O essencial para entender o conflito Israel-palestino

israel_palestineComo é que tudo começou?

Quase se pode dizer: no princípio era o verbo.

Os territórios reivindicados por israelitas e palestinianos encontram-se entre os que, historicamente, mais disputados foram. A isso não é indiferente o facto de no seu centro se encontrar Jerusalém, cidade-santa para três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

É em Jerusalém que está aquele que é atualmente o lugar mais sagrado para os judeus, o muro das lamentações, um troço do antigo Templo de Herodes. O muro delimita uma das faces da elevação a que os judeus chamam Monte do Templo, por aí se ter erguido o templo original, construído por Salomão e destruído por Nabucodonosor, e depois o Segundo Templo, erguido por Herodes e destruído durante a ocupação romana, no ano 70. O pequeno planalto no topo de Monte do Templo é, para os muçulmanos, a Esplanada das Mesquitas, onde se situa A Cúpula da Rocha, ou Mesquita de Omar, o santuário que foi erguido no local onde se acredita ter existido o altar de sacrifícios utilizado por Abraão, o profeta que o cristianismo e o islão partilham com o judaísmo. Ao lado fica a mesquita de al-Aqsa, do século VIII, mandada construir pelo segundo califa, Omar. Este é o terceiro lugar sagrado do Islão, depois de Meca e Medina.

A proximidade destes dois lugares de culto é tão grande que houve alturas em que, do alto do Monte do Templo, palestinianos atiravam pedras ao judeus que rezavam junto à base do Muro das Lamentações. E foi quando Ariel Sharon, então líder da oposição, resolveu visitar a Esplanada das Mesquitas que, em reação a um gesto que foi visto como uma provocação, se iniciou a revolta que viria a ser conhecida como “segunda Intifada”. A impossibilidade de se entenderem sobre este pedaço de Jerusalém, que não é maior do que um campo de futebol, foi um dos problemas que levou Ehud Barak, então primeiro-ministro de Israel, e Yasser Arafat, o histórico líder palestiniano, a falharem em 2000 um acordo de paz que Bill Clinton tinha laboriosamente promovido.

A poucas centenas de metros destes locais fica, por sua vez, um dos lugares mais sagrados para os cristãos, a Basílica do Santo Sepulcro, construída no local onde se pensa que Jesus Cristo foi crucificado e, depois, sepultado, para ressuscitar ao terceiro dia.
Esta concentração de lugares sagrados para várias religiões ajuda a explicar tensões que não nasceram apenas com o atual conflito, antes atravessaram os séculos e, a par com as ambições dos mais diferentes impérios, fizeram com que Jerusalém fosse inúmeras vezes cercada, ocupada, saqueada e incendiada, uma história trágica que está no centro dos dramas da Terra Prometida – uma terra que, afinal, foi demasiado prometida.

Mas se este é o pano de fundo de uma história agitada, o atual conflito tem as suas raízes no século XIX, altura em que surgiu o movimento sionista a reivindicar o direito do povo judeu a uma pátria, e no início do século XX, quando o desmoronar do Império Otomano criou um vazio de poder que levaria ao redesenhar das fronteiras de todo o Médio Oriente. Quando, no final desse processo, emergiu o Estado de Israel, nunca a sua simples existência foi aceite pelos estados árabes da região. Passou a viver-se num clima de guerra permanente.

O que são hoje Israel e a Palestina?
As fronteiras reconhecidas internacionalmente de Israel resultam da guerra de 1948, quando o nascente estado judaico derrotou vários exércitos árabes – egípcio, jordano e sírio – numa guerra que se seguiu à decisão das Nações Unidas de dividir o território da Palestina em dois estados, um para os judeus, outro para os árabes.

