Refutações ao “Contradições da Bíblia” – Lebres e coelhos ruminam?

Agora vamos refutar o “Contradições da Bíblia”, neste post sobre a alegação sobre Levíticos.  O texto do grupo está em azul e o meu em preto.

Bibliólatras frequentemente alegam que a bíblia em nada contraria a ciência, pelo contrário, dizem que ela antecipou certos conceitos científicos impossíveis de serem conhecidos na época da sua redação; o que seria uma prova da sua alegada inspiração divina.

Isso demonstra um tremendo desconhecimento do que é a Bíblia, sua finalidade e escrita tanto por parte desses religiosos em alguns pontos quanto por esses céticos apressados.  A Bíblia não tem por objetivo ser um manual de ciências naturais, astronomia avançada, astrofísica ou classificação animal. Seu objetivo é teológico, uma mensagem de revelação. Querer que a Bíblia seja um manual de ciências exatas é como tentar fazer um livro de culinária ser manual de pilotagem de ônibus espacial.

Mas mesmo assim a Bíblia não é tão estúpida como esses céticos querem. Mesmo que não seja um manual de ciências naturais avançado, ela não diz e relata os mesmos absurdos cosmogônicos em muitos aspectos como outras religiões diziam. Não é nosso mérito discutir isso agora. Vamos falar sobre isso em outro post. Agora vamos refutar esta alegação deles:

01) Lebres e coelhos ruminam – Levítico 11:5,6 e Deuteronômio 14:7;

Lv. 11,6 diz: “a lebre, porque rumina, mas não tem as unhas fendidas; esta vos será imunda”

O site do ateu Jim Meritt (que é muito mais profundo que esse grupo “Contradições da Bíblia”) alegou:

‘Gerah’, o termo que aparece no TM  significa ruminar, talvez grãos ou sementes. Não significa esterco, e há uma palavra hebraica exata para isso. Além disso, a frase traduzida como ‘ruminar’ na Bíblia quer dizer “expor o bolo alimentar”. Os coelhos não expelem nada;  a descrição dada em Levíticos é inexata, e é isso. Os coelhos comem seu próprio esterco; eles não expelem nada e os mastigam.

“TM” é o texto massorético, que foi uma tradução do Antigo Testamento.

O site ateu acima e o grupo “Contradições da Bíblia” estão bastante orgulhosos aqui  – pois ele usou, pela primeira vez – uma palavra hebraica para explicar o texto. Ora, ora, afinal, ele descobriu que a tradução da Bíblia é importante, afinal de contas. Infelizmente, ele não foi muito a fundo.

Precisamos ver duas coisas: a definição de “bolo alimentar” e “ruminar”. Vamos ver o hebraico destas duas palavras mais de perto. “Bolo alimentar” primeiro, “ruminar” depois.

Primeiro, “gerah” (ou “gehrah”) realmente é a palavra usada aqui, e – isto é importante – não aparece em nenhum outro lugar no AT além destes versículos de Levíticos e Deuteronômio. Nós só temos este contexto para nos ajudar a decidir o que significa em termos da lei mosaica.

Segundo, o processo que os coelhos usam chama-se refeição e não é só “esterco” que os coelhoscomem o que talvez mostre porque a palavra hebraica para “esterco” não é usada aqui. Toda vez que a palavra “esterco” aparece na Bíblia é para indicar algo sujo ou inútil. Mas na linguagem dos coelhos, “esterco” não é inútil: ele tem pelotas de comida parcialmente digerida que os coelhos mastigam (UGH!) para que possam extrair os nutrientes dos alimentos. (É um modo eficiente de adquirir vitaminas e nutrientes, mas eu acho que ficarei com meu Sucrilhos, muito obrigado.)

O Dicionário Internacional da Bíblia diz: “os coelhos não são ruminantes, mas poderiam dar essa impressão dada o fato do movimentos de seus lábios”. O mesmo diz o comentário da Bíblia TEB.

A palavra usada para “coelho” em Lv. 11,6 é arnebeth, que se refere a um tipo de animal extinto, que só existia nos tempos de Moisés. Não era ruminante e a maioria dos comentaristas concorda que o movimento de seus lábios era o que dava a impressão de serem ruminantes. Meritt caiu no mesmo erro que a questão anterior. A Bíblia não é um livro de biologia: não se preocupa em dar uma classificação atual dos animais, mas só que o que lhes era aparente.

A Lei dada mediante Moisés proibia a lebre como alimento, e menciona-a como ruminante. (Le 11,4, 6; De 14,7) As lebres e os coelhos, naturalmente, não têm um estômago de muitas cavidades ou de muitas partes, e eles não regurgitam o alimento para voltar a mastigá-lo, características estas ligadas à classificação científica dos ruminantes. No entanto, embora o termo hebraico aqui usado para ruminar literalmente signifique “trazer para cima”, a classificação científica moderna não era a base para o que os israelitas nos dias de Moisés entendiam por ‘ruminante’. Assim sendo, não há base para se julgar a exatidão da declaração bíblica através da concepção restrita e relativamente recente do que é um animal ruminante, como o fazem muitos críticos.
No passado, comentaristas que tinham fé na inspiração do registro bíblico não viam nenhum erro nessa declaração da Lei. Observou The Imperial Bible-Dictionary (O Dicionário Bíblico Imperial):

“É óbvio que a lebre, em repouso, mastiga vez após vez o alimento que ingeriu algum tempo antes; e este hábito sempre foi considerado popularmente como ruminar. Até mesmo nosso poeta Cowper, cuidadoso observador de fenômenos naturais, que registrou suas observações sobre três lebres que domesticou, afirma que elas ‘ruminavam o dia todo até a noitinha’.” — Editado por P. Fairbairn, Londres, 1874, Vol. I, p. 700.

A observação científica das lebres e dos coelhos em anos mais recentes, contudo, indica que está envolvido mais do que a aparente ruminação. Escreve François Bourlière (The Natural History of Mammals [História Natural dos Mamíferos], 1964, p. 41):

“O hábito da ‘coprofagia’, ou de fazer o alimento passar duas vezes pelos intestinos, em vez de apenas uma, parece ser um fenômeno comum nos coelhos e nas lebres. Os coelhos domésticos em geral comem, e engolem sem mastigar, seu excremento noturno, que constitui pela manhã quase a metade do conteúdo geral do estômago. No coelho-selvagem, a coprofagia ocorre duas vezes por dia, e relata-se que a lebre européia tem o mesmo hábito. . . . Crê-se que tal hábito provê esses animais de grandes doses de vitaminas B, produzidas por bactérias contidas no alimento que se acha no intestino grosso.”

Sobre o mesmo ponto, a obra Mammals of the World (Mamíferos do Mundo; de E. P. Walker, 1964, Vol. II, p. 647) comenta: “Isto pode ser similar à ‘ruminação’ dos mamíferos ruminantes.

 

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