- Um milagre é um evento cuja única explicação adequada é a intervenção direta e extraordinária de Deus.
- Existem inúmeros milagres bem testificados.
- Portanto, existem inúmeros eventos cuja única explicação adequada é a intervenção direta e extraordinária de Deus.
- Portanto, Deus existe.
Obviamente, se acreditamos que algum evento extraordinário é um milagre, então acreditamos na atuação divina e acreditamos que tal atuação estava operando para que o evento acontecesse.
Mas a questão é: esse evento foi realmente um milagre? Se os milagres existem, então Deus tem de existir. Mas será que milagres realmente existem? Que eventos escolhemos para caracterizar como milagres?
Em primeiro lugar, milagres precisam ser feitos sobrenaturais ou acontecimentos extraordinários. Existem muitos acontecimentos extraordinários (como as chuvas de granito, de meteoro) que não se qualificam como milagres. Por que não? Primeiro, porque eles podem ser causados por algum fenômeno natural; em segundo lugar, porque o contexto em que ocorreram não era religioso. Esses eventos podem ser qualificados como singulares, estranhos (o tipo de coisa que podemos esperar ver em programas como o Acredite se Quiser), mas, para serem considerados um milagre, precisam ter conotação religiosa, estar relacionado à fé que alguém depositou em Deus.
Agora, suponha que um homem santo fosse para o centro da cidade de Houston e pregasse: “Queridos irmãos e irmãs, vocês têm levado uma vida pecaminosa! Avaliem a si mesmos! Deus deseja que vocês se arrependam! E como sinal de sua insatisfação, Ele revelou que irá lançar pedras sobre vocês!” Então, momentos depois — tum, tum tum! —pedras começam a cair do céu. A palavra milagre poderia facilmente vir à nossa mente. Por quê? Pelo acontecimento estar relacionado à mensagem (e à fé) religiosa.
Isso não significa que todos teriam obrigatoriamente de acreditar em Deus para testemunhar um evento como esse. Mas, se aquele homem parecesse um profeta genuíno e sua mensagem tocasse as pessoas, fazendo-as pensar que ele estava falando a verdade, seria muito difícil considerar o que aconteceu com um mero engano ou uma coincidência extraordinária.
As circunstâncias de um suposto milagre são extremamente importantes. Não apenas as circunstâncias físicas e o momento em que acontecem, mas as circunstâncias pessoais também são fundamentais—o caráter e a mensagem da pessoa a quem o evento está diretamente ligado.
Tomemos, por exemplo, quatro ou cinco milagres relatados no Novo Testamento. Se os retirássemos completamente do seu contexto, afastando-os do ensino e do caráter de Cristo, seria errado achar que o significado religioso ficaria grandemente reduzido? Sim, afinal de contas, dizer que determinado acontecimento foi um milagre é interpretá-lo religiosamente. Então, é necessário um contexto ou um conjunto de circunstâncias que estimule tal interpretação. E parte dessas circunstâncias geralmente envolve uma pessoa de autoridade moral e religiosa reconhecida, para que o milagre seja aceito como tal.
Discussões abstratas sobre probabilidade comumente desprezam esse fator. Entretanto, as circunstâncias não têm um papel tão decisivo. Muitos anos atrás, em uma convenção um tanto quanto monótona, um distinto filósofo explicou por que se tornara um cristão. Ele disse: “Peguei um exemplar do Novo Testamento com a intenção de analisá-lo, pesando os prós e os contras. Entretanto, quando comecei a ler, dei-me conta de que era eu quem estava sendo julgado”.
Certamente, aquele homem acreditou nos relatos dos milagres. Mas o caráter e o ensino de Cristo foram os fatores que o levaram a aceitar o que está descrito na Bíblia como atos genuínos de Deus. Portanto, não existe realmente uma prova a partir dos milagres. [É pela fé, aceitando as evidências, que chegamos à conclusão de que são verdadeiros.] Quando percebemos um evento como miraculoso, então cremos na intervenção de Deus nesse acontecimento.
Existe um caminho mental desde o acontecimento de um milagre até sua interpretação como tal. E o que estimula esse raciocínio não é apenas o evento em si, mas os muitos fatores que o circundam e que estimulam (inconscientemente) tal interpretação.
Os milagres acontecem. E realmente existem vários testemunhos confiáveis a respeito deles em muitas épocas, muitos lugares e muitas culturas.
Portanto, a Causa dos milagres também existe.
E a única Causa admissível para eles é Deus.
Portanto, Deus existe.
Esse argumento não funciona como prova, mas como um indício poderoso da existência de Deus.
Fonte: Manual de apologética, de Peter Kreeft e Ronald Tacelli