Para a monta dos entusiastas da Modernidade tem sido a Idade Média um caro bode expiatório. Sequer suspeitam que ao fazê-lo, redigindo artigos ou ministrando aulas num contexto universitário, fornecem, em nome da surpreendente modernidade da Idade Média, três evidências.
O segredo que sustenta este processo é a coordenação apropriada dos três pesos, da posição dos dois pesos (p1 e p2) sobre o eixo horizontal e das respectivas separações dos pinos e das paletas. Uma vez obtido isto, a aceleração da massa principal é ligada à fonte de energia de ação constante pelo qual os relógios ou outros mecanismos podem ser acionados a uma taxa constante. Aqueles cônscios da importância do mecanismo de resposta mútua em inúmeros instrumentos modernos vão reconhecer imediatamente a modernidade impressionante desta invenção medieval.
Outra coisa que se deve notar é que isto não foi fruto de uma engenharia sistemática, mas de um procedimento conhecido como “tentativa e erro” em que a intuição desempenha um papel crucial. Esta é também uma evidência de sua modernidade. Não obstante toda a matemática disponível aos cientistas modernos, seu melhor trabalho ainda é feito por intuição.
Para todos os efeitos, sem demora os relógios de torre entraram a anunciar as horas e quartos de hora, em um número crescente de cidades medievais. A vida, então, regulava-se a mais e mais em antecipação do ritmo estabelecido pelas modernas fábricas, escritórios, lojas e transportes. Os relógios não foram a única invenção tecnológica com as quais nossos tempos modernos contraíram grande dívida para com os medievais. Houve, de fato, tantas inovações tecnológicas medievais que, até o século XVIII, formaram, juntas, a base de toda a habilidade industrial.
Entre essas inovações estava o comando de válvulas ou virabrequim, que ainda é o fundamento principal de todas as locomotivas e automóveis. O comando de válvulas torna possível a transformação do movimento linear do pistão no cilindro de um motor de carro em um movimento de rotação das rodas. Uma vez disponível, foi possível utilizá-lo com grande proveito não só em moinhos d´água, mas também em moinhos de vento. Sua difusão durante o século XII, através de toda a Europa Ocidental era uma parte da revolução tecnológica medieval.
Combinado com o comando de válvulas, o movimento giratório dos moinhos poderia ser usado para operar martelos e serras. Isso ajudou a desenvolver a indústria madeireira e a produção de pasta de linho para papel. Uma vez que era feito de linho o papel e que poderia este ser produzido em grandes quantidades, era natural pensar na produção de livros de um modo muito mais eficiente do que copiá-los a mão. Elaborados Impressos de páginas inteiras, em blocos, floresciam em 1400. Ao mesmo tempo, muito já se experimentava com tipos móveis. A perfeição da Bíblia de Gutenberg é uma prova de que o estágio final de um longo desenvolvimento deve ter sido atingido a pelo menos duas ou três gerações antes de Gutenberg ter entrado em cena. O que mais há de assombrar a consciência moderna é o que Pierce Butler escreveu sobre esta questão em sua obra A Origem da Imprensa na Europa, há quase meio século atrás:
“O volume inicial de material impresso, como na verdade representado pelos exemplares sobreviventes é tão grande que é preciso acreditar que muitos homens em muitos lugares contribuíram para a sua produção. A variedade de diferenças tecnológicas exibidas por este material indica um desenvolvimento progressivo, o que implica que muitas mentes estavam ocupadas com experimentos de “tentativa e erro” durante um longo período… Gutenberg pode ter concebido a idéia original de um método eficaz para imprimir tipos iniciais em cores, mas há poucas garantias, exceto a tradição tardia, de que se lhe deva atribuir a maior honra”. (1)
Em outras palavras, os créditos para a descoberta da imprensa de tipos móveis devem dirigir-se a um gênio tecnológico desconhecido do final dos anos 1300 e a uma cultura medieval que forneceu um solo bem fértil para a semente de uma grande invenção. Eis que, portanto, a prova involuntária em nome da modernidade da Idade Média, é precisamente fornecida por quem afirma o contrário, seja por escrito ou em aula agendada para uma hora específica.
Um tal antagonista perderia ainda mais sua credibilidade se além disso, usasse uma sala de aula de universidade como o seu fórum. Se alguma coisa dá testemunho da modernidade da Idade Média, são as universidades. A vida moderna é inconcebível sem universidades, mas isso não é menos verdade para vida medieval, que viu sua ascensão em primeiro lugar.
