Jesus é filho de Deus ou do Diabo? – Resposta a Fábio Sabino

Mais uma vez Sabino alega fazer uma análise “exegética” para alegar algo. Desta feita, sobre se Jesus realmente falou uma mentira, perfazendo-Lhe ser “filho do diabo”. Mas será mesmo? Vamos analisar.

Mc. 14, 61-62. O texto reza:

Mas ele ficou calado e não deu nenhuma resposta. O sumo sacerdote começou novamente a interrogá-lo e disse-lhe: “És tu o Cristo, o Filho do Bendito?” Jesus disse então: “Sou; e vós vereis o Filho do homem sentado à destra de poder e vindo com as nuvens do céu.”

O que isto quer dizer? Portanto, a profecia da chegada do Filho do homem à presença do Antigo de Dias, Deus, claramente se aplica a uma pessoa, ao Messias, Jesus Cristo. A evidência indica que era entendida assim pelo povo judeu. Escritos rabínicos aplicavam a profecia ao Messias. (Soncino Books of the Bible [Livros da Bíblia, de Soncino], obra editada por A. Cohen, 1951, comentário sobre Da 7,13.) Sem dúvida, foi por quererem um cumprimento literal desta profecia que os fariseus e os saduceus pediram que Jesus “lhes mostrasse um sinal do céu”. (Mt 16,1; Mr 8,11) Depois de Jesus ter morrido como homem e ter sido ressuscitado para a vida espiritual, Estêvão teve uma visão na qual observou “o céu aberto” e viu “o Filho do homem em pé à direita de Deus”. (At 7,56) Isto mostra que Jesus Cristo, embora sacrificando sua natureza humana em resgate para a humanidade, retém corretamente a designação messiânica de “filho do homem” na sua posição celestial.
A primeira parte da declaração de Jesus ao sumo sacerdote, sobre a vinda do Filho do homem, falava dele como “sentado à destra de poder”. Trata-se evidentemente de uma alusão ao profético Salmo 110, tendo Jesus Cristo mostrado anteriormente que este salmo se aplicava a ele. (Mt 22,42-45) Este salmo, bem como a aplicação dele pelo apóstolo, em Hebreus 10,12-13, revela que haveria um período de espera para Jesus Cristo, antes de seu Pai o enviar para ‘subjugar no meio dos seus inimigos’. Portanto, parece que o cumprimento da profecia de Daniel 7,13-14, não ocorre por ocasião da ressurreição e ascensão de Jesus ao céu, mas no tempo em que é autorizado por Deus para agir contra todos os opositores, numa vigorosa expressão de sua autoridade régia. A ‘chegada do Filho do homem ao Antigo de Dias’, portanto, aparentemente corresponde em tempo à situação apresentada em Revelação 12,5-10, quando é dado à luz o simbólico filho varão e ele é arrebatado para o trono de Deus. Daí irrompe guerra no céu, e se levanta o clamor: “Agora se realizou a salvação, e o poder, e o reino de nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo.”
O termo kathémenon (aqui traduzido por “assentado”) descreve não a entronização de Jesus mas a revelação Dele entronizado. O termo grego não indica o começo de uma sessão mas de sua continuidade. Quando Jesus vir sobre as nuvens do céu Ele terá todo poder e autoridade daquele sentado à destra de Deus. Poder-se-ia parafrasear assim as suas palavras: Vocês, que me vêem neste momento como o candidato à morte abandonado por Deus e condenado, experimentarão minha justificação por Deus: e vindo com as nuvens do céu. As nuvens são aqui a vestimenta divina. Elas indicam a comunhão com o Altíssimo (cf. 13.26n).  Esta declaração anunciou aos juízes terrenos sua própria acusação e condenação. Assim Jesus, em  Espírito, predisse uma troca incrível de lugares: o condenado é juiz, os juízes são culpados.

