Pular para o conteúdo

A Bíblia: mito ou história?

Medieval_bulgarian_bible———————————————————————–
ABSTRATO: “Sim e Não” é a resposta de Peter Kreeft a tantos textos de religião que deixam os estudantes pensando que religião é algo estúpido e enfadonho. O livro de Kreeft faz fortes perguntas e dá respostas convincentes. Neste artigo, Carlos é um cristão e João um cético.
———————————————————————–

João: Carlos, posso lhe fazer uma pergunta pessoal?

Carlos: Prossiga, João. Somos amigos, certo?

João: Como você sabe tanto de Deus? Você sabe tudo de teologia?

Carlos: Não, não. Sou uma pessoa comum.

João:
Você deve ter feito algum curso de religião de alto nível em algum lugar.

Carlos: Não. . .

João:
Então você deve ter lido centenas de livros.

Carlos: Não, João. De fato, o que eu sei de Deus sem dúvida vem só de um livro. Na realidade, o que a raça humana inteira sabe de Deus, não de um modo especulativo ou conjetural, vem de um livro.

João: A Bíblia, você quer dizer?

Carlos: Sim.

João: Você realmente acredita que este livro lhe dá todos os fatos sobre Deus?

Carlos: Todos os fatos? Claro que não. Como poderíamos ter todos os fatos sobre o Infinito? Nenhum de nós pode ter conhecimento completo de Deus mais do que um molusco pode ter conhecimento completo de nós. Na realidade, é menos porque a diferença entre nós e os moluscos é finita, mas a diferença entre nós e Deus é infinita.

João: Alguns fatos, então?

Carlos: Sim. O que ele nos contou.

João: Você acha que tem alguns fatos reais lá na Bíblia, né?

Carlos: Eu não sei o que você quer dizer por “fatos reais”.

João:
Como a ciência material nos dá.

Carlos: Não. A ciência mede coisas. Nós não podemos medir Deus.

João: Assim é só mito, então.

Carlos: Não, é verdade.

João: Você realmente quer dizer você acha que Deus se senta lá em cima no céu em um trono dourado e tem uma mão direita e é bravo?

Carlos: Não. Isso é linguagem poética. Mas você pode contar a verdade mesmo com frases poéticas. Deus realmente é exaltado— não fisicamente, no espaço, no céu. Deus realmente rege o Universo, não de um trono dourado físico. Deus tem todo o poder só que Ele não tem o mesmo tipo de força como Muhammad Ali tinha na mão direita. E Deus realmente quer que nós façamos o bem e não o mal apesar Dele não ficar histérico e vermelho na face.

João: Então tudo isto é só simbolismo.

Carlos: Mas verdadeiro simbolismo. Não só uma história, como Papai Noel.

João: Você admite que a Bíblia inteira é um simbolismo poético, não história literal.

Carlos: Não, eu não disse isso. Eu disse que a linguagem usada para descrever Deus tem que ser simbólica. Deus não pode ser descrito literalmente porque nós não podemos vê-Lo. Ele não tem um corpo físico. Mas há muitas coisas na Bíblia que são descritas -coisas  que nós podemos literalmente ver.

João: Como você pode dizer como separar na Bíblia o que é simbólico do que é literal? Não é só sua opinião pessoal?

Carlos: Não, há um padrão objetivo.

João: Bem, qual?

Carlos: É bastante simples, na verdade. A linguagem sobre coisas visíveis são literais e a linguagem sobre coisas invisíveis são simbólicas.

João: Então a história da Criação do mundo em Gênesis é literal? São sobre coisas visíveis, o Universo.

Carlos: Mas antes da Criação de Adão e Eva não havia nenhum olho humano para ver. Assim, o relato não é um depoimento de uma testemunha ocular. É verdade, mas não literal. Por exemplo, os “6 dias” da Criação não têm que ser de 24 horas.

João: E o último livro na Bíblia, o livro de Apocalipse—todo aquele texto sobre o fim do mundo, cavalos e montanhas ardentes que passam pelo céu e anjos que assoam trompetes—isso não literal, certo?

Carlos: Certo. É simbolismo. Mas é verdade. Acontecerá, da mesma maneira que a Criação aconteceu.

João:
Mas não é literal porque ninguém pode ver o futuro.

Carlos: Bem, as profecias do futuro podem ser literais. Você poderia predizer algo literalmente. Algumas passagens na Bíblia fazem isto. Por exemplo, o Velho Testamento  prediz dúzias de detalhes específicos sobre o Messias que aconteceu, literalmente, para Jesus, como ser vendido por 30 moedas de prata, e ter suas roupas sorteadas.

João: Estou querendo saber se você interpreta as histórias de milagres literalmente ou não.

Carlos: Se eles são literais, sim.

