Guia de traduções da Bíblia

bibliaNas Respostas Católicas muitas vezes somos perguntados sobre qual versão da Bíblia uma pessoa deve escolher. Esta é uma questão importante sobre a qual os católicos precisam ser informados. Alguns receberam muito pouca ajuda sobre como escolher uma tradução da Bíblia, mas tendo em mente algumas dicas vai tornar a decisão muito mais fácil.

Há duas filosofias gerais que os tradutores usam quando fazem seu trabalho: a equivalência formal ou completa e a equivalência dinâmica. As traduções de equivalência formais tentam dar uma tradução literal do texto original tanto quanto possível. Os tradutores usam essa filosofia para tentar se aproximarem dos originais, mesmo preservando grande parte da ordem das palavras originais.

Traduções literais são um excelente recurso para o estudo sério da Bíblia. Às vezes, o significado de um versículo depende de sinais sutis no texto; esses sinais só são preservados por traduções literais.

A desvantagem de traduções literais é que são mais difíceis de ler, porque o estilo hebraico e grego entram no texto em português. Compare as seguintes traduções de Levítico 18,6-10 da Bíblia New American Standard (NAS – uma tradução literal) e da Nova Versão Internacional (NVI – uma tradução dinâmica):

  A NAS reza:….. “Nenhum de vós se chegará qualquer parente de sangue para descobrir a nudez. Não descobrirás a nudez da mulher de teu pai; é a nudez de seu pai A nudez de sua irmã, ou filha de seu pai ou filha de sua mãe, quer nascida em casa ou fora, a sua nudez não descobrirás. A nudez da filha de seu filho ou filha de sua filha, a sua nudez não descobrirás; para sua nudez é sua”.

A NVI reza: “Ninguém deve se aproximar de qualquer parente próximo e ter relações sexuais. Não terás relações sexuais com a mulher de seu pai, que iria desonrar seu pai. Não terás relações sexuais com a sua irmã, ou filha de seu pai….. ou a filha de sua mãe, se ela nasceu na mesma casa ou em outro lugar Não terás relações sexuais com a filha de seu filho ou filha de sua filha; isso seria uma afronta à você “.

Como as traduções literais podem ser difíceis de ler, muitos têm produzido Bíblias mais legíveis, usando a filosofia equivalência dinâmica. De acordo com este ponto de vista, não importa se a gramática e ordem das palavras do original é preservada em português desde que o significado do texto seja preservado. Isso libera o tradutor para usar melhor o estilo em português e escolher as palavras, produzindo traduções mais legíveis. No exemplo acima, os tradutores da equivalência dinâmica estiveram livres para usar a expressão mais legível “ter relações sexuais com” em vez de serem obrigados a reproduzir a expressão hebraica “descobrirás a nudez de”.

A desvantagem de tradução dinâmica é que há um preço a pagar para facilitar a leitura. As traduções dinâmicas perdem a precisão porque omitem pistas sutis para o significado de uma passagem que apenas as traduções literais preservam. Elas também correm um risco maior de ter opiniões doutrinárias dos tradutores no texto por causa da maior liberdade em traduzi-lo.

Por exemplo, as traduções protestantes dinâmicas, como a NVI, tendem a traduzir a palavra grega ergon e seus derivados como “obra” quando reforça a doutrina protestante, mas como qualquer outra coisa (como “obras” ou “fazer”) quando serve a doutrina católica.

A NVI traduz Romanos 4,2 como “Se, de fato, Abraão foi justificado pelas obras (ergon), ele teve que se gloriar, mas não diante de Deus.” Esta passagem é utilizada para apoiar a doutrina protestante da salvação pela fé. Mas a NIV traduz os derivados erg- em Romanos 2,6-7 diferente: “Deus vai dar a cada pessoa de acordo com seu procedimento (erga), mas para aqueles que, com perseverança em fazer (ergou) o bem, procuram glória, honra e imortalidade, Ele vai dar a vida eterna. “

Se os derivados erg- forem traduzidas de forma consistente como “obras”, então seria claro que a passagem diz que Deus vai julgar “cada pessoa segundo as suas obras” e vai dar a vida eterna àqueles que buscam a imortalidade “pela persistência em obrar bem” – declarações que apoiam a visão católica da salvação.

