Ken Raines
Fonte: www.geocities.com/osarsif
“Pessoas de reflexão aceitaram a mensagem de A Idade de Ouro.”
(A Sentinela, 1.º de janeiro de 1994, p. 21, §6)
A Sociedade Torre de Vigia afirmou recentemente que indivíduos que classifica como “pessoas de reflexão” aceitaram a mensagem que ela publicou na revista A Idade de Ouro.[1] Aqueles que não aceitaram a mensagem devem ter sido pessoas não-reflexivas de algum tipo.
Qual era exatamente a mensagem que a A Idade de Ouro pregou para que as pessoas de reflexão a aceitassem? A principal mensagem que eles proclamaram era a vinda da Idade de Ouro, ou o Milênio. Quando a revista foi lançada pela primeira vez em 1919, eles esperavam que esta Idade de Ouro chegasse em 1925. Por exemplo, no primeiro número de A Idade de Ouro, ao explicar o objetivo da nova revista, C. J. Woodworth escreveu o seguinte sobre a proximidade da Idade de Ouro:
“Em números subsequentes desta revista é nosso propósito […] apresentar a prova incontestável de que estamos mesmo às portas da Idade de Ouro.”[2]
Talvez “pessoas de reflexão” respondessem a uma “prova incontestável”. Nos números subsequentes de A Idade de Ouro eles declararam que a Idade de Ouro viria em 1925 como qualquer “pessoa de reflexão” podia ver. Por exemplo, em 1922 eles citaram as seguintes declarações do “Juiz” Rutherford, do seu discurso “Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão”, feito no Hipódromo de Nova Iorque em 1921:
“Todas as pessoas de reflexão podem ver que é iminente um grande clímax. As Escrituras indicam claramente que esse clímax é a queda do império de Satanás e o estabelecimento completo do reino messiânico. Sendo este clímax alcançado em 1925 […] milhões que agora vivem na terra estarão vivos então, e aqueles que obedecem às leis justas do novo arranjo viverão para sempre. Consequentemente, neste momento pode dizer-se com confiança que MILHÕES QUE AGORA VIVEM JAMAIS MORRERÃO.”[3]
Em retrospecto, todas as pessoas de reflexão podem ver que 1925 não resultou na “queda do império de Satanás” e no “estabelecimento completo do reino messiânico”. A Idade de Ouro também afirmou, ao publicitar o folheto de Rutherford Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão, que a partir de 1926, depois do “clímax” de 1925, haveria “vida humana infindável” na terra, não haveria mais “cegos, coxos, surdos, mudos; nem cabeças calvas, olhos de vidro ou dentaduras, ou pernas de pau; nem padecimentos, doenças ou pestilências […] nem mais tristeza; nem mais lágrimas!” Isto, disseram eles, era “a mensagem da hora”.[4] Considerando que coisas como surdez e cabeças calvas ainda afligem a humanidade, o que deverá uma pessoa sensata concluir? Será que nós, como boas “ovelhas”, devíamos ter aceitado essa “mensagem da hora”?
A mensagem dos “Milhões” era a mensagem principal da revista A Idade de Ouro até 1925. Quando 1925 passou sem ocorrerem estas coisas, eles continuaram a proclamar esta “mensagem”, exceto evidentemente a referência a 1925. No entanto, outras mensagens estavam a tornar-se ainda mais importantes.
