A verdade sobre o livro de Enoque | BANIDO da Bíblia?

O livro de Enoque tem despertado a curiosidade de muitas pessoas ao longo dos séculos por falar de anjos, demônios e gigantes. O livro parece detalhar e revelar diversos segredos muito importantes sobre o passado da humanidade que não estão na Bíblia. Mas por que esse livro tão importante não está nas escrituras, mesmo sendo citado nelas? O que é o livro de Enoque e o que ele realmente diz?

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O tão controverso livro de Enoque se diz escrito por um personagem pouco conhecido da Bíblia, Enoque. Sobre ele, um curto relato em Gênesis 5:21-25 diz: “E viveu Enoque 65 anos e gerou a Matusalém. E andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, 300 anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Enoque 365 anos. E andou Enoque com Deus e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.”

Observando esse texto, podemos perceber que Enoque foi um homem muito importante: foi bisavô de Noé, faz parte da genealogia de Jesus e não chegou a morrer. A ausência de mais detalhes sobre esse homem tão importante que foi levado por Deus causou muita curiosidade nos primeiros leitores da Bíblia. E é para satisfazer essa curiosidade que surgiram os livros de Enoque. Sim, o livro de Enoque não é apenas um livro, mas são na verdade três livros. Normalmente se fala apenas do primeiro livro de Enoque, mas há também o segundo livro de Enoque, que provavelmente remonta ao primeiro século depois de Cristo e é preservado em manuscritos posteriores escritos na língua eslava, e um terceiro Enoque que sobrevive em hebraico e foi preservado pelo judaísmo rabínico.

Neste vídeo, vamos focar apenas no primeiro livro de Enoque. Mas, e quanto ao conteúdo? O que o primeiro livro de Enoque realmente diz que faz com que ele seja tão controverso? A melhor maneira de descrever o livro de Enoque é que ele é uma literatura derivada. Ele basicamente pega dois pequenos trechos tentadores de Gênesis e os expande em um livro inteiro de visões e histórias fantásticas. Ele é dividido em sete sessões compostas em épocas diferentes.

Toda a sessão de abertura do primeiro Enoque é uma história estranha baseada em Gênesis 6:1-4 sobre seres divinos tendo relações carnais com humanos. Gênesis diz que antes do dilúvio de Noé havia gigantes na terra: “Então os filhos de Deus tomaram para si as filhas dos homens, que deram à luz a guerreiros famosos na antiguidade”. Nenhum detalhe a mais. Então, diante dessa ausência de detalhes, o livro de Enoque surge para expandir o relato bíblico. Ele conta a história dos anjos caídos, chamados de sentinelas, que se rebelaram contra Deus e criaram uma sociedade depois de serem expulsos do céu. Seus filhos com humanas, os nefilins, gigantes, começaram a causar estragos na terra. O livro diz: “Estes devoravam todo o trabalho dos homens até que os homens não foram mais capazes de sustentá-los, e os gigantes se voltaram contra eles para devorar os homens.”

Os anjos caídos também passaram a ensinar artes sobrenaturais malignas à humanidade, como a feitiçaria e a astrologia. A história culmina com a humanidade clamando a Deus. Deus é informado que nenhuma alma quer encarnar na terra porque as condições estão se tornando muito ruins. Então, a solução de Deus é enviar seus quatro arcanjos para consertar as coisas. Mas antes, Enoque recebe a missão de avisar os anjos fugitivos para se prepararem para o que viria. Eles sofreriam após suas vidas e as sociedades que fundaram seriam eliminadas por um dilúvio. Depois de informados, os anjos caídos pedem com muito medo para que Enoque escreva uma carta pedindo clemência a Deus. A resposta de Deus é um não e mais outras ameaças.

O livro descreve ainda um detalhe no mínimo curioso: Noé, bisneto de Enoque, como sendo branco e de cabelo loiro, aparência similar à dos anjos fugitivos. Concluindo a história, Deus finalmente envia seus quatro arcanjos para consertar as coisas. Ele instrui um a avisar Noé sobre o dilúvio que se aproxima, Miguel aprisiona o anjo Semjaza, líder dos anjos fugitivos, e o lança nas trevas, e Gabriel destrói os nefilins. O restante do livro contém principalmente profecias e visões. É muito perceptível que o livro de Enoque é uma compilação de vários textos reunidos. Há mudanças muito abruptas entre as sete sessões, que são mais bem explicadas pela teoria de que alguém reuniu todas elas em uma compilação.

