“O bispo, portanto, deve ser . . . homem que presida de maneira excelente à sua própria família.” — 1 Tim. 3,2-4.
A BUSCA da felicidade pelo homem é toda em vão, se ele não usufruir paz e contentamento no seu próprio círculo familiar. Pois, que satisfação há na procura da felicidade do lado de fora, se ele, ao voltar para a sua própria moradia pessoal e íntima chamada lar, mergulha no cadinho do descontentamento? Que espécie de ambiente prevalece no seu lar?
Como responderiam vocês, filhos, a esta pergunta? Convivem seus pais agradavelmente em paz e união? Ajudam-lhes o conselho do pai e a compreensão da mãe em tempos difíceis? Neste caso, deveras, gozam de uma vida feliz, cuja lembrança prezarão por muitos anos no futuro. Por outro lado, se os seus pais constantemente apoquentam um ao outro ou se empenham em guerra aberta, ou se vivem num lar dividido por barreiras e comunicação entre si mesmos e seus pais, então, a sua juventude deve ser um pesadelo que desejariam esquecer.
E qual é a sua opinião, pais? Quão benéfico é seu lar? Verificam que as pressões dos tempos e as influências deteriorantes em sua volta permeiam a sua família? Verificam que neste mundo moderno a orientação anterior desapareceu, e, junto com ela, as normas pacíficas do passado? Acham que há necessidade de melhora no seu lar, mas não sabem exatamente qual a causa da dificuldade, nem como achar a solução?
“Benéfico” significa favorável, proveitoso, salutar; não maléfico, improfícuo ou nocivo. Isto é especialmente importante no sentido espiritual e moral. A família vigorosa e moral e espiritualmente sadia consegue vencer os outros problemas que possam surgir, tais como saúde fraca e dificuldades financeiras. Ela consegue resistir a todas as forças divisórias que afligem hoje a tantas famílias.
A IMPORTÂNCIA DA BÍBLIA NO LAR
Então, como pode a família alcançar o desejável nível elevado de benefício moral e espiritual? Não é muito difícil. A família que faz da Bíblia o seu livro mais lido, a família que aplica os princípios bíblicos na vida diária, é família benéfica e feliz. A fibra moral e a força espiritual de cada membro da família só podem ser edificadas por meio da Palavra de Deus.
Há basicamente dois motivos pelos quais algumas famílias têm uma luta constante para manter um ambiente benéfico. Primeiro, existem em cada um de nós a imperfeição e a fraqueza inatas. Conforme dizem as Escrituras: “‘Não há um justo, nem sequer um só; . . . Todos se apartaram’, . . . todos pecaram.” (Rom. 3,10-12, 23; Sal. 14,3) “Se fizermos a declaração: ‘Não temos pecado’, estamos desencaminhando a nós mesmos e a verdade não está em nós.” — 1 João 1,8.10.
O bebê, ao nascer, embora indefeso e inculpe, é hereditariamente imperfeito e pecador. Conforme disse Davi: “Em erro fui dado à luz . . . e em pecado me concebeu minha mãe.” (Sal. 51,5) Contudo, com o treinamento correto, o filho pode desenvolver-se para ser muito mais do que apenas prole desenfreada e desregrada. “A tolice está ligada ao coração do rapaz”, diz o provérbio; “a vara da disciplina é a que a removerá para longe dele”. (Pro. 22,6, 15; 23,13-14) Isto não significa que as tendências inatas de fazer o que é mau são removidas completamente pela disciplina. Não, a tendência de fazer o mal sempre está presente, do berço ao túmulo, mesmo em pessoas tão devotas à justiça como o apóstolo Paulo, que confessou: “Eu realmente me deleito na lei de Deus . . . mas observo em meus membros outra lei guerreando contra a lei da minha mente e levando-me cativo à lei do pecado que está nos meus membros.” — Rom 7,22, 23.
O segundo motivo de ser necessária uma luta constante para manter o lar pacífico é a presença de Satanás e de seus demônios. Estes são forças bem reais, poderosas e sempre presentes, que precisam ser tomadas em consideração. O objetivo iníquo deles não é só cultivar nos homens desejos errados, mas também aproveitar a imperfeição e as tendências pecadoras do homem no esforço de lançar os homens ainda mais na cova do desespero. Daí o aviso: Mantenham-se “firmes contra as maquinações do Diabo; porque temos uma luta não contra carne e sangue, mas contra . . . os governantes mundiais desta escuridão, contra as forças espirituais iníquas nos lugares celestiais”. — Efé. 6,11-12.
APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS BÍBLICOS AOS PROBLEMAS
Não é uma teoria intangível e não prática dizer-se que os princípios bíblicos, quando aplicados, podem solucionar os problemas cotidianos no lar. A praticabilidade e utilidade do conselho bíblico nos assuntos cotidianos e pessoais da família podem ser facilmente demonstradas.
Por exemplo, tome o lar onde não se exerce a devida chefia ou onde ela falta completamente. Qual é o resultado? Confusão e desordem. Os membros da família agem de modo independente. Não há regras nem preceitos. A vida doméstica se desintegra em pouco tempo. O lar se torna então na realidade nada mais do que um “posto de serviço”, um abrigo contra a chuva onde se pode comer e dormir. Uma vez satisfeitas estas necessidades, cada um corre para se associar com outros companheiros mais do seu agrado. Conforme observou o sábio Rei Salomão: ‘Melhor é morar no sótão, do que embaixo com uma esposa contenciosa.’ O outro lado da questão poderia ser: ‘Melhor morar num abrigo no quintal, do que partilhar a casa com um marido alcoólatra exigente.’ — Pro. 21,9-19.
Mas quão grande é a diferença quando se segue as leis bíblicas sobre a chefia! Então há uma base em que podem ser edificadas a paz e a união. ‘Quero que saiba’, diz o apóstolo Paulo, ‘que o homem é o chefe da casa’. A devida chefia masculina acarreta a responsabilidade de se buscar orientação de Deus Pai e Cristo Jesus. Significa que o marido tratará a esposa com o mesmo terno afeto que ele mostra ter para com seu próprio corpo. Será bom provedor tanto das necessidades materiais como das espirituais da família. — 1 Cor. 11,3; Efé. 5,22-33; 1 Ped. 3,1-7.
Neste respeito, pais, encontrarão um exemplo maravilhoso no grande Pai do universo, Deus, a quem farão bem em imitar. Ele provê constantemente não só as necessidades materiais e espirituais, mais também conselho e encorajamento a todos na sua família. Ele detesta a rebelião e traz punição sobre os violadores da lei, sem parcialidade. — Pro. 6,16-19; Deu. 10,17-18.
Mas, ao mesmo tempo, quão amoroso, compassivo e misericordioso o Senhor é! Sim, a um grau além de descrição ou medida. (Sal. 103:8; Tia. 5:11) De modo similar, pais, poderão prover um ambiente benéfico em seu lar por cuidarem amorosa e ternamente das necessidades de sua família, usando de compreensão. Convivam com sua esposa segundo o conhecimento e criem os filhos na disciplina e na regulação mental do Senhor. Não os irritem. — 1 Ped. 3,7; Efé. 6,4.
É comum haver no seu lar palavras amargas e explosões de temperamento emocional? Não haverá se seguir o conselho bíblico. Pode parecer haver muitíssimas situações que justifiquem palavras iradas. Mas, considerando bem, a prevenção da ira é na maior parte uma questão de se guardar a língua e de se controlar o espírito. (Sal. 34,13; Pro. 25,28) Este é o proceder sábio a adotar. “Todo o seu espírito é o que o estúpido deixa sair, mas aquele que é sábio o mantém calmo até o último.” (Pro. 29,11) “Larga a ira e abandona o furor”, pois, “quem é vagaroso em irar-se é abundante em discernimento”. (Sal. 37,8; Pro. 14,29) ‘Uma resposta branda faz recuar o furor.’ Use “palavras sadias que não podem ser condenadas”, se quiser paz e união no seu lar. — Pro. 15:1; Tito 2:8.
Poderá haver preferências e gostos triviais entre os membros da família, por causa da diferença de temperamento e de personalidade, mas eles não precisam ser causa de discórdia e briga. Se todos fossem exatamente iguais nestas características, quão monótono seria este mundo! Antes, as tendências individuais dão sabor, colorido, variedade e vida ao círculo familiar. Aumentam a alegria do convívio sem a monotonia aborrecedora da uniformidade.
Que dizer do lar no qual os filhos são desregrados e desobedientes? Acontece isso porque os pais desistiram completamente de tentar manter a autoridade sobre seus filhos rebeldes? Ou dá-se que as regras não são claramente definidas ou compreendidas? Talvez a raiz da dificuldade sejam os pais que se esqueceram de que a Bíblia diz: “Deixai simplesmente que a vossa palavra Sim signifique Sim, e o vosso Não, Não.” (Mat. 5,37; Tia. 5,12) Na qualidade de pais, violam imprudentemente as regras que esperam que seus filhos guardem? Pregam, em substância: ‘Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço’? Os filhos descobrem prontamente a hipocrisia dos pais. (Mat. 23,3) Portanto, os pais podem dar forte significado às regras no lar, e ao mesmo tempo ganhar o respeito dos filhos, se eles mesmos guardarem as regras, dando assim um bom exemplo aos seus filhos.
Devem-se a fricção doméstica e as discussões acaloradas a mal-entendidos e à falta de comunicação? Os pais às vezes não parecem compreender seus filhos. Muitas vezes isso se deve à falta de associação íntima entre pais e filhos, condição que pode começar já quando os filhos ainda são pequenos. Em outros casos, a comunicação se interrompe durante a adolescência do desenvolvimento do filho, quando o filho e os pais param de se falar, por causa de sentimentos feridos. Entretanto, guardar ressentimento é condenado pela Bíblia. Para evitar isso, ‘não se ponha o sol enquanto estão encolerizados, nem dêem margem ao Diabo’. — Efé. 4,26, 27; Lev. 19,18.
A família benéfica pode muito bem ser comparada ao corpo humano, no qual cada membro funciona segundo o objetivo com que foi criado. No corpo humano, quando um membro deixa de fazer a sua parte, o corpo inteiro sofre. Contudo, quando isto ocorre, os membros sadios não castigam, nem espancam ou maltratam o membro que falha nas suas funções. Antes, os demais membros do corpo vêm em socorro para dar ajuda, auxílio e apoio ao membro doentio, por assumirem parte da tarefa, até que o membro doente possa recuperar a força. Assim também deve ser na família que é beneficamente forte. — 1 Cor. 12,19-26.
Além das causas internas de fricção, há uma multidão de influências externas que podem perturbar a tranquilidade do lar, se não se cuidar delas de perto e se não forem controladas.
PRESSÕES EXTERNAS
As causas de pressão parecem ser inúmeras em nossos tempos — medo de ladrões e de pessoas imorais, que querem prejudicar, perigos de doenças medonhas, custo da vida em aumento vertiginoso, reduzido poder adquisitivo das economias, séries aparentemente intermináveis de crises, uma atrás da outra, por causa de greves, distúrbios, guerras, revoluções — para se mencionarem algumas. Embora tais coisas estejam muito além do controle da pessoa, contudo, com a ajuda da Bíblia, pode-se impedir que tais pressões perturbem a tranquilidade do círculo familiar.
Oposição severa da parte de parentes, ou ultrajes físicos da parte de vizinhos, podem causar pressão na família. A compreensão dos motivos disso talvez não elimine a pressão, mas fortalecerá muito a família para suportá-la. Não diz a Bíblia que os parentes mais chegados talvez se oponham violentamente aos devotados a Deus e Cristo Jesus? — Mat. 10,21-22.
Os pais que se veem compelidos pela situação econômica a trabalhar na companhia de mundanos amiúde estão sob grande pressão de se conformarem a este sistema, cujo deus é o Diabo. Se não os acompanharem neste proceder vil de devassidão, que consiste em “ações de conduta desenfreada, em concupiscências, em excessos com vinho, em festanças, em competições no beber e em idolatrias ilegais”, seus colegas de trabalho talvez os ultrajem. (1 Ped. 4,3-5) Às vezes, alguém é perseguido por se manter neutro nas questões políticas ou por se negar a transigir quanto aos princípios bíblicos na questão da honestidade, da conduta casta ou do uso de sangue. Novamente, porém, tais experiências nunca devem perturbar a paz mental da família. “Felizes sois”, disse Jesus, “quando vos vituperarem e perseguirem, e, mentindo, disserem toda sorte de coisas iníquas contra vós, por minha causa”. “De fato”, acrescenta o apóstolo Paulo, “todos os que desejarem viver com devoção piedosa em associação com Cristo Jesus também serão perseguidos”. — Mat. 5,11-12; 2 Tim. 3,12.