Mesmo quando não há agenda doutrinal envolvida, é difícil de fazer estudos de palavras em traduções dinâmicas por causa da inconsistência no modo como as palavras são apresentadas. Além disso, a intenção do autor sagrado pode ser obscurecida.

Buscando o equilíbrio

Tanto a filosofia de equivalência literal como a dinâmica podem ser levadas a extremos. Uma tradução que utiliza do literalismo a um extremo absurdo é a versão Concordante, que foi traduzido por um homem que estudou grego e hebraico por apenas um curto período de tempo. Ele fez uma tradução em que cada palavra nos originais antigos foi traduzido por uma (e apenas uma) palavra em inglês. Isso levou a inúmeros absurdos. Por exemplo, compare a forma da versão Concordante de Gênesis 1,20 com a NIV:

“E Deus disse: ‘perambule a água com perambulação, alma vivente, e o que voa possa voar sobre a terra e a face da atmosfera dos céus'” (versão Concordante).

“E disse Deus: ‘que as águas abundem de seres vivos, e voem as aves sobre a terra em toda a extensão do céu'” (NVI).

No outro extremo de traduções literais estão as versões dinâmicas, como a Versão Fácil (Cotton Patch). Esta foi traduzido do grego na década de 1960 por um homem chamado Clarence Jordan, que decidiu não só substituir antigas formas de falar pelas modernas (como a maioria das traduções dinâmicas), mas substituir itens da cultura antiga, com itens modernos.

Compare a tradução da NIV de Mateus 9,16-17 com o que é encontrado na CPV:

“Ninguém costura o remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo vai se afastar do vestuário, tornando o rasgo pior. Nem se põe vinho novo em odres velhos. Se o fizerem, as peles vão estourar, o vinho vai acabar e os odres ficarão arruinados. Não, põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam” (NVI).

“Ninguém nunca usa material novo, para consertar um vestido que foi lavado. Porque ao encolher, ele vai puxar o material antigo e fazer um rasgo. As pessoas não colocam novos tubos em velhos, pneus carecas. Se o fizerem, os pneus irão estourar, e os tubos serão arruinados e os pneus serão rasgados. Mas eles colocaram novos tubos de pneus novos e ambos dão boa quilometragem” (CPV).

Entre os extremos da versão Concordante e a versão Cotton-Patch está um espectro de traduções respeitáveis ​​que atingem diferentes equilíbrios entre equivalência literal e dinâmica.

Para o fim literal do espectro temos traduções, como a King James Version (KJV), a New King James Version (NVI), a New American Standard (NAS), e a versão Douay-Rheims (n. do T.: em português temos as católicas Bíblia de Jerusalém e Tradução Ecumênica da Bíblia e as protestantes Almeida Corrigida e Fiel, Almeira Corrigida e Revisada e Almeida Revista e Atualizada).

Em seguida, temos traduções menos literais, como a Revised Standard Version (RSV), e a versão da Confraria. (N. do T.: em português temos, por exemplo, as versões católicas Ave Maria e a Matos Soares, da Vulgata e a Bíblia do Peregrino).

Em seguida, há principalmente traduções dinâmicas como a Nova Versão Internacional (NVI) e do American Bible New (NAB). (N. do T.: A Bíblia do Peregrino [ed. Paulus], cuja tradução não se guia por equivalências literais diretas, mas sim por equivalências dinâmicas proporcionais que reproduzem o gênio das línguas antigas na língua portuguesa moderna, ampliando a beleza literária. Possui longas notas de rodapé, de cunho pastoral; A Bíblia Sagrada Vozes [ed. Vozes], possui um texto muito bem cuidado, clássico, e boas notas de rodapé; a Bíblia edição pastoral, de Ivo Storniolo, com fortes notas a favor da teologia da libertação. Não é tão recomendada, apesar de ter uma leitura fácil).

E, finalmente, no fim muito dinâmico do espectro estão traduções como a Bíblia de Jerusalém (BJ), a Nova Bíblia em Inglês (NEB), a B (REB), a Versão Contemporânea Inglesa(CEV), e a “Bíblia Boas Notícias”, cuja tradução é chamado de Versão Inglesa atual (TEV). (Em português temos paráfrases como Bíblia na Linguagem de Hoje, a Bíblia Viva e Cartas para Hoje, não recomendadas para um estudo sério da Palavra de Deus).

Uma tradução que é difícil de colocar no espectro é a Nova Versão Internacional (NVI). O texto básico da NVI é processado literalmente, seguindo a RSV, mas usa a “linguagem inclusiva de gênero”, que tenta traduzir o texto original em um “gênero neutro” moderno equivalente cultural. Quando você lê a NRSV muitas vezes você vai encontrar “amigos”, “amados” e “irmãos e irmãs”, e depois ver a nota afirmando que “gr., irmãos.” A NVI também mostra uma preferência pela utilização de “Deus” e “Cristo” quando o texto original diz “Ele”.

Há também uma série de versões menores, a maioria dos quais são traduções de equivalência dinâmicas. Estas incluem as bem conhecidos, tais como as traduções de Moffat, Philips, e Knox, e também versões únicas, especiais, tais como o Novo Testamento Judaico (JNT, traduzido por David Stern), o que torna os nomes e expressões do Novo Testamento com o hebraico, aramaico, ou iídiche equivalentes.

Finalmente, há uma seleção de paráfrases, que não são traduções com base nas línguas originais, mas são versões de traduções parafraseadas ao português. Estas tendem para a extremidade dinâmica extrema do espectro. As mais conhecidas são Bíblia Viva e a Nova Bíblia na Linguagem de Hoje.

A questão básica que você precisa perguntar ao selecionar uma versão da Bíblia é o objetivo que você está procurando. Se você simplesmente quer uma Bíblia para a leitura comum, uma versão moderada ou dinâmica seria suficiente. Isso permitirá que você leia mais do texto de forma rápida e compreenda seu significado básico, não precisando se ater a detalhes de seu significado, e você tem que tomar cuidado para mais opiniões doutrinárias dos tradutores para colorir o texto.

Qual é a melhor Bíblia?

Se você pretende fazer um estudo sério da Bíblia, uma tradução literal é aquela que deve utilizar. Isso permitirá que você compreenda mais das implicações detalhadas do texto, mas ao preço da legibilidade. Você tem que se preocupar menos com as ideias dos tradutores para colorir o texto, embora até mesmo traduções muito literais não estão livres inteiramente disto.

A segunda questão que você precisa perguntar a si mesmo é se você quer uma tradução antiga ou moderna. As versões mais antigas, como a King James a a Douay-Rheims, podem parecer mais dignas, autoritárias e inspiradoras. Mas são muito mais difíceis de ler e entender porque o inglês (e o português) mudou nos quase 400 anos desde que foram feitas.

Um detalhe em usar determinadas traduções modernas é que não usam as representações tradicionais de certas passagens e frases, e o leitor pode achar isto um pouco irritante. A “Good News Bible” ou a TEV (no Brasil, temos a Tradução do Novo Mundo das Testemunhas de Jeová) sã0 especialmente conhecidas por serem traduções não tradicionais. Por exemplo, “a abominação da desolação”, referida no livro de Daniel e os Evangelhos é chamado de “o terrível horror”, e a arca da aliança é conhecido como “caixa da aliança”.