Sabino então parte para falar da “onisciência” de Jesus. Evidentemente, em sua condição humana, Jesus estava limitado e não tinha a mesma capacidade que em Sua glória. Para vermos isso, basta lembrarmos que Ele não sabia o dia e hora de sua vinda, só o Pai. Jesus estava limitado em Sua condição humana. Moffatt traduz Mt. 26,64 como “mas eu vos digo que no futuro verão o filho do homem assentado à direita do poder…” Isto soluciona muita coisa. Mt. 24,30 nos traz um evento futuro (“e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu”). Comentaristas cristãos e judeus concordam que aqui se trata do Messias (Dn. 7,13).

Mt. 16,27-28 – reza:

Porque o Filho do homem está destinado a vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então recompensará a cada um segundo o seu comportamento. Deveras, eu vos digo que há alguns dos parados aqui que não provarão absolutamente a morte, até que primeiro vejam o Filho do homem vir no seu reino.”

Dei uma resposta a uma passagem semelhante aqui. Sobre Mt. 16, 27-28, alguns talvez achem que essas palavras não se cumpriram porque todos os discípulos de Jesus que estavam presentes quando ele disse isso faleceram antes do estabelecimento do Reino de Deus no céu. A obra The Interpreter’s Bible (A Bíblia do Intérprete) chega a dizer sobre esse versículo: “Essa predição não se cumpriu, e mais tarde os cristãos acharam necessário explicar que se tratava de uma metáfora.”
No entanto, o contexto desse versículo, bem como o dos relatos paralelos de Marcos e de Lucas, ajudam-nos a entender o verdadeiro significado desse texto. O que Mateus relatou logo depois das palavras citadas anteriormente? Ele escreveu: “Seis dias depois, Jesus tomou a Pedro, e a Tiago, e a João, irmão deste, e levou-os à parte, a um alto monte. E ele foi transfigurado diante deles.” (Mateus 17,1-2) Marcos e Lucas também relacionaram o comentário de Jesus a respeito do Reino com o relato da transfiguração. (Marcos 9,1-8; Lucas 9,27-36) A transfiguração de Jesus, isto é, sua aparição em glória na presença dos três apóstolos, representou a então futura vinda de Jesus com o poder de Rei do Reino. Pedro confirma esse entendimento por falar do “poder e [da] vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”, relacionando isso com o fato de ele ter testemunhado a transfiguração de Jesus. — 2 Pedro 1,16-18. É evidente que Jesus não está dizendo que alguns de seus discípulos viverão até o estabelecimento do Reino messiânico. Jesus tem em mente dar a três de seus discípulos mais chegados uma visão espetacular de sua glória no poder do Reino. Essa visão é chamada de transfiguração.

Seis dias depois, Jesus leva Pedro, Tiago e João a uma montanha — provavelmente uma encosta do monte Hermom. Ali, Jesus é ‘transfigurado diante deles, e o seu rosto brilha como o sol, e a sua roupagem exterior torna-se brilhante como a luz’. Aparecem também os profetas Moisés e Elias, que conversam com Jesus. Esse evento assombroso provavelmente ocorre à noite, tornando-o especialmente vívido. De fato, parece tão real que Pedro se propõe a armar três tendas: uma para Jesus, outra para Moisés e outra para Elias. Enquanto Pedro ainda está falando, uma nuvem luminosa os encobre e uma voz vinda da nuvem diz: “Este é meu Filho, o amado, a quem tenho aprovado; escutai-o.” — Mateus 17,1-6.

O apóstolo Pedro já identificara a Jesus como “o Cristo, o Filho do Deus vivente”. (Mateus 16,16) As palavras de Iahweh, procedentes do céu, confirmaram esta identificação, e a visão do transfigurado Jesus foi uma previsão da vinda de Cristo no poder e na glória do Reino, para por fim julgar a humanidade. Mais de 30 anos depois da transfiguração, Pedro escreveu: “Não foi por seguirmos histórias falsas, engenhosamente inventadas, que vos familiarizamos com o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas foi por nos termos tornado testemunhas oculares da sua magnificência. Pois ele recebeu de Deus, o Pai, honra e glória, quando pela glória magnificente lhe foram dirigidas palavras tais como estas: ‘Este é meu Filho, meu amado, a quem eu mesmo tenho aprovado.’ Sim, estas palavras nós ouvimos dirigidas desde o céu, enquanto estávamos com ele no monte santo.” — 2 Pedro 1,16-18; 1 Pedro 4,17. Uns 30 anos mais tarde, Pedro ainda se lembrava desse espetáculo em todo o seu brilhantismo. “Por conseguinte”, disse ele, “temos a palavra profética tanto mais assegurada”. Que “palavra profética”? Ora, aquelas profecias, tais como Daniel 7,13-14, que foram então confirmadas pela transfiguração — profecias sobre a vinda do Filho do homem na glória do poder do Reino! — 2 Pedro 1,16-19; veja também Isaías 9,6-7. Chafer chama a Transfiguração de “pré-estreia da vinda do reino na terra” (L. S. Chafer, Systematic Theology, V. 85).