Os filhos que cursam a escola estão na maior parte em associação íntima com outros que usam de linguagem péssima e demonstram toda espécie de conduta imodesta. Os escolares são cada vez mais vítimas do vício dos entorpecentes, do vandalismo, de ataques físicos e estupros por parte de bandos errantes de rufiões, que ameaçam, coagem, espancam e de outros modos intimidam tanto os professores como os alunos. 1t também nas escolas que se lançam e cultivam as sementes da discórdia e da rebelião, as quais, se forem deixadas desenvolver-se, por fim substituirão o treinamento benéfico dado pelos pais no lar. Estas coisas todas fazem parte dos tempos atribulados em que vivemos, dos “tempos críticos, difíceis de manejar”, que constituem o sinal dos “últimos dias” deste mundo. — 2 Tim. 3,1-5.
SUA ÚNICA PROTEÇÃO
Não se engane nisso; apenas por permanecer espiritualmente forte poderá esperar resistir à onda da corrução que se abate sobre o mundo. Não poderá fazer retroceder esta onda, mas poderá melhorar a sua força espiritual para resistir a ela, e poderá fazer isso com a ajuda da Palavra de Deus, de Seu Espírito, de Sua Igreja e pela oração. Considere brevemente a importância destas ajudas.
Um estudo bíblico familiar, regular, é muito proveitoso para todos os membros da família, tanto para os idosos como para os jovens. Josué já era homem bem velho quando se lhe disse: “Tens de ler [o livro da Palavra de Deus] em voz baixa dia e noite, para cuidar em fazer segundo tudo o que está escrito nele; pois então farás bem sucedido o teu caminho e então agirás sabiamente.” (Jos. 1,8) No estudo da Bíblia, os filhos aprendem: “Em tudo sede obedientes aos vossos pais.” No estudo da Bíblia, os pais que se veem obrigados a fazer trabalho indesejável, aprendem: “O que for que fizerdes, trabalhai nisso de toda a alma como para Deus, e não como para homens.” — Col. 3,20.23-24.
O estudo da Bíblia transformará seu modo de pensar também em muitas outras maneiras, de forma que a sua mente não mais será ‘modelada segundo este sistema de coisas’. (Rom. 12,2) Por exemplo, a Bíblia adverte os que praticam as “obras da carne”, de que “não herdarão o reino de Deus”. Tais “obras” incluem “fornicação, impureza, conduta desenfreada, idolatria, prática de espiritismo, inimizades, rixa, ciúme, acessos de ira, contendas, divisões, seitas, invejas, bebedeiras, festanças e coisas semelhantes a estas”. (Gál. 5,19-21) “Coisas semelhantes a estas” outras cartas do apóstolo, como sendo ganância, conversa tola e piadas obscenas (Efé. 5,3-5), e também apetite sexual, desejo nocivo, cobiça, furor, ira, maldade, linguagem ultrajante e conversa obscena, coisas de que a pessoa se deve despojar como fazendo parte da “velha personalidade”. (Col. 3,5-9) Além disso, “nem homens mantidos para propósitos desnaturais, nem homens que se deitam com homens, nem ladrões, . . . nem injuriadores, nem extorsores herdarão o reino de Deus”. — 1 Cor. 6,9-10.
A eliminação de todas estas práticas más já em si mesma produziria certamente um lar muito mais benéfico, não produziria? Mas, livrar-se da “velha personalidade” é apenas parte da questão. A Bíblia diz que deve revestir-se duma “nova personalidade”, descrita como sendo de “ternas afeições de compaixão, benignidade, humildade mental, brandura e longanimidade”. Também suporte e perdoe os outros, e, acima de tudo, revista-se do amor, que é “o perfeito vínculo de união”. — Col. 3,12-14.
É nisso que a família precisa da ajuda do Espírito Santo de Deus, pois, sem esta força divina, é impossível desenvolver uma nova personalidade cristã. Isto se dá porque “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, brandura, autodomínio”, são frutos do espírito de Deus. Ao passo que “não há lei” contra tais frutos, há uma lei, “a lei régia”, que ordena: “Tens de amar o teu próximo como a ti mesmo”, lei que é especialmente aplicável entre “próximos” (significando “os que estão perto”) dentro do círculo familiar. — Gál. 5,22, 23; Tia. 2,8.