João: Como o dilúvio de Noé, as dez pragas no Egito e a passagem do Mar Vermelho? E todos os milagres de Jesus? E a Ressurreição? Foi literal?

Carlos: Sim.

João:
Bem, eu não posso.

Carlos: Não pode o quê?

João: Acreditar nas histórias de milagres. Assim, se eu não as interpreto literalmente, as interpreto simbolicamente.

Carlos: Você está confuso, João.

João: Você quer dizer que você acha que eu estou errado. Mas eu não estou confuso. Eu sei no que eu acredito e no que eu não acredito.

Carlos: Não, eu quero dizer você está confuso. Você está confundindo duas perguntas diferentes: interpretação e crença.

João: O que quer dizer?

Carlos: A questão da interpretação é: O que o escritor quis dizer? A questão da crença é: você concorda com ele? A questão da interpretação é: o que a Bíblia afirma ser verdadeiro? A questão da crença é: você realmente acredita no que é verdadeiro?

João: Bem, eu interpreto a Bíblia de acordo com minhas crenças.

Carlos: Mas esta é a sua confusão, João. Suponha que eu li um discurso de Hitler dizendo que nós deveríamos criar uma super-raça alemã e matar todos os judeus. Suponha que eu não acreditasse e interpretasse o discurso de acordo com minhas crenças e disse que o que o discurso queria dizer que todas as raças eram iguais e nós deveríamos amar um ao outro. Você vê como eu seria confundido?

João: Não sobre raça, ou amor.

Carlos: Mas sobre o que Hitler quis dizer.

João: Oh. Sim. Mas não seria bom melhorar este terrível discurso?

Carlos: Se você quer fazer um discurso, sim. Se você quer escolher no que acreditar, sim. Mas se você quer saber o que Hitler quis dizer, não. Esta é sua confusão. Você acha que as histórias da Bíblia sobre milagres são falsas. Por que não diz assim, então? As histórias de milagre tem de ser ou mentiras ou verdadeiras. Elas não podem ser mito. Elas não são míticas, poéticas, ou simbólicas.

João: Mas eu acho que são. O que poderia ser mais poético e simbólico que a vida vindo da morte— a Ressurreição de Jesus é como a primavera. E a passagem do Mar Vermelho por Moisés é só um símbolo perfeito por superar a morte, ou qualquer obstáculo. Há todos os tipos de significados poéticos e simbólicos nos milagres.

Carlos: Eu concordo. Mas isso não significa que eles também não foram literais. Eles são sinais. Mas se um sinal não estiver ali—se não existir um poste de madeira para o sustentar – então não pode simbolizar nada, pode? Assim, se Moisés realmente não cruzou o Mar Vermelho, não é um sinal verdadeiro de qualquer coisa. Eu acredito que os milagres são sinais e símbolos, certos. Mas eu também acredito que eles realmente aconteceram. Eles não são só histórias, mitos. Você acha que é isto o que eles são, certo?

João: Certo.

Carlos: Assim você concorda com os desmitologistas.

João: O que é isso?

Carlos: A palavra foi feita por um teólogo alemão chamado Rudolf Bultmann. Significa que as histórias de milagre são só mitos, e que nós deveríamos acreditar no resto da Bíblia, mas não nos mitos. Muitos teólogos acreditam nisso. Muitos rabinos, padres e ministros também. Alguns escritores de livros catequéticos também.

João: Então estou em boa companhia.

Carlos: Não, em numerosa companhia. A verdade não é encontrada contando narizes. Eu acreditaria em Deus mesmo se só alguns seres humanos acreditassem comigo, ou que acreditasse como milhões de humanos mas discordasse de Deus.

João: Bem, o clero não ensina desmitologia? Você disse que muitos rabinos, ministros e padres acreditam nisto. Eles são hereges?

Carlos: Tecnicamente, sim. Se eles discordam com os ensinos essenciais da Bíblia. Mas a palavra herege não é usada tanto.

João: Você queria queimar os hereges, como a Inquisição?

Carlos: Claro que não. Você pode ensinar uma idéia certa sem querer queimar as pessoas que são contra.

João: Eu estou alegre de ouvir isso. Porque acho que sou um herege. Eu acho que não conseguiria concordar com nada que a Igreja diz.

Carlos: Então você tem suas razões por ter discordado?

João: Certamente.

Carlos: Eu acho que você pode adivinhar qual vai ser minha próxima pergunta.

João: Nós estamos falando sobre as razões daquela conversa que tivemos sobre milagres.

Carlos: Sim. Tudo está ligado. Se não houver nenhum Deus sobrenatural com o poder agir milagres, então os milagres não podem acontecer. Se os milagres não podem acontecer, então Cristo não ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, a história é só um mito, e o desmitologistas estão certos (apesar de que eles ainda estão confundindo as duas questões de interpretação e crença; eles deveriam dizer que a história é uma mentira, não um mito.) Você tem qualquer outra razão, qualquer razão para ser um desmitologista da Bíblia?

