Papai Noel, Fada do Dente e Deus – Parte 02

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3. Problemas em satisfazer os critérios para a questão Deus

Vamos aplicar esses critérios para Deus e a distinção entre ateísmo/agnosticismo. Em relação a Deus, se qualquer dessas condições não forem satisfeitas – até mesmo seuma falhar – ateísmo não pode ser concluído na ausência de um argumento sólido para o ateísmo. Ateus dizem que os dois critérios estão satisfeitos quando chega a questão Deus, e dizem que eles não tem evidência suficiente para saber se Deus existe. Bom, desde que muitos ateus frequentemente reconhecem (como fez Russel) que não é argumentos sólidos para o ateísmo, isso deixa o caso ateu inteiramente dependente dos critérios.

Mas se pode argumentar que a situação epistêmica de alguém na questão da crença em Deus nem sempre satisfaz esses critérios e, portanto, esse alguém não pode concluir que o ateísmo é falso na (aparente) falta de evidências para Deus. Uma outra maneira de pensar isso: Suponha, apenas pelo bem do argumento, que não há nenhum bom argumento ou evidência para Deus; então, nos termos dos exemplos dados acima, a situação epistêmica de alguém para Deus está mais perto da Mosca do Grand Canyon do que para o exemplo do Elefante na Sala – e, logo, isso, no máximo, nos leva para o agnosticismo (moderado) como posição a ser tomada, não ateísmo, em face da (aparente) falta de evidência para Deus.

A. Porque o “Critério da Expectativa de Evidência” Nem Sempre é Satisfeita

O Critério da Expectativa de Evidência – que você deve lembrar que diz que se um objeto O existir, então nós esperaríamos haver evidência para ele –  não é sempre satisfeito pela nossa situação epistêmica em relação, a saber, se Deus existe.

Pode-se questionar se Deus satisfazer o Critério da Expectativa de Evidência se você pensar um momento sobre a natureza flutuante das evidências. Apenas nos últimos 20 anos nós descobrimos a incrível e incalculável sintonia fina do nosso Universo para vida inteligente (veja a discussão no Argumento Teleológico no capítulo 4 no livro Reasonable Faith, 3rd edition); e somente nos últimos 80 anos nós descobrimos cientificamente que o Universo está em expansão e que ele deve começar a existir (veja a discussão do Argumento Cosmológico Kalam – capítulo no livro Reasonable Faith, 3rd edition). Por eras da história, essa evidência simplesmente não estava disponível para nossos ancestrais. Mas visto que futuro progresso em conhecimento requer presente ignorância, isso significa que nosso entendimento atual será incompleto ou falso. Então não é sempre o caso de que “Se há evidências para Deus, então nós esperaríamos ver evidência disso.”

Uma Objeção E Uma Resposta

Mas nós podemos imaginar o ateu fazendo uma objeção:

“Certo, certo, evidência e bons argumentos, para o teísmo e para muito além disso, flutuam de acordo com o tempo e o lugar. Mas se Deus existe, então ele tem uma obrigação moral de se revelar claramente para todas as pessoas independentemente do tempo e lugar. Desde que ele não fez isso – desde que Ele desrespeitou seu dever moral de se revelar claramente para todas as pessoas – nós podemos dizer com segurança que Deus não existe.”

Eu tive um professor ateu que concordava com esse tipo de sentimento. Ele dizia que se Deus realmente desejasse que todos acreditassem nele, então ele estaria aí fora nos céus gritando “Olá!” para todos, partindo mares e levantando objetos muito pesados.

O problema com esse raciocínio é que se Deus não está interessado em fazer “truques de mágica” então nós podemos dizer “Uau, isso é realmente algo a mais!” e seguir vivendo uma vida sem mudanças, continuando nos nossos pecaminosos e auto-centrados caminhos. Deus só teria uma obrigação moral de fazer mais eventos milagrosos apenas se, ao realizá-los, mais pessoas viessem em uma relação pessoal salvadora com Ele. Mas elas fariam isso?