Quando uma instituição recém-fundada se espalha rapidamente, revela um aspecto muito característico do espírito de sua época. O espírito em questão era o forte anelo de tudo saber, de conhecer o universo das coisas e da verdade. Isto nos fornece um indício não só para a fundação e difusão medieval das universidades, mas também para o que merece ser chamada de explosão tecnológica da Idade Média.
As invenções tecnológicas são freqüentemente atribuídas a necessidades materiais. Que tais necessidades são a única fonte de invenções é o que afirma o marxismo – o que não pode ser verdade quando se trata de colheres e garfos, pois estes não são encontrados em todos os antigos assentamentos humanos. A mesma afirmação obviamente não é verdadeira acerca do comando de válvulas, relógios, imprensa, e universidades. Essa afirmação é ainda menos válida acerca do vasto programa medieval de tradução para o latim, e parcialmente do árabe, da literatura filosófica e científica produzida pelos antigos gregos. Essa literatura continha algo da tecnologia que os medievais ainda não conheciam, ou conheciam muito melhor do que os gregos. Os gregos, não esqueçamos, jamais foram tentados a erguer tão ousadas construções como as catedrais medievais, que incorporam várias inovações arquitetônicas importantes. Os medievais foram ainda capazes de absorver aqueles escritos notadamente filosóficos dos gregos, muitos deles escritos por Aristóteles, de uma forma que nos levou, em meados do século XIV, ao nascimento da ciência, o principal orgulho da nossa idade moderna. A modernidade da Idade Média em nenhum lugar é mais evidente do que no nascimento medieval da ciência moderna.
Isto pode parecer uma declaração estranha e provocadora, mas não há nada de realmente novo sobre isso. Quando foi exposta pela primeira vez, com vasta evidência histórica no início do século XX, o mundo intelectual moderno a recebeu por um tempo com uma espantada descrença. Então, a partir da década de 1940 em diante, o mundo entrou em um contra-ataque cultural contra o que pode ser melhor denominado a “Tese de Duhem”. Parte desse ataque tomou a forma de uma conspiração de alguns dos mais importantes acadêmicos para evitar a publicação da segunda metade da obra-prima em dez volumes de Duhem. Eles conseguiram por quase três décadas. (2)
Pierre Duhem (1861-1916) foi um físico teórico francês educado na perspectiva comteana da história intelectual. O aspecto menos censurável dessa perspectiva era de que nenhum assunto está bem compreendido até que seja investigado em seu desenvolvimento histórico. Então Duhem, uma autoridade mundial em termodinâmica, começou a escrever uma história dos princípios básicos da mecânica. Muito naturalmente ele começou com os gregos (Arquimedes, em particular), então quis ir direto a Galileu, saltando cerca de dois mil anos. Bom católico, Duhem não compartilhava o pendor comteano de que nada havia de importante na filosofia e teologia medievais. Mas como todos os outros católicos de sua época (e infelizmente, como quase todos os intelectuais católicos do nosso tempo), Duhem achava que não havia ciência a ser verificada na Idade Média. Enquanto ele estudava as obras dos antecessores imediatos de Galileu, ele encontrou uma referência obscura a um certo Jordanus. A referência, que só tinha sido observada por dois historiadores da ciência entre os contemporâneos de Duhem, foi ainda mais enigmática porque, naquela mensagem, foi atribuída ao misterioso Jordanus a descoberta da lei mais fundamental da mecânica, a lei das velocidades virtuais.
O que os outros dois não fizeram, apesar de serem historiadores profissionais da ciência, Duhem fez, e de forma que a longo prazo o transformou no mais original historiador da ciência de todos os tempos. Duhem empreendeu uma busca intensa a Jordanus, uma busca que o levou a heróica descoberta da origem medieval da ciência moderna. Ele esperava tudo, menos isso. Primeiro Duhem foi conduzido dos livros impressos do século XVI aos incunábulos. Além disso, havia um campo amplamente inexplorado de manuscritos escritos, sobretudo em taquigrafia Latina, que varia de região para região e de século para século. Ninguém ficou mais surpreso do que Duhem ao descobrir que Jordanus fazia parte da Sorbonne do século XIV, uma das grandes, senão a maior das universidades medievais.