Perto do fim do seu ministério na Galiléia, Jesus chamou a si a multidão e seus discípulos, e disse: “Todo aquele que ficar envergonhado de mim e das minhas palavras, nesta geração adúltera e pecaminosa, deste o Filho do homem também se envergonhará.” (Marcos 8,34-38) De modo que as massas dos judeus impenitentes daquela época obviamente eram esta “geração adúltera e pecaminosa”. Alguns dias mais tarde, depois da transfiguração de Jesus, ele e seus discípulos ‘se chegaram à multidão’, e um homem lhe pediu que curasse seu filho. Jesus comentou: “Ó geração sem fé e deturpada, até quando terei de continuar convosco? Até quando terei de suportar-vos?” — Mateus 17,14-17; Lucas 9,37-41. Todo o contexto e exegese nos leva a ver que este evento chamado “até que primeiro vejam o reino de Deus já vindo em poder” se refere à transfiguração e não à Segunda Vinda, como alega o Sabino.
Em Mc. 8,38 Jesus claramente está falando da segunda vinda. Ao quê ele se refere em 9,1? Faz-nos lembrar Mc. 13,32 e Mt 24,36 onde Jesus nega expressamente que ninguém, exceto o próprio Pai (nem mesmo o Filho) sabe o dia nem a hora. Será que ele contradiz isso aqui? Pode-se observar que Lucas tem apenas ‘ver o reino de Deus’, enquanto Mateus tem ‘verão o Filho do homem vindo’ (ercomenon, particípio presente, um processo). Marcos diz ‘vejam ter chegado o reino de Deus’  (elhluyuian, particípio ativo perfeito, “já vem”) e adiciona-se “com poder”. Certamente a segunda vinda não se realizou enquanto alguns daqueles ali ainda viviam. Que Jesus quis dizer com isso? Como vimos, trata-se da transfiguração. A linguagem também se aplica à vinda do Espírito Santo no Pentecostes.

Interessante é que Godet declara: “Eu acredito com Hoffmann que é preciso comparar essa passagem com expressões como Lc 17.21: „O reino de Deus está interiormente em vocês‟, e Jo 3.3: “A não ser que alguém nasça de novo, não poderá ver o reino de Deus”. Jesus quer dizer: “Sequer durará muito
tempo até que os que entregaram sua vida a reencontrarão e começarão a usufruir da visão do reino de Deus”. A palavra ‘ver’ possui aqui seu pleno significado, tal como, p. ex., na expressão ‘ver a morte’ (Jo 8.51), que é idêntica a „experimentar a morte‟ (v. 52) e na locução ‘ver o reino de Deus’
(Jo 3.3), onde é usado como equivalente de „entrar nele‟ (v. 5). ‘Ver a morte’ nesse sentido não é o mesmo que ‘ver alguém morrer’, mas significa ‘morrer pessoalmente’. ‘Ver a vida’ não significa ‘ver pessoas vivas’ mas ‘viver pessoalmente’. ‘Ver o reino de Deus’ não significa vê-lo como os judeus
em Pentecostes viram o surgimento da comunidade, mas entrar pessoalmente nele. A palavra alguns refere-se aos discípulos e a todos os que, no dia de Pentecostes, receberam o Espírito Santo e viram interiormente os grandes feitos de Deus, experimentado-os como adequados à  salvação e certificadores dela. A esses Jesus designa como ‘reino de Deus, no qual agora estavam entrando’.

