III. Fisiografia. Em geral se pensa que os hebreus pensavam que a Terra fosse uma vasta planície circular, curvada sobre por uma sólida abóbada – “o firmamento”- onde estavam as estrelas fixas e os “tesouros” (Jó 38.22) da chuva, neve e granizo, fazendo até mesmo alguns escritores tentarem expressar esta suposta concepção em forma de diagrama. Uma dessas melhores tentativas, reproduzida abaixo, é dada por Schiaparelli, em sua Astronomia do Velho Testamento.
ASTRONOMIA
1. O Círculo do Terra: Mas esta suposição na realidade está mais baseada nas idéias que havia na Europa durante a Idade Média do que com qualquer frase no Velho Testamento. A mesma palavra (chagh) usada no Velho Testamento para expressar o arredondamento dos céus (Jó 22:14) também é usada para falar do círculo da Terra (Is. 40:22), e das profundezas (Pv. 8:27). Agora é óbvio que os céus parecem ser esféricos e a um observador atento está claro que a superfície do mar também é arredondada. Não há nada que mostre que o hebraico considerava a Terra plana.
(1) o Terra como uma esfera. -certas relações astronômicas foram descobertas muito cedo. As estrelas parecem estar presas em um círculo giratório em volta da Terra em 24 horas, e isto foi conhecido pelo autor do Livro de Jó, e na realidade muito antes do tempo de Abraão, porque a formação das constelações não poderia ter sido efetuada sem este conhecimento. Mas a forma esférica dos céus quase envolve uma forma semelhante para a Terra, e sua rotação diurna certamente mostrava que eles não estavam ligados com o Terra, mas a cercavam em todos os lados a uma certa distância. A Terra devia estar suspensa de forma livre no espaço, e assim o Livro de Jó a descreve: “Ele estende o norte sobre o vazio e faz pairar a terra sobre o nada” (Jó 26:7).
(2) o norte estendido sobre vazio. – aqui o “norte” significa as constelações circumpolares do norte e o escritor sabia que eles se estiravam além dos extremos do Terra; de forma que ele de maneira alguma estava dizendo que os céus descansaram na Terra, ou era apoiado pelas montanhas. A esfera celestial cercava o Terra completamente, mas a uma distância dela; entre os dois havia o “espaço” vazio. Alguns comentaristas afirmaram que Jó 26:10 “Ele tem descrito um limite na face das águas, até os confim da luz e escuridão” é equivalente a uma circunferência da planície terrestre estendida para o lugar onde o mar e o céu se encontram. Mas nenhum homem inteligente pode, a qualquer hora, supôr que o horizonte do mar marcava a linha divisória entre o dia e noite, e o significado da passagem é corretamente dada pela King James Version: “até onde terminam o dia e noite”; em outras palavras, as águas do mar nunca mais serão limitadas para seu lugar designado para alagar a Terra tanto como os dias e as noites durarem (compare com Gn. 8:22; 9:15).
2. Os Pilares da Terra: erets, “a Terra” em geral é a superfície da Terra, a Terra seca habitada pelo homem e os animais. Por isso “os pilares” da Terra (Jó 9:6) são as pedras que estão na superfície, pois como foi mostrado, estava muito claro ao autor do Livro de Jó, e para os astrônomos primitivos, que nosso mundo não era apoiado no espaço.
3. O Firmamento: (1) a concepção hebraica. – sobre a Terra esférica o “firmamento” (raqia`) foi estendido no segundo dia da criação para “dividir as águas das águas” (Gn. 16). Aos hebreus, o “firmamento” era aparente vazio sobre o qual as nuvens flutuavam e os astros percorriam seus caminhos. O palavra raqia`, por sua etimologia, sugere uma expansão, algo estirado ou esparramou como quando Isaías (Is. 40:22) diz que o Senhor “estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar”. Mas a palavra grega stereoma, pela qual a Septuaginta lê raqia`, dá o sentido de uma estrutura firme e sólida, e os tradutores da King James levaram a mesma idéia em sua tradução inglesa de “firmamento”.
(2) a concepção alexandrina. no entanto, a Septuaginta expressou a ciência astronômica conhecida em sua época em Alexandria, onde a doutrina de uma sucessão de esferas cristalinas sólidas, cada tendo um planeta, era ensinada. Mas para expressar a idéia hebraica, raqia` deveria ser lido “expansão” ou “espaço”; isto corresponde ao “espaço” vazio de Jó 26:7. Esta “expansão” foi designada para dividir “as águas que estavam sob a expansão, das águas que estavam sobre a expansão”; e diz-se que as águas superiores deviam ter sido como um grande resevatório, fornecido com comportas que poderiam ser abertas para que a chuva caísse.
4. As janelas do céu: vemos na história do Dilúvio que “as janelas do céu” são abertas. Mas ‘arubbah’ (janela), significa uma rede ou grade, uma forma que nunca pode ter sido usada para falar de uma comporta literal; e nas outras passagens onde são mencionadas “janelas do céu”, a expressão é metafórica (IIRe. 7:2,19; Is. 24:18; Ml 3:10).