Nós não temos boas razões para pensar que eles fariam; o ateu não nos providenciou uma razão para pensar que se Deus se revelasse mais patentemente então mais pessoas iriam aproveitar uma relação salvadora do que se Deus não o fizesse. Enquanto entretenimento e “truques mágicos” iriam fazer resultar em mais pessoas em vir a acreditar na proposição “Deus existe”, como sabemos que isso iria em resultar na mudança do coração de alguém (cf. Lucas 16:30-31)? [N.T.: Há uma pequena discussão sobre isso nas referências do fim do artigo] O Novo Testamento diz “Você acredita que há um Deus. Ótimo! Até os demônios acreditam nisso – e estremecem” (Tiago 2:19), e é óbvio que demônios tem ausência de uma relação pessoal com Deus. Além disso, o Velho Testamento descreve Deus revelando a si mesmo através de vários e vários milagrosos feitos –seja através das pragas do Egito, o pilar de fogo e fumaça, a divisão do Mar Vermelho, entre outros – e mesmo esses eventos, miraculosos como são, não produziram uma longa e duradoura mudança no coração dos Israelitas. De tempos em tempos eles caiam na apostasia de novo.

Então, mesmo se Deus fosse partir mais mares ou levantar objetos muito pesados, não há razões para pensar que a mera produção do conhecimento proposicional de Deus (como acreditar na proposição “a população da China excede um bilhão de pessoas”)iria resultar em uma relação pessoal e transformadora de vida com Ele. O Ateu não mostrou que Deus tem uma obrigação moral de revelar a si mesmo de uma maneira para todas as pessoas; fazer isso seria mero entretenimento.

B. Porque o “Critério de Expectativa de Conhecimento” Não É Sempre Satisfeito

Considere o segundo critério, o Critério de Expectativa de Conhecimento, que diz que se há evidências para alguma coisa, então nós esperaríamos ter o conhecimento dessa evidência. Pelo menos três razões podem ser dadas de porque nossa situação epistêmica em relação a conhecer se Deus existe pode não satisfazer esse critério, isto é, há tempos em que nós não deveríamos esperar conhecer a evidência para a existência de Deus. Dizer isso pode soar um pouco contra-intuitivo à primeira vista, mas ouça-me com atenção.

Primeiro, dada a universalidade do pecado e de seus efeitos em nossa situação epistêmica, não é tão surpreende que a existência de Deus não seja óbvia e que nós nem sempre satisfaçamos o Critério de Expectativa de Conhecimento. De acordo com o Cristianismo tradicional, um dos efeitos da pecaminosidade é o mau funcionamento das faculdades cognitivas; eles nem sempre funcionam de forma a não nos levar a conclusões não autocentradas. Isso significa que eles nem sempre são prestativos em interpretar a evidência em uma luz favorável e verdadeira porque muitas verdades entram em conflito com nosso eu auto-centrado (Jesus disse, “O mundo… me odeia porque Eu testifico que suas obras são más” (João 7:7)). Esses efeitos nas nossas faculdades cognitivas são chamado “efeitos noéticos” do pecado, e eles podem distorcer a evidência de Deus, incluindo o testemunho do Espírito Santo (veja o arquivo nas perguntas #68 & #30), assim como várias outras coisas mais mundanas na vida (i.e., é mais fácil fazer uma interpretação erradas dos nossos oponentes do que usar o contato para realmente entendê-lo). Professor (Alvin) Platinga descreve esses efeitos noéticos:

Os efeitos noéticos do pecado estão concentrados em respeito ao nosso conhecimento de outras pessoas, de nós mesmos, e de Deus… A pecada afeta meu conhecimento dos outros de muitas maneiras. Por causa do ódio e do desgosto sobre outro grupo de seres humanos, eu posso pensar que eles são inferiores, de menor valor que eu próprio e meus mais afinados amigos. Por causa da hostilidade e do ressentimento, eu posso subestimar ou dar uma má interpretação da atitude alguém em relação a mim… Devido a esse básico e primitivo orgulho do pecado, eu posso irrefletidamente e quase sem notar assumir que eu sou o centro do universo (é claro que se você me perguntar, eu vou negar pensar tal coisa), exagerando vastamente a importância do que acontece comigo como oposto do que acontece com os outros…

Depois, Plantinga adiciona:

O efeito mais sério dos efeitos noéticos do pecado tem relação com nosso conhecimento de Deus. Se não fosse pelo pecado e seus efeitos, a presença e a glória de Deus seriam óbvias e incontroversas para todos nós como a presença de outras mentes, objetos físicos e do passado… Nosso conhecimento do Seu caráter e de seu amor para nós pode ser sufocado: pode até ser transformado em um pensamento ressentido que Deus é para ser temido e desconfiado; pode parecer que ele é indiferente ou até mesmo maligno.