Mt. 20, 21-23 – Para os judeus, sentar-se à direita ou à esquerda era considerado uma grande honra. (1 Reis 2,19) Ambiciosamente, Tiago e João tentaram conseguir os lugares mais destacados. Queriam ter certeza de que ganhariam essas posições de autoridade. Jesus sabia das intenções deles e aproveitou a oportunidade para corrigir o conceito de grandeza equivocado que eles tinham. Jesus sabia que neste mundo orgulhoso a pessoa considerada grande é aquela que manda nos outros e os controla, e que, num estalar de dedos, pode ter todos seus desejos atendidos. Mas entre os seguidores de Jesus a grandeza é medida pelo serviço prestado com humildade. Ele disse: “Quem quiser tornar-se grande entre vós tem de ser o vosso ministro, e quem quiser ser o primeiro entre vós tem de ser o vosso escravo.” — Mateus 20,26-27. Aqui Cristo apresenta uma antítese, não entre Ele e o Pai, mas entre Tiago e João (que procuravam ambiciosamente ter os primeiros lugares em seu reino).

A tradução deste trecho evidentemente não expressa o sentido do original. A tradução exprime a ideia de que Jesus não tem nada a ver em outorgar recompensas a seus seguidores. Isto está em desacordo com o testemunho uniforme das Escrituras, Mt 25,31-40 de Jo. 5,22-30. A tradução correta da passagem seria ‘o assentar à minha mão direita e esquerda não é meu para dar, exceto para aqueles para quem é preparado de meu pai’.  A passagem assim declara que Deus dá a recompensa a seus seguidores; mas só para aqueles como deveriam ter direito a eles de acordo com o propósito de seu pai. Vejam uma situação similar em 1Jo 2,23: “Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai”.

Mt. 19, 27-28 – O que representam as “doze tribos de Israel” que serão julgadas? Elas não representam as 12 tribos do Israel espiritual. (Gál. 6,16; Ap. 7,4-8) Os apóstolos a quem Jesus se dirigia fariam parte do Israel espiritual, de modo que não seriam juízes de seus membros. Jesus fez ‘com eles um pacto para um reino’, e eles seriam ‘um reino e sacerdotes para Deus’. (Luc. 22,28-30; Ap. 5,10) Os do Israel espiritual “julgarão o mundo”. (1 Cor. 6,2) Assim, as “doze tribos de Israel”, a quem os que estão nos tronos celestiais julgam, pelo visto representam o mundo da humanidade que não faz parte da classe real, sacerdotal, conforme retratada pelas 12 tribos no Dia da Expiação. — Lev., cap. 16.

Contrário a Schweizer (Matthew [Mateus]), não há alusão a infindáveis ciclos estoicos de conflagração e “regeneração”: a ideia move-se estritamente na expectativa judaica teleológica e apocalíptica. Todavia, a notável característica desse versícu­lo  é  que os  Doze  “se  assentarão  em doze  tronos”  compartilhando  o julgamento com o Filho do homem. A ideia de que, na consumação, os cristãos tomam parte no julgamento não é incomum no Novo Testamento (Lc 22.30;  ICo 6.2). O que está  menos  claro  é  se  (1)  os  doze  apóstolos  exercem  julgamento  sobre  as  doze tribos  de  Israel  concebidas  do  ponto  de vista físico  ou racial;  ou  se  (2)  os  doze apóstolos  exercerão  algum  tipo  de  julgamento  sobre  toda  a  igreja,  simbolizada por “Israel”  (cf. Ap  21.12-14);  ou se  (3)  os  Doze representam toda a assembleia do Messias, que exercerá um papel jurídico sobre a Israel racial. A terceira suposição não tem paralelo escritural; a segunda é possível, mas não é uma forma natural de entender “Israel”  em um livro  que apesar de aplicar promessas do Antigo Testa­mento aos gentios e também aos judeus — viz., a “igreja” do Messias — distingue entre  os  dois.  A  interpretação  mais  plausível  é  a  primeira.  Na  consumação,  os Doze julgarão a nação de Israel, presumivelmente, por sua rejeição geral de Jesus Messias.  (Sobre  o  simbolismo,  cf.  Joseph  M.  Baumgarten,  “The  Duodecimal Courts  of Qumran,  Revelation,  and  the Sanhedrin”  [“As  duodecimais  cortes  de Qumran,  Apocalipse  e  o  Sinédrio”],  JBL  95  [1976],  p.  59-78,  esp.  p.  700-72; France, Jesus, p.  65s.)