Como sempre acontece, um avanço abre rapidamente um vasto campo insuspeito. Dentro de quatro ou cinco anos Duhem também descobriu que os primeiros indícios da primeira lei de Newton estavam também ligados a Sorbonne medieval. Em dois professores que, aí, lecionavam, Buridan e Oresme, lembrados apenas como curiosas figuras da história da filosofia, Duhem descobriu dois gênios científicos. Mais importante ainda, ele descobriu que sua contribuição para os avanços históricos da ciência devia-se a uma razão muito medieval A razão era genuína, uma autêntica crença e teologia cristã.
A base da religião cristã é a crença na revelação, tal como está consignada pelo Magistério da Igreja e codificada nos vários credos. Todos os Credos, longos e curtos, ou profissões de fé, começam com as palavras: “Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra.” Em outras palavras, o Credo começa com a afirmação de que o universo é uma criação de Deus. No início da Alta Idade Média, no IV Concílio de Latrão, realizado em 1214, a Igreja solenemente definiu a antiga convicção cristã de que foi criado o universo no tempo. Com isso, tencionava dizer a Igreja que a pretérita história do universo era finita.
Foi com essas convicções que Buridan interpretou Aristóteles, para quem o universo era incriado e, portanto, eterno. Tomás de Aquino e muitos outros medievais antes de Buridan também leram as declarações de Aristóteles acerca da eternidade do universo. Todos rejeitavam-no, com o fundamento de que o contradizia a revelação. Buridan fez o mesmo, mas com uma diferença. Ao contrário de Aquino, que foi um teólogo com pouco interesse nos aspectos científicos da realidade física, Buridan possuía bastante interesse nesta questão. Assim, quando Buridan, em oposição a Aristóteles, diz-nos que o mundo tem um passado finito, naturalmente considerava o modo físico porque o movimento do universo houvera começado.
O modo ou forma não poderia ser o único com que Aristóteles propôs os termos de seu panteísmo. Segundo Aristóteles, o universo move-se, porque em sua parte mais elevada, a esfera das estrelas fixas, mantém-se em um tipo de contato com o motor divino ou o Primeiro Motor. Foi através desse contato eterno com o divino que, na opinião de Aristóteles, o universo tem estado em movimento (rotação) desde a eternidade e se mantém em movimento para sempre.
A partir de Buridan, tinha o cristão de postular um princípio absoluto para o movimento físico, era-lhe praticamente impossível manter essa noção de contato como uma fonte de movimento. Um universo livremente criado por Deus no tempo, não poderia ser imaginado como necessariamente estando em contato com o divino. Se não há contato, então o que? É nesse ponto que se afirma a genialidade de Buridan , obviamente motivado por suas convicções cristãs. Recorreu à ideia de um dar ou transmitir, uma ideia que muito se identifica com a noção cristã da criação. Não é a criação um ato algo de produzir a partir do nada, um dar e transmitir no sentido mais profundo possível? E não seria o dar de Deus, algo tão sólido e confiável para ficar com a coisa para a qual ele foi dado?
Pensamentos como estes deveriam estar por trás da mente de Buridan, tanto que nos legou, acerca da origem de todo o movimento físico, esta declaração:
“Quando crio Deus o mundo, Ele moveu cada um dos orbes celestes como quis, e ao movê-los imprimiu-lhes impulsos que os moveram sem que tivesse de move-los mais, exceto pelo método de influência geral pelo qual Ele contribui como um co-agente em todas as coisas que acontecem;… estes impulsos que foram impressos nos corpos celestes não foram reduzidos nem corrompidos depois, porque não houve resistência que os corrompesse ou reprimisse”.
A importância histórica desta declaração não pode ser suficientemente enfatizada. Ela inclui três características muito importantes. A primeira, a mais óbvia, é a equivalência substancial daquela declaração com a primeira lei de Newton. Desde que esta lei é o fundamento da segunda e terceira leis do movimento, a declaração de Buridan por sua vez contém a própria base da ciência da física. A importância desta para a vida moderna é bem conhecida. Muito menos conhecida, e muitas vezes nem sequer suspeita, é a origem medieval desta modernidade.
O segundo aspecto a ser observado sobre a declaração de Buridan é que implica a noção de leis autônomas da natureza. Uma vez que deu Deus movimento ao universo, este o mantém e continua agindo de acordo com isto. Em outras palavras, a ideia de criação assegura a noção de uma natureza agindo consistentemente com as leis que lhe são dirigidas. É essa coerência que é pressuposta por todos os físicos ao fazerem suas pesquisas.
