Resposta ao Victor Cavalcanti

Um leitor chamado Victor Cavalcanti escreveu uma resposta a meu vídeo “Introdução ao humanismo secular”, ao qual posto aqui meus comentários à sua resposta. O arquivo original pode ser baixado aqui – (Crítica ao áudio-vídeo [Introdução ao humanismo secular]). Como de praxe, os textos de meu oponente estão em azul e o meu texto está em preto.

Encontrei, a meu ver, alguns erros nessa breve definição. Antes de tudo, o humanismo não é uma religião. O termo “Religião” provém do latim “religare”, que significa, exclusivamente, religação com deus e/ou deuses. E então encontramos um problema lógico, por dois motivos.

Vamos deixar uma coisa bem clara antes de começarmos para que possamos ter um diálogo bem claro. Antes de mais nada é preciso resolver um problema de definição. Meu oponente cita a definição da Wikipedia, a qual, apesar de ter boas informações, algumas vezes não é abrangente ou profunda em suas análises. O artigo ali claramente foi escrito de um ponto de vista ateu, ao qual vemos em vários parágrafos insinuado. A questão é que me refiro principalmente às bases dos primeiros Manifestos Humanistas e não ao atual. O humanismo atual é uma filosofia sem Deus que tem permeado o nosso governo e instituições, e tem-se tornado postulado nas nossas instituições educativas importantes. O humanismo em suas bases é uma religião, e o Supremo Tribunal definiu como tal em 1961 (Torcaso v Watkins, 1961. A palavra “religião” ou “religioso” ocorre 28 vezes no primeiro Manifesto, 1933). Enquanto o primeiro Manifesto é especificamente religioso, os documentos humanistas posteriores não são. No entanto, o humanismo democrático da Declaração Humanista Secular (1980), e do humanismo “planetário” de Paul Kurtz (Manifesto Humanista 2000) , não contradizem as principais premissas do primeiro Manifesto.

O Manifesto inicial declara ainda mais claramente ser uma empresa religiosa. A primeira seção (ou artigo) afirma: “os humanistas religiosos consideram o universo como auto-existente e não criado”(1933, grifo nosso.). Religiosos familiarizados com os objetivos e práticas do humanismo secular podem ficar surpresos com o elevado elogio da religião tradicional neste tratado seminal:

  As religiões sempre foram meios para a realização dos mais altos valores da vida. Seu final foi realizado através da interpretação da situação total circundante (teologia ou visão de mundo), o sentido dos valores daí resultantes (objetivo ou ideal), ea técnica (cult), estabelecido para a realização da vida satisfatória. Uma mudança em qualquer um desses fatores resulta em alteração das formas exteriores da religião. Este facto explica a mutabilidade das religiões através dos séculos. Mas através de toda a religião mudanças em si permanece constante em sua busca de valores permanentes, uma característica indissociável da vida humana. (Manifesto humanista, 1933, Prefácio, itens entre parênteses no orig.).

Assim, subsequentemente, como meu oponente não tem conhecimento ou não sabe dos outros manifestos humanistas, pensa que minha introdução se refere ao apregoado “humanismo” atual, que é mais “filosófico”. É preciso ter em mente que este vídeo é uma introdução e, como tal, parte do começo para o fim e não o contrário. Creio que é evidente o fato do desconhecimento de meu oponentes sobre os reais e iniciais (e atuais também) objetivos do humanismo secular, dado que não menciona aqui nenhum Manifesto, sendo que são a eles que me refiro. O humanismo secular a que me refiro não é essa definição simplista e ingênua de Wikipedia e sim o que está deliberadamente explícito na ideologia por trás de todo esse movimento.

O movimento do humanismo secular merece atenção porque promove uma ideologia imperiosa e abrangente. Como é o homem, e não Deus, a medida de todas as coisas, o humanista secular diz que sua abordagem para os valores e interesses dos seres humanos é a única consideração primária (ver Manifesto Humanista II, 1973). Esta forma anticristã do humanismo “vê-se como apontando o caminho para uma sociedade ideal” (Packer e Howard, 1985, p. 25) por moldar a religião para atender as necessidades subjetivas, naturais dos seres humanos. Neste sentido, o humanismo é uma religião, e o Supremo Tribunal definiu-o como tal em 1961, como demonstrei. Quanto mais perto se examina o humanismo secular, mais se encontra uma incoerência gritante de assustadoras implicações práticas.

