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A descoberta do homem pela Renascença

240px-SalutatiUm dos pensadores seminais que formulou a concepção renascentista da dignidade humana foi Couccio Salutati (1331-1406). Seus textos lutam com as ideias da providência de Deus, do livre-arbítrio e da dignidade humana. Ele se opôs ao fatalismo islâmico baseado no fato de que o Deus que se revelou a Moisés era livre. Foi Salutati que restabeleceu a ideia agostiniana do livre-arbítrio do homem — que se tornou um pressuposto fundamental da civilização ocidental em pensadores como Martinho Lutero e Jonathan Edwards. Lorenzo Valia (1406-1457) seguiu Salutati, tornando-se a terceira figura-chave da Renascença a discutir a questão da dignidade humana. Assim como Petrarca e Salutati, Valia também era um cristão devoto, um católico evangelical que extraiu sua visão do homem da visão que tinha de Deus.

The Oration on the Dignity of Man [Discurso quanto à dignidade do homem] é a obra do sucessor deles, Pico delia Mirandola (1463-1494), que articulou as ideias de Valia de modo mais incisivo. Algumas vezes, o entusiasmo de Mirandola quanto à dignidade do homem fez que ele se esquecesse de que o homem usou mal sua mente e vontade em sua rebelião contra seu Criador. Logo, o intelecto humano é tão decaído quanto a vontade humana. Não obstante, Mirandola seguiu Agostinho, ao argumentar que a dignidade do homem consiste no fato de que este não foi criado como parte de estrutura fixa do Universo. Depois que o Universo estava pronto, Deus deu ao homem a tarefa de cuidar dele e admirar o Criador, com a tarefa de reafirmar esse Criador ao imitar seus atributos, como mor, racionalidade e justiça.

Outra obra bastante conhecida de Pico é Heptaplus, um comentário do capítulo 1 de Gênesis. Nessa obra, ele descreve os seis dias de trabalho de Deus e o sétimo dia de descanso. Essa obra é a evidência eloquente de que a visão que se tinha do homem na Renascença foi extraída de uma exegese de Gênesis 1.26. Foi a Bíblia que fez que Pico rejeitasse a astrologia pagã e islâmica. Ele escreveu: “As estrelas não nos podem governar por suas partes materiais, que são tão simples quanto as nossas, por isso devemos tomar cuidado para não adorar a obra do artífice como se esta fosse mais perfeita que seu autor”. Os leitores de Pico eram fascinados pela astrologia, mas ele os exortou a adorar a Deus:

Portanto, temamos, amemos e veneremos Aquele em quem, como Paulo disse, estão todas as coisas, visíveis e invisíveis, que é o início em quem Deus criou os céus e a terra, que é Cristo […] por isso, não vamos fazer imagens estelares de metal, mas que a imagem da Palavra de Deus esteja em nossa alma”.

Fonte: O Livro que fez o seu mundo, de Vishal Mangalwadi (Editora Vida Acadêmica)

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