Neste artigo vou fazer uma análise completa e acadêmica das alegações do Edson Toshio, que tenta responder ao Lucas Banzoli sobre a confiabilidade do livro de Daniel da Bíblia.
Edson Toshio usa de sofisma e desonestidade intelectual para responder. Suas alegações:
Edson Toshio tenta refutar as alegações de Lucas Banzoli sobre um novo estudo dos Manuscritos do Mar Morto, mas, ao fazê-lo, demonstra uma compreensão falha do artigo científico e comete erros graves de interpretação. Abaixo, cada uma de suas alegações é citada, analisada e refutada com base no conteúdo do artigo.
Alegação 1: “O artigo não diz que os manuscritos são mais antigos.”
- O que Toshio disse: Toshio afirma que o artigo científico não afirma que os manuscritos são mais antigos, chamando a alegação de Banzoli de “mentira descarada”.
- Refutação Acadêmica: Esta é a alegação mais fundamental e também a mais facilmente refutável. O próprio resumo do artigo afirma explicitamente o contrário:
“The 14C ranges and Enoch’s style-based predictions are often older than traditionally assumed palaeographic estimates, leading to a new chronology of the scrolls and the re-dating of ancient Jewish key texts…” O artigo não apenas afirma isso no resumo, mas dedica toda a Seção 6 a detalhar as “quatro novas percepções” (four novel insights), sendo a primeira delas: “First, 14C date ranges and Enoch’s style-based estimates are overall older than previous palaeographic estimates. These older dates for the scrolls are realistic.” O artigo também afirma que os resultados “levam a uma nova cronologia dos rolos e à redatação de textos-chave judaicos antigos”. Portanto, Tochil está diretamente contradizendo a conclusão principal do estudo que ele supostamente está discutindo.
Alegação 2: “O manuscrito de Daniel foi datado em 195 a.C., não 230-160 a.C.”
- O que Toshio disse: Toshio ridiculariza Banzoli por afirmar que o manuscrito 4Q114 foi datado em 195 a.C., dizendo que o artigo não menciona essa data específica e que Banzoli a inventou fazendo uma média entre 230 e 160.
- Análise e Refutação Parcial: Toshio está parcialmente correto em apontar que o artigo não afirma uma data única de 195 a.C. O intervalo de 230-160 a.C. é o resultado da datação por carbono 14 calibrado, que é sempre apresentado como um intervalo de probabilidade, não como um ponto único. No entanto, o erro de Tochil está em sua hipocrisia. Ele ridiculariza Banzoli por usar uma média simples, mas ele mesmo comete um erro semelhante ao interpretar o resultado. O intervalo 230-160 a.C. é uma faixa de confiança, e o valor mais provável (o pico da curva de probabilidade) pode estar em qualquer lugar dentro desse intervalo. Ao rejeitar a média como uma interpretação inválida, Toshio está correto metodologicamente, mas sua crítica é desonesta, pois o artigo não apoia sua própria interpretação simplista de que a data é “apenas 160 a.C.”.
Alegação 3: “O artigo não confirma que Daniel foi escrito no século VI a.C.”
- O que Toshio disse: Toshio argumenta que o artigo não prova que o livro de Daniel foi escrito no século VI a.C., insinuando que Banzoli está fazendo uma alegação exagerada.
- Refutação Acadêmica: Esta alegação é uma distração (straw man). O artigo da PLOS ONE não se pronuncia sobre a datação do texto original de Daniel. Ele se concentra na datação do manuscrito copiado (4Q114). Toshio está criando um argumento falso para refutar. A importância do estudo não é provar a datação no século VI a.C., mas refutar a teoria da datação tardia (165 a.C.). Ao mostrar que uma cópia do texto já existia entre 230 e 160 a.C., o estudo impõe um limite cronológico mais antigo. Se o manuscrito foi copiado em 230 a.C., o texto original precisa ter sido escrito antes disso. Isso não prova o século VI a.C., mas destrói a teoria de que foi escrito em 165 a.C., pois não haveria tempo suficiente para a composição, disseminação e cópia do livro. O artigo confirma a antiguidade do texto, não a data exata da autoria.
Alegação 4: “A teoria da ‘profecia historicizada’ não é uma teoria acadêmica.”
- O que Toshio disse: Tochil chama a teoria da “profecia historicizada” de “fake” e um “nome bonitinho” para uma falsificação, implicando que é uma invenção de apologetas cristãos.