Na taxonomia tradicional do sete pecados capitais, há a preguiça. Preguiça não é o simples ócio, como a inclinação de se deitar e assistir televisão ao invés de sair e fazer o exercício que você precisa; ela é, na verdade, um tipo de apatia, cegueira, falta de percepção, pequenez, uma falha em estar alerto da presença, do amor e dos requisitos de Deus.2

Plantinga segue e explica como as construções da instigação interior do Espírito Santo (pelo qual o Espírito Santo trabalha convencendo-nos da existência de Deus, junto com outras verdades) podem ser suprimidas ou impedidas ao foco da atenção alguém ter virado para além de Deus, como, por exemplo, o desejo de viver uma vida que Deus desaprovaria. Essa foi a razão admitida por Aldous Huxley para sua descrença. Ele diz que tinha “motivos” para não querer acreditar em Deus e então “assumiu” que ele não existia e “foi capaz sem nenhuma dificuldade para achar razões satisfatórias para sua conclusão”. Ele confessou:

A maior parte da ignorância é uma ignorância vencível. Nós não sabemos porque não queremos saber. É a nossa vontade que como e em quais assuntos nós usaremos nossa inteligência. Esses que detectam que não é sentido no mundo geralmente o fazem porque, por uma razão ou outra, isso fecha com as suas idéias de que o mundo deveria ser sem sentido. 3

Mais recentemente, Professor Thomas Nagel da Universidade de Nova Iorque disse algo similar: “Eu queria que o ateísmo fosse verdadeiro e foi mais difícil pelo fato que muito das mais inteligentes e bem-informadas pessoas que eu conhecia eram religiosos”. Ele continua: “Não é justo que eu não acredite em Deus e, naturalmente, tenha esperança de estar certo em minha crença. Eu espero que Deus não exista! Eu não quero que Deus exista; eu não quero um Universo como esse”.4

Um segundo problema  surge com o Critério de Expectativa de Conhecimento porque ateus frequentemente aplicam inapropriadamente altos padrões epistêmicos – padrões que eles nunca iriam aplicar em outros contextos “normais” – ao avaliar a racionalidade da crença teísta, insistindo que as premissas dos argumentos teístas não são verdadeiras. Por exemplo, todos ordinariamente ou a intuição do dia-a-dia não levaria alguém a pensar que objetos podem surgir à existência sem causas a partir do nada – apesar disso, quando vem para o Argumento Cosmológico Kalam para a existência de Deus, por exemplo, isso é afirmado por muitos ateus. Então quando chegamos em argumentos para o teísmo, muitos ateus escavam em seus saltos, levantam as provas e afirmam não saber se as premissas são verdadeiras.

Terceiro, porque Deus não está interessado em nos inculcar a mera crença proposicional nele (i.e. acreditar na proposição “Deus existe”), mas uma filial, ou um conhecimento pessoal dele, alguns filósofos pensam que Deus pode se “esconder” dos humanos quando tentamos divorciar conhecimento proposicional de Deus de uma relação pessoal com Deus. Quando Deus faz isso nossa situação epistêmica em relação a ele não deixaria satisfeita o Critério de Expectativa de Conhecimento.5

Deixe-me explicar esse ponto em mais detalhes. O Deus Cristão não quer ser apenas um mero algo abstrato como o “Fundamento do Ser” ou apenas a “melhor explicação para o cosmos” – ele quer ambos ser o Senhor de nossas vidas e um amoroso Pai. O Professor Paul Moser, um eminente filósofo que tem feito um trabalho considerável na área de “escondimento divino”, descreve o conhecimento filial:

No conhecimento filial de Deus, nós temos o conhecimento de um supremo e pessoal sujeito, não um mero objeto para uma reflexão casual. Não é o conhecimento vago de uma “primeira causa”, “o supremo poder”, “fundamento do ser” ou mesmo a “melhor explicação”. Ao invés é a convicção do conhecimento de um pessoal, comunicativo Senhor que espera um compromisso grato pelo nosso caminho de se apropriar da gloriosa redenção de Deus. Tal convicção de conhecimento inclui nosso ser julgado e encontrado indigno pelos padrões da suprema moralidade e amor de Deus. Deus vai, assim, nos encontrar, convencer e redirecionar nossa vontade. Os dois lados dessa relação deste modo são pessoais… Conhecimento filial de Deus é um reconciliamento de conhecimento pessoal  pelo qual nós entramos em um apropriada relação “filho-pai” com Deus. Tal conhecimento é pessoal transformador, não meramente pessoalmente abstrato ou moralmente impotente. Ele é comunicado pelo Espírito pessoal de Deus de uma maneira que nos exige uma vida inteira de compromisso. 6

Por que, muitas vezes, Deus se esconderia de nós? Por que ele nem sempre faz a si mesmo óbvio para todos nós o vermos, como são óbvias as palavras nessa página? Várias razões podem ser postas para responder essa importante questão e justiça não pode ser feita reduzindo para uma ou duas respostas sólidas. Eu posso apenas apresentar algumas respostas aqui. 7

Uma razão decorre da observação que se Deus fizesse a si mesmo óbvio – como são óbvias essas palavras na página – então para muitos ele iria destruir a possibilidade de desenvolver uma liberdade moralmente significante (ser capaz de escolher livremente e muitas vezes entre cursos de ações do bem e do mal) porque nosso ser potentemente alerta de Deus nos iríamos coagir em obedecer seus comandos morais.8 (Compare com uma criança que é dita para não comer o biscoito do pote mas para qual nunca é dada a oportunidade de de conter sua ação de comer os biscoitos porque seus pais estão sempre na sala vigiando). O resultado geral seria um caráter moral subdesenvolvido.

Uma segunda razão para que Deus poderia retirar evidência de si mesmo poderia ser pela pecaminosidade humana, orgulho, auto-centramento e desapego pessoal. Isso nos traz de volta para o assunto mencionado na seção 3, “Uma objeção e uma resposta”, nomeadamente se há uma boa razão para pensar que se Deus realizasse mais eventos miraculosos (partir mares para uma audiência, elevar objetos gigantes) então mais corações de pessoas iriam ser mudados para querer a aproveitar uma relação pessoal, transformadora de vida com Deus. E aqui eu penso que as citações de Aldous Huxley e Thomas Nagel são bastante instrutivas, visto que seus corações estavam decididos que questões de evidência e argumentos antecipadamente. De que uso é uma evidência posterior se alguém, nas palavras de Nagel, “Eu espero que Deus não exista!” porque ele “não quer um Universo como esse”?

(Objeção: Muitos podem ficar preocupados que o que “iriam ser” fiéis tem insuficiente evidência, enquanto esses complacentes em relação a Deus conseguem as “boas” evidências. Similarmente, poderia pensar que Deus providenciou tal evidência na esperança e mudança de tal forma que o ateu teria tido uma mudança de coração. Resposta: Mas essas objeções são preenchidas se Deus tiver “conhecimento médio” [N.T.: um dos tipos do conhecimento de Deus segundo o molinismo]. A doutrina do conhecimento médio divino implica não apenas que Deus se as pessoas iriam responder a mais evidência se ele desse a elas, mas também se isso seria sem efeito ou quem sabe até mesmo deletério. Portanto, Deus poderia providenciar um arranjo do mundo em que os todos os que “iriam ser” fiéis conseguem as evidências, argumentos e dons da graça suficiente para uma livre e racional crença. E se Deus sabe tudo isso ele não está na obrigação de providenciar mais evidência do que ele já forneceu. Para mais, ver a resposta da Pergunta 77, “Middle Knowledge and Christian Particularism.”).

Então nós realmente não temos nenhuma boa razão para pensar que se Deus existisse então ele sempre nos dar conhecimento dele; assim nós não temos boas razões para pensar que nossa situação epistêmica em relação a se Deus existe é sempre satisfeita em relação ao Critério de Expectativa de Conhecimento. E disso segue que ninguém pode negar a existência de Deus sem um argumento para a sua não-existência, para o ateísmo. É por isso que Craig poderia pedir para Hitchens um argumento para o ateísmo.

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