Quem criou Deus?

Até aqui, um ateu poderia ler o livro e pensar: “Se o Universo possui uma causa externa para a sua existência, por que Deus também não precisa possuir? Se alguém tem que ter criado o Universo, então quem criou Deus”? Essa falácia, da necessidade de um ser atemporal ter sido criado, é a mais famosa nos círculos ateístas quando se deparam com as implicações do argumento cosmológico.

A verdade é que os ateus não entendem ou não querem entender a lei da causalidade. Essa lei, que é um princípio que permeia toda a ciência, não ensina que tudo o que existe tem uma causa, mas sim que tudo o que passa a existir tem uma causa. Ora, Deus nunca passou a existir – ele é eterno – e, portanto, ele não tem uma causa, mas é a causa de si mesmo, a Causa primeira.

Neste momento o ateu pode contestar: “Mas se Deus pode ser eterno (a causa de si mesmo), por que o Universo não pode”? Na verdade, ele pode, apenas não é. Todas as evidências científicas que acabamos de conferir apontam claramente que o Universo não pode ser eterno, mas teve um início. Portanto, o Universo não pode ser a causa de si mesmo (causa primeira), mas foi causado por uma Causa primeira externa a ele, que necessariamente deve ser atemporal e eterna. E é essa causa externa ao Universo, que causou (ou “criou”) tudo o que existe, que é eterna e atemporal, que chamamos Deus.

Essa Causa primeira, como já conferimos até aqui, é por necessariedade:

  • Atemporal. Não está limitada ao tempo e ao espaço do nosso Universo físico, é externa a ele.
  • Eterna. Somente algo eterno pode ser “a causa das causas não causada”, isto é, a Causa primeira, a causa de si mesmo. Se não fosse, teria sido causado por outro ser, o que implicaria em um processo infinito onde a potência sempre precederia o ato, e consequentemente não seria a Causa primeira.
  • Auto-existente. Uma implicação lógica do fato de ser a causa de si mesmo.
  • Imaterial. Por ser externa ao Universo físico.
  • Onipotente. Para criar todo o Universo a partir do nada. Se o próprio Universo foi criado por este “algo”, é certo de que não há nada no Universo que esse “algo” não possa fazer.

Ao chegarmos a este ponto, um ateu poderia protestar: “Mas isso não significa que seja Deus! Pode ser, digamos, um ‘super-computador’ que tenha todas essas características e que tenha sido o causa do Universo”! De fato, esse argumento foi proposto por Wolpert em seu debate com William Lane Craig[1]. Ele só não esperava que Craig estivesse preparado para lidar com este tipo de resposta. Wolpert alegou:

Wolpert – Mas essa causa não precisa ser Deus.

Craig – Lembre-se que eu lhe dei um argumento para sustentar que essa causa é atemporal, não-espacial, imaterial, muito poderosa e pessoal.

Wolpert – Eu acho que é um computador.

Craig – Computadores são projetados por pessoas.

Wolpert – Não, este computador se auto-projetou.

Craig – Isso é uma contradição de termos.

Wolpert – Por que é uma contradição?

Craig – Um computador para funcionar precisa de tempo.

Wolpert – Esse é um computador especial!

Craig – Certo, mas precisa ser logicamente coerente.

Wolpert – É logicamente coerente. Este computador é fantástico!

Craig – Além disso, é preciso ser um ser pessoal. O computador é um objeto físico.

Wolpert – Não. Este computador não.

Craig – Veja, o que você está chamando de computador é, na verdade, Deus. Não-físico, eterno, atemporal, auto-existente, onipotente, pessoal…

Toda a plateia aplaudiu e Wolpert ficou sem respostas. A verdade é que esse algo, que os ateus podem chamar de qualquer coisa (até mesmo de um “super-computador!”) é exatamente aquilo que os teístas chamam de “Deus”. Mas um ateu poderia alegar: “Como é que estes argumentos provam que Deus é um ser pessoal? Ele não poderia ser simplesmente uma ‘força superior cósmica’?”

Os deístas pensam assim. Para eles, existe um “Deus”, isto é, uma força inteligente fora do Universo que criou tudo o que existe, pois chegam a essa conclusão através dos argumentos teleológico e cosmológico. Mas eles negam que esse Deus possa ser algo pessoal, para ser identificado com Jesus Cristo, Alá ou Mitra. Esse Deus que os deístas creem é meramente algo impessoal. Tal visão é um avanço em relação ao ateísmo, que não crê nem em um Deus pessoal nem em um Deus impessoal, mas ainda é falha. Isso porque o próprio argumento cosmológico indica que esse Deus seja pessoal. Craig diz:

“Se a causa fosse simplesmente um conjunto mecânico e operacional de condições suficientes e necessárias que existem desde a eternidade, então por que o efeito não existiria também desde a eternidade? Por exemplo, se a causa da água ser congelada é a temperatura abaixo de zero grau, então se a temperatura estivesse abaixo de zero grau desde a eternidade, qualquer água presente estaria congelada desde a eternidade. O único meio de se obter uma causa eterna com um efeito temporal seria se a causa fosse um agente pessoal que livremente escolhe criar um efeito no tempo. Por exemplo, um homem sentado na eternidade pode querer se levantar; portanto, um efeito temporal pode surgir de um agente eternamente existente. De fato, o agente pode criar da eternidade um efeito temporal tal que nenhuma mudança no agente necessite ser concebida. Portanto, somos trazidos não somente à primeira causa do universo, mas ao seu Criador pessoal”[2]

Portanto, o próprio argumento cosmológico indica que Deus é um ser pessoal, por optar em converter um estado de nulidade em um Universo tempo-espaço-matéria, e uma força impessoal não tem capacidade de tomar decisões. Mas há ainda um argumento mais forte para que Deus seja um ser pessoal, que é o Argumento da Moralidade, que analisaremos a seguir.

[1] Essa parte do debate pode ser conferida em vídeo no YouTube neste endereço: <http://www.youtube.com/watch?v=dqutxrGIQ3Q>. Acesso em: 10/11/2013.

[2] Disponível em: <http://apologiacrista.com/index.php?pagina=1078091413>.

Fonte: As provas da existência de Deus, de Lucas Banzoli e Emmanuel Dijon

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