Outras mensagens para “pessoas de reflexão”
A Idade de Ouro publicou numerosos artigos denunciando o uso de utensílios de cozinha de alumínio e vacinas. Ambos eram do diabo. Praticamente todas as edições posteriores a 1925 tinham pelo menos um artigo sobre estes assuntos. No assunto das vacinas, as “pessoas de reflexão” eram aquelas que se apercebiam que os que produziam as vacinas estavam simplesmente a ganhar muito dinheiro à custa das pessoas “não reflexivas”. As epidemias eram iniciadas pelas administrações de saúde só para poderem ganhar dinheiro resultante das vacinações! Eles disseram:
“O público em geral não está consciente de como a produção de soros, anti-toxinas e vacinas é uma grande indústria, ou de como o alto comércio controla toda esta indústria […] as administrações de saúde tratam de começar uma epidemia de varíola, difteria, ou [febre] tifóide para que possam ceifar uma colheita dourada ao inocularem uma comunidade que não pensa, com o exato propósito de vender esta porcaria manufaturada.”[5]
No entanto, os leitores da Idade de Ouro não eram desse tipo de pessoas ‘que não pensam’:
“Qualquer pessoa que pense no assunto tem de concordar com a opinião do Sr. S. D. Bingham:
“A vacinação, resumidamente, é o sistema de infeção mais anti-natural, anti-higiênico, bárbaro, nojento, abominável e perigoso que existe. O seu vil veneno macula, corrompe e polui o sangue dos saudáveis, resultando em úlceras, sífilis, escrófula, erisipela, tuberculose, cancro, tétano, loucura e morte.”[6]
Consequentemente:
“Pessoas de reflexão prefeririam ter varíola em vez de serem vacinadas, porque as vacinas propagam as sementes da sífilis, cancros, eczema, erisipelas, escrófula, tuberculose, até a lepra e muitas outras doenças nojentas. Portanto, a prática da vacinação é um crime, um ultraje, e um engano.”[7]
Os leitores de reflexão da revista A Idade de Ouro, porém, não aceitaram esse engano! Novamente, em retrospecto, o que deve uma pessoa de reflexão pensar de tudo isto? As “pessoas de reflexão” que responderam a esta mensagem podem ter morrido prematuramente ou pelo menos sofrido desnecessariamente por recusarem uma vacina. Uma maneira de encarar isto é considerar a seguinte declaração da Sociedade:
“Segundo a Bíblia, quando colocamos deliberadamente a vida de alguém em perigo de forma desnecessária, poderíamos tornar-nos culpados de sangue.”[8]
Isto é sério para a Torre de Vigia. Eles estão constantemente a apontar para a “culpa de sangue” das igrejas da “Cristandade”, por estas endossarem guerras nas quais morreram pessoas. Eles disseram o seguinte sobre a seriedade disso:
“Deseja ficar culpado de sangue perante Deus, merecendo ser acusado e executado por ele?”[9]
“As Escrituras mostram que, se fizermos parte de qualquer organização que perante Deus é culpada por sangue derramado, teremos de cortar nossos vínculos com ela, se não quisermos compartilhar os seus pecados.”[10]
Será que a Sociedade Torre de Vigia não colocou a vida de outros em perigo de forma desnecessária ao requerer dos seus seguidores que adotassem as suas posições médicas? Eles proibiram vacinas, transplantes de órgãos e atualmente proíbem transfusões de sangue. Quantas “pessoas de reflexão” morreram ao seguirem a Sociedade Torre de Vigia? As vacinas e os transplantes de órgãos agora são permitidos pela Sociedade. Consequentemente, eles colocaram desnecessariamente em risco as vidas de outros. Será que isso não torna a Sociedade Torre de Vigia “culpada de sangue” perante Deus, por causa das mortes daqueles que lhes deram ouvidos e aceitaram os seus disparates em assuntos médicos? Se nós somos parte de qualquer organização que é culpada de sangue desta forma, não devíamos “cortar nossos vínculos com ela”?[11]
É a única coisa que “pessoas de reflexão” podem fazer!
Referências e notas
[1] Esta revista foi publicada entre 1919 e 1937. Em 1937 o nome da revista foi mudado para Consolação. Em 1946 o nome foi mudado novamente, desta vez para o título atual, Despertai!.
[2] A Idade de Ouro, 1.º de outubro de 1919, p. 22.
[3] A Idade de Ouro, 4 de janeiro de 1922, p. 217.
[4] A Idade de Ouro, 19 de janeiro de 1921, p. 240.
[5] A Idade de Ouro, 3 de janeiro de 1923, p. 214.
[6] Ibid.
[7] A Idade de Ouro, 5 de janeiro de 1929, p. 502.
[8] Awake! [Despertai!], 22 de junho de 1985, p. 27 [em inglês].
[9] Vida Eterna na Liberdade dos Filhos de Deus, 1966, p. 342, §43.
[10] Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro, 1983, pp. 155, 156, §4.
[11] Este ponto foi enfatizado recentemente por Steve Devore e Steve Lagoon no seu livro Blood, Medicine and the Jehovah’s Witnesses [Sangue, Medicina e as Testemunhas de Jeová], publicado por Witness, Inc.. O livro está atualmente esgotado e está sendo revisto.