Vejo um monte de ateus reclamando que eles não deveriam ter qualquer ônus da prova, pois é impossível provar uma negativa universal, ou seja, – “Deus não existe”.
Aqui está um post de William Lane Craig sobre isso.
Trecho:
A primeira é, ironicamente, encontrada com frequência nos lábios de ateus, que tentam assim se desincumbirem do ônus da prova na discussão. Usualmente, alega-se que não é possível provar um negativo universal e, portanto, a alegação de que “Deus não existe” não pode ser provada. A segunda alegação é apresentada tipicamente como a razão por que não se pode provar um negativo universal: a despeito de todo conhecimento adquirido, sempre haverá fatos ainda não conhecidos e, talvez, a exceção esteja entre eles. Logo, ninguém pode provar jamais que Deus não existe. Contrariamente ao que deveria ser, essas alegações, de alguma maneira, são interpretadas não como a admissão de que o ateísmo é indefensável, mas como uma demonstração de que ele não necessita de defesa!
Infelizmente, o argumento é compreendido incorretamente em várias alegações.
Em primeiro lugar, é possível provar declarações negativas quantificadas universalmente. Fazemos isso o tempo todo. Quando produzimos declarações sobre “todos” ou “nenhum”, referimo-nos a algo com respeito a um domínio específico. Estamos dizendo que todos ou nenhum dos membros desse domínio têm ou tem, respectivamente, uma certa propriedade. Se o domínio não for grande demais, posso produzir com certeza declarações afirmativas e negativas quantificadas universalmente. Por exemplo, estou bem certo que “nenhum senador dos eua é muçulmano”. Ou, de outra forma, se tenho uma amostra típica do domínio posso fazer inferências indutivas do todo com base na evidência da amostra, mesmo quando o domínio inteiro é grande demais para poder ser investigado. Por exemplo, considerando como meu domínio todos os micróbios da Terra, posso afirmar com certeza que “nenhum micróbio tem cérebro”.
Ora, pode-se dizer que, embora se admita como verdade que às vezes seja possível provar declarações negativas universais, ainda permanece a questão de que, no caso de Deus, o domínio é grande demais, e nossa amostra é pequena demais para se chegar a alguma conclusão negativa. No entanto, aqueles que propõem esse argumento parecem pensar que a maneira de determinar se Deus existe ou não é realizando uma espécie de exame universal para verificar se lá fora existe alguma coisa que corresponda à descrição de Deus. Todavia, há outras maneiras de se chegar ao conhecimento de declarações negativas quantificadas universalmente sem se recorrer à investigação indutiva.
Por exemplo, podemos ter o conhecimento de declarações negativas quantificadas universalmente com base nas propriedades essenciais das coisas; por exemplo, “não existe nenhuma molécula de água composta de CO2”. (Mesmo que algo se parecesse e se comportasse exatamente como a água, mas fosse composto de CO2, ainda assim não seria água, mas apenas uma substância semelhante.) Ou se pudéssemos mostrar que certa ideia é logicamente impossível, saberíamos que ela não existe. Por exemplo, “não existem solteirões casados”. É bem significativo que muitos ateus têm tentado precisamente essa via para provar que Deus não existe, defendendo que a ideia de um ser todo-poderoso ou onisciente é incompatível com a lógica.
[…] Em segundo lugar, a declaração de que “Deus não existe” não é uma declaração quantificada universalmente. Quando o teísta afirma que “Deus existe”, a palavra “Deus” está sendo usada como nome próprio, não como um substantivo comum. Não é uma declaração do tipo “cães existem”, mas do tipo “Lassie existe”. Para que seja possível provar que Deus não existe, é indispensável provar que não existem deuses de espécie alguma. Temos interesse em um ser específico, não em todos os outros seres que podem ter sido imaginados e adorados no mundo inteiro. Portanto, a alegação de que “Deus não existe” é realmente uma alegação singular, como “Sherlock Holmes não existe” ou “Harry Potter não existe”. Ninguém considera que alegações negativas singulares não possam ser provadas.
Portanto, há duas maneiras de refutar uma negativa universal. Veja onde espera que algo seja evidente, e mostre que a prova não está lá. Por exemplo, mostre evidências de que o universo é eterno. Você não pode ter um Criador se você puder mostrar evidências de que o universo é eterno. A segunda maneira é mostrar que o conceito de Deus é logicamente contraditório, por exemplo – que o conceito de uma “pessoa atemporal” é autocontraditória. Ateus acadêmicos tentam fazer isso, mas isso não foi filtrado para a classificação e arquivo, e é por isso que eles ainda mantêm a esses slogans ateus como “você não pode provar uma negativa universal”. Claro que pode.
E, finalmente, Craig conclui com alguns bons conselhos:
A conclusão é que não temos outra opção, exceto seguir adiante com base no conhecimento e na evidência que temos de fato — do modo exato como fazemos em todos os outros casos da vida.
Vários ateus parecem estar muito interessados em esperar por dados científicos e históricos atuais para ser derrubada por teorias Star Trek do futuro. Mas quanto mais estudamos os bons argumentos científicos para a existência de Deus, mais difícil é para o naturalismo refutá-los. Eu estou falando sobre a origem do universo, a sintonia fina, o argumento de habitabilidade, a origem da vida, a origem dos filos, a evidência científica para a consciência e o livre arbítrio (por exemplo, – esforço mental) e assim por diante. Já para não falar de outros argumentos como o argumento moral e os fatos mínimos para a ressurreição de Jesus.
Temos que decidir sobre os dados que temos agora. E os dados que temos agora se encaixam melhor com uma visão de mundo teísta do que uma cosmovisão ateísta. Eu posso imaginar todos os tipos de dados que argumentam contra o teísmo cristão. Encontrar os ossos de Jesus. O universo é eterno. Evidências experimentais para o multiverso. Um provável cenário naturalista para a origem da vida. Etc. Argumentar contra o teísmo cristão não é difícil, apenas dá trabalho. É por isso que os ateus inteligentes e informados como Peter Millican e Austin Dacey podem fazê-lo, mas ateístas comuns querem falar sobre “Falta-me a crença em Deus” e “Eu não posso provar uma negativa universal”.
Ninguém está pedindo aos ateus para provar nada, assim como os teístas não provam nada. Estamos pedindo-lhes para dar argumentos lógicos com pontos que são suportados pela evidência. E é isso que esperamos que os teístas façam também. Uma vez que temos todos os argumentos e provas de ambos os lados, as pessoas podem decidir por si mesmas. Você não tem de “provar” qualquer coisa em um debate, você só tem que indicar se seu ponto de vista é tão convincente quanto possível e o outro lado faz o mesmo e, em seguida, as pessoas decidem. Simples.
Fonte: http://winteryknight.wordpress.com/2014/09/11/are-atheists-right-to-say-that-you-cant-prove-a-universal-negative-like-god-does-not-exist/
Tradução: Emerson de Oliveira