Pilares do ateísmo: Nietzsche

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Friedrich Nietzsche 1844-1900

Assim dizem os profetas, apóstolos, mártires e nosso próprio Senhor. Assim como a fé cristã tem seus pilares, os santos, também há indivíduos que se tornaram pilares do ateísmo. Peter Kreeft estuda seis pensadores modernos que tem tido um enorme impacto em nossa vida cotidiana. Eles também tem prejudicado muito a mentalidade cristã. Seus nomes: Maquiavel, o inventor da “nova moralidade”; Kant, o subjetivista da Verdade; Nietzsche, auto proclamado “anticristo”; Freud, o fundador da “revolução sexual”; Marx, o falso Moisés para as massas; e Sartre, o apóstolo do absurdo. Os artigos nesta série constituem fundo para nos ajudar a entender as principais pessoas e as ideias que eles defenderam, que tem nos levado a sociedade secular. “As ideias tem consequências” e as ideias mostradas nesta série certamente continuarão influenciar nossa vida social profundamente neste vigésimo primeiro século.

Friedrich Nietzsche chamava a si mesmo de “anticristo” e escreveu um livro com este título. Ele defendeu o ateísmo assim: “refutarei a existência de todos os deuses agora. Se houvesse deuses, como eu não poderia ser um deus? Por conseguinte, não há nenhum deus.”

Ele criticou a razão assim como a fé, e muitas vezes se contradisse, dizendo que “um sorriso de desprezo é infinitamente mais nobre que um silogismo” e apelava para a paixão, retórica e inclusive o ódio em lugar da razão.

Ele via o amor como “o maior perigo” e a moralidade como a pior doença da humanidade. Ele morreu louco, em um asilo, de sífilis – assinando suas cartas como “o Crucificado”. Ele foi adorado pelos nazistas como seu filósofo semioficial.

Todavia ele é admirado como sábio por muitas das maiores mentes de nosso século. Como pode ser isto?

Há três escolas de pensamento sobre Nietzsche. A mais popular entre acadêmicos é a escola do “Nietzsche suave”, que declara, de fato, que Nietzsche era uma ovelha em pele de lobo; que seus ataques não devem ser tomados literalmente e que ele realmente foi um aliado, não um inimigo, das instituições ocidentais que ele atacou.

Estes estudiosos se parecem com teólogos que interpretam frases de Jesus como: “ninguém pode vir ao Pai senão por mim” como dizendo “todas as religiões são igualmente válidas” e “quem se casa com uma mulher divorciada comete adultério” como querendo dizer “deixem seus divórcios serem criativos e razoáveis”.

Segundo, há o “horrível, horrível” Nietzsche. Eles pelos menos levam Nietzsche a sério. Eles são simbolizados por uma nota de rodapé num livro católico de filosofia moderna que diz que Nietzsche existiu, foi um ateu e morreu louco – destino que pode ser o mesmo de quem ler seus livros durante longo tempo.

Uma terceira escola de pensamente vê Nietzsche de fato e não como um lobo em uma ovelha, mas como um pensador muito importante porque ele mostra a civilização ocidental moderna seu próprio coração e futuro. É fácil chamar de bode expiatório e apontar o dedo para “ovelhas negras” como Nietzsche e Hitler, mas não há um “Hitler em nós” (para citar o título de Max Picard)? Nietzsche não tirou o gato da mala? O demoníaco gato que estava escondido na respeitável mala do humanismo secular? Uma vez que “Deus está morto”, também está morto o homem, moralidade, amor, liberdade, esperança, democracia, alma e finalmente, sanidade. Nada mostra isto mais vividamente que Nietzsche. Ele pode ter sido responsável (muito involuntariamente) para muitas conversões.

Os principais temas de Nietzsche podem ser resumidos por dois títulos de seus livros principais. Cada um é, de uma maneira diferente, um ataque a fé. O centro da filosofia de Nietzsche sempre é o mesmo. Ele se centrava em Cristo como Agostinho fez, só que tendo Cristo como inimigo.

O primeiro livro de Nietzsche, “O Nascimento da Tragédia do Espírito da Música” sozinho revolucionou a idéia aceita dos gregos antigos que tudo é “doçura e luz”, razão e ordem. Para Nietzsche, os poetas trágicos dos grandes gregos, e os filósofos, começaram com Sócrates e foram fracos, sem destaque e sem vida. Todo o mundo ocidental havia seguido Sócrates, seu racionalismo e moralismo e havia negado a outra parte dele, a parte trágica.

Nietzsche ao invés exaltava a tragédia, o caos, desordem e irracionalidade, simbolizada pleo deus Dionísio, deus do vinho e das orgias. Ele disse que Sócrates havia tornado sua visão do mundo segundo a adoração de Apolo, deus do Sol, luz e razão. Mas o destino do deus Dionísio de Nietzsche tomou conta do próprio Nietzsche; assim como Dionísio foi expulso pelos Titãs, monstros sobrenaturais do subterrâneo, a mente de Niezsche também foi afetada pelo seu próprio Titã interno.

“O Uso e Abuso da História” continua o tema de Dionísio x Apolo. O “abuso da história” é (segundo Nietzsche) a teoria, ciência, verdade objetiva. O uso correto da história é reforçar “a vida”. A vida e verdade, fogo e luz, Dionísio e Apolo, desejo e intelecto, são colocados em oposição. Nós vemos como Nietzsche se divide aqui pois estas são duas partes do ego.

