Ao observarmos o mundo, notamos que as coisas variam de diversas maneiras. Uma cor, por exemplo, pode ser mais clara ou mais escura do que outra; uma torta de maçã que acabou de sair do forno está mais quente do que outra que foi retirada horas antes; a vida de uma pessoa que oferece e recebe amor é melhor do que a de outra que não age assim.
Então, designamos as coisas com base em elas terem um grau maior ou menor de determinada característica. Quando o fazemos, naturalmente pensamos nelas com base numa escala que varia de um valor menor até outro maior. Pensamos, por exemplo, que um objeto mais claro aproxima-se do branco puro, e outro mais escuro está mais próximo da opacidade do preto. Isso significa que pensamos com base em várias “distâncias” a partir dos extremos, no grau (maior ou menor) em relação à medida dos extremos.
Às vezes, é a distância literal a partir de um extremo que faz toda a diferença entre ter ou ser mais ou menos. Os objetos, por exemplo, são mais quentes quando estão mais próximos de uma fonte de calor. Essa fonte comunica aos objetos o calor que estes possuem. Isso significa que a quantidade de calor é causada por uma fonte externa.
Agora, quando pensamos na bondade do seres, parte do que queremos dizer está relacionado simplesmente àquilo que eles são. Cremos, por exemplo, que uma existência relativamente estável e permanente é melhor do que uma que se mostre precária e efêmera. Por quê? Porque apreendemos em um nível profundo (mas nem sempre consciente) que o ato de ser é a fonte e a condição de todos os valores; logo, ser algo ou alguém é melhor do que não ser. E reconhecemos a superioridade inerente de todos esses modos de existência que expandem as possibilidades que nos libertam dos confinamentos da matéria, que nos permitem compartilhar, enriquecer e ser enriquecidos pela existência de outros seres e coisas. Em outras palavras, todos reconhecemos que um ser inteligente é melhor do que um não-inteligente; que um ser capaz de dar e receber amor é melhor do que um que não pode fazer isso; que nossa existência é melhor, mais rica e mais completa do que a de uma pedra, uma flor, uma minhoca, uma formiga ou até mesmo de um filhote de foca.
Entretanto, se esses graus de perfeição estão relacionados ao ato de existir e se esse ato é causado em criaturas finitas, então é necessário que exista um Ser melhor, uma fonte e um padrão verdadeiros de toda perfeição que reconhecemos. Este Ser absolutamente perfeito—a “Existência de todos os seres”, a “Perfeição de todas as perfeições” — é Deus.
Questão: O argumento pressupõe a existência de algo melhor e verdadeiro. Entretanto, todos os nossos julgamentos de valor comparativo não são meramente subjetivos?
Resposta: A própria formulação dessa pergunta já serve para respondê-la. O questionador não teria feito a pergunta a menos que pensasse ser melhor fazê-la do que não fazê-la, e realmente é melhor tentar encontrar a verdadeira resposta do que não procurá-la. É possível falar sobre subjetivismo, mas não podemos vivê-lo na prática.
Fonte: http://www.strangenotions.com/god-exists/
Tradução do livro MANUAL DE DEFESA DA FÉ – APOLOGÉTICA CRISTÃ, de Peter Kreeft e Ronald K. Tacelli