I)  Se o humanismo secular é uma religião, o conservadorismo também é uma religião? Ou qualquer outra vertente filosófica que possui uma visão de mundo também é religião?

Já expliquei a que me refiro quando digo que o humanismo secular é uma “religião”. Em suas bases, não em seus documentos e alegações atuais, que são mais “filosóficas” (sic).

II) Se o humanismo secular é uma religião, então porque mais tarde, no vídeo, afirma-se que os humanistas seculares são ateus, agnósticos ou deístas? Lembrando que o deísmo, apesar de crer em deus, não é uma religião – pois deístas não acreditam que existe uma interação ou uma ligação entre deus e a humanidade.

O humanismo é uma crença ideológica, política e “religiosa” que nega a existência de Deus. Os ateus são humanistas, como adeptos da Nova Era, ateístas militantes e outros secularistas, além de muitos outros. O humanismo atual é predominante em nossos meios de comunicação, escolas e governo. O humanista religioso acredita que, como diz o Manifesto Humanista, que as religiões do mundo estão desatualizados devido a um conhecimento e experiência muito maiores, e são impotentes para resolver o problema da vida humana atualmente.  O humanismo secular é arrogante e elitista, assumindo que qualquer outra crença que não for humanismo secular é primitiva. Ele também se contradiz em sua opinião sobre a humanidade. Ele acredita que a religião é primitiva e que quem está suficientemente avançado não terá necessidade dela e mais de 80% da humanidade global se identifica com algum tipo de religião. Isso significa que 80% das pessoas na Terra, de acordo com os humanistas, são crédulos e ingênuos.

Meu oponente usa de um certo reducionismo. Ele achata várias camadas em uma. Eu não estou falando que o ateísmo é uma religião, assim como o humanismo atual (que é mais “filosófico” [sic]). Estou dizendo que a ideologia por trás do ateísmo é errônea (naturalismo, etc.). Isto sim tem bases mais originais e profundas que a simples rotulagem que meu oponente presume que faço. O ateísmo é somente a camada externa. O humanismo secular, o naturalismo e outras ideologias são o cerne disso.

Fred Edwords (1989), em  “O que é o humanismo?”, da Associação Humanista Americana, define:

O Humanismo Secular é uma consequência do racionalismo iluminista do século XVIII  e do livre-pensamento do século XIX … Os humanistas seculares e religiosos têm a mesma visão do mundo e os mesmos princípios básicos … Do ponto de vista da filosofia, não há diferença entre os dois. É apenas na definição de religião e na prática da filosofia que os Humanistas Religiosos e Seculares efetivamente discordam.

Espero tenha me feito entender.

Outro erro lógico é o seguinte, o humanismo secular não prega que o homem é autoridade final sobre todos os assuntos. Se ele pregasse isso, haveria uma discordância entre humanistas seculares versus ambientalistas. Coisa que não há! Pois muitos (e eu diria: a maioria) dos humanistas apoiam a conservação do meio-ambiente e são a favor da preservação de sistemas ecológicos e de animais que estão em extinção. Se o humanismo secular pregasse que o homem está acima de tudo, então ele pregaria que nós podemos urbanizar as áreas rurais e/ ou florestais, sem nos preocupar com os outros seres vivos presentes em tais áreas.

O seu problema é que analisa a questão pela superfície, de uma visão da definição simplista de Wikipedia em português. Não. Leia os Manifestos. Eu vou dispô-los na área de Downloads do Logos.
Os humanistas gostam de citar o antigo filósofo grego Protágoras que disse que “o homem é a medida de todas as coisas”. Com isso, ele queria dizer que é impossível descobrir uma verdade absoluta. Este raciocínio é incompatível com o cristianismo. O que eu quis dizer que “o homem é a autoridade final sobre todos os assuntos” não é nesse nível. O ideal Humanista Secular, o modelo humanista ou filosofia do humanismo secular não é novo. Ele significa, essencialmente, que o homem (e mulher) como autônomo, é o “centro de todas as coisas e do universo”. Hoje, ele serve como um pleno funcionamento da “religião secular” nas escolas e universidades e é disso o que falo. É preciso que, para entender melhor o meu vídeo, você entenda perfeitamente a história e trajetória do humanismo secular.

Outro erro lógico. O humanismo é ensinado nas escolas não por ser “a única religião permitida para fazê-lo”, e sim porque o humanismo prega a igualdade entre as pessoas. Prega que negros têm o mesmo direito que brancos, que homossexuais têm o mesmo direito que heterossexuais, e que não devemos ter preconceito com outras pessoas por causa de sua origem, escolha filosófico-religiosa ou a cor da roupa que ela veste, por exemplo.

Troque a palavra “religião” por “filosofia” e vai entender melhor e se acomodar, então. Leia os Manifestos humanistas e vai entender o que digo. Atualmente, tomado como “filosofia secular” humanista, as frases “tudo é relativo” e “não há absolutos” são duas que são geralmente o moto do relativismo humanista. A declaração “não existem absolutos” imediatamente nega os Absolutos do Criador. O homem é, portanto, deixado com um universo impessoal “relativista”, que é neutro e silencioso sobre Certo e errado ou o bem e o mal. Um universo relativista é silencioso sobre estas questões.
Como Van Til salientou, o homem está sempre trabalhando com “capital emprestado” porque Deus criou tudo o que os humanistas usam. O homem não é verdadeiramente autônomo como ele imagina. Isto torna-se o primeiro auto-engano do humanismo. A sua “definição” de humanismo é ingênua e simplista e de longe não expressa o que os parâmetros humanistas têm em seus manifestos. Você confunde a ideologia humanista secular com atos caritativos, igualitarismo. Ser humanista secular aqui não é o mesmo que ser humanitário. Está confundido os termos e por isso distorce o que eu disse em parte. Sua “definição” de humanismo não é a mesma que a minha, já que uso as fontes. Você usa de uma versão sanitizada do humanismo, confundindo com fraternidade e humanitarismo ético ou filantropo. Decididamente, não é isso o que é o humanismo secular, se visse as fontes.

Paul Kurtz, autor do Manifesto Humanista II, resume bem o coração do pensamento humanista secular:

“Os humanistas seculares podem ser agnósticos, ateus, racionalistas ou céticos, mas eles encontram evidências suficientes para se afirmar que existe um propósito divino para o universo. Eles rejeitam a ideia de que Deus interveio milagrosamente na história ou se revelou a uns poucos escolhidos, ou que ele pode salvar ou redimir os pecadores.  (http://www.secularhumanism.org/index.php?page=declaration&section=main)

Mas além de uma mera negação da tradicional visão de mundo judaico-cristã, o Humanismo Secular apresenta seu próprio programa de redenção para a sociedade humana.

Mas como eu acabei de argumentar, não se pode generalizar todos os movimentos ateístas, agnósticos e deístas como sendo anticristãos.

Não generalizei e sempre fui bem claro em minhas definições. Se for bem atencioso, verá que sempre fui bem claro em distinguir ateu de ateísta militante e isso já explica muita coisa.

… Antepassados agressivos? Vou me arriscar um pouco aqui, e suponho que esteja se referindo a Stálin, um ateu declarado que matou muita gente na União Soviética. Ou então às ditaduras comunistas asiáticas que pregavam, claramente, um Estado ateu (o que é uma coisa extremamente diferente de Estado laico).

Nunca disse que ateísmo necessariamente tem algo a ver com o comunismo mas sim que o comunismo marxista em suas bases é ateísta. Não confunda as coisas. Estou falando das bases, dos alicerces do humanismo secular e você parece estar só se focando na superfície, num “humanismo ético”. Não é nada disso a que me refiro. O bioquímico Donald F. Calbreath, Ph.D., salientou três maneiras como atua o humanismo secular em ludibriar o público. Primeiro, o ensino do “criacionismo” na escola sofre oposição porque se diz que envolve religião. “Mas”, escreveu ele, “o humanismo secular prevalecente tanto na sala de aulas como nos programas de treinamento dos professores precisa ser considerado igualmente como religião. . . . Visto que ambos lidam com domínios de que não se pode tratar inteiramente por experimentação científica requer certo elemento de fé para a aceitação dos postulados do sistema.” Entendeu agora?