Sabino alega que como os apóstolos estão vivos, então Jesus mentiu. Mas note que Jesus disse “na regeneração”, não em vida. O que Jesus quis dizer com “recriação”? Esse termo é traduzido “mundo novo”, na Edição Pastoral; “quando as coisas forem renovadas”, na Bíblia de Jerusalém e “regeneração de todas as coisas”, na Nova Versão Internacional. Visto que Jesus usou esse termo sem dar uma explicação, evidentemente ele se referia ao que os judeus havia séculos aguardavam. Haveria uma recriação de condições na Terra, de modo que as coisas seriam como eram no jardim do Éden antes de Adão e Eva pecarem. A recriação cumprirá a promessa de Deus de ‘criar novos céus e uma nova terra’. — Isa. 65,17. Isto é um evento futuro e não presente. Vimos que o reino de Deus já antecipado se referia à Transfiguração ou ao envio do Espírito Santo em Pentecostes. Fabino é que é mentiroso.
Mt. 24,34 – Esta é famosa e não acredito que o “professor” Sabino foi cair nessa. Dei uma resposta a uma passagem semelhante aqui. Não preciso repetir tudo de novo. Olhem e avaliem por si mesmos. O erudito britânico G. R. Beasley-Murray observa: “A frase ‘esta geração’ não deve causar dificuldade aos intérpretes. Embora genea no grego mais antigo significasse nascimento, progênie e, portanto, raça, . . . no [grego da Septuaginta] traduz mais frequentemente o termo hebraico dôr, que significa idade, era da humanidade, ou geração no sentido de contemporâneos. . . . Em declarações atribuídas a Jesus, o termo parece ter uma conotação dupla: por um lado, sempre se refere aos contemporâneos dele, e por outro lado, sempre denota criticismo implícito.” S. João Crisóstomo afirma que o acontecimento trata-se da destruição de Jerusalém, em 70:

De conseguinte, todas essas coisas foram ditas acerca da destruição de Jerusalém. Assim como as que dissemos dos falsos profetas e dos falsos cristos, e de tudo mais que há de acontecer até a vinda de Cristo. Mas quando disse “esta geração” não o disse daquela geração que então existia, mas pela que constituem os fiéis. Pois a Escritura acostumou a designar a geração, não somente no tempo, mas também pelo lugar, pelo culto e pela linguagem. Assim como quando se diz: “esta é a geração dos que buscam o Senhor” (Sl. 23,6). Com isto indica que perecerá Jerusalém e que será destruída a maior parte dos judeus; mas nenhuma prova vencerá a regeneração dos fiéis. – Homiliae in Matthaeum, hom. 77,1

Na expressão “esta geração”, uma forma do pronome demonstrativo hoú·tos corresponde bem à palavra portuguesa “esta”. Pode-se referir a algo presente ou ante o orador. Mas pode também ter outros sentidos. O Exegetical Dictionary of the New Testament (Dicionário Exegético do Novo Testamento; 1991) menciona o seguinte: “A palavra [hoú·tos] indica um fato imediato. De modo que [aión hoú·tos] é o ‘mundo atualmente existente’ . . . e [geneá haute] é a ‘geração agora viva’ (e.g., Mat. 12:41ss., 45;  24:34).” O Dr. George B. Winer escreve: “O pronome [hoú·tos] às vezes não se refere ao substantivo diretamente mais próximo, mas a um mais remoto, o qual, como sujeito principal, era mentalmente o mais próximo, o mais presente nos pensamentos do escritor.” — A Grammar of the Idiom of the New Testament (Gramática das Expressões Idiomáticas do Novo Testamento), 7.a edição, 1897.

