Do artigo A estupidez do cientificismo do New Atlantis: um jornal de tecnologia e ciência:
A tradição de positivista na filosofia deu ao cientificismo um forte ímpeto em negar a validade de qualquer área do conhecimento humano fora da ciência natural. Os mais recentes defensores do cientificismo tomaram o próximo passo lógico mas irônico de negar qualquer papel útil para qualquer tipo de filosofia, mesmo a filosofia subserviente do tipo positivista. Mas os último a rirem, ao que parece, continuam sendo os filósofos — pois os defensores do cientificismo revelam confusões conceituais que são óbvias para a reflexão filosófica. Ao invés de tornar a filosofia obsoleta, o cientificismo está preparando o cenário para seu necessário reavivamento…
Os defensores do cientificismo atual alegam usar o único manto da racionalidade, frequentemente igualando a ciência com a própria razão. Parece a antítese da razão insistir que a ciência pode fazer o que ela não pode, ou mesmo que tem feito o que comprovadamente não fez. Como cientista, eu nunca negaria que as descobertas científicas podem ter implicações importantes para a metafísica, epistemologia e ética, e que todos os interessados nestes tópicos precisam ser cientificamente alfabetizados. Mas a alegação de que aciência e só a ciência pode responder perguntas de longa data nestes campos dá origem a inúmeros problemas.
Em contraste com a razão, uma característica definidora da superstição é a teimosa insistência que algo — um fetiche, um amuleto, um baralho de cartas de Tarô — tem poderes que nenhuma evidência suporta. Desta perspectiva, o cientificismo parece ter tanto em comum com a superstição, de acordo com a investigação científica corretamente conduzida. O cientificismo afirma que a ciência já tenha resolvido questões que estão inerentemente além de sua capacidade de responder.
De todas as modas e manias da história da credulidade humana, o cientificismo, em todos os seus variados disfarces — da fantasiosa cosmologia à epistemologia evolucionista e ética — parece-se entre as mais perigosas, tanto porque ele finge ser algo muito diferente do que realmente é e porque ele recebeu uma adesão generalizada e acrítica. A contínua insistência a competência universal da ciência vai servir apenas para minar a credibilidade da ciência como um todo. O resultado final será um aumento de ceticismo radical que questiona a capacidade da ciência para resolver mesmo as questões legitimamente dentro da sua esfera de competência. Será preciso um novo “Iluminismo” para aniquilar as pretensões dessa recente superstição.
Austin L. Hughes é professor de Ciências Biológicas da Universidade da Carolina do Sul.
Tradução: Emerson de Oliveira