Continuando nossa série de refutações ao grupo “Contradições da Bíblia”, agora vamos responder esta postagem aqui. Como sempre, o texto do original está em azul e minhas respostas em preto.
Esse “um dia como mil e mil anos como um dia” tem sido um dos argumentos mais usados na tentativa de evitar uma grande decepção profética, porém soa como um belo remendo, pois Jesus mesmo assegurou que o Juízo Final aconteceria ainda no tempo de vida de alguns dos seus discípulos, como veremos novamente adiante. Aliás, Pedro, assim como Jesus (ver Marcos 01:15), também usa a palavra “Próximo” em uma passagem anterior quando fala sobre o Juízo Final (1Pedro 04:07). Segue alguns exemplos mostrando Deus/Jesus usando a noção humana de tempo:
Não é não. Isso não é um subterfúgio cristão. Vamos desmantelar a fraca retórica desse grupo “CB”. Já vimos no artigo sobre Mt. 24,35 onde esses ateístas são completamente desonestos em apresentar e omitir detalhes para favorecer sua ideologia e sofismas. Pois Jesus mesmo assegurou que o Juízo Final aconteceria ainda no tempo de vida de alguns dos seus discípulos: já desmascaramos essa alegação no artigo supracitado. Jesus tinha as duas naturezas, divina e humana. Como humano, Ele não saberia o dia e a hora em que viria na Segunda Vinda. Ele nunca promulgou isso.
Sobre Mc. 1,15 Jesus queria dizer que tinha se cumprido o tempo designado para ele iniciar seu ministério. Visto que ele estava presente como Rei-Designado, o Reino de Deus havia se aproximado. Pessoas sinceras poderiam então aceitar sua obra de pregação e dar os passos necessários para receber a aprovação divina. Esses ateístas não entendem a teologia da “vinda do Reino de Deus” e a interpretam como se fosse o Juízo Final. Mas qualquer cristão bem informado sabe que não são a mesma coisa.
Quando João Batista pregou no deserto: “Arrependei-vos, pois o reino dos céus se tem aproximado”, ele não estava falando do Juízo Final, como toscamente arrazoam o pessoal da CB e outros. Naquela época, muitos judeus esperavam o aparecimento do prometido Messias, ou Cristo, e alguns se perguntavam a respeito de João: “Será este o Cristo?” No entanto, João negou que fosse ele, e em vez disso indicou-lhes outro, sobre quem disse: “Não [sou] nem apto para desatar-lhe o cordão de suas sandálias.” (Lucas 3,15-16) Ao apresentar Jesus aos seus discípulos, João declarou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” — João 1,29. Assim, em Mc. 1,15, Jesus não está falando sobre o Juízo Final, e o castelo de cartas ateísta desaba.
Por analisarem superficialmente e não entenderem o profundo contexto histórico em que os cristãos viviam antes da destruição do Templo em 70 d.C. é que esses ateístas fazem uma tremenda confusão entre este evento e a Segunda Vinda. Pedro explica: “Tem-se aproximado o fim de todas as coisas. Sede ajuizados, portanto, e sede vigilantes, visando as orações. Acima de tudo, tende intenso amor uns pelos outros.” (1 Ped. 4,7-8) É verdade, o fim estava então próximo. Pedro escreveu por volta de entre 62 e 64 E. C., e foi pouco depois disso, no ano 70, que finalmente veio o fim do sistema judaico de coisas. Os exércitos romanos devastaram toda a região da Judéia, e especialmente Jerusalém. Uma profecia de Jesus nos ajuda a reconhecer por que os cristãos daquele tempo precisavam ter “intenso” amor uns aos outros.
Jesus predisse: “Quando virdes Jerusalém cercada por exércitos acampados, então sabei que se tem aproximado a desolação dela.” (Luc. 21,20; Mat. 24,15) Foi em novembro de 66 d.C. (33 anós APÓS a morte de Cristo) que os exércitos romanos, sob o comando de Céstio Galo, cercaram Jerusalém. Avançaram para dentro da cidade, lugar considerado “santo” pelos judeus, e atacaram a muralha do templo, minando-a. Os romanos poderiam ter facilmente capturado a cidade inteira, mas, de repente, sem aparente motivo para isso, o General Galo retirou-se e recuou. Isto forneceu aos cristãos a oportunidade de acatar a próxima admoestação de Jesus: “Então, comecem a fugir para os montes os que estiverem na Judéia.” (Luc. 21,21-24) Mais tarde voltaram os exércitos romanos sob o comando do General Tito, e devastaram o país, resultando em se relatarem 1.100.000 mortos só em Jerusalém, o que deveras foi uma “grande tribulação”!
