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Ciência e religião

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ABSTRATO: Eu não preciso de seu Deus; eu tenho a ciência para explicar tudo. Sua religião é uma muleta para as mentes fracas. Você usa superstição; eu uso ciência. (“Sim e Não” é a resposta de Peter Kreeft a tantos textos de religião que deixam os estudantes pensando que religião é algo estúpido e enfadonho. O livro de Kreeft mostra fortes questões e dá respostas convincentes). Neste diálogo, Chris é um cristão e Sal um ateu.
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Sal: Chris! Olhe para aquele lindo pôr-do-Sol!

Chris: Oh! Obrigado, Sal.

Sal: Obrigado pelo pôr-do-Sol? Quem você pensa que eu sou? Deus? Eu não fiz o pôr-do-sol.

Chris: Não, eu quero lhe agradecer por me chamar a atenção a isto. E graças a Deus por isto. Que pena que você não tem ninguém para agradecer quando algo tão bonito quanto isto lhe aparece.

Sal: Hmph! Eu não preciso de seu Deus; eu tenho a ciência para explicar tudo. Sua religião é uma muleta para as mentes fracas. Você usa superstição; eu uso ciência.

Chris: Desde quando “lindo” é um termo científico?

Sal: Não é.

Chris: Mas você acabou de falar “lindo pôr-do-Sol”. Você não está sendo científico.

Sal: Oh. Desculpe. Eu realmente não quis dizer isto.

Chris: Você quer dizer que o pôr-do-Sol não é realmente bonito?

Sal: Certo. É só uma dança de moléculas. A beleza não está nisto. Está em nós, em nossos sentimentos.

Chris: A beleza está em você, não no pôr-do-Sol?

Sal: Sim.

Chris: Mas isso é tolo. Não é você que é lindo, é o pôr-do-Sol!

Sal: Eu quero dizer a beleza que está em meus sentimentos, não em meu rosto.

Chris: Você se sentiu belo quando olhou para o pôr-do-Sol?

Sal: Não. Eu não sou tão bonito. Mas eu sinto que o pôr-do-Sol é.

Chris: Então, de acordo com seus sentimentos, o pôr-do-Sol é bonito, realmente há beleza lá fora?

Sal: De acordo com meus sentimentos, sim. Mas meus sentimentos estão errados. Não há  beleza lá fora. Como os sentimentos podem lhe dizer como é o mundo?

Chris: Por que não? Por que os sentimentos não podem ser tão verdadeiros quando a razão?

Sal: Ora, convenhamos. Isto é bobagem.

Chris: Você não respondeu minha pergunta: por que os sentimentos não podem ser verdadeiros?

Sal: Acho que não sei, só sinto.

Chris:
E este sentimento – é verdade?

Sal: Você está me enrolando de novo com minhas palavras.

Chris: Não, você está lhe fazendo isto.

Sal: Mas por que estamos falando sobre sentimentos? É o que é sua fé? Um sentimento? É o que você quis dizer em agradecer a Deus pelo pôr-do-Sol?

Chris: Não, fé é mais que sentimento. Sentimentos mudam cem vezes por dia, a fé não. Mas todos os três poderiam ser meios de se chegar à verdade: fé, sentimentos e raciocínio científico. Assim, o pôr-do-Sol poderia ser um lindo presente de Deus e uma dança de moléculas.

Sal:
Bem, não há dogma religioso para mim.

Chris: Isso é um dogma. Você exclui a religião como um meio de saber a verdade, sem qualquer prova para sua exclusão. Isso é dogmático. Mas eu não excluo seu método científico. Eu não sou dogmático. Eu o incluo mas você não me inclui. Minha religião inclui sua ciência, mas sua ciência – não, sua fé que só a ciência é verdade – se recusa a incluir minha religião.

Sal: Você pode ser religioso tanto quanto quiser. Mas isso não é uma explicação do mundo real .

Chris: Claro que é. Por que não?

Sal: Suponho que você acha que o pôr-do-sol é metade feito de moléculas e metade dos deuses?

Chris: Não, é todo feito de moléculas, mas é tudo feito por Deus. Essas são duas questões diferentes – uma para a ciência e uma para a religião responder.

Sal: Não. A ciência responde a questão da religião também. Por exemplo, o pôr-do-Sol não foi feito por Deus mas pela gravidade que gira a Terra e pela refração da luz solar pela atmosfera. Você não sabe disso?

Chris: Eu sei que foi feito pela gravidade e refração, mas quem fez a gravidade e a refração? Quem fez o Sol e a luz solar?

Sal: As galáxias giratórias e nuvens de gás.

