Pe. Marcelo Rossi, ou “como ser popularmente apedeuta em história”

77581_36Que popularidade nem de longe é sinal de sobriedade e maturidade intelectual não é surpresa para quem é bem informado, ainda mais sobre história. Recentemente, o popular pe. Marcelo Rossi promulgou mais umas das suas. Enquanto eu respeito alguém por ser padre (seu ofício da Ordem) não preciso respeitar certas opiniões simplistas e que vão de encontro à Igreja e a história. Neste caso, a insipiência e agnosia com a qual se refere a Idade Média é um disparate.

Em seu último discurso, declarou:

“A Igreja Católica é apartidária, pelo menos deve ser. Os evangélicos, às vezes, determinam em quem votar. Estamos voltando à Idade Média, o período mais terrível e negro da igreja

Mesmo que analisarmos a frase no contexto não faz sentido dada sua conclusão (ele não a torna circunscrita em um período ou momento. Ele diz IDADE MÉDIA, como se referindo à TODA IDADE MÉDIA. É um completo nonsense ser tão simplista.

Bom, depois do recente (e triste) evento do falso padre Beto em Bauru (o esquerdista/marxista/relativista enrustido e travestido de padre) temos agora o “popular” pe. Marcelo Rossi dando uma declaração (com todo respeito a seu ofício de padre) imbecil. Isso pode dar pano pra manga para os indolentes e hebetados ateístas, que já são tão cheios de ódio, preconceito e desinformação sobre a Igreja e este período, alegarem mais de suas cavilações e patranhas.

Nem vou comentar as outras declarações parvas dele (sobre “revitalizar as CEBs” e até sobre o Marco Feliciano. Ora, ele tem todo o direito de estar na presidência da CDH pois foi eleito democraticamente. Mas isto é outro assunto). Vamos falar sobre a terrível e negra Idade Média?

Pra começar, onde o pe. Marcelo estudou história? Será que ele conhece a eminente e premiada historiadora francesa Regine Pernoud que intitulou seu livro exatamente com uma declaração parecida com a do padre Marcelo? Seu livro “Aquela terrível Idade Média – desmascarando os mitos” demole alegações e fábulas dos críticos simplistas da Idade Média, muito propagados por populares e de formação simplória e ginasial.

Segundo a opinião generalizada, a Idade Média teria sido uma época de trevas, injusta e bárbara, encaixada entre os séculos gloriosos da Antiguidade e do Renascimento. Dessa convicção nos dá conta o linguajar quotidiano, que fala, por exemplo, em «regresso dos tempos medievais» a propósito de tudo o que de negativo acontece nos nossos dias.
É a essa ideia apriorística que se pode com razão chamar o mito da Idade Média. E é esse mito que este livro destrói, deitando por terra o duplo preconceito segundo o qual a Idade Média formaria um todo homogêneo e seria a grande noite da civilização. Numa linguagem séria e desenvolta, onde a ironia vai de par com a erudição.

Já fiz alguns vídeos introdutórios no Logos respondendo a um ateísta sobre a questão da Idade Média, como este:

Vou fazer muitos outros vídeos comentando, esclarecendo e destruindo mitos sobre a Igreja, a Inquisição e a Idade Média e neste já comento algumas coisas interessantes. Como Regine Pernoud, de forma perspicaz revela, não é a Igreja, mas a própria modernidade que constitui um mero retrocesso histórico. Em nossa época, o paganismo dos tempos antigos é revivido, revitalizado, remodelado e transformado, depois de ser enxotado e destruído por quase um milênio. Aqueles que criticam a “neopaganismo” da cultura de morte atual provavelmente não sabem que sua caracterização é historicamente justificável. Deste prisma, comparado a “terrível e negra” Idade Média a nossa época pode se classificar como “Idade das Luzes”? Somente alguém extremamente simplista como um neo-ateu, um secularista e esquerdista poderia partir pra tal “raciocínio”.

Se não fosse a “terrível e negra” Idade Média não teríamos as universidades, os títulos de doutorado e pós-graduações que temos e infinidades de coisas mais, relacionadas ao campi. Novamente, é triste ver alguém que se diz “padre”, que deveria ser consciente e bem informado sobre o assunto, declarar algo tão ginasial como isso e que vai ao encontro das ideias  estúpidas dos críticos superficiais da Igreja.

Neste vídeo eu respondo ao Matheus sobre a questão das universidades. É obrigatório ver para toda pessoa que quer ser bem informada sobre o assunto:

Regine Pernoud, por exemplo, demonstra sobre o sistema de ensino medieval:

Há pouca diferença, na Idade Média, na educação dada às crianças de diversas condições. Os filhos dos vassalos menores são educados na residência senhorial, juntamente com os do suserano, e os dos ricos burgueses são submetidos à mesma aprendizagem que o último dos artesãos, se estes querem futuramente tomar conta da loja paterna. É sem dúvida por isto que temos tantos exemplos de grandes personagens saídos de famílias de condição humilde: Suger, que governa a França durante a cruzada de Luís VII, é filho de servos; Maurice de Sully, o bispo de Paris que mandou construir Notre-Dame, nasceu de um mendigo; São Pedro Damião foi guarda-porcos na sua infância; e uma das mais vivas luzes da ciência medieval, Gerbert d’Aurillac, é igualmente pastor; o papa Urbano VI é filho de um pequeno sapateiro de Troyes; e Gregório VII, o grande papa da Idade Média, era filho de um pobre cabreiro. (Pernoud, Regine – Luz sobre a Idade Média. Grifo nosso)

Contraste isso com o nível, “abençoado” pela esquerdalha e marxismo cultural imbecilizante humanista secular de muitas de nossas universidades e sua qualidade, além do pérfido e demente “sistemas de cotas”. É aberrante e abissal o contraste.

