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A Bíblia Pode Ter Erros? Reflexões de NT Wright

A Bíblia Pode Ter Erros? Reflexões de NT Wright

Por que essa discussão é importante?
Uma das questões mais debatidas na teologia cristã é se a Bíblia pode conter erros. Para alguns, a ideia de “inerrância bíblica” é um pilar inegociável da fé. Para outros, as Escrituras podem ser inspiradas por Deus e, ao mesmo tempo, refletir limitações culturais e humanas. Nesta entrevista, o renomado teólogo NT Wright aborda essa questão com profundidade, oferecendo uma perspectiva equilibrada sobre como interpretar a Bíblia.


O Que Significa “Erros” na Bíblia?

Dan (de Illinois):
“Se a Bíblia é a palavra de Deus, pode ela ter erros? E, se puder, como sabemos quais partes são verdadeiras?”

Tom Wright:
“Bem, depende do que você quer dizer com ‘erros’ e de como você lê os diferentes textos. Por exemplo, quando o salmista diz que Deus tem fumaça saindo de suas narinas, entendemos isso como poesia, não como uma descrição literal. Isso significa que Deus é vivo, ativo e se entristece quando coisas ruins acontecem no mundo. Mas, claro, eu não acho que Deus seja um velho cavalheiro engraçado com fumaça saindo de seus narinas.”

Reflexão: Muitas passagens bíblicas devem ser entendidas em seu contexto literário e cultural. Nem tudo é destinado a ser lido como uma descrição factual direta.


Gênesis e a Questão da Criação

Tom Wright:
“E quanto a Gênesis 1 e 2? Muitas pessoas veem esses capítulos como poesia ou narrativa simbólica, a única maneira que aquela cultura tinha de falar sabiamente sobre a criação. Se Gênesis 1 for visto como a construção de um templo — um céu e uma terra com uma imagem no centro — então isso não é uma descrição científica. Não está no mesmo nível do que alguém em um laboratório hoje diria sobre o Big Bang ou o que veio antes dele. É uma forma de dizer: ‘Este é o significado do mundo como o conhecemos, porque foi assim que Deus o criou.'”

Exemplo Prático: Quando lemos Gênesis, devemos nos perguntar: “Qual é o propósito teológico deste texto?” em vez de tentar forçá-lo a responder questões modernas sobre ciência.


Os Seis Dias da Criação e Outras Dúvidas

Tom Wright:
“Quando falamos dos seis dias da criação, muitas vezes essa é a questão principal, certo? Há um problema se houver, pelo menos à primeira vista, incoerências factuais aparentemente simples?”

“Lembro-me de entrevistar Bart Ehrman sobre sua jornada gradual para longe do cristianismo. Ele disse que a coisa que fez com que ele deixasse de ser um evangélico inerrantista foi quando foi reprovado em um trabalho tentando defender um versículo específico em Marcos sobre se o pão oferecido estava sob o sacerdote Fulano ou Sicrano. O professor simplesmente perguntou: ‘E se Marcos tiver errado?’ E isso desmoronou tudo para ele.”

Pergunta para reflexão: Será que nossa fé deve depender apenas da precisão factual de cada detalhe bíblico?


Interpretação e Contexto Histórico

Tom Wright:
“Outro exemplo que as pessoas citam repetidamente é o censo no início de Lucas. Lucas é frequentemente traduzido como dizendo: ‘Este foi o primeiro censo, realizado quando Quirino era governador da Síria.’ No entanto, minha própria tradução do Novo Testamento, desenvolvida junto com John Goldingay, traz uma interpretação diferente: ‘Este foi o primeiro censo antes do realizado quando Quirino era governador da Síria.’ A palavra grega protos com genitivo pode significar ‘antes’, não apenas ‘primeiro’. Então digo: ‘Este foi o primeiro censo, mas foi antes do outro.'”

“O problema apontado aqui é que, segundo o historiador judeu Josefo, sabemos quando Quirino foi governador da Síria, e isso não combina com a cronologia de Lucas. Muitas pessoas usaram isso como parte de seu argumento de que as histórias do nascimento foram inventadas mais tarde e estão erradas. Claro, é possível que Josefo tenha se equivocado, mas essa é outra questão.”


Biografias Antigas vs. Modernas

Tom Wright:
“Acho que precisamos relaxar em termos de, por exemplo, a ordem dos eventos. Quando Jesus vai a Jerusalém, amaldiçoa a figueira, entra no templo e sai, e a figueira já está murcha, Marcos organiza essa história de uma maneira, Mateus de outra. Isso importa? Realmente não importa.”

“Há um trabalho interessante feito sobre isso por Mike Licona, baseado em Richard Burridge, mostrando que era assim que se escrevia biografia naquela época. Eles rearranjavam o material. É assim que escrevemos biografias hoje também. Muitas biografias modernas organizam grande parte do material tematicamente, cortando para frente e para trás na cronologia.”

Insight: A Bíblia não foi escrita como um manual científico ou histórico moderno. Ela foi moldada por convenções literárias antigas que priorizavam o significado teológico sobre a precisão factual.


Conclusão: Como Devemos Ler a Bíblia?

A discussão sobre possíveis erros na Bíblia não é nova, mas continua relevante. NT Wright nos convida a considerar que a Bíblia é tanto um livro humano quanto divino. Ela reflete as limitações de sua época, mas também carrega uma mensagem eterna sobre quem Deus é e qual é o propósito da vida.

Chamada para Reflexão: Como você lê a Bíblia? Você busca respostas literais ou procura entender o significado mais profundo por trás de cada texto?


Referências Recomendadas

  • Livro sugerido: Why Are There Differences in the Gospels? por Mike Licona.

Poderá ver o vídeo no youtube Aqui

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