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O argumento evolutivo contra o naturalismo

BrainO biólogo ateísta Richard Dawkins uma vez comentou com AJ Ayer em um jantar na faculdade de Oxford que ele não poderia imaginar ser ateu antes de 1859, o ano em que A Origem das Espécies, de Darwin, foi publicado: “Embora o ateísmo pudesse ser logicamente defensável antes de Darwin, este tornou possível ser um ateu intelectualmente realizado”. No entanto, de acordo com um argumento do filósofo cristão Alvin Plantinga, esta declaração (em certo sentido) pode na verdade não ser verdadeira.

Em primeiro lugar, o que queremos dizer com naturalismo? Em suma, o naturalismo “evita ou rejeita apelar para o sobrenatural, e traça as origens de volta para forças cegas e indiferentes” [1]. Assim, a realidade física é tudo o que existe, sem forças sobrenaturais ou pessoais para além do âmbito do universo. Como Plantinga diz: “ser um naturalista não é acreditar em nada de especial – por exemplo, que não há fadas, ou anjos, ou deuses. Ser um naturalista é adotar uma certa atitude, uma atitude que envolve, entre outras coisas, uma dedicação exclusiva à ciência em guiar as opiniões”[2].

O argumento de Plantinga tem três áreas relevantes de interesse:

  • (1) Teísmo: a crença de que existe um ser totalmente bom, pessoal, Todo-Poderoso e onisciente: aquele que tem crenças (ou conhecimento), tem como objetivo e intenções e age para realizá-los.
  • (2) Naturalismo: como Plantinga curiosamente diz: “O quadro teísta sem Deus.”
  • (3) Faculdades cognitivas: os poderes ou faculdades de capacidades através das quais temos conhecimento ou forma de crença: memória, percepção, razão, e talvez outros.

O argumento de Plantinga pode ser declarado assim: “dada a aceitação de nossa crença no naturalismo, qual é a confiabilidade dessa crença dada a nossa história evolutiva através do surgimento sucessivo via forças cegas e indiferentes?” Ou, como Ernest Sosa explica ainda:

a probabilidade de que nossas faculdades cognitivas sejam confiáveis ​​deve ser muito baixa ou na melhor das hipóteses inescrutáveis. Isto derrota qualquer crença que podemos ter na confiabilidade de nossas faculdades. Ausente tal crença, enfim, somos privados também de garantia epistêmica (autoridade, a justificação) para todas as crenças resultantes de tais faculdades. [3].

A essência do argumento no entanto, é a sua conclusão devastadora: “mas entre essas crenças está a crença no naturalismo que, portanto, derrota a si mesma” [4]. Considere ainda a explicação de Plantinga:

Afirmo que (1) se o naturalismo fosse verdadeiro, não haveria tal coisa como funcionamento adequado e, portanto, também existe coisas como mau funcionamento ou disfunção. Assim, não haveria coisas como saúde ou doença, sanidade ou loucura; além disso, neste contexto epistemológico fundamental, não haveria o conhecimento. Isso é ruim o suficiente, mas não é o pior: afirmo (2) que o naturalista está comprometido com um tipo de profundo ceticismo debilitante segundo o qual ele não pode confiar em suas faculdades cognitivas para fornecer-lhe quaisquer crenças verdadeiras. Isto aniquila tudo no que ele acredita, incluindo o próprio naturalismo. [5]

Considere a função de probabilidade P(R/N & E). N significa Naturalismo Metafísico – N exclui a existência de Deus como é entendida sob o teísmo tradicional, E representa o Surgimento de nossas faculdades cognitivas por meio da evolução; R é a afirmação de que nossas faculdades cognitivas são confiáveis. Agora, qual é a probabilidade de R, dado N & E? Primeiro, considere algumas coisas a respeito da questão de probabilidade condicional.

Tome por exemplo, que temos algum determinado fator H, o que significa que um indivíduo vai viver uma vida saudável após os 75 anos. Então, qual é a probabilidade de H com a condição de que um indivíduo nunca se exercita, não come direito, e tem pressão alta? Bem, a resposta óbvia parece ser que a probabilidade de H dado esses fatores seriam consideravelmente baixa. No entanto, a probabilidade de H será muito mais elevada, na condição de que, se o indivíduo se exercitar continuamente, comer corretamente, e tiver uma pressão arterial controlada.

Em uma forma da mesma forma, qual é a probabilidade de R dado o naturalismo metafísico (N) e o Surgimento de nossas faculdades por meio da evolução (E)? De acordo com o próprio Charles Darwin, ele pode considerar a probabilidade de R a ser bastante baixo. Como ele escreveu uma vez em sua autobiografia: “Mas então surge a dúvida, pode a mente do homem que, como eu acredito plenamente, foi desenvolvida a partir de uma mente tão baixa como que possuída pelos mais baixos animais, ser confiável quando ele desenha tal grandes conclusões” [6] Patrícia Churchland comentou, sobre a probabilidade de R:

Resumida a essência, um sistema nervoso permite ao organismo funcionar nos quatro termos: alimentação, fuga, luta, e reprodução. A tarefa central do sistema nervoso é arranjar as partes do corpo onde deveriam estar, a fim de que o organismo possa sobreviver [… ] Melhorias no controle senso-motor conferiu uma vantagem evolutiva: um estilo mais capacitado de representar é vantajoso desde que engrenado para melhorar a vida e aumentar as chances de sobrevivência do organismo. [7]

Assim, a probabilidade de R é bem fraca. Como o naturalista afirma que as nossas faculdades derivam de forças brutas, parece que não podemos racionalmente afirmar nossa “implícita confiança” na confiabilidade de nossas faculdades. No entanto, se não podemos confiar em nossas faculdades, então não podemos confiar em nada racionalmente, o que é uma libertação dessas faculdades. O naturalismo é uma libertação de nossas faculdades e, portanto, não podemos racionalmente nos agarrar a essa crença. Considere a força desta conclusão:

Considere agora quaisquer assuntos que enfrentam a questão de que se suas faculdades sejam confiáveis e percebam que se têm faculdades confiáveis, isto é uma questão contingente, e que não podem apenas admitir isso e ficar assim. Dada a contingência da confiabilidade de suas faculdades, que garantia há que, embora possam ser confiáveis, na verdade, são confiáveis? A incapacidade de dar uma resposta racional e não arbitrária a esta pergunta não constitui em si um problema? [8]

A natureza contingente de nossas faculdades cognitivas constitui que são uma forma particular e poderia ter sido outra, mas não são. Assim, o naturalista que  ignora esta questão entrava-se em um grande problema. Para terminar com Plantinga: “A conclusão a ser tirada, portanto, é que a conjunção do naturalismo com a teoria evolucionista é autodestrutiva: prevê-se um vencedor invicto”.

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Notas:

  • [1] Ernest Sosa, “Teologia Natural e ateologia natural” em Alvin Plantinga, Ed. Deane-Peter Baker (Cambridge University Press: 2007) p 95
  • [2] Alvin Plantinga e Michael Tooley, O conhecimento de Deus (Blackwell Publishing: 2008), p. 18 – ênfase de Plantinga.
  • [3] Sosa, 95
  • [4] Ibid.
  • [5] Plantinga (2008), p. 1.
  • [6] Charles Darwin, “Autobiografia”, em Ateu portátil, Ed. Christoper Hitchens (Da Capo: 2007), p. 96
  • [7] Ver esboço de palestra de Churchland.
  • [8] Sosa, 101

Fonte: http://www.christianapologeticsalliance.com/2013/11/21/the-evolutionary-argument-against-naturalism/
Tradução: Emerson de Oliveira

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