Continuando nossa série de refutações ao grupo “Contradições da Bíblia”, agora vamos responder esta postagem aqui. Como sempre, o texto do original está em azul e minhas respostas em preto.
Em Mateus 24:03-35 (veja também Marcos 13:24-30 e Lucas 21:27-32), Jesus faz uma extensa e detalhada descrição sobre o Juízo Final; e complementa dizendo:
“EM VERDADE VOS DIGO, QUE NÃO PASSARÁ ESTA GERAÇÃO SEM QUE TODAS ESSAS COISAS SE CUMPRAM.”
A passagem acima é uma grande pedra no sapato dos esperançosos cristãos. Abaixo, alguns argumentos comuns tentando resolver o problema.
Aqui começa a ciranda de apedeutismo desse grupo. Mas não vamos só responder a eles mas a todos os que usam dessa mesma desinformação e ideias para denegrir o cristianismo. A passagem acima não é pedra no sapato de cristão algum. Apenas um grande rochedo no entendimento de ateístas que não querem entender e partem de pressupostos apressados.
Fizeram a Jesus não uma, mas três perguntas. Quando comparamos, vemos que os discípulos fizeram a Jesus três perguntas.
– Todos os três (Mateus, Marcos e Lucas) relatam a primeira pergunta: “Quando se sucederão essas coisas?”
– Marcos e Lucas registram a segunda pergunta: “Qual será o sinal de que essas coisas estarão prestes a acontecer?” Note-se que estas duas primeiras referem-se a destruição do templo.
– A terceira questão, registrada somente em Mateus, diz respeito ao retorno de Cristo: “Qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?”
Parece, portanto, razoável que Jesus teria respondido todas as três perguntas em sua resposta. Nós também esperamos que Mateus a dedicar especial atenção à assinalar os eventos subsequentes a Segunda Vinda de Cristo, já que apenas o seu Evangelho registra esta pergunta.
Estes três perguntas indicam que o intervalo de tempo coberto pelas perguntas poderia ser muito longo.
Primeiro, temos que entender o que o “todas essas coisas se cumpram” se refere. Muitos judeus achavam que o judaísmo, que girava em torno do templo, continuaria por muito tempo. Mas Jesus dissera: “Aprendei . . . da figueira o seguinte ponto . . . : Assim que os seus ramos novos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que o verão está próximo. Do mesmo modo, também, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo às portas. Deveras, eu vos digo que esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas ocorram. Céu e terra passarão, mas as minhas palavras de modo algum passarão.” — Mateus 24,32-35. Jesus não estava se referindo à Sua Segunda Vinda aqui, como os ateístas pensam, mas aos acontecimentos circundantes ao cerco de Jerusalém e da destruição do Templo, que ocorreu em 70 d.C., 37 anos depois da morte de Cristo, exatamente como Ele previu. A profecia se cumpriu literalmente, muito a contragosto do que pensam os desinformados ateístas do “Contradições da Bíblia” (doravante CB).
* Jesus se refere apenas à destruição de Jerusalém ocorrida no ano 70 EC. Porém, o contexto e “todas essas coisas” derrubam facilmente essa defesa.
Não. Não derrubam coisa alguma, além do sofisma desinformado desse CB. Jesus fala sem rodeios de sua Segunda Vinda. O Novo Testamento nunca emprega a frase “Segunda Vinda”. A palavra que usa para descrever o retorno de Cristo em toda sua glória é muito interessante. Trata-se da palavra Parousia (vinda); esta palavra passou à nossa linguagem como uma descrição da Segunda Vinda. É muito comum no resto do Novo Testamento, mas este é o único capítulo em que aparece nos evangelhos (vv. 3, 27, 37, 39). O interessante é que se trata do termo que se emprega para referir-se à chegada do governador a seus domínios, ou do rei a seus súditos. Descreve a chegada de alguém com autoridade e poder. A segunda vinda implica esta verdade essencial: que há “um acontecimento divino e longínquo para o qual se dirige toda a criação” e esse acontecimento não é a dissolução – trata-se nada menos que do governo universal e eterno de Deus.
Tomemos o versículo 34 como ponto de partida: “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.” Quando analisamos esta frase, surgem três possibilidades.
(a) Se Jesus se referiu à Segunda Vinda, equivocou-se, porque não voltou durante a vida da geração que O estava ouvindo. Há muitos que aceitam este ponto de vista e consideram que Jesus, sendo humano, tinha limitações em sua sabedoria e que em realidade acreditava que voltaria o ciclo vital dessa geração. Podemos aceitar sem hesitações o fato de que Jesus tinha limitações em sua sabedoria devido a seu caráter humano; mas é difícil crer que estava equivocado a respeito de uma verdade espiritual tão grande como esta.