João: Sim. Eu tenho lido alguns livros sobre isto, e acho que eu achei pelo menos quatro boas razões para ser cético sobre a Bíblia.

Carlos: Prossiga. Quais são elas?

João: Em primeiro lugar, há o que eles chamam “crítica formal”. Isso significa que você não deveria interpretar um texto isoladamente, mas dentro de sua forma literária. Se a forma for poesia, mito ou parábola, você não deve interpretá-lo literalmente.

Carlos: Este é um bom princípio. Assim, aplique-o também a descrições de testemunhas oculares e narrativas históricas, interpretando-as literalmente, da mesma maneira que você interpreta simbolicamente o simbolismo. As histórias de milagre têm a forma de história, não mito.

João: Não. E esse é o meu segundo ponto: as semelhanças entre as histórias de milagre da Bíblia e os mitos. Elas são cheias de magia. E tem vários simbolismos de magia: dez pragas, quarenta dias de jejum, três dias no túmulo.

Carlos: Você quer dizer que não pôde ter havido jejum de quarenta dias e pragas que não fossem outro número senão dez? Ou que se Jesus tivesse passado quatro dias no túmulo você talvez iria acreditar?

João: Bem, não. Mas nós não devemos distinguir duas questões diferentes, a questão da crença e a questão da história? Esse é meu terceiro ponto. Se Moisés realmente cruzou o Mar Vermelho ou não não é importante; isso é questão da história. O importante é se Deus estava ou não lá; o ponto da Bíblia é religião, não história.

Carlos: Mas a religião da Bíblia depende da história. Seu Deus trabalha na história. Sua distinção entre história e religião se refere mais às religiões orientais, mas não às ocidentais. Não é importante se Buda viveu; a única coisa importante é meditação e a prática que Buda deixou. Mas o cristianismo é diferente: é sobre Cristo. Se Ele não viveu, ou nunca morreu e ressuscitou, então o cristianismo simplesmente é uma mentira. Você não é honesto o bastante para chamar isto assim, se é o que acredita?

João: Mas tem tantos bons livros sobre ética e amor.

Carlos: Todo mundo já sabe disso, embora não pratiquem. Lembre-se de nossa primeira conversa? Se ética é tudo aquilo que o cristianismo significa, esqueça.

João: Por que?

Carlos: Porque ele só estaria copiando todas as outras boas filosofias e moral. Ele é diferente; ele afirma ser histórico, verdadeiro, com “Boas Novas”: que Deus veio para a Terra, morreu na cruz e ressuscitou para nos Joãovar do pecado, morte e Inferno.

João: Isso é o que você diz que é.

Carlos: Isso simplesmente é o que o cristianismo é e sempre foi desde o princípio. Se você não acredita, você não é um cristão. Concordar com a ética de Jesus não lhe faz cristão mais que concordar com as éticas de Buda e ser um budista.

João: Bem, eu acho que terei de dizer que não sou cristão, então.

Carlos:
Bom! Esse é o primeiro passo para se tornar um.

João: Mas eu ainda tenho outra razão para não acreditar nas histórias da Bíblia. Nós não terminamos meus quatro pontos, lembra-se?

Carlos: Desculpe. Qual é o quarto?

João: Há contradições na Bíblia. Elas não podem ser verdadeiras.

Carlos: Fale uma.

João:
Jesus pregou o Sermão no monte, como o Mateus relata ou em ocasiões diferentes, como relata Lucas?

Carlos: Por que não podia ser ambos? Em todo caso, Mateus não disse que Jesus disse tudo imediatamente, ele só disse o que Jesus disse.

João:
Bem, e sobre o sinal na cruz? Quantas palavras tinha na placa em cima de Jesus? Cada um dos quatro Evangelhos tem uma versão diferente.

Carlos:
Por que todos eles não podem ser certos? Alguns estavam resumidos, como os artigos da Seleções do Reader’s Digest. Se estivesse escrito: “Este é Jesus de Nazaré, Rei dos judeus” e o relato diz “Rei dos judeus” não é falso, só resumido. O ponto essencial é o mesmo. Mostre-me uma única contradição sobre um ponto essencial substancial, não só um assunto de estilo verbal.

João: Bem, eles são diferentes, de qualquer maneira.

Carlos: O mesmo fato que os quatro Evangelhos contam a mesma história de modos diferentes é forte evidência que a história é verdadeira—como quatro testemunhas contando a história no tribunal de quatro modos diferentes. Se eles concordassem palavra para palavra, você pensaria que eles tinham combinado. As diferenças não chegam a contradições. E os quatro Evangelhos concordam notavelmente— muito mais que qualquer outro documentos antigo sobre qualquer outro evento antigo.

