Se você acha que certos cristãos, criacionistas e defensores do design inteligente são os únicos culpados de argumentar a partir da ignorância – pense duas vezes. É verdade que alguns dizem: “Eu não vejo como tal e tal poderia acontecer por processos materiais não guiados, por isso Deus fez isso”. Mas os outros vão dizer: “Mesmo que eu não vejo como isso e aquilo poderiam acontecer por processos materiais não guiados, a ciência acabará por preencher a lacuna e mostrar como ocorre”. Nenhum destes são, naturalmente, bons argumentos. Argumentar da ignorância atravessa as fronteiras visão de mundo. Existe uma forma particular deste tipo de raciocínio falacioso. Eu quero tocar neste assunto neste post. Na semana passada eu estava lendo sobre o novo livro de Alvin Plantinga [1] onde um ateu afirma sem ressalvas: “a ausência de evidência é evidência de ausência, e é mais do que uma boa razão para não acreditar em algo [sic]“. Mas é evidente que essa declaração sem reservas não é verdadeira. É de fato um argumento da ignorância, ou argumentum ad ignorantiam, um tipo de falso dilema.
A ausência de provas não é evidência de ausência. W.L. Craig gosta de usar o seguinte exemplo:
Se eu disser que há um elefante na sala, então você esperaria ver uma enorme criatura viva em forma de elefante diante de você. Se você não ver evidências desse tipo, então você justamente iria inferir que não há um elefante presente. Mas se eu disser que há uma pulga na sala, apenas porque você não vê um pequeno inseto ou ter qualquer outra evidência confirmando, você não pode justamente inferir que não existe uma pulga na sala.
Claro que você não sabe que há uma também! No debate de Craig com Peter Slezak ele coloca de outra maneira: “A falta de conhecimento por alguma entidade X conta como evidência positiva contra a existência de X somente no caso de que se X existisse, então devemos esperar ver mais evidências da existência de X do que vemos“. O agnóstico Carl Sagan pareceu entender isso também. No Mundo Assombrado pelos Demônios, ele escreveu: “Essa impaciência com a ambiguidade pode ser criticada na frase: ausência de evidência não é evidência de ausência” [grifo nosso]. Na verdade: não se pode inferir a inexistência de P apenas a partir de uma ausência de evidência para a existência de P a menos que se possa racionalmente mostrar que há evidências Q que devemos esperar para ver se existe P e Q ainda seja encontrado estar ausente.
Para esclarecer, considere o seguinte hipótese: se não temos nenhuma evidência para [a existência de microorganismos procariotas em Marte] P, pode-se racionalmente inferir apenas da ausência de evidência para P que P é falso? Claro que não! Também não podemos inferir que P. Se a NASA desenvolvesse um teste de prova para P, digamos, uma série de sondas que pousam em Marte para recolher amostras do solo à procura de P (onde um resultado positivo é uma evidência Q), então podemos ver se P é verdadeiro. Se for, devemos esperar para ver Q. Se forem executados os testes e não se encontrar Q, então isso é um obstáculo para P. Mas se a NASA não enviar as sondas e executar os testes para Q, não temos condições de saber que P ou se ~ P. Nosso conhecimento de P não ganhou nem perdeu garantia.
Então, em resumo, a ausência de evidência não é evidência de ausência. Se alguém faz essa afirmação de uma forma incondicional, peça-lhe educadamente para definir o tipo de evidência que eles espera ver. Caso contrário, quando se trata de conhecimento, lacunas, ignorância e a ausência de evidência não qualificadas não fazem nada para mover a bola no campo de mandado.
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[i] Where the Conflict Really Lies: Science, Religion, and Naturalism, de Alvin Plantinga (9 de dezembro de 2011)
Fonte: http://apologetics.azurewebsites.net/post/Absence-of-Evidence.aspx
Tradução: Emerson de Oliveira