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20 argumentos a favor da existência de Deus – 10º. Argumento da percepção

20argumentosQuando nos damos conta da tremenda ordem e inteligi­bilidade presente no universo, travamos contato com algo que nossa inteligência pode apreender. A inteligência é parte do que encontramos no mundo. Entretanto, o universo não é, por si mesmo, intelectual­mente consciente. Por maiores que sejam as possibilidades da natureza, ela não sabe avaliar sua própria existência. No entanto, nós, seres humanos, temos a capacidade intelectual de conhecer as possibilidades da natureza e a nós mesmos.

O fato de o universo ser organizado de forma tão inteligente e harmônica, e de nós, humanos, sermos dotados de inteligência racional ratifica o Argumento do desígnio divino.

  1. De acordo com nossa experiência, percebemos que o universo é inteligível. Essa inteligibilidade significa que o universo pode ser assimilado pela nossa inteligência.
  2. O universo inteligível e a nossa mente finita adequada para assimilá-lo são produtos de uma inteligência superior.
  3. Tudo isso não veio a existir por mero acaso.
  4. Portanto, o universo inteligível e a nossa mente finita adequada para assimilá-lo são produtos de uma inteligência superior; de Deus.

Existem similaridades óbvias entre o Argumento do desígnio divirto e o Argumento da percepção, e muitos elementos que utilizamos para defender aquele podem também servir para este. Queremos agora focalizar nossa atenção na terceira premissa, a de que tudo o que existe não surgiu por mero acaso.

Quem conhece a obra Milagres, de C.S. Lewis, deve lembrar-se do argumento poderoso que o autor apresenta no terceiro capítulo contra o naturalismo e sua visão de que tudo — incluindo nosso pensamento e nosso julgamento—pertence a um sistema vasto e interligado de causas e efeitos meramente naturais. Lewis mostra que o naturalismo não oferece um bom motivo para acreditarmos que sua concepção seja verdadeira, porque todos os julgamentos seriam igualmente e em última instância resultado de forças naturais, não-racionais.

Essa linha de reflexão está baseada na terceira premissa que mencionamos anteriormente. Se a doutrina naturalista fosse verda­deira, o que chamamos de mero acaso seria a maneira como a natu­reza física operaria em última instância — isenta de qualquer plano racional e propósito. Portanto, o argumento de Lewis é coerente, e a terceira premissa de nosso argumento se sustenta, pois o mero acaso não pode ser a fonte de nossa inteligência.

Quando começamos a preparar este capítulo, ficamos tentados a citar todo o terceiro capítulo da obra Milagres, de C.S. Lewis. Nunca ouvimos uma declaração melhor do que a que Lewis apresentou! Estimulamos o leitor a consultar sua obra! Mas como conhecíamos uma argumentação mais sucinta e também instigante de H.W.B. Joseph, a qual acreditamos ter influenciado a declaração de Lewis, resolvemos citá-la esta aqui. Ela foi publicada pela Oxford University Press, em 1931; quase vinte anos antes da obra Milagres. Está no livro intitulado Some Problems in Ethics [Alguns problemas na ética]. Joseph era um catedrático de Oxford, anterior a Lewis, e este último certamente tinha conhecimento dos escritos daquele erudito. Sem dúvida, a declaração de Joseph desse argumento influenciou a de Lewis, que é bem mais elaborada.

Se o pensamento fosse meramente um movimento da laringe, como alguém poderia pensar de maneira mais verdadeira do que um mero sopro de vento? Todos os movimentos dos corpos são igualmente necessários, mas não podem ser discriminados como verdadeiros ou falsos. Parece sem sentido chamar um movimen­to de verdadeiro da mesma maneira que seria estranho falar em “sabor púrpura” ou “som avarento” Entretanto, o conceito óbvio que parece surgir quando afirmamos que o pensamento é um movimento corpóreo, parece igualmente demonstrar que ele é o efeito de tal movimento. O pensamento chamado de conhecimento e o pensamento chamado de erro são ambos resultados necessários de estados cerebrais. E esses estados são resultados necessários de outros estados corpóreos. Todos os estados corpóreos são igual­mente reais, e assim também os diferentes pensamentos; mas que direito temos de afirmar que meu pensamento é o conhecimento daquilo que é real nos corpos? Essa afirmação é apenas mais um pensamento, um efeito do movimento real corpóreo como os de­mais… Então, como esses argumentos, princípios do naturalismo científico […], podem permanecer sem serem desafiados, se são em si mesmos meros acontecimentos em uma mente, resultado de movimentos corporais; se o fato de achar que eles são corretos ou incorretos é apenas mais outro desses acontecimentos; se o fato de achar que não passam de mais um acontecimento em si mesmo também é ainda outro acontecimento semelhante aos anteriores?… podemos afirmar de qualquer base na qual tentemos provar isso como sendo verdadeiro: Labitur et labetur in omne volubilis aevum [Isso flui e continuará fluindo eternamente em círculos] (Horácio, Epístolas, 1,2,43, in: Some Problems in Ethics, p. 14,15).

Fonte: Manual de Apologética, de Peter Kreeft e Ronald Tacelli

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