“Quem diz que a religião não se harmoniza com a ciência
é ignorante tanto de uma quanto da outra.”
Albert Einstein
Por muitos séculos se pensava que a religião sempre esteve em conflito com a ciência. Os defensores de uma julgavam que a outra sempre estava incorreta e por isso, precisava de ser completada. O conflito surgiu mais acirradamente no século XIX, com pensadores materialistas e principalmente com Darwin, com sua Origem das Espécies. Mas será que essa oposição momentânea tem fundamento? Como disse Geoffrey Cantor, da Universidade de Leads: “Não é certo dizer que durante a História a ciência e o Cristianismo estiveram em conflito… as pesquisas históricas mostram que isso é falso”, vemos que essa “separação” aparente não existe na realidade. O que existe às vezes são preconcepções e pontos de vista de alguns cientistas aversos à religião.
O “conflito” entre a ciência e religião, como dissemos, é antigo. Enquanto esta pregava que o Universo tinha origens explicáveis à luz da teologia, a outra buscava explicações “racionais” para a existência de tudo. Desde Aristóteles, a metafísica mostrou novas formas de vermos Deus. Assim como a religião é antiga, o ateísmo também o é, podendo ser visto até na Grécia Antiga. O ateísmo, na sua ânsia de negar a Deus em tudo, procurou extirpar a idéia de Deus da ciência. Enquanto os “religiosos” diziam que o Universo teve uma origem divina, os “racionalistas” procuravam retirar a hipótese de Deus da natureza. Essa é a diferença entre a religião e a ciência.
Já desde muito tempo esse debate vinha e se arrefecia. Alguns historiadores dizem que a Idade Média foi chamada de Idade das Trevas porque a Igreja dominava e, por isso, a ciência ficou paralisada. Nada mais errôneo. A Igreja nunca impediu o avanço da ciência. Na Idade Média, sempre houve excelentes pensadores que incluíam Deus na concepção do Universo. Deve-se salientar que não eram eles que originaram essa idéia, mas procuravam explicar algo que, para eles, era a verdade. Um exemplo claro é Avicena, o genial cientista árabe. Em sua época ele se dedicava a realizar debates sobre a origem do Universo. Mas, em outras épocas, principalmente no século XIX, a discussão parecia abrir novamente o embate entre religião e ciência. A pergunta era: a ciência depende da religião e vice-versa? Se a ciência, compilada magnificamente desde a Antigüidade por Aristóteles, supostamente não precisava de Deus para explicar o Universo, para quê precisava da religião? Essa era a pergunta dos naturalistas, depois de Darwin.
Se pressupormos que a ciência explica tudo, i.e, que ela tem as repostas para todas as questões naturais, vamos entrar num terreno perigoso chamado naturalismo, que pretende explicar tudo à base do que vê e pode ser provado em laboratório. Cesar Prattes, o grande cientista brasileiro, disse: “o cientista nunca pode ser ateu”. A arrogância da ciência parecia com a atitude de Napoleão, ao se auto coroar imperador. Ela não permitia adversários. Alguns cientistas chegaram a dizem que a ciência havia se tornado “uma deusa”. Daí se pode ver a atitude de alguns de seus ardorosos preponentes. Pensava-se que a ciência explicava tudo, mas…
A religião, por seu turno, estava preocupada com assuntos teológicos. Debates e temas filosóficos eram os assuntos das faculdades. Ao passar por esse embate, ela teve de se armar com uma defesa imediata. Como defender a presença da religião com o recém surgido debate? Os opontes da religião se gabavam em citar casos clássicos como os de Copérnico e o processo de Galileu. Mas não diziam tudo. Mostravam só um lado da moeda. A Igreja teve que mostrar que não foi bem assim. Pode ter sido verdade que alguns sacerdotes eram contra a idéia de Galileu, insistindo que o Sol era que girava em torno da Terra. Mas a Bíblia e alguns sacerdotes não aceitavam isso. Não era a Igreja toda que estava envolvida. Alguns, crendo no teocentrismo, acreditavam nessa idéia. Mas os grandes cardeais e boa parte da Igreja foram a favor de Galileu. Isso os ateus não dizem. Para eles, a crítica chega ao ponto de cegar a verdade.
Como nos diz sir John Houghton, diretor geral do Escritório Meteorológico: ” A ciência trata de coisas objetivas… admiração, amor e humildade antes dos fatos são essenciais para o homem estar em harmonia com o ambiente e seu Criador”. Ele nos dá uma idéia do verdadeiro compromisso da ciência: explicar os fatos observáveis a luz das explicações naturais. À religião cabe iniciar onde a ciência acaba. Ela deve levar o homem a uma transcendência maior. Dizer que Deus não existe porque enão se pode observá-lo é ridículo e vai contra os princípios da ciência. Este tem seus limites. Vejamos o que diz Timothy Stout: “O método científico simplesmente é um processo que os cientistas desenvolveram em um esforço para quantificar a ordem que eles observaram no universo. (…) Eu acredito que se uma tentativa é feita reduzir a origem de vida para
causas puramente naturais, científicas, terminaremos com nada mais que fins mortos e contradições”. Einstein disse isso de modo mais enfático: “a ciência sem a religião é paralítica – a religião sem a ciência é cega”. Se Einstein, um dos maiores cientistas que já viveu, mencionou a religião ao lado da ciência, é sinal de nós precisarmos reavaliar nossas opinões sobre essas duas.
O debate começou a algum tempo, mas ele já foi amenizado. Defensores do “Universo-sem-Deus” como Stephen Jay Gould, Richard Dawkins e outros que afirmam que “Deus não existe” ou não é necessário estão entrando no mesmo campo que aconteceu com Galileu: ele não foi julgado tanto por suas idéias científicas, mas por ter entrado num terreno novo, o da teologia, que competia a religião fazer isso. Nenhum cientista tem o cabedal de dizer: “Deus não existe” por que assim não estaria agindo como um cientista. Cada um deve trabalhar no seu campo ajudando o outro ao mesmo tempo. O cientista deve trabalhar no laboratório e o sacedote na igreja, mas isso não significa que religião e ciência são diferentes.
O fato é que, desde o passado, religião e ciência sempre se deram bem. A prova é que a Igreja sempre deu mostra de excelentes membros que eram cientistas. A ciência procurava explicar a realidade e a religião procurava levar o homem a Deus. Esse é o resumo de como as duas agem. Grandes pensadores da Igreja ensinaram que era bom o homem se relacionar com a ciência. Nunca nenhum líder e pensador da Igreja levou os membros a serem contra a ciência. Grandes exemplos do passado são São Tomás de Aquino, Pedro Lombardo, Anselmo de Canterbury, Guilherme de Occkham e outros. Como a Idade Média podia ser a “Idade das Travas” com mentes como essas? Os historiadores deixam de dizem que a “Idade das Trevas” se chamou assim por causa dos bárbaros que habitavam no Império Romano da época. Sempre a relação da ciência e religião foi amigável, como nos diz Francis Bacon. Com o Iluminismo, procurou-se quebrar essa aliança, mas foi malfadado.
Hoje, com o desenvolvimento de ciências novas como a Física Quântica e a teoria dos Quarks, fica mais necessário a presença da religião na humanidade. Não porque ela é mais necessária agora mas porque sempre
foi necessária. Nem opositores como Voltaire, Marx, Engels, Darwin e outros e nem o futuro descartam a presença da religião. Já foi provado que essa briga só existe nas mentes preconceituosas e sem base. A aliança existe e é eterna. Uma não existe sem a outra. Cabe ficarmos no ponto de equilíbrio.