O deus de David Hume

humeParece que David Hume sempre vem à tona quando há um diálogo entre cristãos e ateus. Seu nome pode não aparecer na conversa, mas sua prova probatória parece estar sempre implícita. Qual é a prova da prova de Hume?

Considere algumas destas citações de Hume: “Nós nunca devemos repousar a menor confiança no testemunho humano”, ou “Mas é um milagre que um homem morto volte à vida; porque isso nunca foi observado, em nenhuma era ou país. Deve haver, portanto, uma experiência uniforme em oposição a todo evento miraculoso: caso contrário, o evento não mereceria tal denominação” ou “prontamente rejeitamos qualquer fato que seja incomum e incrível em um grau ordinário”. [1] A prova probatória de Hume é a negação absoluta de milagres e até mesmo milagres atestados por testemunhas nunca deve ser aceito. Na explicação de Hume, a menos que seja posto 100% à prova, o evento deve ser rejeitado. Como é que o testemunho de Hume se sai usando seus próprios critérios?

Hume não passa no teste, quando seus critérios são aplicados a si mesmo, porque ninguém pode dar 100% de provas, seja ateu ou cristão. Se formos rejeitar o testemunho humano, então o que vamos fazer com o testemunho de Hume? O filósofo William Lane Craig afirma: “Para um argumento ser um bom, não é necessário que tenhamos 100% de certeza.” [2] Em um tribunal de justiça, a prova só precisa ser apoiada em seu favor (51% ou mais). Ao olhar para os milagres, como a história da ressurreição de Jesus, não é necessário termos 100%  de provas. Todas as afirmações podem ser avaliadas pelos seus méritos e uma inferência para melhor explicação é o que deve contar. O ex-ateísta, Anthony Flew, foi honesto quando disse: “devemos seguir a evidência onde quer que leve.” [3]

Então, por que os ateus parecem adorar aos pés de David Hume? Creio que alguns simplesmente não têm nenhuma evidência para seu ponto de vista na não-existência de Deus, mas também, e eu acho que o mais importante, muitos rejeitam Jesus porque não querem se submeter a quem Ele é. Em outras palavras, eles querem viver uma vida sem obstáculos para se locupletar em tudo o que querem. O filósofo Thomas Nagel resume a visão de muitos ateus, dizendo: “Quero que o ateísmo seja verdadeiro e estou inquieto pelo fato de que algumas das pessoas mais inteligentes e bem informadas que conheço são crentes religiosos. Não é apenas isso. Eu não acredito em Deus e, naturalmente, espero que esteja bem na minha crença. Simplesmente desejo que não haja Deus! Eu não quero que haja um Deus. Eu não quero um universo como o nosso” [4]. Pelo menos Nagel é honesto. Quando o ateu tem sua opinião formada por causa da evidência humeniana, eles já não são ateus, mas adoram o deus de David Hume que acaba por se parecer estranhamente como eles mesmos!
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[1] Hume, David, Sobre os milagres, 1776
[2] Craig, William Lane, Deus, você está aí ?, p.7
[3] Entrevista com Anthony Flew na Universidade Biola, 2004
[4] Nagel, Thomas, The Last Word, p. 130

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