João: Mas as histórias que há lá já aconteceram há tanto tempo—não é provável que os relatos foram falsificados, como quando sentamos numa festa e contamos histórias? —até que chegue a décima pessoa a história já aumentou de tamanho.

Carlos: Por isso a Igreja escreveu isto na Bíblia, e preservou este livro com infinito cuidado.

João: Bem, mesmo assim, não importa com quanto cuidado o livro seja preservado. É só um livro. Escrito por seres humanos. Só são idéias de humanos sobre Deus.

Carlos: Esta é a questão essencial sobre a Bíblia: são nossas idéias sobre Deus ou são as idéias de Deus sobre nós? É a Palavra de Deus a nós ou nossas palavras sobre Deus?

João: Sim, essa é a questão essencial. É como a questão sobre Deus: Ele nos criou na à Sua imagem ou nós o criamos à nossa imagem?

Carlos:
Sim, e é como a questão essencial sobre a história cristã: É a história de nossa procura por Deus ou a história da procura de Deus por nós? É Deus vindo em Cristo, o “único caminho” ou isto nós estamos tentando chegar a Deus, com Cristo sendo só um dos muitos meios humanos para se chegar a Deus, mais uma das muitas religiões feitas pelo homem?

João: Pelo menos nós temos as questões diretamente. E eu vejo que todas estas perguntas são partes de uma pergunta: a pergunta sobre se a Bíblia é a Palavra de Deus ou nossa, a pergunta sobre se Deus é o Criador ou foi criado por nós, a pergunta sobre se Cristo é o meio de Deus a nós ou nosso meio a Deus, e a pergunta sobre a religião cristã é um meio divino ou um dos muitos meios humanos. Tudo se liga.

Carlos: Eu deixei de responder quaisquer uma de suas razões para não acreditar na Bíblia?

João: Bem, não, não realmente.

Carlos: Então sua razão para não acreditar deve ser qualquer outra coisa daquilo sobre o qual nós falamos. Nós respondemos as perguntas, mas não seu motivo verdadeiro para responder  “não”.

João: O que você acha que é meu motivo verdadeiro? Você vai me analisar psicologicamente?

Carlos: Não, mas eu tenho uma boa hipótese. Só posso só lhe pedir que se pergunte honestamente se esta hipótese é certa ou não. Você quer acreditar nos desmitologistas, certo?

João: Certo.

Carlos: Por que? Porque você não acredita em milagres, certo?

João: Certo.

Carlos: E por que você não acredita em milagres? Porque se os milagres acontecem, então Cristo realmente ressuscitou dos mortos, sendo não só um ideal humano mas Deus— o Deus de todos. Seu Deus também, João. Então Ele tem intenções para sua alma e sua vida, aqui e agora. Você tem que estar na frente dele e se arrepender, se converter, pedir perdão, deixar ser seu Deus em vez de você ser seu próprio senhor. Isso não é uma coisa fácil ou confortável para fazer, e eu não estou tentando desanimá-lo a não fazer. Só estou tentando lhe ajudar a ser honesto com você e conhecer você mesmo. Só você pode responder a pergunta: qual é seu verdadeiro motivo par não crer? A razão que eu creio é porque nenhum de seus argumentos parece se manter em pé. O alicerce de suas crenças não estava em bases racionais. Todos seus argumentos podem ser respondidos. Você só escolheu acreditar que não há Deus, milagre, Ressurreição ou salvação.

João: Talvez sim. Carlos, somos amigos, assim nós temos que ser honestos entre nós. Gostei muito de que você falou – os argumentos podem ser mansos, mas os amigos podem dizer coisas duras a um ao outro. E eu tenho que ser honesto com você como você foi comigo: eu não sei.

Carlos: Esta é uma maravilhosa descoberta, João, que você não sabe. Esse é o começo da sabedoria.

O AUTOR 

Kreeft, Peter. “Science and Religion.” In Yes or No: Straight Answers to Tough Questions about Christianity (Ignatius Press: San Francisco, 1991 – ( Sim ou Não: Respostas Diretas para Perguntas Difíceis Sobre o Cristianismo), 41-48. Você pode encontrar o livro de Peter Kreeft aqui (em inglês):
Yes or No: Straight Answers to Tough Questions about Christianity

Peter Kreeft escreveu muito (mais de 25 livros) na área de apologética cristã. Ele ensina no Boston College em Boston, Massachusetts. Peter Kreeft faz parte do Conselho do Catholic Educator’s Resource Center.

Por: Peter Kreeft
Tradução: Emerson H. de Oliveira

© protegido por direitos autorais 1991 Ignatius Press

 

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Descubra mais sobre Logos Apologetica

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading