NÃO há dúvida de que o vício do crack assumiu fantásticas proporções, e o problema tende a avolumar-se. O rádio e a televisão ventilam o problema. Os jornais e as revistas abrem manchetes para ele. Os prontos-socorros hospitalares e os centros de traumatologia deparam-se com sua violência. As maternidades estão repletas de bebês prejudicados por tal vício. Os depósitos de materiais hospitalares estão sendo usados para “estocar” bebês abandonados, em vez de seus estoques de materiais.
Clínicas de desintoxicação e de reabilitação estão tratando jovens que nem chegaram à adolescência. Agências de serviços sociais estão suplicando recursos para combater essa epidemia. Há aqueles que dizem que não conseguem vencer tal vício, e outros que não querem largá-lo. No caso destes últimos, aguarda-os a miséria, a frustração, a violência e, possivelmente, a morte. Para os primeiros, existe esperança.
“Há apenas um ano”, noticiou o The New York Times, de 24 de agosto de 1989, o “crack era amplamente considerado como um tóxico relativamente novo, ainda pouco entendido, mas com características especiais que provocavam um vício quase que impossível de curar”. Atualmente, porém, os pesquisadores verificam que o vício do crack, sob as condições certas, pode ser tratado com êxito, dizia aquele jornal. “O vício do crack pode ser tratado”, disse o Dr. Herbert Kleber, o vice de William J. Bennett, diretor do departamento de diretrizes contra as drogas, dos EUA. A chave, disse ele, é que se dê aos viciados um lugar na família e estruturas sociais em que talvez jamais tenham estado antes. “Habilitação mais do que reabilitação”, sublinhou ele.
Os pesquisadores verificaram que o programa mais eficaz de cura do vício do crack da cocaína tem três estágios — a desintoxicação, o extensivo aconselhamento e o treinamento pessoais, e, o que é ainda mais importante, o apoio no ambiente correto. A desintoxicação, ou tirar o viciado da droga, não é o principal obstáculo. Não raro, devido às circunstâncias, a pessoa consegue fazer isso por si mesma. Não dispor de fundos para adquirir o tóxico pode ser, e muitas vezes é, um dos fatores que contribuem para isso. A prisão numa instituição penal, onde os tóxicos não estão disponíveis, pode ser outro, ou a permanência dele num hospital também demandaria a abstinência do tóxico. O verdadeiro problema, contudo, é impedir que o viciado retorne ao tóxico, quando este se torna disponível para ele.
Embora alguns viciados tenham rompido com êxito os grilhões do crack, quando submetidos a programas especialmente arranjados de tratamento, os especialistas em tais tratamentos sublinharam que a maioria dos viciados jamais consegue romper com isso nas primeiras semanas. Por exemplo, o Dr. Charles P. O’Brien, psiquiatra da Universidade de Pensilvânia, disse que dois terços dos viciados alistados em seu programa de tratamento o abandonaram no primeiro mês. Outros programas tiveram ainda menor êxito.
O Ambiente Inadequado
“Talvez tenhamos de removê-los de suas comunidades”, disse um famoso diretor dum centro de tratamento. “É preciso retirar o viciado do ambiente de tóxicos. Esse ambiente é como um necrotério.” Esta, como os pesquisadores comprovaram, é a principal razão de a maior parte dos viciados submetidos à desintoxicação terem voltado ao tóxico que os escravizava. O motivo parece óbvio. Não foram, já desde o início, tais ambientes que fizeram com que eles fossem mandados aos centros de tratamento? Não estava o crack disponível em cada esquina, onde a pressão dos colegas, não raro a sua própria família e seus melhores amigos, motivaram sua primeira tragada do cachimbo de crack? Quem é que ali o incentivará a prosseguir no seu programa de tratamento e a livrar-se da luta da droga pela supremacia sobre sua própria vida?
Os programas de mais êxito sublinharam que o ambiente inadequado é um dos principais fatores que movem o viciado a prosseguir tomando tóxicos. “Ensinam-se algumas estratégias ao paciente para que fique longe do tóxico, inclusive como evitar sugestões que acionam a ânsia pelo tóxico”, noticiou o The New York Times. “A vista da rua em que a pessoa antes comprava o crack, um frasco jogado fora na calçada, o consultório do dentista ou o cheiro dum produto farmacêutico que tenha alguma semelhança com o cheiro químico do crack” — tudo são coisas que podem acionar a ânsia da droga, disse o jornal. Programas eficazes também sublinharam a importância de os viciados “cortarem todos os laços com amigos e parentes que ainda consomem tóxicos”. Em vez disso, foram aconselhados a travar novas amizades com pessoas que não consomem drogas. Trata-se, deveras, de sábios conselhos.
Aprenda a Dizer Não!
O livro Self-Destructive Behavior in Children and Adolescents (Comportamento Autodestrutivo em Crianças e Adolescentes) tece a seguinte observação: “Com muita frequência, é um amigo íntimo que inicia ou ‘liga’ os jovens no consumo dos vários tóxicos. . . . As intenções [dele] podem ser de partilhar uma experiência excitante ou agradável.” A pressão dos colegas, contudo, não se limita aos jovens, como podem testemunhar os viciados mais velhos; nem o seguinte conselho sábio das Escrituras se limita aos jovens, mas ele se aplica a pessoas de todas as idades, como diz o escritor bíblico: “Quem anda com pessoas sábias tornar-se-á sábio, mas irá mal com aquele que tem tratos com os estúpidos.” — Provérbios 13:20.
Se estiver sobrecarregado de problemas que parecem intransponíveis, não procure a fuga através dos tóxicos. Isto somente agravará seus problemas. Converse sobre os assuntos com um de seus genitores, ou outros adultos responsáveis, que visem sinceramente os seus melhores interesses. Lembre-se, também, do conselho da Bíblia: “Não estejais ansiosos de coisa alguma, mas em tudo, por oração e súplica, junto com agradecimento, fazei conhecer as vossas petições a Deus; e a paz de Deus, que excede todo pensamento, guardará os vossos corações e as vossas faculdades mentais.” — Filipenses 4,6-7.
O Ice Ultrapassa o Crack
“Os nipônicos o chamam de shabu, para os coreanos é o hiroppon. Para os viciados americanos que acabam de descobrir sua intensa euforia e seus infernais desânimos, o tóxico é simplesmente o ‘ice’”, diz a revista Newsweek sobre este novo tóxico que provém da Ásia. É um tipo de metanfetamina, ou speed, produzido em laboratório à base de substâncias químicas fáceis de obter. A euforia do crack dura minutos; a do ice dura horas, até 24 horas. Não raro torna violentos os usuários. Seu uso prolongado causa danos psicológicos e fatais distúrbios pulmonares e renais. Newsweek diz que os “efeitos do ice sobre os recém-nascidos são alarmantes”. Um pesquisador diz: “Se achava que a dependência de cocaína era ruim, isso não é nada quando comparado com este tóxico.” É um vício mais difícil de largar do que a cocaína, e as alucinações podem ser tão potentes como de início, mesmo depois de dois anos de tratamento.