Em 1865, realizou-se em Salvador da Bahia a primeira e autêntica sessão espírita registrada nos anais do espiritismo brasileiro, sob a direção de Luís Olímpio Teles de Menezes. Neste mesmo ano foi fundado na Bahia, por Teles de Menezes, o primeiro centro espírita: o Grupo Familiar do Espiritismo. E foi ainda em Salvador que sugiu, em 1869, a primeira publicação periódica espírita intitulada O Eco do Além Túmulo, que saía como “o monitor do espiritismo no Brasil”. Mas tanto o Grupo como o Monitor tiveram vida efêmera.
O primeiro movimento organizado de espiritismo, no Rio, começou em 1873 com a fundação da Sociedade de Estudos Espíritas do Grupo Confúcio, dirigido por Antônio da Silva Netto. Já este primeiro núcleo espírita da capital tinha como divisa: “Sem caridade não há salvação, sem caridade não há verdadeiro espírita”. Apresentava como guia espiritual um espírito chamado Ismael. Praticava a homeopatia e dava “passes” aos doentes. Desde seus inícios, pois, o espiritismo nacional acentua o lado religioso, com caráter reformista e sectarista no campo moral e religioso e apresenta o aspecto curandeirista. Em 1875 o Grupo Confúcio lançou a Revisia Espírita, também mais religiosa que científica, mais sectarista que filosófica. Neste mesmo ano, por iniciativa do Grupo Confúcio, a livraria B. L. Garnier publicou a primeira tradução das obras fundamentais de Allan Kardec.
Paralelamente surgiu também um movimento entre a juventude espírita. Primeiro niciativas locais: a União da Juventude Espírita de Santana, em São Paulo (1932), a União da Juventude Espírita Amaral Orneas, no Rio (1936) e, sobretudo, como exemplo, a Mocidade Espírita de Nova Iguaçu, RJ, dirigida por Leopoldo Machado. Entusiasta, animador e realizador, Leopoldo Nlachado tornou-se apóstolo da juventude espírita, com suas periódicas excursões doutrinais pelo interior, fundando um grande número de “Mocidades”. Depois vieram movimentos mais amplos: a União das Juventudes Espíritas do Distrito Federal (1947) e o Conselho Consultivo de Mocidades Espíritas do Brasil (1948), federativo um, e orientador outro. Com o Pacto Áureo de 1949, uniram-se os dois organismos no dia 13/11/1949, para formar o Departamento de Juventude da Federação Espírita Brasileira.
O Espiritismo kardecista é o mais forte e o mais bem organizado no Brasil. É dirigido pela Federação Espírita Brasileira com ramificações bem organizadas nos Estados da União. Não há absoluta unanimidade entre eles. Motivos em si bastante secundários e periféricos dividiram e continuam dividindo os kardecistas em vários grupos separados. Assim temos, por exemplo: a) os rustainistas (que seguem a João Batista Roustaing): são docetistas, defendem que o corpo de Cristo era apenas aparente, fluídico; b) os ubaldistas (que seguem a Pietro Ubaldi espírita italiano, autor de numerosas obras): são monistas e evolucionistas extremos; c) grupos independentes: seguem a Allan Kardec, mas não querem sujeitar-se à orientação superior da Federação e dela divergem em outros pontos secundários (como, por exemplo, no modo de fazer as sessões, nas preces, no ritual, etc.).
Além do crescimento numérico dos adeptos torna-se digno de atenção o fato de que o vocabulário popular vai-se impregnando aos poucos da terminologia espírita e o povo reinterpreta a fé cristã dentro de esquemas do espiritismo. O catolicismo popular trouxe sempre consigo elementos de proveniência indígena, afncana e portuguesa e da sociedade. Devoções primitivas, crenças mágicas e ritos suscetíveis de outros significados desenvolvem-se livremente e torna-se difícil traçar uma linha divisória entre o catolicismo e o espiritismo, já que sob ambos encontra-se a mesma religiosidade popular. A Igreja já combateu frontalmente o espiritismo; cientistas sociais profetizaram seu definhamento, quando em contato com o mundo moderno. Apesar disso ele continua a crescer: tornou-se a religião da grande maioria dos desprivilegiados em várias das principais cidades do país e hoje penetra nas classes altas.
Fonte: Geografia Universal das Religiões (Schlesinger/Porto)