A terceira característica moderna da declaração medieval de Buridan diz respeito à quantidade de movimento dada ao universo. A ideia era parte de uma noção mais ampla sobre o universo, uma ideia que veio direto do Livro da Sabedoria, um dos últimos livros do Antigo Testamento. Ali o Criador é designado como “quem dispõe tudo de acordo com a medida, quantidade e peso”. A frase não é apenas mais uma frase bíblica. Em vez disso, como observou Ernst Curtius, um grande especialista protestante em literatura medieval, era a passagem bíblica mais citada durante a Idade Média. Tal frase pôde prontamente formar um propício clima de pensamento, o que de fato aconteceu. Os esforços para quantitativamente tratar os processos físicos foram numerosos a partir do século XIV. Um dos resultados foi a introdução da técnica de latitudes, o uso pioneiro de sistemas de coordenadas.
Ao falar sobre aquela frase da Bíblia, não é preciso imaginar que os homens medievais, nem mesmo os estudiosos medievais, andassem com Bíblias em seus bolsos. Uma vez que eram manuscritas, havia relativamente muito poucas e eram muito caras. No entanto, os intelectuais medievais conheciam-na muito bem, porque foram bem instruídos na catequese e na teologia. As passagens e histórias bíblicas faziam parte de uma ampla instrução oral. A qualidade desta instrução pode ser compreendida a partir do fato de que o intelectual medieval era um homem cujo impulso e ímpeto resultava dos primeiros capítulos da Bíblia. Conduzia-se por um sentido bíblico de missão. Sentia que as palavras ditas por Deus ao primeiro homem e mulher: “multiplicai e dominai a terra” também a ele foram dirigidas.
Foi nessa unidade que se produziu uma revolução agrícola na Idade Média, que testemunhou a introdução da técnica de afolhamento ou rotação de culturas. E que assistiu a introdução do arreio de peito, que consideravelmente aumentou a eficácia do uso de cavalos como principal fonte de energia. Essa unidade produziu uma revolução tecnológica que não foi superada até a chegada da máquina a vapor no final do século XVIII. Essa unidade medieval produziu a revolução intelectual através da criação das universidades.
A fonte dessa unidade foi a consciência cristã do propósito e responsabilidade do homem. Não obstante o mandamento bíblico para submeter a terra, o homem medieval sabia que ele não era o dono da natureza, mas o mordomo que Deus nela colocou. Claro que o homem medieval não sabia o suficiente sobre os perigos ecológicos do desmatamento, da queima de madeira, da eliminação de resíduos, da poluição do ar e da água. Mas ele não era um cultivador irresponsável. A ameaça ecológica nos sobreveio na exata medida em que o homem moderno passou a considerar a si mesmo como seu próprio mestre, sem a responsabilidade de algo ou alguém que lhe fosse maior.
Deveria parecer-nos claro que é uma inconsistência flagrante culpar o mandamento cristão de submeter a terra por nossa crise ecológica. Esta acusação raramente se faz acompanhar do reconhecimento de que, se são culpados os medievais pelo abuso da tecnologia, a eles primeiramente deve ser creditada a criação de uma tecnologia da qual abusamos em larga escala.
Esta imagem dos medievais como paradigmas de modernidade muito insólita vai parecer para a pseudo-intelectualidade secularista que confia pesadamente nas alegadas “trevas” da Idade Média. Mas pode também irritar as piedosas pessoas que tomam São Francisco como a quintessência do espírito medieval. Si, era ele aquela essência, mas de uma forma mais sutil do que geralmente se supõe. Seu ideal de pobreza é um caso isolado. Seus filhos espirituais supostamente possuíam pouco ou nada, e para obter o seu sustento recorriam à mendicância. Mas mendigar em grande escala – o número de frades cresceu aos trancos e barrancos – só seria possível se os bens fossem produzidos em quantidade suficiente para serem distribuídos aos pedintes, nobres ou não.
Em segundo lugar, o ideal cristão promovido por São Francisco foi uma revolução, mas nunca um chamado à revolta. São Francisco ordenou a seus filhos espirituais acima de tudo uma completa lealdade à autoridade eclesiástica, e ao Papa em particular. Mas como a hierarquia é o princípio da continuidade, ressaltando a lealdade a ela, São Francisco queria um laço firme com o passado, a fim de ter um futuro seguro.