5. Chuva: Há numerosas outras referências para chuva ligadas às nuvens, como “às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela” (Is. 5:6), ou no cântico de Débora: “As nuvens derrubaram água” (Jz. 5:4; também veja Sl.77:17; 147:8; Pv. 16:15; Ec. 12:2). A idéia fantástica de cisternas com comportas construídas no céu não tem nenhuma base nas Escrituras. Assim, longe dessa ideia errada, há uma na Bíblia um relato muito claro da circulação atmosférica. Eliú descreve o processo de evaporação: “Porque atrai para si as gotas de água que de seu vapor destilam em chuva, a qual as nuvens derramam e gotejam sobre o homem abundantemente” (Jó 36:27-28).
6. Nuvens: Jeremias e o salmista repetem a descrição, “Fazendo ele ribombar o trovão, logo há tumulto de águas no céu, e sobem os vapores das extremidades da terra; ele cria os relâmpagos para a chuva e dos seus depósitos faz sair o vento” (Jr. 10:13). Pela distância que as nuvens estavam pareciam se formar no horizonte, “nos confins da Terra”, de onde elas se elevam ao zênite. Assim Deus “é o que chama as águas do mar e as derrama sobre a terra” (Am. 9:6) e “Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr” (Ec. 1:7). Outras referências para as nuvens no Livro de Jó não revelam só observação mas também reflexão. “Tens tu notícia do equilíbrio das nuvens e das maravilhas daquele que é perfeito em conhecimento?” (Jó 37:16) indica uma percepção que as nuvens flutuam, cada uma em seu próprio lugar, a seu próprio nível, perfeitamente equilibradas no ar.
7. Abismos: (1) significado da palavra. –Tehom, “profundeza”, significa água móvel, e conseqüentemente, o oceano, que é representado como os oceanos que hoje conhecemos – “que as águas sob os céus se reúnam em um só lugar” (Gn. 1:9). E a Terra é estirada “sobre as águas” (Sl. 136:6; 24:2). Quer dizer que a superfície das águas ficam um pouco abaixo da superfície da terra; e não só assim, mas, dentro da substância da própria Terra, há águas subterrâneas que formam um tipo de oceano oculto. Isto também é chamado em Ez.31:4 de “profundezas” – tehom; “As águas o fizeram crescer, as fontes das profundezas da terra o exalçaram”. Mas em geral tehom denota o mar, como quando os capitães do faraó foram submergidos no Mar Vermelho, “as profundezas os cobriram” (Ex 15:5). Na realidade, a palavra parece ser uma onomatopéia derivada do som do mar; ‘erets, a “Terra” parece representar “uma matraca”, o “som de uma praia sendo rebentada pelas ondas”.
(2) o dragão babilônico do Caos. -em Gn. 1, tehom denota as águas primitivas e a semelhança com a palavra Tiamat, o nome do dragão babilônico do caos, fez alguns comentaristas darem uma origem babilônica a este capítulo. Quase não se precisa mostrar que se esta semelhança prova alguma ligação entre as histórias da Criação hebraica e babilônica, provando que o hebraico é o original. O objeto natural, tehom, o mar, deve ter precedido a personificação mitológica disto.
CANTOS DA TERRA
Os “cantos” ou “extremidades” da Terra são suas “asas” (kanephoth ha-‘arets), i.e. suas bordas ou extremidades. A palavra em geral significa asa, porque uma pássaro cobre com sua asa seu filhote e por isto é usada para dar a noção de extremidade de alguma coisa. É assi em Dt. 22:12: “Farás borlas (asas) nos quatro cantos do manto com que te cobrires”. Também significa as costas ou limites da superfície da Terra; suas extremidades. É traduzida como “cantos em Is. 11:12; “confins” em Jó 37:3 e 38:13. Os “quatro cantos” da Terra (Is. 11:12) ou “terra” (Ez. 7:2) simplesmente são as fronteiras da terra (de Israel) naos quatro pontos cardeais.
ABÓBADA DA TERRA
(volt): em uma passagem lemos que Deus “fundou sua abóbada (‘aghuddah) na Terra ” (Am. 9:6). Não é certo se esta cúpula ou abóbada se refere à Terra, ou para os céus acurvados nela. Esta última é a interpretação mais comum, mas em qualquer caso, a referência se refere mais à força da estrutura do que para sua forma; a palavra significa algo que é colocado junto, um arco ou cúpula por causa de sua estabilidade.
LITERATURA. –Maunder, Astronomia da Bíblia,; Astronomia sem um Telescópio; Schiaparelli, Astronomia no Velho Testamento,; Warren, As Cosmologias mais Antigas, 1909.
Fonte: International Standard Bible Encyclopaedia, Electronic Database Copyright (c)1996 by Biblesoft)
Tradução: Emerson de Oliveira