INTRODUÇÃO GERAL DAS SAGRADAS ESCRITURAS

O ESPÍRITO SANTO, INTÉRPRETE DAS SAGRADAS ESCRITURAS

Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Para bem interpretar a Escritura é preciso, portanto, estar atento àquilo que os autores humanos quiseram realmente afirmar e àquilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras deles. (CIC 110, DV 12) Para descobrir a intenção dos autores sagrados, há que levar em conta as condições da época e da cultura deles, os gêneros literários em uso na época, os modos de sentir, falar e narrar correntes na época. Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos que são de vários modos históricos ou proféticos ou poéticos, ou nos demais gêneros de expressão. (CIC 110, cit. DV 12) A Sagrada Escritura deve também ser lida e interpretada naquele mesmo Espírito em que foi escrita. (CIC 111, cit. DV 12).

“O que vem do Espírito só é plenamente entendido pela ação do Espírito”, Orígenes – (Homilia in Ex. 4,5).

Os primeiros cristãos, incumbidos pelo próprio Cristo Salvador de manter a Fé e proclamar a autêntica verdade dos Evangelhos, cumpriram esta missão e continuam a cumpri-la em seus legítimos sucessores. A Igreja, por meio do seu sagrado Magistério, proclama a Verdade plena sobre Deus e a Salvação através das Escrituras e da Tradição (cf. Mt 28,20; Rm 10,17; 2Ts 2,15). A Igreja, Corpo Místico de Cristo (cf. Ef 1,22-23), enquanto fiel depositária da Palavra de Deus (São Paulo Apóstolo afirma em 1 Timóteo 3,15, “a Igreja é a coluna e o sustentáculo da Verdade”) dá-nos a conhecer a infinita Sabedoria de Deus (Ef 3,10) e seus caminhos.

A Sagrada Escritura é o conjunto dos livros escritos por inspiração divina (2 Pd 1, 20.21), nos quais Deus se revela a si mesmo e nos dá a conhecer o mistério da sua vontade. Divide-se em duas grandes secções: ANTIGO TESTAMENTO, que contém a revelação feita por Deus antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo; NOVO TESTAMENTO, que contém a revelação feita diretamente por Jesus Cristo e transmitida pelos Apóstolos e outros autores sagrados.

A SAGRADA ESCRITURA, PALAVRA DE DEUS AOS HOMENS

Deus falou aos homens através de outros homens por Ele escolhidos para esse fim, mas, sobretudo por meio de seu Filho, Jesus Cristo (Heb 1,1-2). Desse modo, a Palavra de Deus tornou-se linguagem humana sem deixar de ser Palavra de Deus, assim como o Filho de Deus se fez homem sem deixar de ser Deus; e sujeitou-se, tal como Ele, às limitações e condicionamentos da palavra humana, exceto no erro formal. Tais condicionamentos são:

Condicionamentos de tempo Os livros da Bíblia são fruto do seu tempo. Por isso, se quisermos entender a mensagem de Deus, temos de conhecer o tempo e as circunstâncias históricas em que foi escrito cada um deles.

Condicionamentos de espaço Os livros da Bíblia nasceram em vários lugares geográficos, cada qual com o seu ambiente próprio: uns na Palestina, outros no mundo helénico e outros no Império Romano. E um livro também é filho do meio em que nasceu.

Condicionamentos de raça Os livros da Bíblia procedem quase todos do povo semita, mais concretamente do povo judeu, que tem um modo de pensar e de se exprimir muito diferente do nosso. É preciso conhecê-lo, para entender a Palavra de Deus.

Condicionamentos de cultura Os livros da Bíblia são obra de muitos autores com mentalidade e cultura diferentes, às vezes distanciados entre si por vários séculos. Tudo isso marcou a Bíblia e deve ser tido em conta, pois os autores sagrados, embora escrevessem sob inspiração de Deus, não foram privados da sua personalidade.

TRANSMISSÃO DA PALAVRA DE DEUS

A Palavra de Deus, no Antigo Testamento, revelou-se através da Tradição e da Sagrada Escritura. Com Cristo, Palavra em pessoa, começa uma nova Revelação: o Evangelho. Os transmissores desta nova Palavra são os Apóstolos, que dão origem à Tradição Apostólica. Os Evangelistas, mais tarde, inspirados pelo Espírito Santo, recolhem e fixam essa Tradição por escrito, dando assim origem à Sagrada Escritura do Novo Testamento.

Por isso, diz o Concílio Vaticano II: “A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando elas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim.” (Dei Verbum, 9).

INSPIRAÇÃO DA SAGRADA ESCRITURA

A Inspiração é o que caracteriza e essencialmente distingue a Bíblia de todos os outros livros humanos. Acreditar na Inspiração da Sagrada Escritura foi sempre um dogma de fé para os Judeus e para a Igreja. Os Judeus dividiam a Bíblia em três partes: a Lei (Torá), que era considerada a Palavra de Deus por excelência; os Profetas (Nebi’îm), que falaram em nome de Deus; e os Escritos (Ketubîm), formando todos juntos os “Livros santos” (1 Mac 12,9). Jesus Cristo e os Apóstolos citaram-nos como Palavra de Deus (At 1,16; 4,25). Mas São Paulo e São Pedro é que nos transmitem os dois textos clássicos sobre esta verdade. Paulo diz: “Toda a Escritura é divinamente inspirada” (theopneustos: 2 Tm 3,14-17); e Pedro afirma: “Mas sabei, antes de mais, que nenhuma profecia foi proferida pela vontade dos homens. Inspirados pelo Espírito Santo, é que os homens santos falaram em nome de Deus.” (2 Pe 1,21)

Os Santos Padres também são unânimes em afirmar que Deus é o autor da Sagrada Escritura e que o hagiógrafo é instrumento de Deus. E a Igreja manifestou a sua fé nesta verdade em vários concílios e documentos. O último e o mais expressivo é a constituição dogmática Dei Verbum (DV), do concílio Vaticano II, que diz: “As coisas reveladas por Deus que se encontram escritas na Sagrada Escritura foram consignadas por inspiração do Espírito Santo.” E mais adiante, falando da natureza desta inspiração, acrescenta: “porque escritos por inspiração do Espírito Santo, têm a Deus por autor e, como tais, foram confiados à Igreja. Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades para que, agindo Deus neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria.” (n.° 11) Portanto, segundo a constituição Dei Verbum, os livros sagrados são produto da ação transcendente de Deus que suscita, dirige e envolve inteiramente a atividade humana, agindo em constante coordenação com ela.

Esta ação divina estendeu-se a todas as faculdades e atos do homem que concorreram para a produção dos livros santos, e abrange todas as partes dos livros e todos os géneros literários que neles se encontram. No entanto, longe de tornar o hagiógrafo passivo, tal cação favorece a sua livre espontaneidade; porque o homem é tanto mais livre e ativo quanto mais o Espírito Santo o acompanha. Deus, quando atua no homem, fá-lo sempre com suma delicadeza, respeitando a sua liberdade e a sua maneira de ser, mas valorizando-as e potenciando-as. A Bíblia não é, pois, fruto de um ditado mecânico, mas uma obra em que Deus e o homem intervêm: Deus com as suas perfeições infinitas, e o homem com as suas faculdades e conforme a sua capacidade. Por isso, os dois são verdadeiros autores dos livros sagrados.

A VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA

Diz também a Dei Verbum: “E assim como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou hagiógrafos deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve aceitar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse consignada nas Sagradas Letras.” (DV, 11).

A verdade da Bíblia é a consequência imediata da Inspiração. Com efeito, se Deus é o autor da Bíblia, se toda ela é obra do Espírito Santo, não pode conter qualquer afirmação que vá contra a verdade e a santidade do mesmo Deus. No entanto, não podemos buscar na Bíblia qualquer verdade, mas só a que interessa à salvação do homem, ou seja, a verdade religiosa, e só aquela que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse registada nas Escrituras. Trata-se de uma verdade não puramente especulativa, mas concreta, que não se dirige apenas à inteligência, mas ao homem todo; uma verdade que é preciso descobrir através dos muitos e variados géneros literários; uma verdade progressiva, revelada por etapas, obedecendo à pedagogia de Deus em relação aos homens; uma verdade que está em toda a Bíblia e não apenas num livro ou num texto isolado. Por isso, a verdade dos textos sagrados só resulta da totalidade da Bíblia, como a santidade da Igreja resulta do conjunto dos batizados e não de cada um individualmente.

A INTERPRETAÇÃO DA SAGRADA ESCRITURA

“Porque Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana, o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e o que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras” (DV, 12).

Para esse fim, o Vaticano II lembra que é preciso ter em conta os géneros literários, os sentidos bíblicos e certas regras teológicas de interpretação.

Os géneros literários. A verdade é proposta e expressa de um modo ou de outro, conforme se trate de géneros históricos, proféticos, poéticos, etc. Estes géneros devem ser entendidos como os entenderam os povos semitas ou helenistas, no tempo em que foi escrito cada um dos livros (DV, 12).

Os sentidos bíblicos. Tradicionalmente, têm-se distinguido na Bíblia os sentidos seguintes: literal, pleno, típico e acomodatício.

O Sentido literal é aquele que o autor quis dar ao texto. Pode ser próprio e impróprio, figurado ou metafórico. O próprio é aquele em que as palavras são tomadas no seu significado corrente; o impróprio é aquele em que as palavras são tomadas no sentido conotativo ou figurado, por exemplo: “Vós sois o sal da terra” (Mt 5,13).

O Sentido pleno é o significado mais profundo do texto; sendo inicialmente pretendido pelo autor divino, só se descobre à luz de uma revelação posterior, especialmente à luz do Novo Testamento. Este sentido resulta do facto de a Bíblia ter dois autores: Deus, para quem o futuro é presente, e que, ao inspirar um determinado texto, já conhece toda a revelação posterior nele implícita; e o hagiógrafo ou autor humano, que apenas conhece e tem presente o mistério que Deus quer revelar nesse determinado momento histórico da escrita. Exemplo claro disto são as profecias messiânicas do Antigo Testamento: para nós são claras, porque o Messias já veio; mas o significado que hoje lhes atribuímos não foi atingido plenamente pelo autor sagrado, e só Deus o teve presente desde o princípio.

O Sentido típico dá-se quando certos acontecimentos, instituições, pessoas, etc., por vontade de Deus, representam e prefiguram acontecimentos, instituições e pessoas de ordem superior. Assim, a serpente de bronze erguida por Moisés (Nm 21,8-9) é figura de Cristo crucificado (ver Jo 3,14); a passagem do Mar Vermelho (Ex 14,22) é figura do Baptismo (1 Cor 10,2); o maná (Ex 16,14) é figura da Eucaristia (Jo 6).

O Sentido acomodatício consiste em dar às palavras da Sagrada Escritura um sentido diferente daquele que o autor lhes quis dar, devido a uma certa semelhança entre a passagem bíblica e a sua aplicação. Este sentido é muito usado na liturgia e na pregação. Temos um exemplo claro nas festas de Nossa Senhora, em que a Liturgia relaciona com a Virgem Maria textos que se referem à sabedoria divina (Pr 8,22-36; Sir 24,14-16).

Regras teológicas de interpretação. Além do já aduzido, o Concílio aponta estes princípios que devem reger a interpretação da Sagrada Escritura: “A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita” (DV,12); ou seja: o mesmo Espírito que inspirou os livros santos deve iluminar os teólogos que, docilmente e com espírito de fé, se dedicam a interpretá-los. Cabe aos exegetas, “de harmonia com estas regras, esforçar-se por entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que, mercê deste estudo preparatório, vá amadurecendo o juízo da Igreja.” A função dos exegetas é preparar e não substituir o juízo último da Igreja, pois só esta “goza do divino mandato e do ministério de guardar e interpretar a Palavra de Deus” (DV,12).

OS LIVROS DA SAGRADA ESCRITURA

Os livros da Sagrada Escritura, tanto do Antigo como do Novo Testamento, agrupam-se em três conjuntos: históricos, sapienciais e proféticos, conforme o género literário que neles predomina.

Nas Bíblias de Estudos todos os livros são precedidos de uma Introdução. Nela são dadas todas as informações necessárias para enquadrar o texto no seu contexto histórico, geográfico e literário e se apontam os seus objetivos e a sua mensagem teológica.

Os livros da Bíblia e suas divisões

A Bíblia católica contém: 73 livros: 46 do Antigo Testamento + 27 do Novo Testamento.

Pentateuco (= a Lei dos Judeus): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Livros Históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Judite, Tobias, 1 e 2 Macabeus.

Livros Sapienciais: Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos, Jó, Sabedoria, Eclesiástico.

Livros Proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.

Livro Histórico: Atos dos Apóstolos.

Epístolas: de São Paulo Apóstolo (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filêmon, “Hebreus?”).

Católicas ou epístolas universais: (Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas).

Livro Profético: Apocalipse (revelação de Cristo a João).

A Bíblia protestante é incompleta. Foram tirados 7 livros do Antigo Testamento: Judite, Tobias, Sabedoria, Eclesiástico, 1 e 2 Macabeus e Baruc, bem como algumas partes de Daniel.

UNIÃO DO ANTIGO E DO NOVO TESTAMENTO

O Antigo Testamento é a história da revelação de Deus ao povo de Israel, narrada e explicada pelos autores sagrados e escrita nos livros da Antiga Aliança, como verdadeira Palavra de Deus. Estava orientado,  “sobretudo,  a preparar, a anunciar profeticamente e a significar com várias figuras a vinda de Cristo, Redentor universal, e a do Reino messiânico” (DV,15). Embora a sua missão fosse preparar o povo de Israel para a vinda de Cristo, mantém esse mesmo sentido para os homens de hoje. “A Lei (AT) foi nosso pedagogo para nos conduzir a Cristo” (Gl 3,24). A experiência do povo de Israel é útil também para quem continua à procura de Cristo. Todos temos necessidade de nos preparar para os novos adventos de Cristo, que se realizam na Liturgia e na vida cristã, rumo à Parusia do Senhor.

O Antigo Testamento dá-nos a conhecer Deus e o ser humano e o modo como Deus se relaciona com o homem e a mulher. Porque esse conhecimento está adaptado às pessoas a quem se dirige, no Antigo Testamento encontram-se “imperfeições e coisas restrito há um tempo determinado”.  Realmente, Deus tolerou modos imperfeitos de observar a lei moral: poligamia, divórcio, vingança, etc. Mas isso manifesta a pedagogia divina, que vai conduzindo o povo do imperfeito ao mais perfeito. Por isso, o Antigo Testamento conduz à perfeição do Novo Testamento.

Para, além disso, o Antigo Testamento já exprime um vivo sentido de Deus, contém doutrinas preciosas sobre Deus e a sua transcendência, sobre a criação, sobre o ser humano enquanto imagem de Deus, sobre a Providência, etc.; e oferece-nos um tesouro admirável de orações. Por isso, “os cristãos devem aceitar devotamente esses mesmos livros”, como raiz do Novo Testamento e do Cristianismo (DV,15).

O tema central das Escrituras

Todos os livros da Escritura, no entanto, possuem um tema comum, uma mensagem central: Deus criou tudo por amor e quer chamar toda a humanidade para a vida eterna, que é a comunhão com ele. Por isso mandou o seu Filho Jesus. Ele, morto e ressuscitado, deu-nos o seu Espírito Santo que é já o início desta vida divina, que vai ser plena na glória eterna.

A serviço do seu plano, Deus formou, no Antigo Testamento, o Povo de Israel e, no Novo Testamento, a sua Igreja, para que leve esta Boa Notícia da salvação a todos os povos. Assim, a mensagem central das Escrituras é uma mensagem de salvação. Qualquer trecho que nós lermos, tem que ser interpretado sempre de acordo com esta ideia central e mais importante!

O tema central do Antigo Testamento

Todos os livros do Antigo Testamento nasceram no seio do Povo de Israel. E todos estes livros contam a história de Deus com o seu povo. Deus amou este povo e o escolheu, o formou, educou pelos profetas e, através dele, prometeu salvar o mundo pelo Ungido, o Messias.

Deus chamou Abraão e prometeu fazer dele um povo, pelo qual todas as nações seriam abençoadas (Gn 12,1-3) e fez uma aliança com o seu povo (Ex 20,1-21; 24,1-11). Este é o tema central do Antigo Testamento. Todo o restante depende disto e somente poderá ser compreendido corretamente em ligação com este tema central.

 

O tema central do Novo Testamento

Só pode compreender bem o Novo Testamento quem compreendeu bem o Antigo. No Novo Testamento as promessas de Deus se cumprem no seu Filho Jesus, o Salvador enviado pelo Pai para levar toda a humanidade à comunhão com Deus. O tema central do Novo Testamento é precisamente este: Deus enviou o seu Filho ao mundo para salvar a humanidade pela morte e ressurreição de Jesus. Cristo ressuscitado derramou o seu Espírito Santo sobre a Igreja e a humanidade para levá-las à comunhão plena com o Pai.

A SAGRADA ESCRITURA NA IGREJA

“Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse à autoridade da Igreja Católica”, Santo Agostinho – (Contra epistulum Manichæi quam vocant fundamenti, 5,6: PL 42,176).

A constituição Dei Verbum diz que “a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras a par com o próprio Corpo de Cristo”; que sempre as considerou e continua a considerar, juntamente com a Sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé; e, por último, chama-lhes “a fonte pura e perene da vida espiritual” (n.° 21).

Mas, para ser realmente a fonte da vida espiritual, é preciso que a Bíblia volte a ser “a alma da teologia”, da pregação, da pastoral, da catequese e de toda a instrução cristã (DV, 24). Que todos, sacerdotes, religiosos e fiéis mantenham um contato íntimo e constante com os Livros sagrados através da leitura assídua, do estudo e da meditação. “Porque desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo” (São Jerónimo). Para isso, são precisas traduções acompanhadas das notas explicativas correspondentes, em todas as línguas vivas, para que cada um as possa ler na sua língua materna (DV, 25).

Para estar cada vez mais em consonância com esta doutrina da Igreja, e porque as ciências bíblicas e da linguagem evoluem, é que a DIFUSORA BÍBLICA meteu ombros a esta edição da Bíblia Sagrada, profundamente revista e atualizada tanto na versão do texto como nas introduções e notas.

COMO UTILIZAR ESTA BÍBLIA. Seguem-se algumas sugestões que ajudam os leitores a tirarem o máximo proveito dos vários subsídios incluídos nesta edição da Bíblia Sagrada.

Divisão da Bíblia. Tanto o Antigo como o Novo Testamento dividem-se em livros e estes, em capítulos; mas, para encontrar uma simples frase na Bíblia, os capítulos estão divididos em versículos (v.), muitas vezes formados apenas por uma frase. O capítulo aparece destacado, em algarismos maiores, no início do texto; a numeração dos versículos encontra-se, em algarismos mais reduzidos, no interior do texto. Na cabeça da página está indicado ao centro, o nome do livro por extenso; no ângulo exterior, esse nome em abreviatura e o número do capítulo ou capítulos correspondentes a essa página, por exemplo: Dt 3, correspondente ao capítulo 3 do livro do Deuteronômio.

Introduções. Além desta Introdução Geral, a presente edição também inclui introduções ao Antigo Testamento e ao Novo Testamento, aos grandes conjuntos de livros (Pentateuco, Históricos, Sapienciais, Proféticos, Evangelhos e Atos, Cartas de São Paulo e Cartas Católicas) e a cada livro, a fim de o situar no seu tempo e género literário e melhor se entender a sua mensagem.

Os títulos. Aparecem ao longo de toda a Bíblia, em caracteres negros, em maiúscula ou minúscula. São da responsabilidade dos tradutores e procuram adiantar ao leitor uma ideia geral do texto que vai ler. Como não são Palavra de Deus, não devem ser lidos ao proclamar a Palavra em público.

Notas explicativas. Encontram-se ao fundo da página e são importantes para entender o sentido e o contexto histórico-literário ou religioso de um capítulo ou versículo. Muitas se referem a um texto maior; outras, a uma simples frase ou palavra.

O asterisco. Sempre que este sinal (*) aparece junto de um versículo, dentro do texto, remete para uma nota explicativa ou uma referência a outros textos bíblicos (“lugares paralelos” ou textos que têm a mesma ideia), no fundo da página.

Citações em itálico. Quando dentro de um texto do Novo Testamento é feita uma citação do Antigo, esta aparece escrita em itálico.

Suplementos. No final desta Bíblia encontram-se vários Suplementos, que proporcionam ao leitor um conhecimento global de certos temas ou explicam melhor alguns termos técnicos ou de matérias concretas que para lá são remetidos pelas notas de rodapé.

Índice de Notas. A presente edição está valorizada por um Índice com os principais temas desenvolvidos nas notas desta Bíblia. Procurando o lugar citado à frente de cada termo encontrará uma nota explicativa.

Índice Bíblico-Pastoral. Oferece temas variados para utilização pastoral em grupos de estudo e oração ou para simples cultura bíblica. A partir da leitura e do estudo das várias referências feitas em cada chamada, pode-se desenvolver um desses temas a vários níveis ou ficar com uma ideia global da sua revelação em toda a Bíblia, mediante uma analogia da fé.

Lecionário. Também oferecemos, no final, um Leccionário Dominical e Festivo que indica as Leituras bíblicas a fazer nos Domingos e Festas, ao longo de cada um dos três ciclos do Ano Litúrgico.

Para entender uma citação bíblica

A ordem dos elementos é: o nome do livro em abreviatura, o número do capítulo e o número do versículo. Assim, Mt 5,12 corresponde ao Evangelho segundo São Mateus, capítulo 5, versículo 12. Se o livro só tiver um capítulo, aparece apenas o livro e o versículo. Assim, 2 Jo 12 para indicar 2.ª Carta de João, versículo 12. Quando são citados vários versículos ou capítulos seguidos, estão unidos por um hífen: Mt 5,12-17 (Mateus, capítulo 5, versículos 12 a 17); Mt 5-6 (Mateus, capítulos 5 e 6); Mt 5,20-6,13 (Mateus do capítulo 5, versículo 20 ao capítulo 6, versículo 13, sem qualquer interrupção). Quando são citados vários versículos do mesmo capítulo, mas não todos seguidos, ficam separados por um ponto: Mt 5,12.14-17 (a citação pára no v.12 e continua do v.14 ao 17 inclusive, não incluindo o versículo 13). Se forem citados diferentes capítulos do mesmo livro, tais capítulos vão separados por um ponto e vírgula, mas não é repetido o nome do livro: Mt 5,12.21-23; 6,1-8 (Mateus, capítulo 5, versículo 12 e também do v. 21 a 23 inclusive; e ainda o capítulo 6, do versículo 1 a 8 inclusive). Como se pode ver, a vírgula vai sempre depois do capítulo, a separá-lo dos versículos.