Acontece que até onde eu sei (porque não sou tão versado em História assim), Stálin nunca matou ninguém EM NOME do ateísmo, nem tampouco ditaduras comunistas do Oriente. Eu ser ateu e matar alguém não implica que eu matei esse alguém em nome do meu ateísmo.

Nunca disse que alguém “matou em nome do ateísmo” e sim que a FORMA de ateísmo comunista foi antirreligiosa. Isto é um fato. Não adianta jogar pedra em dizer que há maus religiosos e hipócritas. Também há ateus e muitos, que perseguiram e mataram cristãos. Mas não é disso que estou falando. Não estou falando de ateísmo. Estou falando da base humanista secular. Você está usando de Red Herring aqui.

O que os alemães de hoje tem a ver com Hitler, um alemão que viveu há tantos anos atrás, e que não tem qualquer correlação com um indivíduo germânico recém-nascido no século XXI, por exemplo? O que eu teria a ver com Stálin?

Red Herring. Isto não tem nada a ver com o assunto de humanismo secular proposto.

Opa! Não, aí é um ponto de uma filosofia rousseauniana que eu, mesmo sendo ateu, não concordo. Rousseau disse que a natureza humana é essencialmente boa, e a sociedade o corrompe. É um ponto que o Emerson expõe que eu não posso criticar muito, porque eu nunca prestei atenção se os humanistas seculares REALMENTE acreditam nisso.

Então só posso dizer que você, ou nunca leu os Manifestos humanistas ou está totalmente alheio às informações. O humanismo secular não é tão ingênuo e cândido quanto pinta. Veja suas diretrizes.
Antes de examinarmos como a posição humanista da religião é contraditória e pobre de suporte probatório, considere que os humanistas e religiosos que buscam a verdade concordam que devemos tentar conhecer os fatos antes de formar opiniões ou cometer a valores, especialmente quando a “religião organizada” tenta ditar as opiniões e valores. Humanistas e teístas discordam, porém, sobre a questão de quais verdades estão disponíveis. O Humanismo subjacente é a suposição de que é impossível saber essas verdades fundamentais como “Deus existe” ou “o universo foi criado por um designer inteligente” ou “a Bíblia é a Palavra de Deus” e, portanto, devemos negá-los ou professar a ignorância como a sua verdade ou falsidade (ver Thomas, 1981, 123 [2]: 46,51). Sobre esses pontos, e muitos outros, humanistas e religiosos outros discordam.
O problema para o relativista moral (que é na maioria das vezes é um humanista secular que rejeita a Deus) é que eles não têm boa resposta para a dupla questão: Há algo de errado com uma ação e, em caso afirmativo, por quê? Apelar aos caprichos relativos da sociedade ou preferências pessoais não fornece respostas satisfatórias. É aqui que um dos pressupostos morais do humanismo falha.

A filosofia humanística assenta-se em quatro pilares principais: ateísmo, evolução, relatividade moral e pragmatismo.

Mas eu acredito que não! Porque os humanistas seculares acreditam que a moral é um conceito válido e que é ela que deve reger a nossa sociedade. Se eles acreditam na validade da Moral (moral baseada, é claro, em conceitos seculares, como a nossa Constituição), então isso significa que eles não acreditam que a natureza humana é essencialmente boa. Se a natureza humana é essencialmente boa, não precisaríamos de regras morais que regem a nossa nação. É muito fácil observar isso.

Eu não disse que os humanistas não acreditam que a moral é um conceito válido. Eu só demonstrei as falhas iniciais de seus argumentos sobre isso. O humanismo secular sustenta que a maioria das diferenças humanas podem ser resolvidas se a humanidade for suficientemente esclarecida. No entanto, eu não acho que mais Iluminismo é a questão. Quando eu faço algo errado, quando eu trato uma outra pessoa de forma má, não é porque eu não tenho o conhecimento de como tratá-la bem. Estou perfeitamente iluminado, eu sei exatamente o que eu deveria fazer, mas eu opto por não fazê-lo por várias razões, geralmente porque me beneficia. Não é que os seres humanos precisam se tornar mais avançados. É que os seres humanos precisam ser completamente alterados ao nível do coração, de modo que eles queiram deixar de ser egoístas e querer tratar seus semelhantes melhor. Obviamente, isso é completamente impossível sem Deus, pois só Deus pode mudar um coração. Mesmo aqueles que seguem a Cristo ainda lutam com o egoísmo, mesmo depois de serem iluminados no conhecimento do que é errado. O Iluminismo não é o remédio; a mudança de coração é o remédio. Sem Deus, não há referência alguma.
Moralidade (do latim, costumes, ou seja, hábitos ou costumes) é o caráter de ser de acordo com princípios ou padrões de conduta correta. Ética é a disciplina que trata com o que é bom e ruim ou certo e errado, com princípios e valores morais.

