Leitor pergunta sobre se versículo tem a ver com comunismo


O versículo ”E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.” (Atos 4:32-33) tem a ver com algum tipo de comunismo?” – Por Bruno Pinheiro
Olá,  Bruno. Como sempre, é um prazer receber perguntas dos leitores do Logos. Não se tratava de socialismo ou comunismo, mas duma partilha voluntária com o objetivo de ajudar pessoas interessadas nas boas novas e em promover sua divulgação.

Tal usufruto de coisas em comum não era comunismo, como alguns supõem. Era meramente um arranjo temporário. Quando os cristãos retornaram às suas próprias casas, o arranjo findou. William Barclay salienta:

Por  exaltados  que  estivessem  aqueles  primeiros  cristãos;  por mais  momentos  sublimes  que  compartilhassem,  nunca  esqueciam  que alguém  passava  fome,  que  alguém  não  tinha  o  suficiente,  e  que  todos deviam  ajudar.  A  oração  era  de  suma  importância;  dar  testemunho também o era, mas a culminação é a caridade e o amor entre os irmãos. Devemos notar duas coisas a respeito deles.
(1) Tinham um intenso sentido de responsabilidade um pelo outro. Não podiam conceber que alguns tivessem tanto enquanto outros tinham tão pouco.
(2) Isto despertou neles um verdadeiro desejo de compartilhar tudo o  que  possuíam.  Devemos  notar  acima  de  tudo  uma  coisa:  este compartilhar  não  foi  o  resultado  de  uma  legislação;  foi  totalmente espontâneo. A sociedade chega a ser verdadeiramente cristã não quando a lei nos obriga a compartilhar, mas sim quando o coração nos move a fazê-lo.  A  caridade  da  legislação  nunca  pode  substituir  a  caridade  do coração. (“Os Atos dos Apóstolos”, por William Barclay)

Atos 3,32-33 e 2, 44-45 parece ser uma afirmação absoluta de apoio da Bíblia ao comunismo. No entanto, o termo “cristão comunista” é uma contradição em termos, pois o cristianismo e o comunismo são duas visões de mundo que são muito incompatíveis. Além disso, dizer que a Igreja do primeiro século praticava o comunismo rotula injustamente as intenções e motivações dos cristãos do primeiro século descritos em Atos 2,44-45.

Para começar, o termo “comunismo cristão” levanta a questão de que o comunismo realmente é e se ele é compatível com o cristianismo bíblico. Será que é mesmo possível ser um “cristão comunista” e o termo “comunismo cristão” representa as ações dos fiéis do primeiro século descritos em Atos 2,44-45? Para responder a essas perguntas, é preciso primeiro definir o comunismo. Dr. Tom Lansford, deão acadêmico e professor de ciência política da Universidade de Southern Mississippi Gulf Coast, define o comunismo como se segue:

O comunismo é um sistema político, social e económico em que o governo se baseia em uma sociedade coletiva com a propriedade da terra, e as atividades econômicas controladas pelo Estado… os comunistas acreditam que a base para a desigualdade no mundo é a luta de classes: o classe rica (comumente referida como a “burguesia”) tenta explorar os pobres de trabalho (o “proletariado”). O objetivo final do comunismo é o de criar uma sociedade em que todos são iguais e não há classes econômicas e sociais. A fim de eliminar a luta de classes, o proletariado tem que se levantar contra a burguesia e remover o poder econômico e político do grupo. (Tom Lansford, “Communism”, Tarrytown: Marshall Cavendish, 2008, p. 9.)

Esta definição demonstra claramente a incompatibilidade do cristianismo com o comunismo, tanto quanto o relacionamento com o governo está em causa. No comunismo, o proletariado deve se levantar e remover a burguesia do poder para que o proletariado possa tomar o controle do governo. Em outras palavras, a classe trabalhadora deve se rebelar e tomar o poder, usando a violência, se necessário, a fim de estabelecer o domínio final.  Essas ideias são contrárias às Escrituras, que comandam a submissão dos fiéis a toda e qualquer autoridade civil (Romanos 13,1-7; Tito 3,1- 1 Pedro 2,13-17) e a oferta de orações para o mesmo ( 1 Timóteo 2,1-2).

A venda de bens imobiliários e compartilhar todas as coisas eram algo estritamente voluntário. Ninguém era obrigado a vender ou doar algo; tampouco se tratava de promover a pobreza. A ideia não era que os membros ricos vendessem todas as suas propriedades e assim se tornassem pobres. Antes, era por compaixão com os concrentes, sob as circunstâncias daquela ocasião, que vendiam propriedades e contribuíam todos os rendimentos com o fim de prover o necessário para promover os interesses do Reino.

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