio, o Jovem – Cartas X.96 (c. 112 d.C.)
- Descreve cristãos adorando a Cristo como um deus.
- Indica que Cristo era visto como uma figura central de culto.
- José Flávio – Antiguidades Judaicas , XVIII.63 (c. 93–94 d.C.)
- O chamado Testimonium Flavianum é considerado parcialmente interpolado, mas a maior parte dos estudiosos concorda que Flávio faz referência a Jesus .
- Suetônio – Vida de Cláudio , XXV (c. 121 d.C.)
- Fala de judeus expulsos de Roma por causa de “Chrestus”, possivelmente uma corrupção de “Cristo”.
Fontes Cristãs Primitivas:
- Epístolas de Paulo (c. 50–60 d.C.)
- Embora teológicas, mencionam Jesus como figura real, com irmãos (como Tiago) e discípulos conhecidos.
- Evangelhos Sinópticos (c. 70–100 d.C.)
- Apesar de escritos décadas após a suposta vida de Jesus, contêm tradições orais antigas que remontam ao período apostólico.
Conclusão:
Essas fontes não provam todos os detalhes da vida de Jesus, mas confirmam a existência de um movimento religioso centrado nele , algo que não pode ser facilmente ignorado como mero mito inventado.
3. ❌ O Cristianismo Precisa de Um Fundador Histórico
✅ Argumento de Antonio:
“O cristianismo pode ter surgido como qualquer outro culto mitológico, sem necessidade de um fundador histórico real.”
❌ Refutação:
Diferentemente de cultos pagãos como o de Mitra ou Dionísio, o cristianismo está profundamente enraizado em um contexto histórico específico : Judeia sob domínio romano, com personagens históricos reais como João Batista, Herodes Antipas, Pôncio Pilatos e até o próprio imperador Tibério.
Comparativo com Outras Tradições:
Fonte Acadêmica:
- Larry Hurtado – How on Earth Did Jesus Become a God?
- Explica como a divinização de Jesus ocorreu dentro de um contexto judaico-mono-teísta, algo incomum em cultos mitológicos.
Conclusão:
O cristianismo não se desenvolveu isoladamente como um mito aleatório , mas sim como uma nova interpretação messiânica dentro do judaísmo do primeiro século , com raízes históricas claras.
4. ❌ O Cristianismo Não É Apenas Uma Propaganda Política Pós-Destruição do Templo
✅ Argumento de Antonio:
“O cristianismo foi criado como uma resposta ideológica à destruição do Templo em 70 d.C., com textos fabricados no segundo século.”
❌ Refutação:
Embora o cristianismo tenha evoluído significativamente após a destruição do Templo, há evidências suficientes de que suas origens remontam ao primeiro século , antes de 70 d.C.
Pontos-chave:
- Cartas de Paulo (c. 50–60 d.C.)
- Contêm crenças fundamentais do cristianismo primitivo (ressurreição, messianismo, comunidade).
- Mostram que a fé já estava organizada antes de 70 d.C.
- Tradições pré-paulinas
- Hinos e credos antigos, como o de Filipenses 2:6–11, são considerados datar de antes de Paulo.
- Atos dos Apóstolos
- Apesar de ter sido escrito no final do primeiro século, retrata eventos do início do cristianismo com base em tradições orais.
- Evidências arqueológicas
- Inscrições, ossuários e documentos como o Papiro Rylands P52 (meados do II d.C.) mostram que o evangelho de João já circulava no Egito muito cedo.
Fonte Acadêmica:
- N. T. Wright – The Resurrection of the Son of God (2003)
- Analisa como a crença na ressurreição de Jesus emergiu de forma única no primeiro século, ligada a um evento histórico específico.
Conclusão:
O cristianismo não surgiu como uma propaganda política pós-70 d.C. , mas sim como uma continuação radicalizada de tradições judaicas messiânicas , com forte impacto emocional e espiritual.
5. ❌ O Cristianismo Não Foi Exclusivamente Pró-Escravidão ou Anti-Proteção às Mulheres/Crianças
✅ Argumento de Antonio:
“O cristianismo não trouxe proteção às mulheres, crianças ou fim da escravidão. Muitos líderes religiosos abusaram e a Bíblia aceita a escravidão.”
❌ Refutação:
É verdade que muitos cristãos usaram a Bíblia para justificar opressão , especialmente durante períodos coloniais e escravistas. No entanto, o cristianismo também foi usado como força de libertação , especialmente por grupos reformadores.
Pontos Importantes:
- Condenação explícita da escravidão:
- A Igreja Católica só condenou oficialmente a escravidão no século XIX, mas isso não invalida o uso do cristianismo como ferramenta de resistência e libertação por grupos marginalizados.
- Movimento abolicionista cristão:
- Quakers, metodistas e outros grupos cristãos foram fundamentais no combate à escravidão nos EUA e Europa.
- William Wilberforce (anglicano) liderou o movimento britânico pelo fim do tráfico negreiro.
- Proteção às mulheres:
- Embora a Bíblia reflita costumes patriarcais, ela também apresenta figuras femininas importantes (Rute, Ester, Maria Madalena).
- Movimentos feministas cristãos têm reinterpretado a Bíblia para promover igualdade de gênero.
- Defesa das crianças:
- O cristianismo primitivo rejeitava práticas como infanticídio e exposição de bebês, comuns no mundo greco-romano.
Fonte Acadêmica:
- João Pedro Marques – O Peso da Igualdade (2003)
- Analisa o papel do cristianismo no debate sobre escravidão em Portugal e Brasil.
- Rosemary Radford Ruether – Christianity and the Making of the Modern Family (2000)
- Discute como o cristianismo influenciou mudanças sociais nas relações familiares e de gênero.
Conclusão:
O cristianismo foi usado tanto para opressão quanto para libertação , dependendo do contexto histórico e cultural. Isso não invalida sua importância moral e ética no desenvolvimento de conceitos como dignidade humana e direitos básicos.
🔚 Conclusão Final:
📘 Recomendações Bibliográficas:
- Bart D. Ehrman – Did Jesus Exist?
- N. T. Wright – The Resurrection of the Son of God
- Larry Hurtado – Lord Jesus Christ
- John P. Meier – A Marginal Jew (Vol. I)
- João Pedro Marques – O Peso da Igualdade
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