Mas, o que dizer dos cristãos? O historiador Eusébio Pânfilo, do terceiro século, observa: “No entanto, todo o corpo da igreja em Jerusalém, mandado por revelação divina, dada a homens de piedade aprovada, ali, antes da guerra, mudaram-se da cidade e moraram em certa cidade além do Jordão, chamada Pela.” Sim, os cristãos evidentemente acataram as instruções de Cristo, e, depois da retirada de Céstio Galo e seus exércitos, fugiram para a região montanhosa em volta de Pela, salvando assim a sua vida. Mas, isso não lhes foi fácil.
Sem analisar este complexo contexto e por serem simplistas, é que grupos como esse “CB” cometem essas falhas de raciocício. O “tempo está próximo” também poderia, sem dúvida, se referir aos eventos que iriam se suceder à destruição do Templo e não especificamente à Segunda Vinda, que é em outro plano completamente diferente. Jesus NUNCA afirmou que iria voltar em alguns anos. Os cristãos podiam ter pensado isso mas Ele nunca afirmou isso.
Assim, podemos considerar que o autor de 2 Pedro estava apenas tentando consolar os cristãos da sua época. Sim. Estava se referindo à Segunda Vinda também mas é preciso analisar outros aspectos. Sobre isto, o erudito A. T. Robertson comenta o versículo em Quadros Verbais do Novo Testamento:
Mas o fim de todas as coisas está próximo (παντων δε το τελος ηγγικεν). Verbo perfeito do indicativo de εγγιζω, para “aproximar”, verbo comum tardio (a partir de εγγυς), mesma forma usada por Batista para a chegada do Messias (Mt 3,2) e por Tiago em 5,08 (da Segunda Vinda). Pedro não afirma quão próxima esta Segunda Vinda está, mas ele insiste prontidão (1,5; 4,6), como fez Jesus (Mr 14,38) e Paulo (1Ts 5,6), embora se aproximando o tempo todo (Ro 12,11), mas não de uma vez (2Ts 2,2).
Assim, esta declaração (de IPd 4,7) é também, evidentemente, concebida para apoiar e encorajar os primeiros cristãos, e para excitá-los a levar uma vida santa, pela certeza de que o fim de todas as coisas estava se aproximando. A frase, “o fim de todas as coisas”, teria naturalmente se referido ao fim do mundo, a término dos assuntos humanos. Não é absolutamente certo, porém, que o apóstolo usou aqui neste sentido. Pode significar a medida em que estavam em causa, ou em relação a eles, o fim de todas as coisas se aproximava. A morte é para cada um o fim de todas as coisas aqui em baixo: o fim de seus planos e de seu interesse em tudo que diz respeito aos assuntos sublunares. Mesmo que a frase fez originalmente se referisse para o fim do mundo, é provável que “em breve” indicasse o final da vida em relação aos assuntos de cada indivíduo, uma vez que se acreditava que o final do mundo estava próximo e,portanto, cri-se que o encerramento da carreira terrena de cada um também chegava a um fim. É possível que a significação última pode em última análise, ter vindo a predominar, e que Pedro pode ter usado isso, neste sentido, sem se referir à outra. Para se ter uma ideia do que estou falando veja Ro 13,12. A palavra traduzida como “vem chegado”, “se aproxima” ou como literalmente no grego “está às mãos”, pode se referir tanto a proximidade do lugar ou tempo, e sempre indica que o lugar ou o tempo previsto não estava muito distante. No primeiro sentido, como se referindo a proximidade do lugar, ver Mt 21,1.
O que está realmente se querendo dizer com todas essas expressões de “em breve” e “se aproxima” no Novo Testamento? Ao longo desta série de artigos no Logos, temos salientado que nem Cristo, nem qualquer dos santos apóstolos acreditavam que o tempo do Segundo Advento de Cristo iria acontecer no prazo de suas vidas. Todo o Novo Testamento foi escrito como um guia espiritual para os remidos, e é mais provável que cada uma dessas expressões mencionadas foram com o propósito de vigilância inspiradora e preparação da sua parte. Cristo disse claramente que nem ele mesmo sabia que o ‘dia nem a hora’ dos acontecimentos do julgamento final; {Mt 24,36} e é irresponsável alguém afirmar que os apóstolos decidiram, apesar disso, que eles sabia quando o Segundo Advento seria. São os fundamentalistas modernistas como esses do CB e outros que insistem em tomar essas palavras dos apóstolos literalmente. A igreja de todas as épocas nunca tiveram nenhuma dificuldade em interpretar-las espiritualmente. Há uma verdade simples e gloriosa nessas expressões para todos na terra. Como Barclay disse:
Para cada um de nós o tempo está próximo. A única coisa que se pode dizer de cada homem é que ele vai morrer. Para cada um de nós, o Senhor está perto, e não podemos dizer o dia nem a hora em que deve ir para encontrá-lo … toda a vida é vivida à sombra da eternidade.
Os críticos alegam que Pedro acreditava que a Segunda Vinda de Cristo aconteceria simultaneamente com a queda de Jerusalém, e pode ser livremente admitido que Pedro pode realmente podia ter pensado assim. Teria sido muito compreensível se ele o tivesse, pois o próprio Jesus em dar respostas às perguntas {Mt 24} discutiu os dois eventos ao mesmo tempo, talvez pretendendo suas respostas fossem enigmáticas. Mas o que é realmente importante é que, enquanto Pedro pode realmente ter suposto que a Segunda Vinda ocorreria no momento da queda da Cidade Santa, ele nunca disse isso. Este versículo que estamos estudando não diz isso, e nenhum dos apóstolos nunca disse isso. Logo após a queda de Jerusalém, no entanto, toda a igreja logo entendeu que o primeiro evento foi um precursor e profecia do Segundo Advento, e que Jesus tinha dado assim o seu ensino como fazer o seu significado compreensível à luz de eventos futuros.
Lembrando que 2 Pedro é uma obra cristã relativamente tardia. Tardia o suficiente para se arranjar uma desculpa.
Somente um completo néscio funcional e completo alheio aos altos estudos acadêmicos para alegar tamanho disparate. Além de não dar PROVA alguma de sua alegação de que “2 Pedro é uma obra cristã relativamente tardia”, deixando no ar uma dúvida que não faz questão alguma de elucidar, ainda alega que “é uma desculpa”. Só um completo desonesto intelectual pra alegar isso. O consenso erudito é de que Pedro escreveu sua segunda carta não muito tempo depois da primeira, ou por volta de 64 d.C.
Cabe dizer, no entanto, que podemos sustentar simplesmente que os escritores do Novo Testamento estavam errados. Esperavam a volta de Cristo e o fim do mundo em sua própria geração e tais acontecimentos não tiveram lugar. Se adotamos este ponto de vista resulta sugestivo que a Igreja cristã
permitisse que tais versículos permanecessem dentro da Escritura. Não teria sido difícil eliminá-los furtivamente do texto dos documentos do
Novo Testamento mas, em que pese isso, deixaram-nos. Até fins do século II não começou o Novo Testamento a ser cristalizado na forma em que hoje o temos e, quando isto sucedeu, livros com declarações tais como estas chegaram a ser parte indisputável do mesmo. A evidente conclusão é que a Igreja primitiva não cria que tais afirmações estivessem equivocadas; pelo contrário, aceitava-as como verdadeiras. Pode ser que tenhamos que interpretar a palavra próximo à luz da história. A história é um processo de extensão quase inimaginável. Tentou-se ilustrar desta maneira: Suponhamos que todo o tempo é representado pela altura da torre Eiffel mais um selo de correios colado sobre o topo da mesma. Neste caso a extensão da história conhecida estaria representada pela espessura do selo, enquanto que a extensão não conhecida seria a altura total da torre.
Em 1Coríntios 07:29-31, Paulo até mesmo adverte para que não fossem feitos planos para o futuro: Vos digo, irmãos, que o tempo se ABREVIA;
Contexto? Dói usá-lo? Paulo estava falando do “fim do mundo” (sic) ou Segundo Advento aqui? O erudito bíblico Frédéric Godet escreveu: “Ao passo que os descrentes estão certos de que o mundo vai durar indefinidamente, o cristão tem sempre diante de si o grande fato esperado, a Parousia.” Cristo dera a seus discípulos o sinal de sua “vinda”, e os advertira: “Portanto, mantende-vos vigilantes, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.” (Mateus 24,3-42) O tempo que restava era “reduzido” no sentido de que aqueles cristãos do primeiro século deviam viver constantemente na expectativa da vinda de Cristo. Além do mais, eles não sabiam quanto tempo lhes restava individualmente antes que o “tempo e o imprevisto” pusesse fim à vida deles, acabando com toda possibilidade para ‘assegurarem a sua chamada’. — Eclesiastes 9,11; 2 Pedro 1,10.
Romanos 16:20- E o Deus de paz esmagará em BREVE Satanás debaixo dos vossos pés
Quando pensamos no tempo em termos como estes a palavra próximo se converte num vocábulo de valor muito relativo. Literal e historicamente o salmista estava certo quando disse que aos olhos de Deus mil anos não eram mais que uma das vigílias da noite (Salmo
90,4). Neste caso o termo próximo pode cobrir séculos e gerações e, mesmo assim, estar corretamente aplicado. Mas é indubitável que os escritores bíblicos não tomaram a palavra próximo neste sentido, visto que não tinham uma concepção da história em tais termos. O fato simples é que atrás disto há uma verdade iniludível e pessoal. Para cada um de nós o tempo está próximo. Para cada um de nós o Senhor está próximo. Não podemos dizer o dia nem a hora quando iremos encontrar nos com nosso Deus; portanto, toda nossa vida tem que ser vivida à sombra da eternidade.
Hebreus 10:37- Pois ainda em BEM POUCO TEMPO, aquele que há de vir, virá, e NÃO TARDARÁ
Aqui o apóstolo Paulo cita as Escrituras inspiradas, pré-cristãs. Mas, ele faz isso, não do texto original hebraico, porém, da tradução grega do mesmo, conhecida como a Versão dos Setenta ou Septuaginta grega (LXX), feita durante o terceiro século logo antes de Cristo. De acordo com o texto hebraico, Habacuque 2,2-3: reza: “E o Senhor passou a responder-me e a dizer: ‘Escreve a visão e assenta-a de modo claro em tábuas, para que aquele que a lê alto possa fazê-lo fluentemente. Porque a visão ainda é para o tempo designado e prossegue arfando até o fim, e não mentirá. Ainda que se demore, continua na expectativa dela; pois cumprir-se-á sem falta. Não tardará.’”
No entanto, segundo a edição em inglês de A Bíblia Septuaginta de Charles Thomson e a Versão Septuaginta publicada por S. Bagster and Sons, Ltd., Habacuque 2,2-3, reza: “E o Senhor respondeu[-me] e disse: Escreve uma visão; escreve-a nitidamente num livro, para que o leitor possa acompanhar [percorrer] estas coisas; porque a visão é para um tempo ainda vindouro. Mas ela surgirá por fim e não será em vão. Embora ele possa demorar, aguarde-o; porque ele virá certamente e não falhará [e não demorará].”
De modo que a Versão Septuaginta faz a nossa atenção desviar-se da visão para uma pessoa que vem. Também, quando diz “aguarde-o”, o texto grego usa o verbo que significa “perseverar”, de modo que a ideia é de aguardar com perseverança a chegada daquele que vem. É provável que o uso deste verbo grego, que significa “perseverar”, tenha influenciado o apóstolo Paulo a usar o substantivo grego relacionado, no versículo precedente (Heb. 10,36), ao dizer: “Pois tendes necessidade de perseverança, a fim de que, depois de terdes feito a vontade de Deus, recebais o cumprimento da promessa.”
Então temos Tiago 05:08- Sede vós também pacientes; fortalecei os vossos corações, PORQUE A VINDA DO SENHOR ESTÁ PRÓXIMA. Quão “perto” ou “próximo” Tiago quis dizer? É claro que só poderia ser uma esperança, pois Jesus tinha distintamente dito que ninguém sabia quando iria voltar.
Cremos que isto basta para desmascarar a seletividade sofista dos textos bíblicos desse “Contradições da Bíblia” e mostrar sua desonestidade em fazer uma eisegese completamente desonesta.