Nesse sentido São Francisco ou o homem medieval não eram de todo modernos. Mas é precisamente esta não-modernidade do homem medieval, que nos deve ser mais útil. Em nosso desprezo pela tradição, pela continuidade, em nossa enlouquecedora determinação de demolir quase tudo a cada quarenta ou cinquenta anos, em nossa ânsia de novidade pela novidade, estamos, obviamente, destruindo o chão sob nossos próprios pés. Se estamos prontos para recorrer aos medievais pedindo-lhes por um remédio tão necessário, ainda não se sabe.
Se nos beneficiamos deste remédio medieval, podemos também pode encontrar uma cura para nossa doença mais grave: a subordinação do homem à esfera da quantidade, a ponto de perder seu senso de propósito e valores. O homem moderno é tão escravo da quantidade que só reconhece padrões, e quer ver padrões onde eles simplesmente não podem existir. Padrões – físicos, econômicos, sociais, psicológicos, e até mesmo alguns padrões cognitivos – são sempre quantitativos, pelo menos em princípio. Mas nenhum espetáculo envolvendo quantidades, números e estatísticas vai produzir tanto quanto uma gota de valor e propósito.
O resultado é a prisão da vida moderna no puro relativismo, um resultado muito lógico porque não pode haver nenhuma diferença essencial que distinga aos padrões. Nenhum padrão, como tal, pode ser melhor, no sentido de valor, que qualquer outro padrão. A impossibilidade de reconhecer isto é o que constitui a moderna escravidão ao relativismo através do culto ao padrão. Esta escravidão favorece o modismo destas novas e desnecessárias expressões tais como bissexual e heterossexual e outras tantas blindagens verbais para nos fazer ver meros padrões e não desastres morais, na realidade denotados por palavras tais como lésbica e homossexual.
O homem moderno simplesmente não quer enxergar que a anarquia se agiganta atrás da relativização de todos os valores em termos de padrões de comportamento. Todos esses padrões de hoje em dia são social e legalmente justificados assim que experimentados por um número estatisticamente significativo de pessoas. O assunto foi colocado há alguns anos com assustadora franqueza pelo Professor W. Pearce Williams, da Universidade de Cornell. Em uma carta (21 de dezembro de 1983) para o The New York Times, ele veio ao auxílio do professor Donald Kagan, que advertiu contra qualquer recurso à lei moral superior em tais inflamadas questões sociais como a desobediência civil em prol dos direitos civis:
“O que Kagan, eu acho, estava discutindo é que não existe um “universo moral” a que os cidadãos possam agora apelar para fornecer uma base adequada à desobediência à lei. Acho estranho esses liberais que insistem sobre o relativismo final de todos os valores morais, e que de repente apelam para uma moral “superior” (que eles têm o cuidado de não definir) quando lhes convém. Tudo isto se extinguiu com os vitorianos, e agora vivemos numa sociedade em que todas as opiniões morais parecem ser igualmente válidas … A questão certamente, como Kagan afirmou com clareza, é que vivemos em uma sociedade consensual onde muita vez temos que fazer coisas que não queremos fazer, em que até mesmo pensar é errado, porque temos que concordar em obedecer a regra da maioria. Destrua este argumento, e o resultado não será a liberdade, mas sim a anarquia -. Uma condição a que os Estados Unidos parecem se aproximar rapidamente.”
Este inabalável curso até à anarquia é alimentado pela preocupação desequilibrada do homem moderno com padrões, uma preocupação fomentada pela maioria dos membros do meio acadêmico. A fim de não chegar ao limiar da anarquia, não é a atenção aos padrões que deve ser descartada. Em vez disso, um senso de propósito deve ser recuperado. O que é necessário nos tempos modernos é um senso de equilíbrio, uma análise aprofundada dos padrões ou quantidades, bem como das qualidades e valores. Esse senso de equilíbrio, os medievais possuíam em alto grau, porque eles estavam cheios de fé cristã. A principal recomendação desta fé não é que ela seja útil aos tempos modernos como o foi para os tempos medievais, mas que seja indispensável em todos os tempos.
Stanley L. Jaki é um sacerdote beneditino húngaro e vencedor do Prêmio Templeton, 1987.
Tradução: Wagner de Souza e Cristiano de Aquino
Fonte: http://bibliotecaecosdoexilio.blogspot.com.br/2013/10/a-modernidade-da-idade-media.html
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Obrigado por postar Emerson!!!