‘A religião pura e sem mácula para com o nosso Deus e Pai, é esta: guardar-se incontaminado do mundo.’ — Tg. 1:27, Almeida.
RELIGIÃO tem sido definida como “expressão da crença e da reverência do homem para com um poder sobre-humano reconhecido como criador e governante do universo”. Quem, então, logicamente tem o direito de determinar a diferença entre religião verdadeira e falsa? Certamente tem de ser Aquele em quem se crê e que é reverenciado, o Criador. Deus delineou claramente em sua Palavra sua posição sobre religião verdadeira e falsa.
A Palavra “Religião” na Bíblia
A palavra grega traduzida por “forma de adoração”, ou “religião”, é threskeía. No A Greek-English Lexicon of the New Testament (Léxico Grego-Inglês do Novo Testamento) esta palavra é definida como “a adoração de Deus, religião, esp[ecialmente] conforme se expressa em ofícios ou cultos religiosos”. O Theological Dictionary of the New Testament (Dicionário Teológico do Novo Testamento) dá outros detalhes, declarando: “A etimologia é controversial; . . . peritos modernos defendem uma ligação com therap- (‘servir’). . . . Pode-se também notar uma distinção de significado. O bom sentido é ‘zelo religioso’ . . ., ‘adoração de Deus’, ‘religião’. . . . Mas há também um mau sentido, i.e., ‘excesso religioso’, ‘adoração errada’”. Assim, threskeía pode ser traduzido tanto por “religião” como por “forma de adoração”, boa ou má.
Essa palavra aparece apenas quatro vezes no Novo Testamento. O apóstolo Paulo usou-a duas vezes para referir-se à religião falsa. At. 26:5 registra sua declaração de que, antes de tornar-se cristão, “vivi fariseu conforme a seita mais severa da nossa religião“. Em sua carta aos colossenses, ele alertou: “Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos” (Cl. 2:18) Essa adoração de anjos aparentemente era comum na Frígia daqueles dias, mas era uma forma de religião falsa. Curiosamente, ao passo que algumas traduções da Bíblia traduzem threskeía por “religião”, em Cl. 2:18, a maioria usa a palavra “adoração”.
“Pura e Imaculada” do Ponto de Vista de Deus
As outras duas ocorrências da palavra threskeía se dão na carta escrita pelo discípulo Tiago, membro da igreja do primeiro século. Ele escreveu: “Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tg. 1:26, 27).
Tiago mostra que a pessoa talvez se considere verdadeiramente religiosa, não obstante, a sua forma de adoração talvez seja fútil. A palavra grega aqui traduzida “fútil” significa também “ociosa, vazia, infrutífera, inútil, impotente, desprovida de verdade”. Poderia ser assim no caso de alguém que afirmasse ser cristão mas não refreasse a sua língua nem a usasse para glorificar a Deus e edificar outros cristãos. Estaria “enganando seu próprio coração”, e não estaria praticando “a religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus”. (Almeida) O que vale é o ponto de vista do Senhor.
Tiago não enumera todas as coisas que Deus exige com relação à adoração pura. Em consonância com o tema geral de sua carta, que é a fé provada por meio de obras e a necessidade de manter-se livre da amizade com o mundo de Satanás, Tiago realça apenas dois requisitos. Um deles é “cuidar dos órfãos e das viúvas nas suas tribulações”. Isto envolve o verdadeiro amor cristão. Deus sempre tem demonstrado preocupação amorosa pelos órfãos e pelas viúvas. (Dt. 10:17, 18; Ml. 3:5) Uma das primeiras medidas dos apóstolos da Igreja do primeiro século, foi em favor de viúvas cristãs. (At. 6:1-6) O apóstolo Paulo deu instruções detalhadas a respeito de zelar amorosamente pelas viúvas idosas, necessitadas, que se haviam mostrado fiéis ao longo dos anos e que não tinham família que as ajudasse. (ITm. 5:3-16).
“Guardar-se incontaminado do Mundo”
O segundo requisito para a religião verdadeira mencionado por Tiago é “guardar-se incontaminado do mundo”. Jesus declarou: “Meu reino não é deste mundo”; coerentemente, seus seguidores verdadeiros não fariam “parte do mundo”. (Jo. 15:19; 18:36)
Outros Traços da Religião Verdadeira
9 Se religião é ‘reverência a um poder sobre-humano reconhecido como criador e governante do universo’, certamente a religião verdadeira tem de dirigir a adoração ao Deus verdadeiro. O apóstolo Pedro declarou: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome (Jesus Cristo), dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At. 4:8-12) Portanto, a religião pura que oferecerá sobrevivência para o novo mundo de Deus tem de inspirar fé em Cristo e no valor de seu sacrifício expiatório. (Jo. 3:16, 36; 17:3; Ef. 1:7) Além disso, tem de ajudar os adoradores verdadeiros a se submeterem a Cristo qual Rei reinante de Deus e ungido Sumo Sacerdote. — Sl. 2:6-8; Fl. 2:9-11; Hb. 4:14, 15.
A religião pura tem de basear-se na revelada vontade do único Deus verdadeiro e não em tradições ou filosofias criadas pelo homem. Nada saberíamos sobre Deus e seus propósitos maravilhosos, nem sobre Jesus e seu sacrifício, se não fosse a Bíblia. Os cristãos instilam no povo uma inabalável confiança na Bíblia. Além disso, demonstram por meio de sua vida diária que concordam com a declaração do apóstolo Paulo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” — IITm. 3:16, 17.
A Religião Verdadeira — Um Modo de Vida
Jesus declarou: “Deus é Espírito, e os que o adoram têm de adorá-lo com espírito e verdade.” (Jo. 4:24) A adoração pura é espiritual, baseada na fé. (Hb. 11:6) Esta fé, porém, tem de ser apoiada por obras. (Tg. 2:17) A religião verdadeira adere às normas da Bíblia sobre moral e bons costumes (ICo. 6:9, 10; Ef. 5:3-5. Seus praticantes empenham-se sinceramente em produzir os frutos do espírito de Deus na sua vida familiar, no trabalho secular, na escola, e até mesmo na recreação. (Gl. 5:22, 23) Os cristãos tentam jamais se esquecer do conselho do apóstolo Paulo: “ortanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (ICo. 10:31). A religião cristã não é mero formalismo; é um modo de vida.
Naturalmente, a religião verdadeira envolve atividades espirituais. Estas incluem oração pessoal e em família, o estudo regular da Palavra de Deus e de ajudas para o estudo bíblico, e assistir às reuniões da igreja cristã. Estas são iniciadas e encerradas com um cântico de louvor a Deus e uma oração (Mt. 26:30; Ef. 5:19).
Vimos anteriormente que certos estudiosos ligam a palavra grega traduzida por “forma de adoração” ou “religião” com o verbo “servir”. Curiosamente, o equivalente em hebraico, `avodháh, pode ser traduzido por “serviço” ou “adoração”. Para os hebreus, adoração significava serviço. E é isto o que significa para os verdadeiros adoradores hoje. Um sinal identificador muito importante e distintivo da religião verdadeira é que todos os que a praticam participam do serviço piedoso de pregar “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações” (Mt. 24:14; At. 1:8; 5:42). Que outra religião é conhecida mundialmente por seu testemunho público sobre o Reino de Deus como única esperança da humanidade?