Chris: E quem fez as galáxias e as nuvens de gás?

Sal: Tudo começou com um “Big Bang” 15 bilhões de anos atrás.

Chris: E quem começou o Big Bang?

Sal: Esta não é uma questão científica.

Chris: Exatamente. E então a ciência não tem nenhuma resposta para isto. Mas a religião tem. Não é uma questão científica porque não é sobre o mundo real – é – mas porque a ciência só não pode responder uma questão sobre Deus que está fora do Universo olhando de dentro do Universo.

Sal: Então o Universo inteiro depende de Deus, certo, como uma muleta, segundo você? E você também se apóia nele. Bem, eu não preciso de uma muleta. Isso é que a religião: uma muleta.

Chris: Certo.

Sal: O que?

Chris: Eu disse certo. Eu concordo. A religião é uma muleta.

Sal: Por que você acredita nela, então?

Chris: Porque nós somos todos aleijados.

Sal: Oh, que isso!

Chris: É isso aí. Nós somos todos mentalmente e emocionalmente deficientes. Esta é a grande lição que eu aprendi verão passado trabalhando com crianças deficientes: que eu também sou deficiente, mas de modo diferente. Todos nós somos. Eles me ensinaram muito mais que eu pudesse ensinar.

Sal: Bem, eu não acho que eu sou deficiente. Eu não preciso de qualquer muleta para minha mente ou minhas emoções. Minha cabeça e coração estão muito bem, obrigado.

Chris: Minhas deficiências incluem irritabilidade, medo da dor, e impaciência. Mas você não tem nenhum impedimento, não é? E você está perfeitamente feliz?

Sal: Claro que não…

Chris: Então você precisa de ajuda. Muletas.

Sal: Você não pode provar que eu preciso de Deus.

Chris: Não se você não olhar para seu próprio coração.

Sal: O que você quer dizer, meu próprio coração?

Chris: Eu só posso lhe pedir que seja honesto com seu coração. Você realmente achou felicidade sem Deus? Você pode ser seu próprio Deus, seu próprio bem, seu próprio doador de felicidade, seu próprio fim, razão e propósito de vida?

Sal: Isso é assunto meu, não é?

Chris: Sim. E muito sério.

Sal: Então nós não podemos falar objetivamente sobre isto.

Chris: Não, mas nós podemos falar sobre sua cabeça, sua razão, sua ciência.

Sal: Certo, por que você acha que eu preciso de Deus como uma muleta para minha ciência? Por que a ciência manca? O que falta? Parece que a ciência está completa.

Chris: Falta a Primeira Causa. Há o “elo perdido” para a ciência explicar o mundo: o primeiro elo.

Sal:
A ciência não precisa de um primeiro elo. O resto da cadeia se mantém perfeitamente junto sem ele. A ciência pode explicar perfeitamente bem o mundo sem Deus, mesmo se não puder explicar a primeira causa de tudo.

Chris: Bem, há uma segunda coisa que ela não pode explicar: por que existe a ciência?

Sal: Porque nós temos cérebros, claro.

Chris: E a religião explica por que nossos cérebros trabalham tão bem: porque Deus os projetou.

Sal: A ciência explica melhor: eles evoluíram.

Chris: Por acaso ou por desígnio divino?

Sal: Por casualidade e “seleção natural” – tentativa e erro. Em milhões de anos, só os cérebros mais evoluídos sobreviveram e os fracos desapareceram.

Chris: Se seu cérebro evoluísse por acaso, por que eu deveria confiar nele para saber a verdade?

Sal: Este é o argumento de desígnio que você usou ontem.

Chris: Você tem uma resposta para isto?

Sal: Não.

Chris: E temos outro problema: você não pode provar o método científico pelo método científico. Assim, se você diz que acredita no que pode ser provado pelo método científico, você não pode prová-lo. Seria melhor não acreditar.

Sal: Eu tenho a resposta, Chris: eu acredito porque ela funciona.

Chris: Mas por que funciona?

Sal: Só funciona, isso é tudo.

Chris: Você não pode explicar por que?

Sal: Acho que não.

Chris: Bem, eu posso.

Sal: Deus, né?

Chris: É.

Sal: Certo, eu não pude responder suas três questões. Veja se você pode responder a minha. Você aceita a ciência, não?

Chris: Sim.

Sal: Assim, se a ciência descobrir algo verdadeiro, então é realmente verdade, certo?

Chris: Certo.

Sal: E se a ciência diz uma coisa e a religião diz outra, se houver uma contradição entre elas, então uma das duas tem que estar errada, não?

Chris: Sim.