Em uma primeira leitura superficial, já se percebe que o livro de Enoque não é um livro de um homem só. O livro parece indicar que foi escrito entre o século I a.C. e o século II d.C. Não há base para pensar que ele foi escrito há milhares de anos pelo Enoque bíblico, porque no texto não há cognatos acadianos, sumérios ou outras indicações de uma cultura muito antiga. Na verdade, o texto parece ter sido originalmente escrito em aramaico, uma língua mais recente falada por Jesus. O texto se encaixaria com uma comunidade dessa língua que retornou do exílio. Além disso, também reflete e combina temas do mesmo período. Ou seja, é um livro apócrifo, um livro falso, escrito por pessoas que, para darem visibilidade à sua obra, o atribuíram a esse famoso personagem bíblico obscuro, com poucas informações. Até porque, se esse livro tivesse sido escrito por Enoque, teria que ter sido preservado na arca de Noé, guardado por milênios e depois levado por Moisés para fora do Egito, algo impensável. Um livro tão importante assim teria sido citado na Bíblia e faria parte do cânon bíblico. Deus não permitiria que uma obra tão importante fosse deixada de fora das escrituras.

Depois de entendermos tudo isso, ainda fica a dúvida: se Enoque não é um livro inspirado, por que ele é citado no Novo Testamento? Carlos Osvaldo explica que não é absolutamente claro se Judas citou Enoque ou vice-versa. Mas, mesmo que Judas tenha citado Enoque, isso não tira a canonicidade de Judas e muito menos torna Enoque um livro canônico. Paulo cita poetas e filósofos gregos e até menciona uma referência não bíblica sobre mágicos egípcios que se opuseram a Moisés. Ou seja, se Judas usou Enoque, isso não significa que esse livro tem credibilidade. Não é porque Paulo, em Tito 1:12, concorda com Epimênides que isso torna a obra dele inspirada. É comum pregadores citarem filmes, séries, poesias, notícias em suas pregações, mas isso não quer dizer que essas obras sejam inspiradas ou bíblicas.

Existe ainda a acusação de que o próprio Jesus teria citado o livro de Enoque. Em Mateus 22, quando os saduceus fizeram uma pergunta na tentativa de prendê-lo, Jesus respondeu: “Errais, não conhecendo as escrituras nem o poder de Deus. Porque na ressurreição, nem se casam, nem se dão em casamento, mas serão como os anjos de Deus no céu.” Alguns tentam encontrar nessa passagem semelhanças entre o que foi dito por Jesus e o que se encontra em Enoque. A ideia é que, se Jesus estava citando esse livro, logo ele é inspirado. Mas há um problema com essa ideia. Primeiro, o que Jesus diz não se parece muito com o que está escrito em Enoque, apesar da ideia ser parecida. Segundo, quando ele citava as escrituras, ele sempre fazia isso de forma direta, como está relatado no verso 31, quando ele cita Êxodo 3:6. Sempre que ele citava um texto bíblico, ele dizia “está escrito”. A resposta dada por Jesus aqui é de algo que ele já sabe; ele não está citando texto nenhum.

O livro de Enoque não é uma escritura oficial. Não há evidências de que tenha sido significativo para Cristo ou para os apóstolos, e até contradiz seus ensinamentos em alguns lugares. A Bíblia já é um livro grande o suficiente para nos ensinar em todas as áreas de nossas vidas. Se cremos em Deus, devemos crer que o livro que temos em nossas mãos é tudo o que ele quer que nós saibamos a respeito dele.

Se você está curioso para entender mais sobre os nefilins citados em Gênesis 6, eu falo mais sobre isso no vídeo que está aparecendo em sua tela. Clique aí que eu te vejo lá em alguns segundos. Até a próxima!

Poderá ver o vídeo no youtube Aqui