- Refutação Acadêmica: Toshio está completamente errado. A teoria da “profecia historicizada” é a posição majoritária entre os estudiosos bíblicos críticos. O artigo cita duas fontes acadêmicas (Schmid & Schröter, 2021; Zenger & Frevel, 2016) que representam essa visão. Essa teoria argumenta que o livro de Daniel foi escrito durante a crise macabeia (século II a.C.) e descreve eventos passados como se fossem profecias do futuro. O próprio Toshio reconhece isso indiretamente ao mencionar que os estudiosos datam Daniel “na década de 160 a.C.” com base em critérios literários e históricos. O novo estudo não refuta diretamente essa teoria, mas fornece evidências que a desafiam severamente, ao mostrar que o texto já estava circulando em uma data anterior à crise macabeia.
Alegação 5: “O artigo não diz que 4Q114 é um dos primeiros fragmentos conhecidos da época dos autores.”
- O que Toshio disse: Toshio minimiza a conclusão do artigo, sugerindo que ele apenas diz que o manuscrito é “mais próximo da época do autor”, mas não que é um dos primeiros fragmentos conhecidos.
- Refutação Acadêmica: Toshio distorce a conclusão do artigo. Na Seção 6, o artigo afirma claramente:
“Fourth, this study’s 14C result for 4Q114 and Enoch’s date prediction for 4Q109 now establish these to be the first known fragments of a biblical book from the time of their presumed authors.” Esta é uma afirmação direta e poderosa. O estudo está dizendo que, pela primeira vez, temos fragmentos de livros bíblicos (Daniel e Eclesiastes) que foram copiados na mesma época em que seus autores presumidos estavam vivos. Isso é uma diferença monumental em relação a cópias feitas séculos depois. Tochil tenta rebaixar essa conclusão, mas o artigo é inequívoco.
Alegação 6: “Não existe um original da Bíblia, então Deus não a preservou.”
- O que Toshio disse: Toshio usa a ausência de manuscritos originais como uma crítica contra a ideia de que a Bíblia é a palavra de Deus, comparando-a com textos pagãos que teriam seus originais preservados.
- Refutação Acadêmica: Esta alegação é irrelevante para o estudo. O artigo da PLOS ONE não faz nenhuma reivindicação sobre a inspiração divina ou a preservação dos originais. Ele é um estudo de datação arqueológica e paleográfica. Questionar a existência de um “original” é um argumento teológico, não científico, e não tem lugar na discussão sobre os resultados de um modelo de IA e datação por carbono 14. Tochil está desviando o foco do tema principal do artigo.
Alegação 7: “Os judeus não consideram Daniel um livro profético, então ele não pode ser inspirado.”
- O que Toshio disse: Toshio argumenta que, como o livro de Daniel está na seção “Ketuvim” (Escritos) do Tanakh (Bíblia Hebraica) e não entre os “Profetas”, ele não pode ser considerado uma profecia verdadeira.
- Refutação Acadêmica: Esta é uma falácia lógica. O cânone judaico foi fechado por volta do século I d.C., muito depois da composição dos textos. A classificação de Daniel entre os “Escritos” é uma decisão editorial e histórica, não uma negação de seu conteúdo profético. O próprio livro de Daniel é repleto de visões e profecias (Daniel 7-12). O fato de estar em uma seção diferente do cânone não invalida seu conteúdo ou a datação de seus manuscritos, que é o foco do estudo científico. Tochil está confundindo classificação com conteúdo.
Conclusão da Análise
Edson Toshio demonstra uma má-fé intelectual e uma incapacidade de interpretar um texto acadêmico. Ele distorce o artigo da PLOS ONE para atacar argumentos que nem mesmo Lucas Banzoli fez (como a datação no século VI a.C.). O estudo real é um avanço metodológico que combina datação por carbono 14 com IA para fornecer estimativas de datação mais objetivas e frequentemente mais antigas do que as estimativas paleográficas tradicionais.
As implicações são profundas: manuscritos como 4Q114 (Daniel) e 4Q109 (Eclesiastes) são mais antigos do que se pensava, o que tem sérias consequências para as teorias que datam esses livros no século II a.C. Tochil, ao ignorar os dados e os métodos, perde completamente o ponto do estudo e revela que sua “refutação” é baseada em mal-entendidos e distorções, não em uma análise crítica sólida.
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