 

ABREVIATURAS DOS LIVROS DA SAGRADA ESCRITURA
 

Ab  – Profeta Abdias
At  – Atos dos Apóstolos
Ag  – Profeta Ageu
Am  – Profeta Amós
Ap  – Apocalipse de João
Br  – Profeta Baruc
Cl  – Carta aos Colossenses
Ct  – Cântico dos Cânticos
1 Cor  – 1.ª Carta aos Coríntios
2 Cor  – 2.ª Carta aos Coríntios
1 Cr  – 1.° Livro das Crónicas
2 Cr  – 2.° Livro das Crónicas
Dn  – Profeta Daniel
Dt  – Deuteronômio
Ecl  – Eclesiastes (ou Coélet)
Ef  – Carta aos Efésios
Esd  – Esdras
Est  – Ester
Ex  – Êxodo
Ez  – Profeta Ezequiel
Fl  – Carta aos Filipenses
Fl  – Carta a Filêmon
Gl  – Carta aos Gálatas
Gn  – Génesis
Hab  – Profeta Habacuc
Hb  – Carta aos Hebreus
Is  – Profeta Isaías
 –
Jd  – Carta de Judas
Jt  – Judite
Jl  – Profeta Joel
Jn  – Profeta Jonas
Jo  – Evangelho de S. João
1 Jo  – 1.ª Carta de S. João
2 Jo  – 2.ª Carta de S. João
3 Jo  – 3.ª Carta de S. João
Jr  – Profeta Jeremias
 

Js  – Josué
Jz  – Juízes
Lc  – Evangelho de S. Lucas
Lm  – Lamentações
Lv  – Levítico
1 Mac  – 1.° Livro dos Macabeus
2 Mac  – 2.° Livro dos Macabeus
Mc  – Evangelho de S. Marcos
Ml  – Profeta Malaquias
Mq  – Profeta Miqueias
Mt  – Evangelho de S. Mateus
Na  – Profeta Naum
Ne  – Neemias
Nm  – Números
Os  – Profeta Oseias
1 Pe  – 1.° Carta de S. Pedro
2 Pe  – 2.° Carta de S. Pedro
Pr  – Provérbios
Rm  – Carta aos Romanos
1 Rs  – 1.° Livro dos Reis
2 Rs  – 2.° Livro dos Reis
Rt  – Rute
Sb  – Sabedoria
Sf  – Profeta Sofonias
Eclo  – Eclesiástico-Sirac
Sl  – Salmos
1 Sm  – 1.° Livro de Samuel
2 Sm  – 2.° Livro de Samuel
Tb  – Tobias
Tg  – Carta de S. Tiago
1 Tm  – 1.ª Carta a Timóteo
2 Tm  – 2.ª Carta a Timóteo
1 Ts  –  1.ª Carta aos Tessalonicenses
2 Ts  –  2.ª Carta aos Tessalonicenses
Tt  – Carta a Tito
Zc  – Profeta Zacarias

Pe. Inácio José do Vale

Professor do Curso Bíblico Aplicado

E-mail: [email protected]

Bibliografia

http://www.paroquias.org/biblia/?m=1&n=4

Bíblia Sagrada, Ed. Difusora Bíblica, 2001.

Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina “Dei Verbum”

[DV], de 18 de novembro de 1965.

Catecismo da Igreja Católica [CIC], 1ª ed, São Paulo, Vozes, 1993.

A Bíblia de Jerusalém, 7ª ed., São Paulo, Paulus, 1995 -Introduções.

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A Interpretação da Bíblia na Igreja, Pontifícia Comissão Bíblica, DP. 260, Vozes, Petrópolis 1994.

BENTO XVI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal – Verbum Domini – Sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, Doc. 194, São Paulo, Paulinas, 2015.

Gibert, P. Como a Bíblia foi escrita – Introdução ao Antigo e ao Novo Testamento, Paulinas, São Paulo 1999.

Ballarini T. (org.). Introdução à Bíblia, vol. I. Vozes, Petrópolis, 1968.

LIMA. Alessandro Ricardo. O Cânon Bíblico: a origem da Lista dos Livros Sagrados, Brasília: ComDeus, 2007.

MORUJÃO, Geraldo. O que são os Evangelhos? São Paulo: Quadrante, 1992.
PÉREZ, Félix Garrondo. Itinerário bíblico para ler e entender a Sagrada Escritura, São Paulo: Loyola, 1998.

 

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