Alguns protestantes irão dizer-lhe que a única versão aceitável da Bíblia é a King James (ou a Almeida, em português). Esta posição é conhecida como King James-onlyism (posição de só aceitar a versão King James ou a Almeida Corrigida e Fiel). Seus defensores costumam fazer piadas como: “Se a versão King James foi boa o suficiente para o apóstolo Paulo, é boa o suficiente para mim”, ou, “Minha King James Version corrige seu texto grego.”

Eles geralmente afirmam que a King James (ou versão do rei Tiago) é baseada no único conjunto perfeito de manuscritos que temos (falsa alegação, já que não há um conjunto perfeito de manuscritos, e os utilizados para a KJV foram compilados por um católico, Erasmo), que é a única tradução que evita os termos modernos e liberais, e que seus tradutores eram homens extremamente santos e eruditos. Uma vez que a versão do rei Tiago também é conhecido como “Versão Autorizada” (AV), seus defensores, por vezes, argumentam que é a única versão de sempre a ter sido “autorizada”. Para isso pode-se ressaltar que ele só foi autorizada na Igreja Anglicana, que agora usa outras traduções. Para um estudo crítico da posição do King James-onlyism, ver O debate sobre a versão King James, de DA Carson (Grand Rapids: Baker, 1979).

Por mais divertido que o King James-onlyism possa parecer, algumas pessoas levam isso muito a sério. Existe até um equivalente católico, que poderíamos chamar de “Douay-Rheims-onlyism”. A versão Douay-Rheims (católica), que antecede a rei Tiago por alguns anos, (a KJV completa foi publicada em 1611, mas a Douay-Rheims em 1609) foi a Bíblia padrão para católicos de língua inglesa até o século XX.

O que muitos defensores do King James-onlyism e Douay-Rheims-onlyism não sabem é que nenhuma das duas versões são como as originais lançadas nos anos 1600. Ao longo dos últimos três séculos, inúmeras pequenas alterações (por exemplo, de ortografia e gramática) foram feitas na King James, com o resultado que a maioria das versões KJV atualmente no mercado são significativamente diferentes do original. Isto levou uma editora recentemente relançar a versão King James Bible de 1611.

 A católica Douay-Rheims atualmente no mercado também não é a original de 1609. Ele é tecnicamente chamado a versão “Douay-Challoner” porque é uma revisão da Douay-Rheims feito em meados do século XVIII pelo bispo Richard Challoner. Ele também consultou manuscritos gregos e hebraicos antigos, o que significa que a Bíblia Douay atualmente no mercado não é simplesmente uma tradução da Vulgata (que muitos dos seus defensores não percebem).

Para a maioria a questão de se usar uma tradução antiga ou moderna não é tão importante, e uma vez que uma decisão tenha sido tomada sobre esta questão, é possível selecionar uma versão particular da Bíblia com relativa facilidade.

Recomendamos ficar longe de traduções com leituras não convencionais, como a TEV, e sugerimos o uso da Bíblia de Jerusalém (católica) ou a Almeida Atualizada (protestante), por exemplo. A Bj é uma versão aprovada pela Igreja muito apreciada inclusive por protestantes.

No final, pode não haver a necessidade de selecionar apenas uma tradução da Bíblia para usar. Não há nenhuma razão para que um católico não possa coletar várias versões da Bíblia, ciente dos pontos fortes e fracos de cada uma. Muitas vezes, é possível obter uma melhor noção do que está sendo dito em uma passagem, comparando várias traduções diferentes.

Então, qua Bíblia éa  melhor? Talvez a melhor resposta é a seguinte: a que você vai ler.

NIHIL obstat: cheguei à conclusão de que os materiais
apresentados nesta obra estão livres de erros doutrinais ou morais.
Bernadeane Carr, STL, Censor Librorum, 10 de agosto de 2004

IMPRIMATUR: De acordo com 1983 CCE 827
concede permissão para publicar este obra.
+ Robert H. Brom, bispo de San Diego, 10 de agosto de 2004

Fonte: http://www.catholic.com/tracts/bible-translations-guide
Tradução: Emerson de Oliveira

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