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O mapa proposto pelas Nações Unidas

Os líderes israelitas, encabeçados por David Ben Gurion, decidiram aceitar a partição e proclamaram de imediato o novo Estado de Israel. O mesmo não sucedeu com os árabes da Palestina que, apoiados pelos estados vizinhos, acreditaram poder esmagar os judeus e reclamar para si todo o território. Não foi isso que sucedeu. Apesar de uma flagrante inferioridade numérica, o exército israelita conseguiu derrotar os diferentes exércitos árabes, alargando de forma substantiva o território que resultara da partição decidida pelas Nações Unidas. As fronteiras reconhecidas de Israel resultam dessa guerra e foram as existentes até à Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Nesse ano, o governo trabalhista, ciente de que nas fronteiras do estado judaico se estavam a acumular os exércitos da Síria, da Jordânia e do Egipto, decidiu atacar primeiro e, numa operação militar que entrou para a história, derrotou em menos de uma semana todos os seus opositores, ocupou o resto dos territórios da Palestina – a sul a Faixa de Gaza, que estava sob administração egípcia, a leste a Cisjordânia, administrada por Amã -, a que acrescentou a Península do Sinai, conquistada ao Egipto, e os Montes Golã, antes parte da Síria.

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As fronteiras de Israel de 1948 a 1967

Os acordos de paz de 1979, entre Israel e o Egipto permitiram a devolução do Sinai. Quanto à Faixa de Gaza, Israel retirou-se completamente desse território em 2005, por decisão unilateral promovida pelo então primeiro-ministro Ariel Sharon.
Os acordo de Oslo, 1993, permitiram a autonomização de uma Autoridade Palestiniana, com jurisdição sobre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia (à excepção dos colonatos), entidade essa para a qual Israel iria gradualmente transferindo soberania segundo um regime faseado até que as partes alcançassem um acordo final.

Nos dias de hoje a Autoridade Palestiniana está, na prática, dividida em duas, pois na Faixa de Gaza o poder é do Hamas enquanto na Cisjordânia ele continua a ser controlado pela Fatah, o maior grupo da Organização de Libertação da Palestina, OLP. A soberania da Autoridade Palestiniana é limitada, pois não pode ter um exército, apenas forças policiais, não controla totalmente as suas fronteiras e depende de Israel para coisas tão elementares como o acesso a um aeroporto internacional.

Em 2012 as Nações Unidas concederam o estatuto de “estado observador não-membro” ao autodesignado Estado da Palestina. Trata-se de um estatuto semelhante ao do Vaticano que muitos interpretaram como um reconhecimento de facto do estado soberano da Palestina, de resto proclamado desde Novembro de 1988.

Tanto Israel como a Autoridade Palestiniana reclamam soberania sobre Jerusalém. Israel declarou a cidade santa das três religiões como sendo a sua capital, um gesto que não é reconhecido pela maior parte dos países com quem mantém relações diplomáticas, que mantiveram as suas representações diplomáticas em Telavive.

O que foi o movimento sionista?
O sionismo nasceu no final do século XIX e pode inserir-se num quadro mais geral de desenvolvimento dos nacionalismos na Europa. O seu fundador foi Theodor Herzl cujo livro Der Judenstaat (O Estado Judeu), publicado em 1896, se tornou num sucesso instantâneo. Os primeiros sionistas eram sobretudo judeus seculares Ashkenazi que reagiam também à ascensão do anti-semitismo na Europa (França conhecera o caso Dreyfus e na Rússia voltava a generalizar-se a prática de pogroms, isto é, massacres e perseguições patrocinadas pelas autoridades contra comunidades judaicas).
A proposta de Herzl, um judeu austríaco, baseava-se na criação de um Estado, preferencialmente na Palestina, a terra prometida dos judeus, se bem que considerasse hipóteses alternativas como a Argentina (mais tarde também se discutiriam outras alternativas, como Madagáscar ou o Uganda).

O movimento estimulou desde o início a imigração para a Palestina, onde os judeus começaram a comprar terras para se instalarem. Família a família. Casa a casa. David Ben Gurion, que mais tarde lideraria a fundação do Estado de Israel e seria o seu primeiro primeiro-ministro, foi um dos jovens que emigrou da Europa (nasceu na Polónia) para a Palestina logo no início do século e aí se instalou para organizar a vinda de mais jovens.

Existem hoje várias variantes do sionismo, umas mais marcadas por ideologias políticas – o trabalhismo, o liberalismo -, outras por um nacionalismo radical, outras ainda pela religião.

Fonte: http://observador.pt/

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