(b) É possível sustentar que Jesus disse algo semelhante e que, na transmissão oral, mudaram-se suas palavras. Em Marcos 9:1 se afirma que Jesus disse o seguinte: “Em verdade vos afirmo que, dos que aqui se encontram, alguns há que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o reino de Deus.” Isso foi certo em forma gloriosa e triunfal. Durante essa geração o reino de Deus se disseminou em forma poderosa até que houve cristãos que ao longo de todo mundo conhecido. Ora, os primeiros cristãos esperaram, em realidade, a chegada iminente da Segunda Vinda. Em sua situação de sofrimento e perseguições esperavam e desejavam a libertação que lhes traria a Segunda Vinda de seu Senhor e às vezes tomaram palavras cuja intenção era uma referência ao Reino e as relacionaram com a Segunda Vinda que é algo muito distinto. Aqui pode ter acontecido algo parecido. O que Jesus pode haver dito é que seu Reino viria com poder antes que terminasse essa geração.
(c) Mas há uma terceira possibilidade. O que acontece se Jesus não disse isto com referência à Segunda Vinda? O que acontece se a frase até
que tudo isto aconteça não se refere absolutamente à Segunda Vinda? O que acontece se a frase se refere à profecia com a qual começa o capítulo? O que acontece se se refere ao cerco e queda de Jerusalém? Se aceitarmos isto, desaparecem as dificuldades. O que diz Jesus é que suas terríveis advertências a respeito da condenação de Jerusalém se cumprirão durante a vida dessa mesma geração, e ocorreram 37 anos depois. Pareceria que o melhor caminho é tomar os versos 32-35 como uma referência, não à Segunda Vinda, e sim à queda de Jerusalém; nesse caso, as dificuldades desaparecem.
Então os versículos 36-41 sim se referem à Segunda Vinda; e dizem algumas verdades de fundamental importância a respeito desse acontecimento. Esse grupo do CB e outros estão incorretos em assumir que Jesus estava prevendo o tempo de Sua segunda vinda. Quando Jesus disse: “Vereis o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória” (Mateus 24,30), Ele estava usando uma linguagem que qualquer pessoa familiarizada com o Antigo Testamento facilmente entenderia.
Lembre-se da familiar passagem do Antigo Testamento em que Daniel tem uma visão de “um como filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu. Ele aproximou-se do Ancião de dias e foi conduzido à sua presença “(Daniel 7,13). Aqui Cristo não está vindo à Terra em Sua segunda vinda mas ascende ao trono do Todo-Poderoso em exaltação. Como o estudante da Bíblia sabe muito bem, “nuvens” são um símbolo comum Antigo Testamento apontando para Deus como o juiz soberano das nações. Nas palavras de Ezequiel, “O dia do SENHOR está perto, um dia de nuvens, um tempo de castigo para as nações” (Ez 30,3). Ou como o profeta Joel disse, “O dia do Senhor está chegando. É um dia de escuridão e de trevas, dia de nuvens e de densas trevas”(Joel 2,1-2). Como Daniel, Isaías, Ezequiel e uma série de profetas antes dele, Jesus empregou a linguagem de “nuvens” para alertar seus discípulos do julgamento que se abateria sobre Jerusalém dentro de uma geração. Usando uma linguagem consumação final para caracterizar um evento futuro próximo, o Mestre profetizou: “Nessa altura, o sinal do Filho do Homem aparecerá no céu, e todas as nações da terra se lamentarão. Eles verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória “(Mt 24,30). Longe de prever a sua segunda vinda, no entanto, Jesus estava dizendo aos seus discípulos que aqueles que testemunharam a destruição de Jerusalém igualmente veriam sua justificativa e exaltação como legítimo rei de Israel.
* A palavra GERAÇÃO não deve ser entendida como o conjunto de pessoas de uma mesma época, mas como sendo a RAÇA ou o POVO judeu. Mas por que, exatamente aí, “Geração” ganha esse significado especial, sendo que palavra é usada no seu sentido comum nas demais vezes que aparece no Novo Testamento?
Nos anos à frente, até 66 d.C., os cristãos devem ter visto o cumprimento de muitos dos elementos preliminares do sinal composto: guerras, fomes, até mesmo uma extensa pregação das boas novas do Reino. (Atos 11,28; Colossenses 1,23) No entanto, quando é que viria o fim? O que quis Jesus dizer com “esta geração [em grego: geneá] de modo algum passará”? Aqui, o grego diz geneá (povo), que é diferente de génos, “raça”, como em 1Pe 2,9. Jesus muitas vezes classificara a massa contemporânea dos judeus opositores, inclusive seus líderes religiosos, de “geração iníqua e adúltera”. (Mateus 11,16; 12,39, 45; 16,4; 17,17; 23,36) Portanto, no Monte das Oliveiras, quando novamente falou ‘desta geração’, ele evidentemente não se referiu à inteira raça de judeus em toda a História; tampouco se referiu aos seus seguidores, embora estes fossem uma “raça escolhida”. (1 Pedro 2,9) Nem disse Jesus que “esta geração” era um período de tempo.
Em vez disso, Jesus referiu-se aos judeus opositores lá naquele tempo, que sofreriam o cumprimento do sinal dado por ele. Sobre a referência a “esta geração”, em Lucas 21,32, o professor Joel B. Green menciona: “No Terceiro Evangelho, ‘esta geração’ (e frases relacionadas) regularmente tem aplicação a uma categoria de pessoas que resistem ao propósito de Deus. . . . [Refere-se] a pessoas que obstinadamente viram as costas ao propósito divino.”
O erudito britânico G. R. Beasley-Murray observa:
“A frase ‘esta geração’ não deve causar dificuldade aos intérpretes. Embora genea no grego mais antigo significasse nascimento, progênie e, portanto, raça, . . . no [grego da Septuaginta] traduz mais freqüentemente o termo hebraico dôr, que significa idade, era da humanidade, ou geração no sentido de contemporâneos. . . . Em declarações atribuídas a Jesus, o termo parece ter uma conotação dupla: por um lado, sempre se refere aos contemporâneos dele, e por outro lado, sempre denota criticismo implícito.
O erudito John Lighfoot também acentua:
Por isso, parece bastante claro, que os versos acima não devem ser entendidos do Juízo Final mas, como dissemos, da destruição de Jerusalém. Houve alguns entre os discípulos (especialmente João), que viveram para ver essas coisas acontecerem. Compare Mt 16,28, com João 21,22. E houve alguns rabinos vivos no momento em que Cristo falou estas coisas, que viveram até que a cidade fosse destruída, viz. Rabino Simeão, que pereceu com a cidade, R. Jochanan Ben Zacai, que sobreviveu a ela, R. Zadoch, R. Ismael, e outros.
Quando Jesus usou a palavra “geração” (grego genea), Ele não quis dizer a mesma coisa que queremos dizer. Ele estava usando “geração” para se referir a um grupo de pessoas vivendo no mesmo período da história.
De acordo com Archer, por vezes, genea (“geração”) foi utilizada como um sinónimo de genos (“Raça,””povo”, “nação”,”pessoas”). Archer escreve,
“Embora esse significado para genea não seja comum, é encontrado já em Homero e Heródoto e tão tardiamente quanto Plutarco (cf. HG Liddell e R. Scott, A Lexicon Grego-Inglês, 9 ed, [Oxford: Clarendon, 1940].., P.342)” [2]
Assim, as palavras de Jesus podem ser traduzidas como “Este povo não passará até que todas estas coisas sejam cumpridas.” Nesse sentido, Ele poderia estar se referindo ao povo judeu (que é o mais provável, dado o contexto) ou para Igreja – tanto para Israel e a Igreja são dadas promessas divinas que iriam continuar a existir até o fim dos tempos (Jeremias 31,35-37, Mateus 16,18).
O resumo é este: Mt. 24, 3-34 refere-se à destruição do Templo e eventos subsequentes e alguns que antecedem a Vinda de Cristo mas NÃO INCLUEM A VINDA DE CRISTO, que só é descrita a partir do v.36. A falha desse pessoal e outros é pensar que Jesus estava falando de Sua Vinda quando nos vv. 3-34 Ele não estava falando. Para o desgosto desse autor, a profecia se cumpriu 37 anos depois da morte de Cristo mas o período (kayrós) de tempo que antecede Sua Segunda Vinda ainda está em aberto. Quando Jesus disse: “Em verdade, esta geração não passará até que todas estas coisas aconteçam” seus discípulos nem por um momento achavam que ele estava falando de Sua segunda vinda ou do fim do cosmos.
* “ESTA GERAÇÃO”, na verdade, se refere a uma geração futura, e não a geração daquela época. Entretanto, note que é empregada a expressão “AQUELES DIAS” quando Jesus fala de dias futuros em um versículo anterior. Sendo assim, devemos supor que, se Jesus estivesse realmente falando de uma geração futura, teria dito *AQUELA* GERAÇÃO e não *ESTA* GERAÇÃO. Além disso, devemos observar o emprego dos tempos verbais no decorrer do capítulo. Exemplos:
Quando quatro apóstolos, sentados com Jesus no monte das Oliveiras, ouviram sua profecia sobre “consumação do século”, como entenderam a expressão “esta geração”? Nos Evangelhos, a palavra “geração” traduz a palavra grega ge·ne·á, que léxicos atuais definem nos seguintes termos: “Lit[eralmente], os que descendem d[um] mesmo antepassado.” (Greek-English Lexicon of the New Testament, de Walter Bauer) “Aquilo que foi gerado, uma família; . . . membros sucessivos duma genealogia . . . ou duma raça de pessoas . . . ou de toda a multidão de homens que vivem numa mesma época, Mat. 24,34; Mar. 13,30; Luc. 1:48; 21:32; Fil. 2:15; e especialmente dos da raça judaica que viviam no mesmo período.” (Expository Dictionary of New Testament Words, de W. E. Vine) “Aquilo que foi gerado, homens da mesma estirpe, uma família; . . . toda a multidão de homens que vivem numa mesma época: Mt. xxiv. 34; Mr. xiii. 30; Lc. i. 48 . . . usada esp[ecialmente] referente à raça judaica que vivia num mesmíssimo período.” — Greek-English Lexicon of the New Testament, de J. H. Thayer.
Assim, tanto Vine como Thayer citam Mateus 24,34 na definição de “esta geração” (he geneá haúte) como “toda a multidão de homens que vivem numa mesma época”. O Theological Dictionary of the New Testament (Dicionário Teológico do Novo Testamento; 1964) apóia esta definição, declarando: “O uso de ‘geração’ por Jesus expressa seu objetivo abrangente: ele se refere ao povo como um todo e está cônscio da solidariedade deste no pecado.” Deveras, uma “solidariedade no pecado” era evidente na nação judaica quando Jesus estava na terra, do mesmo modo como distingue hoje o sistema do mundo.
Naturalmente, os cristãos que estudam este assunto orientam seu modo de pensar primariamente pelo modo em que os escritores inspirados dos Evangelhos usaram a expressão grega he geneá haúte, ou “esta geração”, ao relatarem as palavras de Jesus. Esta expressão foi coerentemente usada de forma negativa. Neste respeito, Jesus chamou os líderes religiosos judeus de “serpentes, descendência de víboras”, e passou a dizer que o julgamento da Geena seria executado ‘nesta geração’. (Mateus 23,33-36).
Assim, fica claro que a geração em questão era a geração dos discípulos para a qual ele discursava, não a geração de um futuro distante e incerto. Penso que apenas a análise de Mateus 24 basta para derrubar a esperança dos atuais cristãos no Segundo Advento de Jesus.
Mas é isso mesmo. Incrivelmente, o autor desse texto concorda comigo:) Quando os discípulos perguntaram “quando sucederão essas coisas?” não estava de referindo à Segunda Vinda de Cristo mas à destruição do Templo. “Que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século?” Intérpretes judeus, do V.T., viram claramente que a vinda do Messias introduziria o “porvir”, acompanhado da destruição dos maus. É preciso lembrar que os Doze perguntaram à luz de seu conhecimento tradicional, e a resposta de Jesus neste discurso certamente considerou isto. Assim, a consumação do século refere-se a um tempo do qual eles eram parte e tinham conhecimento. Entretanto, genea também pode significar “raça” ou “família” e isto concede um bom sentido a esta passagem. Apesar da terrível perseguição, a nação judia não será exterminada, mas continuará existindo a fim de participar das bênçãos do reino milenar. Sustentando este ponto de vista, Alford destaca que os cristãos de antigamente continuaram esperando vinda do Senhor mesmo depois dos apóstolos e seus contemporâneos terem morrido (New Testament for English Readers, pág. 169).
O Exegetical Dictionary of the New Testament (Dicionário Exegético do Novo Testamento; 1991) menciona o seguinte: “A palavra [hoútos] indica um fato imediato. De modo que [aión hoútos] é o ‘mundo atualmente existente’ . . . e [geneá haute] é a ‘geração agora viva’ (e.g., Mat. 12,41ss., 45; 24,34).” O Dr. George B. Winer escreve: “O pronome [hoútos] às vezes não se refere ao substantivo diretamente mais próximo, mas a um mais remoto, o qual, como sujeito principal, era mentalmente o mais próximo, o mais presente nos pensamentos do escritor.” — A Grammar of the Idiom of the New Testament (Gramática das Expressões Idiomáticas do Novo Testamento), 7.a edição, 1897.
Por não entenderem patavinas de grego e linguagens bíblicas, grupos como esse “Contradições Bíblicas” demonstram ser somente piadas de si mesmos.