Sal: Assim, se a ciência é verdadeira e a religião a contraria, então a religião é falsa.

Chris: Oh, mas a religião nunca a contradisse.

Sal: Nunca?

Chris: Nunca. Me mostre uma descoberta da ciência que contradiz uma crença de minha religião.

Sal: Isso é fácil. Evolução.

Chris: A evolução é uma teoria. Eu pedi uma descoberta.

Sal: A ciência descobriu a evolução.

Chris: Não. A ciência descobriu muitos ossos antigos.

Sal: E eles provam a evolução. O homem evoluiu dos macacos.

Chris: Não, eles provam que nós viemos pelos macacos, se a data estiver correta. Mas como nós viemos é outra questão. A ciência não pode ver a resposta àquela pergunta sobre os ossos. Como pode?

Sal:
Mas quase todos cientistas acreditam na teoria de evolução, não?

Chris: Eu não sei honestamente. Eu não sou um cientista. E nem você.

Sal: Assim nós temos que passar pelo que os verdadeiros cientistas nos dizem.

Chris: Quase todos cientistas já acreditaram que a Terra era ao centro do Universo. Mas eles estavam errados. A ciência não é infalível. Está sempre está se corrigindo.

Sal: Mas eles eram cientistas medievais!

Chris: Mas eles se achavam modernos. E os cientistas do ano 3.000 nos verão como  “medievais” ou “antigos”.

Sal: Você aceita a teoria de evolução ou não?

Chris: Já lhe disse, eu não sei. Mas suponha que sim. Como isso contradiria minha fé?

Sal: A evolução diz que nós evoluímos dos macacos; sua fé diz nós fomos criados por Deus. Nós somos feitos da imagem de King Kong ou da imagem de Rei Deus? Isso me parece uma contradição.

Chris: Mas a evolução não nos diz quem nos fez, e a Bíblia não nos fala como Deus nos fez, a não ser que diz que Deus fez Adão “do pó da terra” – fora de algo, um pouco de material, algum material existente. Por que não podia ser o corpo de um macaco? Pó, evoluindo ao corpo humano por bactérias e plantas e animais e macacos. Mas como nossos corpos vieram a e xistir, isso é só metade da história.

Sal: O que quer dizer você, metade da história?

Chris: A ciência não pode ver a alma, ou nos dizer como a alma começou.

Sal: Talvez não exista a alma.

Chris: Então não existimos, somos só máquinas. Ou um cadáver. Porque isso é o que um corpo sem uma alma, um cadáver. Você acha que você é um cadáver?

Sal: Claro que não.

Chris: Então você tem uma alma. E a Bíblia nos fala que Deus pôs uma alma em nós. Não há nenhuma contradição entre nossa declaração que nosso corpo veio dos macacos e nossa alma veio de Deus. Ou que nossa alma veio diretamente de Deus e nosso corpo indiretamente – porque os macacos também vieram de Deus. Tudo.

Sal: Você pode ter explicado aquela contradição, mas eu duvido se você pode explicar todas as outras.

Chris: Que outras?

Sal: Bem… você não acha que haverá qualquer contradição entre ciência e religião?

Chris: Certamente não. Deus não se contradiz.

Sal: Deus? Deus não entra na ciência.

Chris: Claro que sim. Ele escreveu dois livros, a natureza e Bíblia, e os dois livros nunca podem contradizer um ao outro porque eles vêm do mesmo autor que é Verdadeiro. A verdade nunca pode contradizer a verdade.

Sal: Assim, se eu puder lhe mostrar uma contradição entre a ciência e Bíblia, eu tenho provado meu ponto de vista.

Chris: Sim, e eu ainda estou esperando.

Sal:
Este é um desafio justo. Eu voltarei quando eu achar um.

Chris: Oh, por favor volte antes disso, ou eu nunca o verei novamente!

CRÉDITO

Kreeft, Peter. “Science and Religion.” In Yes or No: Straight Answers to Tough Questions about Christianity (Ignatius Press: San Francisco, 1991 – ( Sim ou Não: Respostas Diretas para Perguntas Difíceis Sobre o Cristianismo), 41-48.

Você pode achar o livro de Peter Kreeft aqui (em inglês):
Yes or No: Straight Answers to Tough Questions about Christianity

O AUTOR 

Peter Kreeft escreveu muito (mais de 25 livros) na área de apologética cristã. Ele ensina no Boston College em Boston, Massachusetts. Peter Kreeft faz parte do Conselho do Catholic Educator’s Resource Center.

Tradução: Ferdinando Waldmuller

© protegido por direitos autorais 1991 Ignatius Press

 

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