O ateísmo afirma que cada indivíduo deve fazer essa determinação em separado e para além de qualquer padrão e moral objetiva. Simpson escreveu:

A descoberta de que o universo além do homem, antes  ou depois de sua vinda não tem e não tinha qualquer finalidade ou plano, tem o corolário inevitável de que o funcionamento do universo não pode fornecer qualquer criteria automáticas, universais, eternas, ou absolutos éticos de certo ou errado (Simpson, George Gaylord, “O Significado da Evolução” (New Haven, CT: Yale University Press), edição revista. 1967, p. 346).

Não é se surpreender, então, que os Manifestos Humanistas I & II (as “Declarações do Direito” do ateísmo) apresentam:

Afirmamos que os valores morais derivam sua fonte da experiência humana. A Ética é autônoma e situacional, não necessitando de sanção teológica ou ideológica …. Nós nos esforçamos para a boa vida, aqui e agora (1933/1973, p. 17, emp. No orig.).

Como um “macaco nu” em um “universo acidental”, a moral e ética do homem são vistas como “autônomas” e “situacionais”. Ou seja, alto torna-se  “certo” porque o indivíduo determina que é certo em uma base caso-a-caso e, assim, invalida o conceito de lei moral comum aplicado de forma consistente.

E se experimentássemos submeter uma criança a um crescimento sem o ensinamento de valores morais? Ela provavelmente cresceria sem saber que o ato de roubar é errado, e é frequente vermos crianças roubando brinquedos de seus coleguinhas na escola. Até aprenderem isso, é um processo um pouco longo.
Além disso, Rousseau (que acreditava na bondade da natureza humana) não era humanista secular, nem seus influenciados, como Kant e o próprio Napoleão Bonaparte.

A questão da moralidade foi explicada acima. Não disse que Rosseau era humanista secular. O humanismo secular a que me dirijo é principalmente atual promulgado por Paul Kurtz e seus ideólogos. Em relação a moralidade,  o ateísmo tem um duplo problema. Já que o materialismo, naturalismo, mecanicismo e Humanismo Secular, em geral, também rejeitam a noção de “causas formais” e “causas finais” compreendidas por São Tomás de Aquino e Aristóteles, seu sistema de moral é completamente arbitrário.
Por outro lado, S. Tomás mostrou que aceitar causas finais conduzirá necessariamente a um determinado código moral (isto é, cristão). Assim, negar as causas finais e formais e aderir ao materialismo só pode levar ao relativismo moral. O Humanismo Secular tenta (em vão)  configurar as regras básicas como “viva e deixar viver”, ou “faça o que quiser, desde que você não prejudique/incomode os outros” … ainda que essas regras variem de interpretação de pessoa para pessoa tão selvagemente que eles mesmos são completamente arbitrários.

E então, sobre “a fé na Ciência como salvadora da humanidade”. Bom, existe gente que tem FÉ na Ciência? Existe. Acontece que não se pode generalizar, como fez o Emerson, dizendo que essa é a fé dos ateístas. Eu mesmo não tenho fé cega na Ciência. A Ciência não é uma religião ou uma instituição para se ter fé nela. A Ciência e o método científico são maneiras de pensar e de se interrogar. O ceticismo é o principal pilar do método científico. E incrivelmente: ceticismo é o conceito que faz, exatamente, antítese ao conceito de “fé”.