Mesmo  se  “geração”  por  si  mesma  possa  ter  uma variação semântica levemente mais abrangente, fazer “esta geração ’ referir-se a to­dos os cristãos de todas  as  eras ou à geração  de cristãos vivos quando os eventos escatológicos começarem a acontecer é muitíssimo artificial. Contudo, a isso não
se segue que Jesus, por engano, achava que a parúsia ocorreria durante a vida de seus  ouvintes.  Se  nossa  interpretação  desse  capítulo  estiver  correta,  tudo  que  o versículo 34 requer é que a tribulação dos versículos 4-28,  incluindo  a queda de Jerusalém,  aconteça no tempo  de vida da geração que estava viva na época.  Isso não quer dizer que a tribulação devia terminar naquela época, mas só que “todas estas coisas” deviam acontecer nesse período. Portanto, o versículo 34 assenta um terminus a quo  para  a  parúsia:  ela  não  pode  acontecer  até  que  os  eventos  dos versículos 4-28  aconteçam, tudo  na geração de 30  d.C. Mas  não há terminus ad quem para essa tribulação que não a própria parúsia, e “somente o Pai” sabe quan­do ela ocorrerá (v.  36).

Jo. 1,51 – Embora Jesus  esteja  se  dirigindo  a  Natanael,  a visão  é  prometida  a  ‘vocês’, plural,  no versículo  51:  a visão  é provavelmente para  todos  os  discípulos,  e  por extensão, para aqueles também que os seguiriam. O termo “de hoje em diante” ou “daqui para frente” é omitido na maioria dos manuscritos antigos. O sentido é: “algum dia vereis esta comunicação entre o céu e a a terra aberta amplamente e o Filho do Homem na escada real deste intercâmbio”. Se Jesus mesmo afirmou que não sabia nem o dia e hora de sua volta, como Sabino alega que nessas passagens Ele estava falando de sua vinda? O termo “céu aberto” aqui não se destina a ser tomado em seu sentido literal, como termo isolado, mas é parte da moldagem figurativa da pena de acordo com a metáfora seguinte . Observe aqui o particípio perfeito: o céu está aberto; comp. com At. 7,56. Os subir e descer os anjos são, de acordo com Gn. 28,12, uma representação simbólica da relação ininterrupta subsistindo entre o Messias e Deus, intercomunhão -uma que os discípulos de forma clara e vividamente ou, de acordo com a forma simbólica do pensamento, veriam como uma questão de experiência durante o Ministério de Jesus, que viria a seguir.

Esta é uma expressão figurativa, denotando a concessão de favores. Sl. 78,23-24: ‘Ele abriu as portas do céu e choveu maná’. Também denota que Deus estava prestes a fazer um milagre no atestado de uma coisa em particular. Ver Mt 3,16. Na linguagem aqui, há uma evidente alusão à escada que Jacó viu em um sonho e aos anjos ascendente e descendente sobre ele, Ge 18,12. Não é provável que Jesus se referiu a qualquer instância específica em que Natanael literalmente deveria ver os céus abertos, pois o batismo de Jesus já tinha ocorrido, e nenhuma outra instância ocorreu em sua vida, na qual é dito que os céus foram abertos.

Mt. 24,30 – Quando Jesus subiu ao céu, então, segundo o registro, “uma nuvem o arrebatou para cima, fora da vista deles”. (At 1,9) Os discípulos não viram Jesus indo embora em cima duma nuvem, mas, antes, a nuvem obscureceu-o da vista deles. Isto nos ajuda a entender as palavras de Jesus a respeito da sua presença: “Verão o Filho do homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória”, e a declaração de Revelação (Apocalipse): “Ele vem com as nuvens e todo olho o verá.” (Lu 21,27; Mt 24,30; Re 1,7) Em casos passados, nuvens representavam presença invisível; mas os observadores podiam “ver” com seus “olhos” mentais o significado disso. Neste caso, as ocorrências físicas visíveis induziriam o observador a “ver” ou reconhecer que Cristo está invisivelmente presente. — Veja também Mt 24; Mr 13; Re 14,14.

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