“Ecce Homo” foi uma pseudo autobiografia egotista sem escrúpulos. Ainda que ele fosse só um carregador de maca na guerra, Nietzsche chamava a si mesmo de “velho homem da artilharia” adorado por todas as mulheres. De fato, ele foi só um velho homem que não podia ver sangue, um anão emocional que empinava como Napoleão. O que é muito espantoso é que ele abraça com orgulho sua falsidade e mentira. É consistente com sua filosofia ou preferia “qualquer longa vida” a verdade? “Por que eu não vivo na mentira?”, ele se perguntava.

“A Genealogia da Moral” dizia que a moralidade era só uma invenção dos fracos (sobretudo os judeus e cristãos) para debilitar o forte. As ovelhas pedem que o lobo se comporte como ovelha. Isto é antinatural, afirma Nietzsche, e ver a origem antinatural da moralidade em ressentimento a inferioridade nos livrará de seu poder sobre nós.

“Além do Bem e do Mal” é a moralidade alternativa de Nietzsche, ou “a nova moralidade”. “A moral do amo” é totalmente diferente da “moral do escravo”, ele diz. Qualquer ordem do amo é boa só pelo fato de ser ele que dá esta ordem. As fracas ovelhas tem uma moralidade de obediência e conformismo. Os amos tem um direito natural para fazer qualquer coisa que desejarem, pois já que não há Deus, tudo é permitido.

“O Crepúsculo dos Deuses” explora as conseqüências da “morte de Deus”. (é claro, Deus nunca realmente existiu, mas a fé nele sim. Agora isso está morto, diz Nietzsche.) Com Deus morre todas as verdades objetivas (pois nenhuma mente está acima da nossa). Alma, liberdade, imortalidade, razão, ordem, amor – tudo isto são “os deuses”, pequenos deuses que estão morrendo já que o Grande Deus está morto.

O que irá entrar no lugar de Deus? O mesmo ser que irá substituir o homem; o Super-homem. A obra mestra de Nietzsche, “Assim Falou Zarathustra”, celebra este novo deus.

Nietzsche chama “Zarathustra” a nova Bíblia e diz ao mundo “jogue fora todos os livros; você tem meu Zarathustra”. Isto é uma retórica venenosa e tem cativado adolescentes por algumas gerações. Foi escrito só em alguns dias, em um frenesi, talvez literalmente inspirado pelo demônio numa “escrita automática”. Nenhum livro contêm mais arquétipos junguianos como uma explosão de imagens do inconsciente.

Sua mensagem essencial é a condenação do homem atual como pessoa débil e a declaração das novas espécies, o super-homem, que vive por uma “moral do amo” em vez da “moral do escravo”. Deus está morto, longa vida ao novo deus!

Mas em “O Eterno Retorno” Nietzsche descobre que todos os deuses morrem, inclusive o super-homem. Ele cria que toda a história necessariamente entrava em um ciclo e repetia todos so seus eventos – “Não há nada de novo sobre o Sol”. Nietzsche deduziu esta conclusão de duas principais premissas (1) uma quantidade infinita de matéria e (2) uma quantidade infinita de tempo (já que não há nenhum criador e nenhuma criação); assim cada possível combinação de partículas elementares, cada possível mundo, ocorre um número infinito de tempos, tempo infinitamente dado. Todos, inclusive o super-homem, irão retornar como micróbios, se desenvolverão em mamíferos, depois em macacos, homem e super-homem novamente.

Em lugar de desesperar, como Eclesiastes faz, a esta nova história desesperada, Nietzsche assim proclama a irracinalide e a vitória da “vida” sobre a lógica. A virtude suprema é a coragem do desejo de afirmar que esta vida é sem sentido, além da razão, por nenhuma razão.

Mas no último trabalho de Nietzsche, “O Desejo do Poder”, a falta de um objetivo parece como demoníaca e espelha o caráter demoníaco da mente moderna. Sem Deus, céu, verdade ou bondade absoluta para impulsioná-la, a vida se torna só “desejo do poder”. O poder vem a ser o seu fim, não um meio. A vida é como uma bolha, vazia com ou sem; mas seu significado é a mesma auto-afirmação, egotismo, explodindo sua bolha, estendendo o sem sentido mesmo quando ele é nulo. “Só deseje”, é o conselho de Nietzsche. Não importa o que você quer e por que.

Nós agora estamos em uma posição de ver por que Nietzsche é um importante pensador, apesar de sua loucura. Ninguém na história, exceto talvez o marquês de Sade, tem tido uma clara, cândida e consistente forma de alternativa contra o cristianismo.

As sociedades pré-cristãs (pagãs) e filosóficas eram como virgens. A sociedade pós-cristã (moderna) é como uma pessoa divorciada. Nietzsche não é nenhum pré-cristã pagão, mas o essencial pós-cristão, moderno e anti-cristão. Ele via a Cristo como seu principal inimigo e rival. O espírito do anti-cristo nunca tem recebido tanta formulação completa. Nietzsche não só era o filósofo favorito do nazismo, mas é o filósofo favorito do inferno.

Nós podemos agradecer a própria tolice de Satã em “dar sua cobertura” a este homem. Como o nazismo, Nietzsche pode expulsar o inferno dentro de nós e salvar nossa civilização e até mesmo nossas almas nos livrando do terror antes que seja muito tarde.

CRÉDITO

Kreeft, Peter. “The Pillars of Unbelief—Nietzsche” The National Catholic Register, (January – February 1988).

AUTOR

Peter Kreeft tem escrito prolificamente (mais de 25 livros) nas áreas de apologéticas cristãs. Ele trabalha na Universidade de Boston, em Boston, Massachusetts. Peter Kreeft é assessor do Catholic Educator’s Resource Center.

Tradução: Emerson de Oliveira

Copyright © 1997 National Catholic Register

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