Estou me referindo aos postulados de Paul Kurtz, aos quais presumo que você desconhece. Minimizar (tanto quanto eu não estou maximizando) os efeitos, diretrizes e objetivos do Humanismo Secular é tão errôneo quanto simplificá-lo. “Dizendo que essa é a fé dos ateístas.” Não. Não entendeu de novo. Eu faço a distinção entre ATEU e ATEÍSTA. Ateísta não é o mesmo que ateu. Ateísta é sua maior parte ANTITEÍSTA e isso envolve mais do que mera negação da existência de Deus.
De uma perspectiva cristã, o Humanismo Secular é a base do atual pensamento e educação em muitas escolas e sistemas de ensino (não confunda com humanismo, que é outra coisa). Portanto, os alunos que tenham frequentado atuais escolas ou faculdades aprendem muitas coisas contrárias à Palavra de Deus, têm a presença e manipulação de professores e outros alunos e colegas secularistas militantes, ateístas e até marxistas culturais, senão militantes. No momento em que uma pessoa deixa a faculdade, ele acumula centenas de ideias anticristãs, resultando em desconfiança e dúvida.

“Existe. Acontece que não se pode generalizar, como fez o Emerson, dizendo que essa é a fé dos ateístas” Eu não disse que “essa é a fé dos ateus” e sim, neste conjunto, dos “ateístas”. Lembre-se que ateísta não é o mesmo que ateu. Não estou me referindo a todos os ateus mas sim à maioria dos ateístas. Se não entender essa distinção que faço, vai sempre confundir os termos, pensando que estou generalizando. Estou, neste ponto, só criticando a posição do cientificismo por parte de alguns e não de todos os ateus. Preste atenção. Se você não sabe o que é cientificismo, aconselho-o a ver este vídeo. O Dr. William Craig também já debateu sobre isso com Davis e você pode adquirir o DVD aqui.
Aparentemente meu oponente revela uma visão muito ingênua da influência e atuação do Humanismo Secular nas escolas. Atualmente, o humanismo é a única cosmovisão religiosa permitida nos sistemas de escola pública dos EUA onde ele permeia todas as facetas de currículos. Quer discutir a história do mundo ou algum campo da ciência, as verdades bíblicas são longe de ser encontradas nas escolas modernas. Não estou falando de ser ensinar “criacionismo como ciência” e sim do ataque frontal dos pressupostos humanistas ao cristianismo. Em contraste, os conceitos humanistas de moralidade, naturalismo e empiricismo são tratados como dogma.
“A Ciência e o método científico são maneiras de pensar e de se interrogar.” É claro. Não discuto isso. Quem me conhece sabe como amo a ciência tanto quanto amo a religião. A questão é que eu respeito os limites de cada uma. Mas não é isso o que o seu “ingênuo” Humanismo Secular prega. Vamos ver alguns exemplos? Notemos o que reza o Manifesto Humanista II (1973):

1. O universo é auto-existente. A asseidade é considerada um atributo divino. O que está sendo dito é que o universo é nosso criador e Deus. Este cosmo impessoal, de alguma forma inescrutável, deu a luz para a humanidade.

2. O homem não é uma criação especial, mas sim uma das muitas formas de vida que resultaram da força natural da evolução. A maior implicação disso é que os seres humanos são de importância igual a todos os outros animais e plantas que sobreviveram ao processo evolutivo, até este ponto. Isso sempre se rompe na prática, porque é impossível para os homens a viver como se isso é verdade.

3. Como o homem não é especialmente dotado por um Criador, mas é sim um resultado de um trabalho impessoal do cosmos, então ele não pode, eventualmente,ter corpo e o espírito. Ele é todo corpo com a sensação de ter um homem interior devido ao seu cérebro complexo e maquiagem neuroquímica. Essencialmente, a visão tradicional de animais tem sido expandida para incluir a humanidade.

Well, isso se parece bastante com um credo para mim. Parece-me mais como um “Credo Ateísta” ou “Declaração dos Diretos” ateísta. Leia o Manifesto todo para ver do que estou falando e ver que ele não é tão ingênuo quanto pensa.

Finalmente, quero agradecer ao Victor Cavalcanti por sua ótima crítica e resposta ao meu vídeo e espero que, aqui, tenho esclarecido alguns pontos que possam ter passado nessa Introdução. Obrigado pelas observações.

 

 

 

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