É comum vermos na literatura secular, em filmes e documentários, pior nas escolas do ensino fundamental e médio e até em faculdades e universidades, a afirmativa de que a Igreja “torturou e matou milhares”, alguns dizem milhões de pessoas com a Inquisição. Há também vários ambientes acadêmicos no Brasil em que é nítida esta linha interpretativa, são muitos autores e professores universitários a partilhar dessas objeções.

Vale salientar que estas sociedades eram nitidamente ligadas ao bem e ‘alegria social’ (Pernoud, 1997) e da religião “em função da fé cristã” (Daniel Rops, Vol. III. p. 43), tinha como ferramentas a prevenção através da condenação, para evitar a contaminação de confusões e divisões que ruíam ‘todo o sistema e ordem social da época’ (Gonzaga, 1994) além da propagação de heresias e divisões entre os fieis da Cristandade, assim os códigos penais civis abraçavam e previam comumente a tortura e a morte do réu. E o povo entendia que estes eram os princípios jurídicos e inquisidores (cf. Mt 18,6-7).

Mas seriam verdadeiros estes indicies sobre a Inquisição? Ou é maquinação vinda dos inimigos da religião que tiram proveito não só da Inquisição ou Cruzadas, mais dos erros e faltas morais de alguns filhos da Igreja para fazer de “cavalo de batalha na sua guerra contra a religião e para perpetuamente as estarem lançando em rosto à Igreja.” como disse o historiador e Pe. W. Devivier, S.J.  Fato que “é da natureza da Igreja provocar ira e ataque do mundo” segundo Hilaire Belloc.

Um grande encontro aconteceu entre 29 a 31 de Outubro de 1998. Com total abertura dos arquivos da Congregação do Santo Oficio e da Congregação do Índice. As atas do grande simpósio Internacional reuniu mais de 30 grandes historiadores, de diversas confissões religiosas para tratar historicamente da Inquisição, proposta vinda da Igreja. João Paulo II perguntou certa vez perguntou “Na opinião do publico, a imagem da Inquisição representa praticamente o símbolo do escândalo”. “Até que ponto essa imagem é fiel à realidade” pergunta crucial. Entre os dados do simpósio cuja documentação já foi utilizada em vários obras, e continua a ser, consta entre os em resumo aos dados as seguintes afirmações declaradas pelo historiador Agostinho Borromeo.

Sobre a “famigerada e terrível” Inquisição Espanhola:

“A Inquisição na Espanha celebrou, entre 1540 e 1700, 44.674 juízos. Os acusados condenados à morte foram apenas 1,8% (804) e, destes, 1,7 (13) foram condenados em “contumácia”, ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou mortos que em seu lugar se queimavam ou enforcavam bonecos.”

O Simpósio conclui que as penas de morte e os processos em que se usavam tortura, representam menos números do se imagina e foi propagado. Os dados representam uma verdadeira demolição de muitas ideias falsas e fantasiosas sobre a Inquisição.

“Hoje em dia, os historiadores já não utilizam o tema da inquisição como instrumento para defender ou atacar a Igreja. Diferentemente do que antes sucedia, o debate se encaminhou para o ambiente histórico com estatísticas sérias” (Historiador Agostinho Borromeo, presidente do Instituto Italiano de Estudos Ibéricos: AS, 1998. Grifo nosso).

Para saber mais, e evitar os atalhos e entraves pseudo-intelectuais de declarações infelizes como essa do pe. Marcelo Rossi e dos apedeutas ateístas militantes e outros críticos da Igreja, vejam: DEVEVIER, W. A Historia da Inquisição, curso de apologética cristã. Melhoramentos, São Paulo, 1925.; L’INQUISIONI. Atas do Simpósio sobre a Inquisição, 1998; PERNOUD, Régine. A Idade Média: Que não nos ensinaram. Ed. Agir, SP, 1964; ROPS. Henri-Daniel. A Igreja das Catedrais e das Cruzadas. Vol. III. Ed. Quadrante, São Paulo. 1993.

Ao que parece, Marcelo Rossi, autor de livros populares, não se tornou conhecido por ser popularmente bem informado. Como muitos outros, caiu no discurso do polivalente vazio. Em todo sentido, seja no contexto como no geral, tanto o Marcelo Rossi quanto qualquer simplista crítico da Igreja neste ponto cai no discurso vazio e completamente nulo historicamente.

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